"Todos lutamos batalhas internas, e nossos próprios demônios são os que mais nos machucam. Incinerando lentamente nossas convicções e mostrando que no fundo, não existe uma diferença tão grande assim entre os dois lados."

E novamente Natsu estava frente a frente com a criatura em chamas. Cada vez que os dois se encontravam, o Slayer ficava mais confuso.

A criatura se apresentava sempre confortável, sentada no que parecia um trono de fogo. Sempre deixando seu sorriso ligeiramente zombateiro à mostra.

Nos últimos encontros, ele também possuía um relógio. Um estranho relógio que parecia contar o tempo de forma reversa. Um fato no mínimo preocupante, diga-se por sinal.

Mas o que mais incomodava Natsu era o fato de ele nunca saber o que realmente parecia ocorrer ali, enquanto a criatura parecia ser a dona da verdade.

Para ela, tudo não passava de um jogo. Um jogo que teria uma de suas principais peças, o Slayer, descartada em não muito tempo.

Natsu estava cansado de ficar no escuro. Tanto que naquele encontro exigiu respostas. Respostas que talvez ele nunca estivesse apto a receber.

O escárnio da criatura ao responder não respondendo o irritava. E como o fazia.

"Você realmente não sabe quem eu sou? Pensei que fosse mais esperto que isso, Slayer."

Natsu certamente não deixaria essa desfeita passar. Mas antes mesmo que pudesse dizer alguma coisa, a criatura continuou seu discurso.

"É uma pena que não se lembre de mim. Então eu digo, Slayer, aproveite seus momentos, pois o meu turno se aproxima."

A criatura se levantou e foi caminhando lentamente até ele. Parou frente ao Slayer e olhou dentro de seus olhos. Natsu finalmente pôde ver aquela face que estava sempre envolta em chamas. Ele ficou sem palavras. Não tinha a menor ideia de como reagir a tudo aquilo.

"Surpreso com o que vê, Slayer? Você deve estar se perguntando como isso é possível. Todos têm demônios internos, e mesmo assim agem como se nós não existíssemos."

Aquela resposta o pegou de supetão. Então aquela criatura era a representação de seus demônios internos? Essa afirmação tornava tudo aquilo ainda mais surreal do que já era.

Sentindo a inquietação de Natsu, a criatura tornou a falar, deixando o Slayer cada vez mais desconfortável naquele lugar.

"Até que ponto suas convicções são verdadeiras, S-la-yer? Você não se conhece. Quem garante que o SEU lado, que a sua verdade não é apenas mais uma mentira tão bem contada que você mesmo caiu nela? Quem garante coisa alguma, Slayer?"

Não demorou muito para que Natsu acordasse depois disso. Acordasse suando frio. Ele poderia negar o quanto quisesse, mas mesmo assim jamais conseguiria retirar aquelas últimas palavras ditas pela criatura de sua mente.

"O mundo não é simples como o preto e branco. Você logo vai se deparar com isso. E quando perceber, a angústia já vai ter te envolvido como a fumaça e já não terá escapatória. Onde a fumaça da angústia toma posse, o desespero logo a segue. Você foi avisado. O verdadeiro pesadelo ainda não começou."

Se tudo o que haviam passado não era o verdadeiro pesadelo, Natsu realmente não queria saber como o verdadeiro era.

O não saber sobre o que esperar para o futuro trazia a angústia e essa começava a se apossar deles como uma fumaça invisível. E quando menos percebessem, eles estariam totalmente sufocados por ela.