Bellarke - Antes dos 100 escrita por Commander


Capítulo 23
Suas Prioridades.




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Clarke olhou para o outro lado da tenda.

Bellamy dormia ali, calmamente, e isso a fez sorrir por um tempo. Ele parecia em paz, seu rosto estava relaxado e seus músculos não estavam tensos, como no dia anterior, e Clarke imaginou se ela era o motivo daquilo. Imaginou se ele se sentia mais feliz e calmo, quando ela estava por perto.

Besteira.

Por mais que o que ela mais quisesse fosse ficar do lado dele, o dia inteiro, eles tinham muito o que fazer no acampamento. Sair dele antes que os terras-firme chegassem, principalmente.

Ela balançou a cabeça, afastando seus pensamentos. Enquanto colocava a jaqueta, ouviu Bellamy dizer alguma coisa em um tom tão baixo que ela quase não pôde ouvir.

— Clarke. – ele chamou, e a garota se virou. – Desculpa por ontem.

— Bellamy, eu não acho que você precise...

— Não, é sério, tudo que eu disse... Nenhuma daquelas coisas são reais, você é tão mais do aquilo. Eu fui um idiota e você estava certa o tempo todo.

Clarke franziu o lábio.

Ela perdeu a conta de quantas vezes ouviu Bellamy dizer: "me desculpa, eu fui um idiota". Ela sentia como se ele se obrigasse a dizer aquilo, apenas para fazer novamente, sem culpa. E aquilo roía o corpo dela por dentro.

Clarke se aproximou e segurou o rosto dele com as mãos. Ela queria muito dizer alguma coisa, mas nada parecia bom o suficiente.

Bellamy puxou a garota para perto, beijando-a lentamente. Ela retribuiu, segurando seu pescoço e aprofundando mais o beijo.

Ela sentiu como se um enorme peso saísse dela, enquanto Bellamy percorria as mãos pelas suas costas. O Blake a colocou em seu colo, pondo uma perna de cada lado de seu corpo, se afastando apenas para olhá-la melhor.

— Você não pode continuar com aquilo. – ela disse, fechando os olhos lentamente. – Não pode continuar arriscando a sua vida, nem a deles, daquele jeito. P-Porque... Eu preciso de você e parece que você não entende isso.

Ele realmente odeia quando os olhos dela ficam tão lindos que ele não consegue nem desviar sua atenção deles.

— Temos que voltar para casa. Tem tanta coisa que precisamos fazer lá e... impedir que todas aquelas pessoas morram. – ela disse, baixo, contra o peito dele. Clarke levantou a cabeça para encará-lo. – E só podemos fazer isso se formos embora agora, vamos seguir as coordenadas de Lincoln.

Ele odiava admitir, mas estava assustado. Assustado porque o tempo deles estava acabando, porque os terras-firme logo viriam, porque ele tinha chances de perder Clarke ou Octavia novamente. Apenas estava assustado.

— Eu não posso fazer isso, Clarke. Nem sabemos se essa praia realmente existe, muito menos se é apenas mais um truque deles.

Clarke mal podia acreditar que ele pensava daquele jeito. Ela tentava falar do jeito mais calmo possível, pois tudo que eles não precisavam agora era brigar novamente.

— Como pode falar isso? Octavia me contou sobre isso, Raven me disse o que aconteceu quando vocês o torturaram. Aquele cara faria tudo para proteger sua irmã.

— Não, eu faria de tudo para proteger a minha irmã. Vocês duas são as minhas prioridades agora e eu não vou desistir disso sem lutar. – ele disse, se afastando da loira. Bellamy se levantou, caminhando para fora da tenda. – Sinto muito, Clarke, mas vamos ficar.

A loira o seguiu para fora da tenda e segurou o braço do rapaz, o obrigando a olhar para ela:

— Você não está nem me ouvindo! Eu não me importo com quanto tempo se passou, eu ainda sou a líder deles. Mas, nem eles, nem eu... Nós não podemos fazer isso sem você, Bellamy. Partiremos amanhã e, goste ou não, você vem conosco.

Bellany puxou seu braço de volta, de uma forma brusca. Ele a encarou por um tempo, tempo suficiente para que Clarke achasse que eles iriam recomeçar a brigar, e apenas disse:

— Como quiser, Princesa.

Ele continuou a andar, sem olhar para ela. Clarke fechou os olhos e respirou fundo. De novo, não.

.
Mais tarde, naquele mesmo dia, Clarke já havia dado a ordem a todos no acampamento.

Em breve eles iriam, mas ela tinha que cuidar de todos os feridos primeiro e aprontá-los para a saída. A nave era amontoada por seis macas improvisadas e pessoas gemendo, não importava para onde ela olhasse.

Ela queria atender as pessoas que tinham mais chance de sobreviver, mas aquilo se tornou impossível quando ela viu uma garotinha chorar de dor, encolhida no chão.

A pequena não devia ter mais de 12 anos e consumiu um pouco da alma de Clarke saber que uma vida tão nova estava perdida.

Clarke se ajoelhou ao lado dela e viu a flecha em seu estômago, presa em algum lugar entre seus órgãos vitais. Ela já estava quase inconsciente, não adiantaria fazer nada.

— Tudo bem... Você vai ficar bem... – Clarke falou, passando uma das mãos pelo rosto pálido e magro da garotinha. Ela arrastou a outra mão pelo chão da nave, procurando por uma adaga. Quando finalmente a achou, suas mãos tremeram. – Me desculpa.

Ela não conseguia fazer aquilo. Era fraca, mesmo depois de tudo que passou.

Por mais que soubesse que a garota estava sentindo dor, por mais que soubesse que seria uma morte misericordiosa, ela não era capaz de fazê-la. Ela não era capaz de simplesmente acabar com uma vida tão jovem, mesmo que essa já estivesse completamente desgraçada.

A loira olhou para o corpo de Molly (pelo menos era esse o nome que ela achava) desesperadamente. O peito da garota parou de subir e descer, buscando por ar; ela estava morta.

— Não, não... – ela sussurrou, passando as mãos pelo rosto. – Por favor...

A garota se proibiu de chorar. Ela já havia sido fraca o suficiente. Ouviu uma pequena voz dentro de sua mente, dizendo: Isso é guerra, Clarke, pessoas morrem. Todos eles tem uma enorme chance de morrer, incluindo Bellamy e Finn. E todos vão morrer, assim como seus pais. Supere isso.

Clarke segurou suas lágrimas, endureceu os ombros, e avançou para a outra maca improvisada, onde havia um garoto desacordado. Ele não parecia realmente ferido, mas tremia muito.

— Hipotermia... – Clarke disse para si mesma, pegando um cobertor no estoque. Ela colocou em volta do garoto e cobriu o chão onde ele dormia, esperando que ele parasse de tremer.

Um menino e uma menina entraram na nave e chegaram perto dela, começando a tagarelar sobre o quanto ela estava demorando. A menina morena finalmente olhou para o corpo inerte de Molly sobre a maca, depois olhou para Clarke:

— O que você fez?!

Clarke respirou fundo, avançando até ele:

— F-Fox, eu sinto muito, fiz tudo o que pude. Mas a flecha nunca sairia dali, não com ela viva, e era questão de tempo até que tudo ficasse pior.

Fox continuou se aproximando e Clarke recuou, até ser encurralada na parede. Ela chegou perto o suficiente para que Clarke pudesse ouvir tudo o que ela queria dizer.

— Fez com a Molly o mesmo que Bellamy fez com Atom? – a garota disse. Clarke franziu a testa, já que não fazia a menor ideia de quem era Atom e o que Bellamy fez com ele. – Você é uma assassina!

Somos todos assassinos, pensou.

.

Bellamy ouviu vozes familiares vindas de dentro da nave. Parecia Clarke, e isso já era o suficiente para fazer o rapaz, que já estava curioso para vê-la, ir dar uma olhada.

Assim que chegou, percebeu que algo estava errado. Fox estava pressionando Clarke contra a parede, dizendo várias coisas que Bellamy sabia que ela odiava ouvir.

— Não, eu... Eu estou fazendo o melhor que eu posso! – Clarke falou mais alto, na defensiva. Ela não fazia muita questão de esconder que estava chorando e Bellamy ficou supreso, afinal... Aquela era Clarke.

— Isso não é bom o suficiente. – Fox disse, por fim, se afastando dela. Ela saiu da nave, acompanhada de um outro garoto, que a esperava na rampa.

Blake não tirava os olhos da loira por um segundo.

Quando ele fazia piadas com ela sobre sua "profissão" de médica, ele nunca imaginou que fosse tão difícil. A garota tinha apenas 18 anos. Em um universo paralelo, as únicas preocupações dela seriam namorar algum garoto idiota (não que ela já não fizesse isso agora...) e conversar com as amigas estúpidas sobre assuntos estúpidos.
Mas, ao invés disso, ela ficava horas tentando salvar pessoas e, se não conseguisse, ainda levava toda a culpa por isso. E o pior de tudo isso... Bellamy sabia que ele era quem deveria apoiá-la sempre, mas era tão idiota algumas vezes que não via isso.

Ela olhou para ele com os olhos cheios de lágrimas e uma expressão que parecia dizer: Eu não consigo mais fazer isso.

— Fox não tem a menor noção do que está dizendo. Ela não viu o que você viu e não teve que fazer as coisas que você fez. Você é a garota mais corajosa que eu conheço. E, se você disse que tentou... Eu acredito em você. – ele garantiu. Nunca imaginou que fosse tão doloroso ver alguém tão mal, com exceção de Octavia. Colocou uma das mãos na nuca, envergonhado pela sua atitude mais cedo. – Todos eles estão prontos para ir. Partiremos ao amanhecer.

— Obrigada. – ela disse, com a voz fraca e falha. Disse isso novamente, em um tom tão baixo que ele mal pôde ouvir. Bellamy assentiu, relutante em deixá-la ali sozinha, e começou a andar até o lado de fora da nave. – Bellamy, espera.

Ele parou, se virando para ela:

— Sim?

Clarke andou até ele, rapidamente. Ela o abraçou, envolvendo seu pescoço com os braços. Bellamy hesitou em abraçá-la de volta, por um tempo. Mas, em horas como aquela, a história de se afastar da garota era totalmente inválida.

Então, ele apenas fechou os braços em volta dela.

— Agora entendo o que você quis dizer quando falou que tudo seria diferente, assim que os 100 chegassem. – ela disse, seca.

Manteve uma de suas mãos acariciando seus cabelos loiros e a outra segurando levemente em sua cintura. Os nós de seus dedos estavam brancos, devido a força com a qual ele a segurava. Isso era apenas um dos jeitos que o garoto arrumava de dizer à Clarke o quanto ele precisava dela, não o contrário.

Quando ele a colocou de volta no chão, a postura de durona já estava voltando aos poucos para seu corpo, assim que ela falou:

— Tenho que voltar ao trabalho e você também, não ache que vamos ficar aqui o dia todo. – ela passou as mãos pelo rosto, já subitamente recuperada. – A Raven já distribuiu a munição pelos pentes? Espero que já, temos que usar tudo que temos. Aliás, você tem que ir falar com o Miller agora, eu quero que vocês...

— Sem essa. Eu vou ficar aqui e te ajudar. – ele balançou a cabeça. Ela franziu a testa, se perguntando se ele realmente sabia o que estava fazendo ou só queria uma desculpa para não deixá-la sozinha. – Sou muito experiente nisso, Senhorita Griffin.

Clarke enxugou os olhos com as costas das mãos, dando um pequeno sorriso:

— Você não faz ideia do que fazer.

Ele sorriu também:

— Está errada. Eu não sou só bom com armas e incrivelmente bonito, como também entendo de medicina. Se eu fosse você, tomaria cuidado com seu concorrente, Princesa.


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