Bellarke - Antes dos 100 escrita por Commander


Capítulo 22
A Caçada.




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Blake queria tomar vinte segundos de coragem insana. Queria puxar Clarke pelo braço e dizer toda a verdade sobre o que sentia por ela, não toda aquela merda que eles discutiram, minutos atrás. Queria fazê-la ouvir todas as frases que vagavam pela sua cabeça.

Eu sou uma bagunça agora, e só o que eu te causei foi problema, mas eu te amo. E preciso que acredite nisso mais do que nunca.

Mas Bellamy também sabia que tinha que afastar a garota.

Porque ele sabia que isso era o melhor para ela. Ele sabia que ele nunca seria o homem que ela merecia, nunca saberia como expressar seus sentimentos do mesmo jeito que pensava e sabia que eles nunca seriam mais do que realmente eram. Apenas líderes.

Porém, por mais que soubesse de todos os problemas e sobre suas condições, não queria que ela fosse embora. Queria que ela ficasse ao seu lado, mesmo que houvessem sérias consequências depois disso.

A voz de Raven interrompeu seus pensamentos:

— Bellamy!

Ele foi até a tenda da morena, pensando em qual seria o maldito problema agora. Assim que chegou, ignorando os olhares dos outros jovens pelo acampamento, viu que Clarke e Finn também estavam lá.

Bellamy não se atreveu a olhar para a garota, por mais que fosse o que ele mais queria, e se pôs ao lado de Raven.

— Podemos tentar contornar o lago. – Clarke sugeriu. – Se esse mar realmente está perto, como Lincoln disse, temos que pegar o caminho mais rápido.

— Talvez. – Raven deu de ombros, mexendo os bonecos sobre a maquete montada. – Mas não estamos dispostos a arriscar tudo por causa do que ele disse, ou estamos?

— Definitivamente não. Só por que Octavia confia nele, não significa que temos que confiar também. – Bellamy disse. Ele se virou para Raven. – Raven, na semana passada, quando a nave Exodus caiu... Disse que havia algo parecido com gasolina no interior da nave?

A mecânica percorreu a língua pelos lábios:

— Hidrazina? Não sei, não, Bellamy. Na Arca usamos para fazer o combustível das naves, mas... Ela entra em combustão apenas por contato. Um engenheiro me disse uma vez que é altamente tóxico e, além disso, eu teria que usar minha roupa especial de proteção.

— E por que isso é ruim? Acabamos com dois problemas, os ceifadores e os terras-firme. – Clarke falou, soando desacreditada naquele plano.

— Não estão me entendendo. Acendemos uma tocha na nave, perto da hidrazina, e mandamos toda essa floresta para os ares. — ela balançou a cabeça. – Por mais que eu goste de explosões... Essa em especial pode matar todos nós.

— E se não fizermos uma bomba? – Clarke perguntou, parecendo pensar. - Se tivermos o suficiente de pólvora, o suficiente de hidrazina, e um campo plano para isso... Por que não usarmos tudo o que temos nos terras-firme?

— Tipo um churrasco terrestre? Gostei. – Bellamy assentiu.

— Clarke, tem certeza disso? – Finn perguntou, segurando em seu braço. – Não podemos fazer uma coisa tão desumana. Ninguém merece morrer desse jeito, nem mesmo eles.

— Sabe que eu não faria se tivesse outra saída. – Clarke disse, franzindo o lábio. – Estamos perdendo gente demais, temos que acabar com isso de uma vez.

Finn não tirava os olhos da loira, o que era normal, e nada nunca deixou Bellamy tão furioso quanto aquilo. Teve que se segurar para não empurrar o cara para longe e manter Clarke do lado dele.

— Espera... O que é isso no seu pulso? – Finn perguntou, notando uma pequena marca roxa no pulso da garota.

Clarke abaixou a cabeça e Bellamy já tinha a noção do quanto ela o odiava naquele momento. Ele já ia se explicar (apenas para ela, que era a única que merecia isso, não aquele idiota), quando Finn pareceu notar tudo:

— Foi você? Qual é o seu problema?!

Finn fez a menção de ir para cima de Bellamy, que já estava ansioso para quebrar a cara dele há dias, mas Raven se pôs entre os dois.

— Querem parar com isso? Parecem duas crianças. – a garota revirou os olhos. Ela apontou para o lado de fora, onde várias duplas se preparavam para caçar (devido a grande perda de comida que eles tiveram, por causa do incêndio). – Finn, você vai achar o traje especial e nós vamos pegar a hidrazina. Clarke e Bellamy, vocês vão se juntar aos outros na caçada. Alguma objeção? – ela não deu tempo de ninguém dizer nada, apenas assentiu. – Ótimo, vamos.

.

(X)

Um terra-firme apareceu, no meio do caminho dos dois.

Clarke se saia tão bem lutando com ele que Bellamy tinha medo de atrapalhá-la, se tentasse ajudar. Ela levou alguns golpes, mas, em um movimento rápido, chutou o homem para o chão e tomou sua espada. Ela afastou a lâmina, apenas o suficiente para que ele pudesse sair sem perder o próprio pescoço. Então, o homem desatou a correr pela floresta, tomado por um pouco de bom censo.

— Você foi muito bem. – Bellamy disse, impressionado. Ele sempre teve consciência de que Clarke era forte, mas... Agora ela podia duelar com qualquer um do acampamento e ganhar, se quisesse.

— Eu sei. – ela disse, de maneira devagar, largando a espada no chão. Continuou andando, sem esperar por ele. – Vamos logo, não temos tempo para conversa. Logo vai escurecer e ainda não achamos nada.

.

.

.

Logo quando a noite chegou, Bellamy montou sua tenda, em algum lugar longe do acampamento.

Clarke estava do lado de fora, encarando o fogo. As chamas iluminavam levemente seu rosto, que agora se encontrava inexpressivo. Ele saiu da tenda, apenas para tentar convencer a garota a entrar.

— É mais seguro dentro da tenda. – Bellamy disse, cauteloso.

— Então por que ainda está aqui? Entra logo na tenda. – ela resmungou, se deitando no chão.

Bellamy bufou.

Ele tinha que se acalmar, para não fazer nada estúpido de novo. Ela tinha todo o direito de estar com raiva e querer ficar o mais longe possível, ele foi um completo babaca desde que ela chegou.

Então, ignorando a vontade da loira, ele se sentou no chão também, um pouco afastado.

— Quer parar de bancar o "herói protetor"? Esse tipo de papel não te cai bem. – Clarke falou, se encostando cada vez mais na árvore. – Você é doente. Não quero ficar perto de alguém assim.

Eles voltaram à estaca zero.

Bellamy se lembrava de uma ocasião em especial, quando ele contou à ela que havia atirado no Chanceler. Se lembrava completamente de ver o medo nos olhos dela e a hesitação de ficar perto dele, depois de saber que, além de tudo, também era um assassino.

Mesmo depois de tanto tempo, aquilo ainda o fazia se sentir mal.

— Porque você é tão melhor que eu, não é, Princesa?

— Sim, eu sou. Por mais que estivesse furiosa, eu nunca falaria aquelas coisas para você daquele jeito.

Ele respirou fundo, abaixando a cabeça:

— Fiz aquilo por você.

— Claramente, temos definições muito diferentes de amor. – ela ergueu as sobrancelhas, balançando a cabeça.

— Olha, você tem razão em me odiar. Só que... Eu não vou sair do seu lado. Vai ter que se acostumar comigo aqui, porque eu não tenho planos de te deixar. – ele continuou, com a voz baixa. – E, se eu for morrer amanhã ou naquela guerra... Apenas quero que saiba disso.

Não queria que aquilo soasse como uma ameaça, ou algo do tipo, era só a pura verdade. Nada no mundo faria Bellamy sair de perto daquela garota, ou parar de se importar com ela, e ele já provou isso muitas vezes.

(X)

Bellamy ficou olhando Clarke dormir, por bastante tempo.

Obviamente, ele tinha carregado a loira até o lado de dentro da tenda. Ela ficaria furiosa por aquilo quando acordasse, mas a garota o odiava mesmo, então...

Ele não conseguia tirar os olhos do pulso dela, na pequena marca roxa, deixada por ele. Como ele conseguiu ser tão babaca? Como foi capaz de fazer uma merda daquele tamanho? Ainda mais com ela, que era a única pessoa que ainda acreditava que ele não é um total caso perdido.

— Bellamy! – ele ouviu Clarke gritar seu nome, com os olhos cerrados e uma expressão assustada no rosto.

Ela acordou em um sobressalto, respirando fundo.

A garota nem se deu um tempo para se recuperar, apenas se pôs sentada, dobrando as pernas e mantendo sua arma onde ela pudesse ver.

— Pesadelo? – ele perguntou, e ela demorou um tempo até assentir. – Eu também tenho.

Clarke queria muito perdoá-lo, queria muito esquecer tudo aquilo e apenas voltar a ser o que era antes. Mas ainda não deixava de doer, as palavras dele já estavam enraizadas em sua mente. O problema não foi ele tê-la chamado de vadia, ou qualquer coisa do tipo, o verdadeiro problema é que, mesmo sabendo o quanto ela odiava cada parte de si mesma por fazer o que fazia, ele ainda teve a coragem de culpá-la por tudo.

— Hoje mais cedo... O que queria que eu dissesse? O que estava tentando provar, agindo daquele jeito? – ela perguntou, esfregando os olhos. – Estou tentando entender tudo isso, de verdade.

Ele deu de ombros, olhando as paredes da tenda:

— Queria que dissesse que está aqui porque quer, e não porque Finn te obrigou a voltar.

— Eu não queria voltar, mas não era por sua causa, eu só... Ainda não estava pronta para ver tudo isso novamente. Estava com medo. – ela admitiu, respirando. Poucas pessoas ouviriam aquilo de Clarke, então Bellamy se sentiu o cara mais importante da Terra. – Eu ainda estou com medo, na verdade.

— Eu entendo isso agora. – ele garantiu, percebendo como o clima tinha mudado, assim que eles substituíam a briga pela conversa. – Quando ficar melhor, você vai embora de novo?

— Não conseguiria ir embora de novo, sabendo que você está aqui. – ela fez uma pausa, brincando com o cabo de uma adaga entre os dedos. – Eu não tenho pai, minha mãe provavelmente explodiu naquela nave, meu melhor amigo me traiu... Você é a única coisa que eu ainda tenho e, apesar de tudo, eu não posso te perder também.

Ele levantou as sobrancelhas, surpreso:

— Isso quer que dizer que...

— Não que eu esteja dizendo que vou esquecer tudo o que você disse tão fácil, mas... Sim, está perdoado.

Ele se aproximou, hesitante, até ficar ao lado dela. Tinham progredido muito, não queria estragar tudo de novo.

— Olha, Clarke... Chega a ser ridículo o quanto eu preciso de você. Sempre precisei, só fui idiota de não perceber isso antes. Eu não confio em mim mesmo como um líder, sem você aqui, e me odeio por isso. Depois de toda a merda que eu fiz e falei, você tem todo o direito de me deixar. Mas, depois de tudo o que passamos hoje, só preciso que fique comigo.

Como uma forma de resposta, ela diminuiu a distância entre os dois com um beijo. Ele levou suas mãos até a nuca da loira, a aproximando cada vez mais, enquanto ela deslizava as mãos pelo seu corpo.

E assim eles continuaram, até se juntarem e os dois corpos se transformaram em um só.

.

A relação deles era doentia.

Bellamy implorava silenciosamente e mentalmente para que Clarke tentasse tocá-lo, apenas para que ele pudesse gritar para ela não encostar nele. Mas ele sabia que não era nada sem ela.

Clarke se desculpava por dizer coisas que magoavam Bellamy, apenas para que eles pudessem brigar novamente. Mas ela sabia que, por mais que tentasse fugir, sempre fugiria devagar, para que ele pudesse alcançá-la.

Como eles já tinham consciência disso, era uma relação doentia.


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