Tyler's P.O.V.

Faltavam pelo menos uns 5 minutos para eu subir para quarto de Brian.

Jessie já havia subido há um bom tempo e não voltou para o andar de baixo até o momento.

Será que era um sinal que ela já estava me esperando?

No máximo ela estaria em seu quarto fazendo alguma coisa. Resolvi ir logo lá em cima, já que Meredith não estava em nenhum lugar visível.

Subi as escadas e passei pela frente do quarto antigo de Jess. A porta estava fechada, fui em direção ao quarto de Brian que, meu Deus, estava uma bagunça, pior do que o quarto de Marc.

Marc. Ele não havia feito uma ligação sequer depois da nossa discussão no telefone.

Fiz um lembrete mental de ligar para ele assim que terminasse de falar com Jessica. Ou talvez um tempinho depois de falar com ela.

Eu estava otimista, tinha certeza que ela veria sinceridade em meus olhos e veria que a irmã dela estava agindo como uma louca ao me chantagear para ficar com ela. Era Jessica que eu amava. Agora eu tinha certeza disso.

40 minutos. 50 minutos. Uma hora após o almoço e Jessie não apareceu. Talvez ela tivesse caído no sono, então achei melhor verificar.

Andei lentamente com as mãos suando até a porta do quarto dela. Bati duas vezes e ninguém respondeu. Quando estava prestes a girar a maçaneta, a porta do banheiro atrás de mim foi aberta.

–Procurando alguém, Ty?- Meri disse e eu me virei lentamente para olhá-la.

–Eu já estava descendo.- eu murmurei me preparando para voltar ao andar de baixo.

No meio do caminho ouvi Meri dizer e parei:

–Ela foi embora.- por um momento minha respiração falhou.

–Quem foi embora?- ela não poderia ter ido embora.

–Jessica, minha querida irmã.- ela disse olhando para baixo.

Mas não era possível, ela disse a Brian que conversaria comigo. Por que ela iria embora e..

–O que você disse a ela?- eu perguntei em um tom acusatório. É lógico que ela disse alguma coisa para Jessie ir embora.

Ela sorriu para mim, colocou a mão no coração como se estivesse ofendida:

–Eu? Eu não disse nada. Daniel mandou uma mensagem para ela, pedindo ajuda, eu acho, e ela teve que voltar para Londres. Uma pena.- senti uma onda de raiva subindo do meu pé até minha cabeça.

Esse tempo todo que eu namorei a Meredith, eu realmente só vim conhecer quem ela realmente é agora.

–Bom, acho que isso não nos atrapalha de passar um tempo ótimo juntos certo?- ela jogou seus cabelos loiros por cima do ombro, riu e desceu as escadas.

Depois de um bom tempo assimilando que Jessie não se materializaria na minha frente a menos que eu fosse atrás dela voltei à realidade.

Meu celular tocou o sinal de mensagem e meu coração acelerou.

Não era ela.

"Eu e sua mãe vamos te encontrar em casa daqui a 3 horas. Organize-se. - George Richards
Dono e Diretor-presidente da Richards Inc."

Só esqueceu que era meu pai.

Eu teria que encontrar Jessica mais tarde. Quando meu pai me chamava para conversar junto com a minha mãe, era realmente algo importante.

Desci a escada distraidamente e quase derrubei Brian.

–Cadê a Jessica?- eu olhei para ele e provavelmente minha expressão não era das melhores.- O que aconteceu?

–Ela foi embora.- ele fez uma cara confusa e eu continuei -Ela foi embora antes de conversarmos.

Ele respirou fundo e pôs uma mão no meu ombro e deu uma batidinha.

–Boa sorte, cara. Eu realmente espero que você consiga falar com ela antes que...

–BRIAN, VEM ME AJUDAR AQUI!- a senhora Williams disse e Brian se virou para ir embora mas eu o segurei.

–Antes que o quê?- eu perguntei sério e ele abriu e fechou a boca algumas vezes.

–Pense rápido.- ele disse simplesmente e foi em direção à voz de sua mãe.

Aproveitei para dizer que eu também precisava voltar para Londres, me despedi de todos e prometi voltar assim que possível.

******

Bati na porta da casa em que vivi por anos até Rosa, a empregada mais antiga da casa, me receber com um sorriso:

–Meu bebê! Quanto tempo! - e me deu um daqueles abraços calorosos que só ela sabia me dar. Era como uma segunda mãe para mim.

Ela já saiu do abraço ajeitando minha camisa social que estava no ápice da possibilidade de estar engomado. Era a condição que eu tinha para estar apresentável para o meu pai.

–Como é que estão as coisas por aqui? Devo ter medo?- perguntei entrando na área de espera que era quase igual a de um palácio.

–Acho que não. Sua mãe está conseguindo apaziguar o seu pai, o que geralmente é bem complicado. Porém de qualquer forma se tudo der errado, teremos no jantar a maior quantidade de massas existentes.- meu apetite dobrou de tamanho.

Jessica com certeza iria se apaixonar pelas comidas que Rosa fazia.

Jessica

Jessica

Jessica. Eu tinha mandado pelo menos 300 mensagens para você e só queria um "vai pro inferno" como resposta, mas não.

Nem isso eu merecia. Realmente.

–Tyler?-Rosa chamou minha atenção e pelo seu tom de voz não era a primeira vez.

–Oi. - eu pisquei repetidamente tentando focar em Rosa e em meus passos enquanto passávamos por debaixo da majestosa escada principal. Logo atrás, ficava o escritório de meu pai.

–Ty?- ouvi a voz calma e contida da minha mãe que escondia a felicidade que realmente estava sentindo ao me ver.

Sempre era assim. Ela e Rosa eram o que eu mais sentia saudades de toda aquela mansão confortável.

Mamãe sempre trajada com seus vestidos longos e seus saltos altíssimos, desta vez, não estava diferente.

Ela veio até mim, me abraçou e deu um beijo na minha testa, como sempre.

–Ainda não me acostumei a acordar de manhã e não vê você escorregando pelos corrimões da escada.- ela dispensou Rosa e me guiou para dentro do escritório onde meu pai encontrava-se sentado atrás de sua mesa abarrotada de jornais, revistas e tablets.

O que eu fiz agora?

–Oi, pai.- eu disse ficando com a postura mais confiante que conseguia.

–Sente-se, Tyler.- ele levantou o olhar rapidamente do jornal para mim e depois retornou à leitura.

Minha mãe sentou-se ao meu lado e eu fiz o mesmo.

–George.-ela disse e meu pai tirou os óculos lentamente.

–Sabe,Tyler, eu realmente achei que estava pegando pesado com você. Nessas últimas semanas deixei você livre a pedidos de sua mãe que disse que eu estava sobrecarregando você e que você saberia se virar sozinho.-ele cruzou as mãos em cima da mesa e minha mãe passou a mão pelo meu ombro.

Eu realmente estava achando bem estranho não estar recebendo as ligações histéricas diariamente do meu pai, mas não dei importância pois a maior parte do tempo eu estava...digamos, "ocupado".

–Porém, nas últimas 3 semanas eu mal vi você na empresa até o fim do expediente e recebi um de três relatórios semanais da sua área. Tudo bem, sua mãe disse que a proximidade com o noivado poderia está te deixando ansioso.

Sério, eu teria que agradecer muito a minha mãe pelos votos de confiança.

–O que me surpreendeu foi um belo dia o nosso investidor cultural chegar para mim desejando parabéns a você pelo seu empenho e performance na apresentação.- eu deveria saber que os informantes do meu pai estão por toda parte.

–Eu rebati com ele e para minha surpresa ele me mostrou esse site de uma tal London Dance Academy.- ele virou um dos tablets para mim onde estava estampada uma das minhas fotos com Jessica que Carmen costumava tirar após as apresentações. Na verdade, aquela era a primeira foto que tiramos e provavelmente Carmen tirou sem que nós percebêssemos, já que aquela não era a pose que havíamos feito para foto.

Eu estava olhando para ela com um olhar de adoração enquanto ela dava um de seus sorrisos mais cativantes. Era visível que eu sentia algo por ela já naquela época.

Meu pai notou que eu fiquei em silêncio, soltou a respiração impacientemente e apontou para o que ele realmente queria que eu notasse.

Nossos nomes embaixo da foto:

Jessica Williams e Jason Stanley.

Pude ver pelo canto do olho minha mãe dando uma risada discreta. Ela sempre quis que meu nome fosse Jason e não Tyler; de fato eu só reparei isso naquele momento.

–Como você pôde se deixar ser registrado dessa forma? Quando descobrirem que você é Tyler Richards você pode ser processado por identidade falsa.

–Tyler Stanley Richards. Apenas mudei o primeiro nome, só dizer que foi um erro na hora de postar, essas coisas acontecem o tempo todo. Essa mobilização toda é só por isso?-eu perguntei tomando cuidado para não parecer rude.

Ele analisou a foto mais uma vez.

–Quem é essa garota? Ela sabe quem você é? Você não está noivo?- todas as perguntas que eu temia que ele fizesse vieram todas de uma vez.

–Ela é...Ela é minha... Ela era minha...- eu não conseguia terminar a frase e minha mãe pareceu notar o que realmente estava acontecendo.

Eu fechei os olhos com força e respirei fundo.

–Ela era minha amiga. Sim, ela sabe quem eu sou. Sim, eu estou noivo da Meredith e o que isso tem a ver?- eu tentei controlar minha voz ao máximo pelo menos para o meu pai.

–Ela não é aquela garçonete que você levou em casa depois daquela reunião com os investidores no salão Histenfs?- o que era isso agora? Ele estava me vigiando? -Uma garçonete dançarina? Que ótimo! Trocar uma jornalista com futuro garantido por uma dançarina.

–George! - minha mãe levantou a voz firmemente.

–Eu já disse que ela é só uma amiga.- eu disse tentando me manter calmo, mas poderia sentir o meu sangue fervendo pelo jeito como ele falava da Jessica como se ela fosse uma qualquer.

–Uma amiga.- ele passou a mão pelos cabelos em maioria grisalhos.- Eu não acho que nenhum homem vai olhar para uma amiga desse jeito. Não vejo você olhando para a Susanne desse jeito, pelo menos.-ele levantou as mãos na altura dos ombros.

–George, pare.- minha mãe se pronunciou mais uma vez.

–Helena ou você sai ou você deixa eu colocar algum juízo na cabeça do seu filho que já tem quase 25 anos e se comporta como um garoto de 10.-meu pai apontou para porta e pôs os óculos novamente.

–Com licença. - minha mãe levantou-se, beijou minha testa e saiu da sala.

–Agora somos só nós dois.- ele apontou para si mesmo, para mim e levantou da sua poltrona.- Como você quer que eu faça os acionistas concordarem em te deixar no comando da empresa quando eu não tiver mais condições, se a única coisa que você mostra para eles é irresponsabilidade?

–E por que você não escolhe outra pessoa mais responsável ? Você sabe que eu nunca quis esse posto de presidente e todas as centenas de títulos que você carrega.

–O que você quer dizer agora? Vai virar um arquiteto falido ou dançarino e um barman igual à sua "amiguinha" para ganhar apenas o dinheiro do pão? Olhe o que você está dizendo,Tyler. Ouça suas próprias palavras. Esse não é o futuro que eu planejei para você.

–E talvez o futuro que você planejou para mim não é o futuro que eu quero. Talvez a vida de um dançarino ou de um barman seja muito mais feliz do que a que nós temos.- eu apontei para a nossa volta. -Você acha que mamãe é mais feliz agora ou quando você lembrava que ela era sua esposa e não a empresa?

Eu levantei da cadeira o encarando e me virei para ir embora.

–Tyler Stanley Richards, já chega! -ele bateu na mesa com força e eu parei no meio do caminho-Você pode ter mais de dezoito anos, mas ainda é meu filho e eu exijo respeito.- ele abaixou a voz e pôs a mão no peito- Eu vou ver o que faço com você, pode esperar. E se alguma das duas, tanto sua "noiva" quanto sua "amiga", resolverem fazer algum escândalo com o seu nome, quem vai arcar com as consequências vai ser você.

Eu me virei para ele que havia sentado novamente e agora tomava um comprimido e um gole d'água.

–Eu...eu achei que você estava criando maturidade, meu filho. Ficando noivo, não saindo todo dia com uma garota diferente em festas diferentes.- ele disse dando várias pausas para pegar ar.-Todo meu esforço foi por vocês. Para vocês viverem bem e não precisar de ninguém além de vocês mesmos. Não quero que você perca isso.

Eu olhei para ele de outro modo. Eu podia não concordar com seu jeito de cuidar e demonstrar amor por mim e minha mãe, mas tinha que admitir que ele sempre lutou e trabalhou por nós.

Respirei fundo e disse:

–Eu mudei, pai, você vai ver. Eu não vou perder nada que o senhor trabalhou para que eu tivesse. Fique tranquilo.

Até porque, tudo que eu tinha que realmente me importava eu já tinha perdido mesmo.

E agora era hora de reconquistar.

Eu saí do escritório dando de cara com minha mãe e Rosa. Elas fingiam que estavam conversando antes de eu sair de lá, mas eu sabia que não era verdade.

Minha mãe me abraçou e disse no meu ouvido:

–Tenha paciência com seu pai, ele está passando momentos difíceis na empresa e com sua saúde.

–Eu sei, mãe. Não vou fazer nada que piore a situação dele.- eu garanti e Rosa pigarreou:

–As massas já estão quase prontas.

–Desculpa, Rosa, mas você vai ter que guardar um pouco para eu pegar mais tarde.- o brilho nos olhos das duas sumiram.

–Você já está de saída?- as duas disseram quase ao mesmo tempo.

–Sim. Eu tenho que resolver umas coisas.- eu sorri tentando fazer uma falsa confiança percorrer meu corpo. Minha mãe, como sempre, pareceu entender.

Ainda não sei como ela faz isso.

Rosa cruzou os braços emburrada e eu dei um beijo em sua testa:

–Não se preocupe, Rosa, você ainda é o meu primeiro amor.- ela deu um tapa de leve na minha cabeça.

Fui em direção à minha mãe e dei um beijo em sua bochecha:

–Tenta acalmar ele. Eu só quero ser um arquiteto e não cometer um atentado contra a empresa.- ela riu, piscou e eu saí pela porta quase que cantarolando.

–Ele vai visitar a noiva?- Rosa perguntou para minha mãe assim que eu fechei a porta.

–Não, Rosa. Ele vai atrás da dançarina.

Visitar minha mãe sempre me dava uma dose de esperança. Marc, Jessie, tudo vai se acertar. Eu sei disso.