Terceira Lua escrita por Maria Capitu


Capítulo 2
Capítulo II - Garoto Pesadelo


Notas iniciais do capítulo

A minha história precisa ser desenvolvida com calma, e por isso alguns capítulos, principalmente os primeiros, podem parecer um tanto chatos, mas não desista, um dia eu chego lá :v



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Agnes acordou com a forte claridade da janela. Achou engraçado, ela não se lembrava de ter deixado-a aberta. Sua cabeça estava latejando. Talvez tudo o que havia acontecido na noite anterior fosse apenas um terrível pesadelo. Ela se sentou e percebeu que já não estava com a roupa de ontem e sim com o seu pijama, talvez Sara a tivesse feito vestir, como tantas vezes quando havia dormido sem perceber, Agnes não se lembrava de nada. Ela olhou para as próprias pernas nuas. Opa, espera aí... Havia algo de errado ali. Algo muito errado. Agnes se levantou e correu até o espelho. Ela olhava o seu reflexo, mas era como se fosse outra pessoa. Não era mais a garota magricela de outrora, e sim uma com curvas perfeitas. O shorts de algodão, que antes ficava frouxo na coxa, a vestia perfeitamente por baixo da enorme camisa na qual agora via-se a saliência do busto. Os longos e negros cabelos caíam às suas costas minuciosamente lisos e sem um nózinho sequer. Ela estava impossivelmente atraente. Agnes observava seu reflexo boquiaberta tateando a si mesma para ter certeza de que não fosse mais uma ilusão, então pousou as mãos na barriga fazendo-a roncar, quando se lembrou de que não havia comido nada antes de dormir. Foi até o banheiro e tomou um banho rápido tentando deixar ao máximo o cabelo a modo Agnes. Ela não queria dar explicações sobre o que nem ela própria entendia. Vestiu uma calça fina e folgada que disfarçasse de alguma forma as suas pernas, pôs uma regata e se olhou novamente no espelho. Má ideia, destacou ainda mais a cintura magicamente modelada. Seu cabelo ainda estava perfeito. Ela fez um coque, respirou fundo e desceu as escadas com os braços cruzados tentando inutilmente disfarçar a silhueta. O cheiro de panquecas invadiu suas narinas, Eric estava sentado à mesa saboreando sua panqueca com mel e Sara no fogão. Os dois levantaram os olhares para ela quando apareceu na porta da cozinha.
— O quê? - perguntou Agnes desconfiada.
— Hã... Feliz Aniversário? - disse Eric enquanto Sara balbuciava um "Parabéns" com um enorme sorriso no rosto.
— Ah, valeu...
— Acordada tão cedo? São só... - disse Eric olhando o relógio no pulso esquerdo - Nove e quarenta da madrugada.
— Talvez seja a ansiedade - disse Sara - Vai ficar aí parada atrás da porta?
— Ah, é.
Agnes andou rapidamente até a cadeira mais próxima e afundou embaixo da mesa. Sara colocou mais duas panquecas para Eric e ofereceu à garota.
— Panquecas?
— Claro.
Ela virou três no prato de Agnes e se sentou na cadeira ao lado de Eric com o seu saudável prato de frutas e cereais.
— Você dormiu muito cedo ontem, estava mesmo cansada, hein?
Agnes assentiu com a cabeça arqueando as sobrancelhas.
— Você... Me trocou de roupa? - perguntou levantando o olhar para Sara.
— Eu achei que você tivesse feito isso - respondeu.
— Parece que estava tendo alguns pesadelos ontem - Continuou o irmão - o seu sonambulismo deve estar voltando.
— É... Deve ter sido isso - disse ela baixando a cabeça para o prato, e comeu um pedaço da sua panqueca tentando disfarçar o desespero.
— Fez alguma coisa no cabelo? - perguntou Sara casual.
Agnes engasgou e começou a tossir convulsivamente. Seu irmão ofereceu o copo de suco com o cenho franzido e trocou um olhar preocupado com Sara. Agnes tomou um gole e se recuperou.
— Ah, é, eu lavei agora pouco e, hã, usei uma... Hidratação - ela riu sem graça.
O casal a observava sérios.
— Hum, certo...
Agnes limpou a garganta. Voltaram a seus pratos e fez-se silêncio. Ela comeu o mais rápido possível e subiu ao seu quarto trancando a porta. Pulou até a primeira gaveta do guarda-roupa e pegou um das dezenas de sutiãs que tinha. Experimentou e, como esperado, ficou pequeno. Ela tomou uma nota mental para se lembrar de comprar sutiãs de variados tamanhos da próxima vez. Agnes praguejou todo tipo de coisa e chutou alguns pobres móveis por pelo menos uns vinte minutos antes de abrir a porta do quarto e sair sorrateiramente até o quarto do casal. Felizmente estava vazio. Ela começou a remexer as gavetas de Sara e finalmente achou. Sutiãs de todos os tipos, agarrou um branco tomara que caia e saiu para o corredor. Com tamanha a sorte que tinha, encontrou a dona da peça chegando do outro lado. Agnes pôs as mãos para trás instantaneamente.
— ...Na verdade são duas de salgados e uma de doces, eu deixei isso bem claro quando fiz o pedido, dona Elena - dizia ela impaciente ao telefone, até ver a garota - Ok, obrigada pela compreensão.
Desligou ainda irritadiça.
— Quanta irresponsabilidade - murmurou ela enquanto caminhava até Agnes.
A garota girou o corpo nada discreta enquanto Sara passava por ela.
— Você estava saindo do meu quarto?
— Não! Eu... - Agnes escutou um som abafado começando a tocar, salva pelo gongo - Eu preciso atender meu telefone que está tocando.
Ela andou quase correndo de costas até o seu quarto e fechou a porta com a respiração acelerada. Se jogou na cama e pegou o telefone no criado mudo.
" - Agnes, eu..."
— Ana, preciso de você agora!
" - Aconteceu alguma coisa?"
— Só vem aqui, o mais rápido possível, por favor.
" - Tudo bem... Estou indo."
A garota desligou o telefone, deitou na cama fechando os olhos e suspirou com o furto em uma das mãos.

Não levou nada menos do que uma hora para o carro do pai da Ana estacionar na frente do casarão. Agnes já estava roendo as unhas de aflição. Correu até a janela, Ana e o pai estravam pela porta da frente. O celular da garota vibrou tirando sua atenção da visita. Mensagem de Marco.
"Feliz aniversário, Senhorita Alencar. Ficarei demasiado contente em vê-la esta noite."
 Os cantos dos lábios de Agnes se curvaram para cima quase automaticamente. Marco era o único garoto do qual ela se permitia fazer isso e qualquer coisa que parecesse fazê-la uma boba apaixonada. Os dedos se empenharam em digitar.
"Eu o aguardo ansiosamente, Senhor Catalano".
Os passos rápidos na escada a fez desviar a atenção para a porta. Ela abriu-a e Ana ainda estava com a mão estendida para bater.
— Ei, feliz aniversário! Desculpa mesmo se eu demorei, é que aconteceu mil coisas antes de eu vir - Ana despejou entrando no quarto como se procurasse algo perigoso para combater - O que aconteceu? Foi grave?
O tom de urgência da amiga fez Agnes se lembrar do motivo o qual ela estava ali.
— Ah... Me desculpa, acho que exagerei um pouco - disse Agnes se sentando na cama exasperada - Eu estou meio nervosa com tudo, ando tendo pesadelos.
 O que ela estava pensando quando chamou Ana? O que ela diria? "Ai, amiga, tem um cara tirado a vampiro me assombrando por toda parte, o que eu faço?". Soaria tão ridículo quanto parece.
— Tudo bem, amiga - Ana se sentou ao lado dela e pegou e seu braço - Eu entendo o que isso significa pra você. Todos aqueles traumas de infância e tudo mais...
 Agnes deitou no colo da amiga e suspirou. Ana começou a acariciar seus cabelos, como sempre fazia para acalma-la. O cabelo ruivo da amiga contra o sol da janela parecia mais escuro dando um contraste ainda maior para a sua expressão preocupada.
— Você pode desabafar comigo se quiser - disse ela - Sabe disso.
 Agnes sabia mais que tudo que podia confiar em Ana para qualquer coisa que fosse, mas não queria preocupá-la com um problema que nem sabia se era real.
— Não é nada demais... - Falou Agnes por fim - Eu só queria te ver, falar com você.
— Ei - Ana se afastou de modo que fizesse Agnes se sentar novamente e encarou-a - Vai ficar tudo bem, tá? Hoje é o seu aniversário e você precisa se animar, porque vai ser um dos melhores dias da sua vida. Agora eu quero ver aquele seu sorriso lindo nesse rostinho rosado que eu amo tanto.
 Agnes sorriu agradecida.
— Obrigada - disse ela abraçando a amiga.
— Agora me diz... Você está fazendo dezesseis ou dezoito anos, hein? - perguntou ela - Quê que você anda tomando, menina?
— Você não acredita o que eu precisei fazer agora pouco! - Agnes disse - Nem eu sei o que aconteceu pra falar a verdade, eu só me lembro de ter dormido a "eu" magricela, e ter acordado essa garota...
— Sexy? - completou Ana.
— Eu ia dizer irreconhecível, mas acho que isso também serve.
— Que mais pessoas acordem "irreconhecíveis" desse jeito, começando por mim, amém.
Agnes riu.
— Só você mesmo, Ana... Sabe, pessoas normais estranhariam essa mudança repentina.
— Ainda bem que você sabe que eu não sou normal e por isso conjugou o verbo no Futuro do Pretérito. Alguém tem que acreditar em milagres nesse mundo de pouca fé, e por quê não eu? Só espero ser a próxima sortuda.
— Ai, ai, é por isso que eu te amo, sua maluquinha.
 Agnes repensou sobre contar sobre seu Garoto Pesadelo para Ana. Talvez a amiga acreditasse nela afinal.
— Ana...
— Meninas, o almoço está na mesa - Sara chamou através da porta antes que ela pudesse falar.
As duas garotas se entreolharam.
— Já estamos indo - respondeu Agnes se levantando.
Ana se adiantou na porta.
— Espera! - pediu Agnes pegando um blusão no guarda-roupa.
— A que ponto chegou suas bizarrices.
— Calma, ainda é só uma barreira anti-perguntas. Vamos.

 Marta, a empregada da família, já havia chegado. Era o seu dia de folga, mas talvez ela estivesse ali para ajudar nos preparativos da festa. Ela recebeu Agnes com um abraço apertado e atenciosa como sempre. O almoço foi maravilhoso. Sem perguntas suspeitas ou olhares desconfiados. Talvez pelo fato da Ana não parar de conversar e fazer todos rirem, e de quebra uma comida deliciosa que a Marta fazia como ninguém.
 Horas depois, alguns dos organizadores de evento começaram a chegar para decorar o enorme salão da casa.
— Precisa de alguma ajuda? - perguntou Agnes para Sara.
— Não mesmo - respondeu ela apressada - Você vai subir e relaxar. Marta arrumará o seu cabelo mais tarde, esteja pronta.
— Okay... - Agnes detestava se sentir inútil, mas estava mesmo precisando relaxar.
As duas garotas se dirigiam para as escadas quando Omar e Eric entraram pelo corredor conversando.
— Minha nossa, acho que perdi a noção do horário - disse Ana abraçando-a - A gente se vê mais tarde.
Ela foi de encontro ao pai. O homem ruivo grisalho acenou para Agnes com um sorriso.
— Parabéns, Agnes.
A garota acenou com a cabeça devolvendo o sorriso em agradecimento.
— Vamos pai, não quero me atrasar.
 Eric os acompanharam até a porta e Agnes enfim subiu para o seu quarto, mas o corredor estava ocupado. Um rapaz esguio com um boné e uma farda de eventos pousava uma caixa retangular pouco maior que suas mãos na mesinha rente à parede. Agnes estranhou sua presença ali, afinal a festa seria apenas no térreo.
— Precisa de ajuda? - perguntou ela.
O garoto se virou e o coração de Agnes quase saltou do peito.
— Claro, meu anjo - o seu Garoto Pesadelo disse com um sorriso irritantemente perfeito.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha entretido o suficiente, acabou ficando curto, como o primeiro, mas logo me esforçarei para melhorar. Obrigada por ler :3



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