Ensina-me escrita por apenasmika


Capítulo 11
Fardo


Notas iniciais do capítulo

Não tenho nada para dizer dessa vez, só boa leitura.



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Já havia se passado mais de uma semana desde o último jantar e Alice achou engraçado como as coisas passam devagar quando estão indo muito mal, pois para ela parecia mais de uma semana que o tédio e a calmaria estava reservado a ela, ou melhor, estava assim desde o final do ano passado, desde que se formou e ficou em casa sem conseguir nada, mas o pior de tudo era que quando estava sozinha a ideia de aceitar o emprego vinha em sua cabeça, ás vezes ficava encarando o cartão que Seiji deu da última vez, passando seus olhos sobre os números azuis escuro, ela sabia que quase os tinha decorado e assim como quase todos os dias em um final de tarde, a mãe chegou a porta quando o pequeno solo de guitarra se iniciara no celular da garota e ela olhava o cartão.

– O que é isso, Alice? - A mulher perguntou se encostando ao pé da porta como de costume, a filha lhe direcionou o olhar por alguns momentos.

– Um cartão.

– Eu sei claramente que é um cartão - Ela observou a garota se levantar e colocá-lo sobre a pequena cômoda. - Mas de quem é ou do quê?

– Ah, do Seiji sabe - Ela calou-se por um momento - O pai dos garotos japoneses.

– Sim, mas por que ele deu isso?

– Para caso eu precisasse de algo. - A mãe arqueou a sobrancelha pensou em perguntar mais, porém deixou para lá observou-a por um momento e então saiu e Alice preferiu não comentar nada com a família sobre a proposta do emprego, pois ela sabia que não aceitaria de qualquer forma, e com a relação conflitante do irmão e da mãe um ia mandá-la aceitar enquanto o outro ia simplesmente dizer para deixar para lá, o pai não falaria muitas coisas, provavelmente diria:

"Faça o que acha certo."

E o assunto morreria ali, ao menos para ele, voltaria a jantar e os assuntos tomariam outro rumo.

Deixaria as coisas como estavam foi o que pensou, olhou mais uma vez para o cartão e seguiu a mãe, conversaram por um tempo, enquanto fazia o jantar, o irmão naquele dia chegou do trabalho um pouco tarde arrumou-se rapidamente foi para faculdade, Alice e sua mãe esperaram o pai voltar do trabalho para jantarem, mas ele não chegou. Rosa olhou para o relógio em seus punhos, os ponteiros marcavam quase oito horas.

– Acho que seu pai vai se atrasar um pouco. - Comentou a mulher ainda encarando o relógio e Alice percebeu que ela parecia está preocupada, afinal seu pai sempre saia um pouco antes da meio dia e voltava um pouco após as sete da noite, durante meses foi assim, ou melhor, durante anos aquela era sua rotina, então ele chegava tomava banho e os três e as vezes os quatro jantavam juntos, o homem nunca se atrasou pois sabia que tanto esposa e filha o esperava.

– Acho que ele deve ter ido para algum lugar com os amigos do trabalho. - Soltou a garota vendo a mãe lhe direcionar o olhar.

– Alice - Ela deixou um sorriso transparecer - Sabemos muito bem que seu pai não tem amigos no trabalho por ser chato daquele jeito. - A garota deu uma risada tendo que concordar, o pai sempre foi pessoas de poucos amigos tirando os de sua antiga escola, não tinha muitos.

– Mas vamos esperar mais um pouco. - Sugeriu, encostou o cotovelo sobre a mesa, enquanto a televisão em cima do pequeno balcão quase ao seu lado mais uma vez mostrava alguma tragédia que aconteceu naquele dia- Provavelmente deve está trânsito. - Rosa assentiu com um pequeno sorriso,

Passou-se mais uma hora e o pai não voltou, então decidiram jantar, depois de comer Alice ajudou a mãe a lavar a louça e notou que há cada minuto olhava para o relógio em seu pulso, os minutos somavam-se fazendo cada vez as horas passarem rapidamente, Alice sentiu o estômago revirar e um medo tomou conta de si temeu que o pai não voltasse, afinal aquilo era o que mais acontecia no mundo, as pessoas saiam para seus trabalhos e escolas davam suas despedidas, mal sabendo que era sua última vez, ela abanou a cabeça fazendo os cabelos castanhos abaixo do ombro se mover.

– Seria melhor ligar para seu pai. - A mãe começou cortando seus pensamento logo que acabaram de secar o resto da louça, Alice a viu sair e ir em direção a sala, após uns minutos voltou o semblante mais preocupado. - Ele não atendeu, seu pai não é de sumir assim. - Alice não sabia ao certo o que falar e então deixou que o silêncio incômodo se instalasse, alguns pensamentos ruins voltaram, mas tentou ser otimista, deveria ser um atraso qualquer, aquilo também acontecia o tempo todo e não deveria ser nada demais, observou a mãe ir para a janela para ver se a silhueta do homem aparecia por entre as proximidades do pequeno prédio, por entre a rua escura e vazia, Alice entendeu que era normal está tão preocupada afinal o pai jamais havia se atrasado de tal forma.

Alice ficou conversando com a mãe tentando distrai-la, porém sabia que ela não absorvia sua conversa, olhava para o relógio e quando um cachorro próximo latiu, levantou-se e foi para a janela novamente.

– Ele esta bem, mãe. - A garota tentou ser otimista - Deve ter parado em algum lugar, sei lá.- Ela deu um sorriso meio forçando, tentando tranquilizá-la - Talvez tentando sair um pouco da rotina.

– Mas seu pai ama a rotina e odeia sair. - Comentou ainda olhando através da janela, Alice bocejou, apesar de não trabalhar tinha o costume de acordar cedo. - Você deveria ir dormir, amanhã você precisa acordar cedo não é? Para levar mais currículos?

– Sim.

– Então vá dormir, daqui a pouco seu pai irá chegar, não precisa se preocupar. - Rosa falou com confiança e claramente a mulher estava mentindo, suas palavras nã condiziam com suas ações, mas Alice deixou para lá assentiu e levantou-se da cadeira, olhou a mãe que tornou a olhar para fora, ao entrar no quarto jogou-se na cama e se cobriu, ficou encarando o teto que naquele breu não tinha cor sem ser preto.

– Como se eu pudesse dormir. - A garota sussurrou, os minutos pareceram se passar, ela se virava de um lado para o outro, o irmão também não chegara deveria ter passado das onze, mas nem sinal de um ou de outro. Ela virou-se para frente voltando a encarar o teto pelo centésima vez, o pensamento de que algo ruim aconteceu lhe assombrou novamente, o coração deu uma frieza, tentou ser otimista e então ouviu a porta se abrir, levantou-se ao abrir a porta do quarto deu de cara com a escuridão da sala.

– Mario. - Sua mãe exclamou ao ver o homem cambalear pela casa e logo acender a luz. Alice o viu se encostar no sofá tenteando encontrar algum equilíbrio. - Você bebeu? - A mulher perguntou passando o braço do marido sobre o ombro e o levando até o sofá.

– Um pouco. - A mãe de Alice era baixinha e quase não conseguia levar o homem por ele ser alto e com a idade meio gordinho, os dois ao se aproximar do sofá desabaram.

– Você não tem o costume de beber.

– Eu sei, Rosa. - Mario sussurrou, deitando-se no sofá, há tempos havia jogado as coisas que tinha na mão no chão.

– Aconteceu algo? - O homem não respondeu, olhou o teto tinha o mesmo costume da filha de procurar resposta de onde não viria.

Alice continuou ao pé do quarto escuro, estava surpresa, desde que se lembra jamais viu o pai beber, a mãe disse que quando eram mais jovens bebiam, mas quando decidiram formar uma família deixaram algumas coisas para lá e naquele dia aos dezoitos anos de idade ela via o pai chegar embriagado pela primeira vez, do quarto era possível ver os dois, os pés do pai sobre o colo da esposa, mas logo ele resolveu se sentar, o corpo tornou-se recurvado como se naquele momento carregasse o peso do mundo, talvez fosse aquele motivo do pai está bêbado.

– Não é nada. - Ele soltou enfim notando que a mulher ainda esperava uma resposta.

– Não é nada?

– Não.

– Acha que sou idiota? Eu te conheço há muitos anos, acha que não sei quando há algo de errado? O que aconteceu? - Insistiu Rosa, os olhos castanhos fixos no esposo. - Vou insistir até você contar. - Mario suspirou e se deu por vencido, passou as mãos pelos cabelos lisos.

– Eu perdi o emprego. - Ele soltou de forma sombria e calma, como se estivesse ensaiando aquilo durante a noite toda, um silêncio se fixou entre os dois e Alice se sentiu mal pai já era triste não ter um, mas perder o que se tem deve ser muito pior e ele trabalhava naquela empresa um pouco mais de dez anos e mesmo assim havia sido demitido, assim como havia ouvido, as coisas não estavam fácil para ninguém.

– Por que? - Rosa perguntou depois de um tempo.

– Estavam fazendo cortes, não é de agora. - Mario falou com a voz rouca e sua voz parecia um pouco mais grossa no silêncio do apartamento. - Faz um tempo que estão fazendo cortes, mas jamais pensei que eu seria uma dessas pessoas. Eu estou lá há dez anos, nunca me atrasei e só faltei quando realmente era necessário. - Ela o viu passar as mãos pelo cabelo impacientemente, o pai só fazia aquilo quando pensava em várias coisas ao mesmo tempo, era quase como um sinal que queria controlar seus pensamentos.

– Não precisa ficar tão preocupado. Daremos um jeito. - Rosa colocou a mão sobre o ombro do marido - Com o dinheiro que era receber podemos pagar o apartamento e o resto podemos dá um jeito. - Ela sorriu.

– Mas mesmo assim vai estragar meu planos - O homem sussurrou - Eu ia tentar pagar um curso para Alice, iremos nos apertar e os meus planos para ajudá-la não dará certo.

– Vamos dá um jeito. - Rosa insistiu, enquanto beijava o rosto do homem.

– Eu só queria ajudar minha filha. - Mario falou e Alice não soube se fora por causa da bebida, mas naquele momento o pai apesar do corpo grande parecia frágil, ele sempre fora uma pessoa séria e parecia que não se importava muito, saia de casa e voltava com as mesmas feições de sempre, nunca falou mal do trabalho, porém todos naquela casa sabiam que era estressante, mas parecia que aquilo sequer lhe incomodava sempre chegava com a cara fechada e o corpo grande atravessava a sala e ia direito para o quarto silenciosamente, se o vissem parecia que estiva irritado ou algo do tipo, mas o mais engraçado era que o pai sempre fora assim, um homem sério, não diria rigoroso, porém Alice sempre o viu como uma figura imponente e forte, que sempre esteve lá, cuidando com as sobrancelhas franzidas e a garota sabia que sempre que se acontecesse algo o pai estava lá para ajudá-la e protege-la, sempre dizia:

"Faça o que achar certo"

Mas apesar de tudo ele se preocupava e Alice ficou triste por que apesar de ter dezoito anos e aquilo significar aos seus olhos que deveria ter alguma independência não era aquilo que acontecia, tudo que a menina via naquele momento era seu pai e sua mãe ainda se preocupando e ela continuando a ser uma inútil por depender deles e não ter um emprego sequer, não podia dizer que iria ajudá-los por que ela não tinha como. Ela se sentiu desapontada com ela mesma, não tinha um emprego por que não queria, pois todas as oportunidades que lhe deram jogou no lixo, ela respirou fundo e entrou para o quarto enquanto a mãe tornava a carregar o pai novamente, jogou-se na cama, achou que não ia dormir ficou pensando e então tomou uma decisão, recusava-se a ser mais um fardo para a família deixar sua mãe triste ou seu pai preocupado e logo quando tomou sua decisão caiu no sono.

No dia seguinte acordou com o despertador tocando, saiu do quarto, o pai e a mãe se encontravam na cozinha tomando café.

– OI. - Ela cumprimentou-os, olhou o pai que lhe sorriu gentilmente com um olhar triste e sabia que aquele sorriso seria quase como se aquilo fosse um pedido de desculpas pelos planos que não deram certo, pela sua demissão repentina, embora o homem não tivesse culpa alguma, significou tantas coisas que Alice logo desistiu e ela lamentou por aparentar ser uma filha tão ruim e não poder ajudá-los.

Tomou um banho rápido, pegou a pasta com os currículos e o cartão que ainda estava em cima da cômoda e saiu rapidamente, sequer pensará em pegar o ônibus, ela foi até um pequeno parque em frente a uma escola a poucos minutos dali e sentou-se em um banco embaixo de uma árvore, algumas pessoas caminhavam naquele inicio de manhã com suas roupas esportivas, ela os analisou por um momento e pegou o cartão que há uma semana haviam lhe dado, os olhos passaram sobre os números ao qual sabia que já os tinha decorado e pegou o celular, os digitou rapidamente e colocou o celular sobre o ouvido, chamou algumas vezes pensou que ninguém iria atender, mas logo uma voz soou do outro lado.

– Alô? (Moshi Moshi?) - Ela não falou nada, abriu a boca, porém não saiu nenhum som. - Alô? - Voltou a repetir.

– Seiji? - Ela enfim falou fechando os olhos como se sentisse alguma dor.

– Sim. Quem é?

– Sou eu, Alice.

– Ah, Alice. - A voz do homem pareceu se tornar um pouco mais feliz. - Como vai?

– Bem. - Mentiu, ela viu uma amiga de sua mãe passar e lhe deu um aceno com a mão, sentiu alguns raios de sol passar por algumas folhas e lhe queimar a face

– O que deseja? - Perguntou, mas logo o homem voltou a falar - Não me diga que você irá aceitar o emprego?

– Sim. - Ela soltou, mas pensou em pedir para ele esquecer e desligar, que não queria nada, mas logo reconsiderou lembrou-se de seu pai e de que não deveria preocupá-lo, do olhar triste de mais cedo e com um emprego ela poderia ajudá-lo.

– Ah, que ótimo. - Falou o homem cortando os seus pensamentos - Eu não pensei que você ligaria quando saiu daqui. - Ele deu uma pequena risada - Mas fico feliz que tenha aceitado. Pode vir aqui sábado a partir das uma para conversamos sobre o seu salário ou coisas do tipo?

– Sim.

– Então até sábado. - Ela desligou, fechou os olhos e um vento quase frio passou por ela, desejou que as coisas não piorassem e sabia que ao ser professora do Hiro deveria ser bastante paciente e aguentar.

Ela riu sozinha por que por algum motivo ao pensar em como seria suas aulas sentiu como se uma parte do inferno fosse começar.


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Notas finais do capítulo

Bye.



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