Sophia escrita por Belle17


Capítulo 15
Centro de oncologia


Notas iniciais do capítulo

Demorei a postar porque publiquei os últimos capítulos (vários) em apenas um dia, além dos meus compromissos (tenho muita, muita coisa mesmo), então desculpem. Espero que estejam gostando :)



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26 de abril

Querido diário,

Hoje fui ao hospital tirar aquela espécie de gesso que coloquei depois de me machucar na escola.

Enquanto o médico cuidava dos meus ferimentos, apareceu uma enfermeira que convidou minha mãe e eu para visitarmos a ala de oncologia infantil.

Oncologia é a área dos médicos especializados em cuidar de pessoas com câncer. É bem triste porque os doentes precisam passar boa parte do tempo dentro do hospital tomando várias medicações. Eu também preciso tomar muito remédio, mas não chega nem perto do que as pobres pessoas passam... deve ser horrível.

A mesma enfermeira que me convidou a visitar as crianças me conduziu até um quarto bem grande. Tinham umas espécies de... como é mesmo o nome... daquelas "telas" que colocam entre uma cama e outra para o paciente não ver o que está acontecendo com o outro ao seu lado. Mas só são usadas na hora de aplicar a medicação ou quando a própria criança desejar. São tiradas geralmente para elas brincarem e se comunicarem.

Levei um susto ao ver que a maioria era careca! Sussurrei para minha mãe:

– Mamãe, o que aconteceu com os cabelos daquelas crianças??

Ela sussurrou de volta:

– Sophia, nunca, nunca pergunte isso às crianças. Elas podem ficar tristes. Os cabelos caem por causa do efeito dos remédios, que é muito forte. A maioria usa peruca para disfarçar.

– Que pena...

Descobri que a enfermeira se chamava Ana. Ela perguntou à minha mãe se eu poderia brincar com as crianças que estavam ali. Às vezes elas se sentem muito solitária e os médicos promovem visitas. É bem divertido.

Mamãe disse que iria me deixar brincando e que me buscaria dentro de uma hora. Logo quando ela saiu, outras crianças e adolescentes - e também adultos enfermeiros fantasiados de palhaços alegres - chegaram para entreter os pacientes.

Olhei tristemente para todo o grande quarto. Estava com vergonha e não sabia para onde ir. Foi aí que a Ana chegou em mim e me levou para ver uma garotinha.

– Sophia, essa é a Vitória - disse a enfermeira, me apresentando a uma linda garota negra mais ou menos da minha idade, cujos cabelos estavam quase nulos e seus olhos entreabertos - vocês podem conversar enquanto eu mostro o Palhaço Alegria aos outros, está bem?

Sorri e sentei-me numa cadeira ao lado da cama da Vitória, que ficava num canto da parede. Ela segurava um ursinho de pelúcia muito bonito e tomava soro no braço esquerdo.

– Qual é o nome do seu ursinho? - indaguei, sorrindo.

Ela também deu um leve sorriso e respondeu:

– É Teddy. Eu ganhei do meu tio...

Percebi que Vitória olhava para suas próprias mãos. Seria timidez ou tristeza? Seus olhos não tinham brilho. A boca era pálida e as bochechas não tinham cor.

– Que legal... - respondi - eu também tenho um ursinho. Mas o nome dele é Bobby!

Ela olhou rapidamente para mim e voltou a fixar seus olhos nas mãos.

– Posso perguntar uma coisa? - indaguei.

A garota me olhou nos olhos, e balançou a cabeça afirmamente.

Sabia que a mamãe tinha pedido para eu nunca fazer esse tipo de pergunta, mas tive outra intenção no questionamento.

– Por que vocês são carecas?

Ela tomou um susto e suas bochechas finalmente ficaram coradas, apesar da pele escura. Vitória olhou para baixo e respondeu:

– É... por causa dos remédios... do tratamento...

– Deve ser bem ruim, né?

– É...

– Mas Vitória, você também tem que ver o lado bom das coisas, assim como a Pollyanna ensina!

Seus olhos voltaram-se para os meus.

– Quem é Pollyanna?

– É uma personagem de um livro bem legal, de uma mulher chamada Eleanor Porter. Pollyanna faz com que os leitores procuram o lado bom em todas as coisas ruins que estejam acontecendo. E acredite, é possível encontrar.

– E qual seria o lado bom em não ter cabelo? Todo mundo pensa que eu sou um menino...

– É, mas você já parou para pensar na quantidade de mulheres que gastam horrores para mudar o cabelo??? No caso de vocês, é só comprar perucas diferentes! Podem ser coloridas, curtinhas, longas, lisas, cacheadas... eu odeio passar a tarde inteira na porcaria do cabeleireiro só para alisar meus cabelos. Imagina a demora que leva pra pintar, cortar, fazer penteado... peruca é muito mais fácil!!

Vi que ela sorriu.

– É... é verdade, não é?

Sorri e balancei a cabeça afirmamente.

– Eu tenho umas perucas, mas não gosto de usar porque incomoda quando deito. Só quando saio do hospital eu coloco.

– Você pode usar as perucas para tirar fotos e colar na parede do quarto. Assim, vai ficar feliz ao ver sua beleza toda vez que olhar para elas!

Vitória voltou a sorrir e já era possível ver brilhos em seus olhos.

Nesse mesmo instante, chegaram duas mulheres carregando caixas de esmaltes e maquiagens.

– Boa tarde, meninas!! Podemos maquiar vocês?

Vitória olhou para mim contente e disse que sim. Eu também concordei.

Acho muito legal quando as visitas trazem coisas para entreter as crianças. Elas geralmente ganham brinquedos, coisas de beleza, livros... assim não se sentem tão tristes.

Escolhi o esmalte de cor azul claro e a Vitória quis um verde. Para a maquiagem, a mulher usou sombra rosa em mim e brilho labial incolor. Na minha amiga, usou sobra dourada e batom meio roxinho. Ficamos muito bonitas! Até tiramos fotos com um fotógrafo que também estava visitando as crianças.

Depois de quinze minutos, as fotografias reveladas chegaram. Os assistentes do hospital as colaram na parede, igual eu tinha falado à minha colega.

Sete fotos foram pregadas na parede da Vitória, e ficaram muito engraçadas! Fomos fotografadas fazendo caretas, rindo, mostrando as unhas, fazendo cara estranha... a Vitória até caiu na gargalhada! E senti meu rosto ficar vermelho de tanto rir!

O tempo passou muito rápido. Olhei para a porta e minha mãe havia chegado para me buscar. Rapidamente perguntei à Vitória:

– Vitória, seus pais vêm te visitar também?

– Sim, mas só em dias específicos. Não é sempre que podemos receber visitas. É por causa dos remédios, e tal...

– Ah... mas eles vêm, não vêm?

– Sim! Meu pai até me trouxe gelatina da última vez que veio! Ainda tem um pouco no freezer. Você quer? É de morango!

Respondi que não dava tempo, pois precisava ir embora. O brilho de seus olhos apagou-se, mas prometi voltar sempre que possível. Ela sorriu e nos abraçamos.

É... parece que fiz uma nova amizade! Ela é uma vitoriosa, como o próprio nome sugere!


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