Capítulo 8

Olhando pela janela, que dava para um jardim e uma parte de areia, Kate viu um casal. Ela ficou admirando eles, que estavam frente a frente, como se estivessem prestes a lutarem um mano a mano. Logo atrás surgiu um homem tampando os olhos da garota com uma venda. Kate olhava tudo intrigada. A menina pareceu gargalhar. Kate percebeu que o homem a frente da moça era Jamie, ele estava de costas para a janela. A menina junto a Jamie deu alguns passos para trás encostando o corpo com o cara atrás dela.

Kate não entendia o que estava prestes a acontecer, mas seus olhos estavam presos no trio. A moça colocou um de seus braços no homem atrás de si e o mesmo beijou seu pescoço. Jamie levantou uma de suas mãos e olhou em direção a janela, onde estava Kate que sentiu sua face queimar de vergonha. Ele deu um sorriso travesso a ela.

Kate não estava entendo nada, ele apenas a deixou ali, naquela sala e saiu.

Kate se assustou com o que estava presenciando, a mão de Jamie tremia, parecia rodar de um lado para o outro, como se seus ossos se movessem em sincronia de dor e sons alucinantes. Ela olhava assombrada com o que via.

Jamie ergueu a outra mão virando seu corpo em direção à janela, como se quisesse que Kate visse tudo o que estava acontecendo. Jamie arqueou seu corpo para frente uivando o mais alto que podia, em seu corpo crescia pelos, como em um filme de terror. Ele olhava para a janela, encarando diretamente os olhos de Kate. Como se tivesse um sussurro próximo de si, Kate podia escutar o que Jamie havia dito a ela há pouco.

"Eu gosto do que sou... Gosto de libertar o mal dentro de mim... Uma coisa que você não sabe, Lockwood... Somos o que somos porque temos o desejo de sangue por dentro. Sou um lobo porque eu tenho a besta dentro de mim..."

Ele a olhava como se realmente gostasse do poder que exalava. Ela o temia. Ela realmente passou a temer, mesmo que pertencesse àquele mundo.

O corpo de Jamie ainda estava como se fosse a de um humano, porém o dividia com a fera. Ele uivou duas vezes em direção à janela. A moça vendada ria da situação e o homem a segurava ainda.

Então a fera, que no caso era Jamie andou até eles e passou sua mão cheia de garras no corpo da moça, sem a machucar.

Kate olhava abismada, fazendo-a pensar mil e umas besteiras.

A moça empurrou o homem atrás de si, e o mesmo começou a se transformar assim como Jamie.

— O que eles vão fazer? – Pensou Kate. – Uma super-suruba lobal?

Kate abafou o sorriso com sua mão e continuou prestando a atenção, mesmo sentindo-se uma intrusa.

A menina estava cercada pelos licantropos, que uivavam para ela, a mesma esbanjava um sorriso de canto como se tudo não passasse de uma brincadeira. - O que na verdade, era. - Kate entendeu naquele momento, não era nada do que pensava. Era apenas um treinamento, como havia aprendido com Sarah.

Tinha algo haver com, aprender a ouvir tudo a sua volta, sentir os movimentos, sentir o que seu oponente vai fazer e ganhar reflexos ágeis. Algo assim. É claro que não é um treinamento igual, o jeito que ela prendeu, foi com magia e feitiços, com eles é como se testassem a adrenalina e seus limites. A menina desviava das garras afiadas de ambos os lobos, sorrindo e abaixando quando necessário. Ela ficou no meio de ambos, e quando os dois iam a atacar, ela se abaixou dando uma rasteira no lobo que parecia ser o de Jamie. Kate sorriu, achando aquela queda e o arranhão em seu peito que em segundos se curaria, merecidos.

Kate começou a escutar sapatos se chocando contra o assoalho do corredor, a porta estava fechada e por um momento ela temia o que viria a seguir. Até aquele momento estava indo tudo bem, mas... O que viria a seguir? Mesmo estando disposta a tentar, nada a havia preparado para o que viria a acontecer.

A porta se abriu, e como se estivesse em um filme de suspense a pessoa estava de cabeça baixa olhando para um tablet, levantou seu olhar e a observou de um jeito paterno.

Kate sentiu que o ar estava lhe faltando. Suas pernas tremeram, seu corpo parecia vibrar de pura magia.

Sua mente girava como se estivesse competindo com um carrossel. Ela se perguntava como... Como poderia? Não acreditava em nada do que estava acontecendo, como se aquela pessoa tivesse retornado dos mortos, Kate gritou, gritou de medo, raiva, rancor e saudade.

— Não... Não... Não! – Kate sentia-se pequena e encurralada naquele momento. Ela sentia dor em suas costas de tanto que forçava se corpo para trás, onde estava a estante cheia de livros. Por alguns instantes ela achou realmente que iria desmaiar.

Kate colocou uma mão no peito, sentindo lágrimas caírem de seus olhos. O homem a olhava também com lágrimas nos olhos, mas sem deixa-las cair. Ele deu alguns passos em direção a ela.

Kate estava assustada, e gritou o repreendendo.

— Não... Você não tem esse direito... Você mentiu... Me fez sofrer... Não... Não... quero acordar desse pesadelo... não!

— Querida...

— Não! – Disse apontando um dedo em direção a ele. – Vai à merda! Vai à merda seu desgraçado... Você tem noção do que me causou? De tanta coisa que nos fez passar? Você sabia que sua filha morreu? Você sabia que ela passou anos sofrendo e tendo pesadelos com o pai MORTO dela? Tudo mentira... Deus... Que tipo de mostro faz isso?

Kate se sentia traída com tudo. Se sentia horrorizada com os atos daquele homem que morreu segurando sua mão. Kate sentia repulsa de olhar naqueles mesmos olhos. Kate sentia raiva de tudo o que ele lhe fez, apagando suas memórias e do quanto ele lhe fez usar magia negra. Ela se sentia explorada e com raiva daquele ser.

— Você não tinha o direito. Você não tinha, seu miserável... Você... Por que me trazer aqui? O que você quer? Usar meus poderes de novo, 'papai'?

Conforme ela ia falando, seu corpo se reerguia e ela apontava mais e mais o dedo para ele, sentindo a magia lhe rodear. Era uma mistura de sombras e luz. Ela estava com raiva. Suas lágrimas não mais caíram. Ela era uma bomba prestes a estourar. Sem que percebesse os lobos estavam na sala e a moça de venda a olhava intrigada. Então ela escutou a mesma voz do homem que a levou até aquele lugar insano.

— Mil perdões senhora... Tenha calma, iremos lhe explicar tudo, Katherine. – Era a mesma voz do homem que estava na ponte.

Um homem jovial, usando um sobretudo negro muito formal. Seus cabelos eram castanhos e era parecido com o homem que um dia chamou de pai.