Tyler's P.O.V.

Já iria fazer quase meia hora desde que Jessie, Jen e Dan haviam sumido por aquela casa.

Será que Jen falou que eu quero falar com ela?

Era melhor eu mesmo ir atrás dela.

–Meri, onde fica o banheiro aqui?-eu perguntei perto do seu ouvido.

–Tem um do outro lado da escada-ela disse concentrada na história que sua mãe estava contando de como ela e o pai da Meri se conheceram. Era a segunda vez que eu ouvia aquela história, então não iria parecer tão mal educado sair no meio.

Pude ouvi umas risadinhas e conversas da escada e meu coração acelerou.

–Meu Deus, minha maquiagem deve estar um desastre. Preciso ir no banheiro.- eu me encostei do lado da escada de modo que quem estivesse descendo não me visse.

–Vamos ficar fazendo um tour pela sua casa mesmo.-Dan disse.

O clique do salto dela estava cada vez mais próximo. Senhor, minha mão estava suando mesmo?

Eu pude ver seus cabelos quando ela já estava no último degrau, ela se virou para entrar no banheiro e eu tive que agir rápido.

Puxei ela pelo braço, o mais delicadamente que a situação permitiu, até que estávamos do lado de dentro da porta mais próxima, que para minha surpresa não era o banheiro. E se uma dispensa.

–O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?- ela gritou e eu tampei sua boca.

–Você quer mesmo que alguém te escute?-eu perguntei e ela assentiu embaixo da minha mão.

Então eu percebi que estava prensando ela contra a parede.

Eu a puxei pela cintura e a abracei.

A princípio ela não se mexeu, mas quando me abraçou suavemente pude sentir que ela estava chorando.

–Por que você fez isso?- ela perguntou contra o meu pescoço. -Tudo que você me disse foi mentira. Seu nome, seus sentimentos...

Eu segurei seu rosto entre minhas mãos. De todas as vezes que a vi chorar, aquela foi a mais dilacerante, pois eu sabia que era por minha causa:

–Eu não menti sobre meus sentimentos, Jessica. Nunca duvide que eu fui verdadeiro sobre os meus sentimentos com você. Eu...eu te amo.- eu tentei beija-lá mas ela virou o rosto e ficou séria.

–Quando você planejava me contar? Ou você não planejava? Esperava que eu descobrisse quando você já estivesse casado?-ela disse num fôlego só.

–Eu tinha que acertar as coisas com a Meri, agora eu sei que você conhece ela melhor do que eu.- eu disse colocando as mãos no seus ombros.

–Eu fiquei ouvindo minha irmã, chorar por você, desconfiar que você estava com outra pessoa, e agora eu acabo de descobrir que essa outra pessoa sou eu. Como você acha que eu estou me sentindo?-ela tentou se afastar de mim mas eu voltei a segurar sua cintura.

–Eu não menti quando disse que quero você.- eu pus o máximo de sinceridade que pude nas minhas palavras. Ela tinha que acreditar em mim.

–Não posso.- ela disse num sussurro cansado.-Eu apenas não posso, mesmo que você resolvesse essa situação com a Meri, como eu iria aparecer aqui apresentando você como meu namorado. Você, o ex da minha irmã. Eu paro por aqui, Tyler.

De todas as vezes que eu desejei que ela me chamasse pelo meu nome verdadeiro, eu nunca imaginei que seria desse jeito, com essa intonação.

–O que você quer dizer?

–Acho que já está bem claro o que eu quero dizer. Quem mais sabe da verdade?- ela tirou minhas mãos da sua cintura e cruzou os braços. Ela estava tão perto mas tão distante.

–Marc e Susie.-ela respirou fundo como se recuperasse de algo.

–E o Ryan.- ela afirmou, então ele já tinha contado para ela.- Era por isso que hoje ele estava com um papo estranho de "estar aqui para mim e que não queria me ver magoada" e eu aqui feito uma idiota achando que minha vida tinha realmente melhorado.

–Você não é uma idiota, você é a mulher mais maravilhosa que eu já conheci.

–E ainda sim você teve coragem de fazer o que você fez comigo- eu podia ver as lágrimas se formando em seus olhos e eu queria morrer naquele momento.

–Você não entende. Eu nasci rodeado de pessoas que só relacionavam comigo por interesses ocultos, ou você acha que a Meri começou a namorar comigo por causa dos meus lindos olhos? Minhas ex-namoradas quando souberam que eu era Tyler Richards subitamente se interessavam por mim. Qualquer lugar que eu entre eu tenho privilégios, pode até parecer legal, mas ver meus amigos ralando por algo que eu conseguiria num piscar de olhos não me parece justo.

Eu tentei passar minha mão no seu rosto e dessa vez ela permitiu:

–Eu queria ser tratado como uma pessoa comum, Jess. Quando eu percebi que sentia algo por você, eu queria ser diferente por você. Eu sempre fui um egoísta e mimado, e sei que estou sendo um agora por querer que as coisas saiam do jeito que eu quero, mas quando eu conheci você e vi que você ficava satisfeita com as coisas mais simples, eu queria ser assim também. Criar um "Jason" foi a única coisa que passou pela a minha cabeça.

Ficamos em silêncio por alguns instantes até que ela disse:

–Eu recusei.-ela tirou minha mão do seu rosto mas ainda a segurava.

–Recusou o quê?- eu franzi a testa.

–No último festival que participamos, eu ganhei uma bolsa integral para a companhia de dança de Nova York, mas eu recusei.- ela abaixou o olhar para o vestido e ficou mexendo em um fio que havia se soltado.

–Por quê?

–Era uma bolsa individual e Nova York não é ali na esquina, me desculpa pensar que teríamos algum futuro.- ela disse num tom irônico

Eu fiquei calado, eu sabia que aquela bolsa era uma das coisas que ela mais almejava na vida e saber que lá desistiu daquilo por mim me fazia me sentir pior que um lixo.

–Minha relação com metade da minha família ficou abalada depois de um rumor que eu havia roubado o namorado da minha irmã e agora eu me envolvi com o noivo dela...-ela balançava a cabeça como se não estivesse acreditando.-Você não tem ideia da proporção que isso vai tomar se algum dia alguém descobrir.

–Quer dizer que não temos mais nada?-eu disse, mas não queria a resposta afirmativa. Ela respirou fundo e apertou os olhos com força.

–Eu amava o Jason, não o Tyler. O Jason foi meu por inteiro, o Tyler não. O Jason foi meu parceiro e verdadeiro, o Tyler nem se deu o trabalho de se apresentar. O problema é que o Tyler existe e o Jason não.

Ela abriu a porta da dispensa e já estava quase saindo quando eu a puxei pelo braço, dessa vez sem tanta delicadeza assim, e a beijei com vontade. Como se eu estivesse no meu ultimo fôlego de vida e aqueles lábios fossem meu antídoto. Como se fôssemos dois ímãs potentes e de pólos opostos se atraindo. Que por mais que ela tentasse resistir, por mais que ela quisesse me repelir, nós acabávamos grudados.

No começo ela não mexia a boca e tentava me empurrar com toda a sua força enquanto eu a puxava cada vez mais para mim. Até que ela desistiu e finalmente deu passagem para minha língua. Eu nunca havia dado um beijo tão prazeroso e doloroso ao mesmo tempo. Ela parou de empurrar o meu tórax e uma de suas mãos parou no meu cabelo.

Porém, como tudo que é bom dura pouco, ela pareceu notar o que estava acontecendo e me pegando desprevenido me empurrou com força e deu tempo de eu apenas sentir uma ardência em um dos lados do meu rosto. Ela me deu um tapa e instantaneamente seus olhos estavam marejados.

–Você é louco! Eu não quero te ver nunca mais.- ela disse tentando fazer uma cara de raiva, mas que só chegou perto da decepção. Eu toquei em seu braço quando ela estava no meio da passagem da porta e ela recuou como se meu toque fosse letal.

–Eu te amo, Jessica, e sempre vou te amar.- minha voz falhou e saiu baixa, mas pelo jeito que ela se mexeu ela tinha ouvido. - Eu não queria que nada disso estivesse acontecendo, mas eu não mudaria nenhum momento que passei com você.

–Pode apostar, que eu também não queria isso.- ela olhou para o chão e finalmente foi em direção a sala.

Eu a deixei ir, não tinha nada que eu poderia fazer naquele momento, naquele lugar.

Para não ficar muito na cara demorei alguns minutos antes de voltar.

–Nossa, Ty achei que tinha se perdido.- Meri falou quando eu sentei ao seu lado.

–Eu não lembrava que meu celular estava aqui, achei que estava na sala de estar e fui procurar- falei a primeira coisa que veio na minha cabeça.

Todo mundo já estava com suas sobremesas servidas, inclusive a minha. O mousse parecia realmente apetitoso mais a minha fome havia desaparecido.

Eu sabia que eu também não era o único, Jess brincava com os caroços de maracujá e tinha dado uma colherada quase imperceptível no seu mousse.

–Achei que mousse de maracujá fosse sua sobremesa preferida, Jessie.- Joanne, prima de Meri, comentou com um tom de voz que eu não soube identificar o que ela realmente estava querendo.

Lembrei-me das várias vezes que Meredith me contou sobre a história que a própria Joanne havia contado sobre Jessie e um ex-namorado da Meri.

Era notável que havia algo a mais entre as duas, algo muito antes de eu conhecer a Meri.

– É, eu fiz pensando em você. - a Sra. Williams disse um pouco desapontada.

–Realmente, Joanne, mousse é uma das minhas coisas favoritas no mundo, mas acho que peguei pesado no jantar. Estou me sentindo cheia.- ela tentou parecer o mais simpática possível mas pelo menos para mim estava visivelmente dando errado.

Joanne, continuou com um sorriso que cada vez se tornava mais assombroso:

–Mas você também mal tocou no jantar.-ela fingiu uma expressão inocente -Aconteceu alguma coisa para você perder a fome?- pude ver os rostos surpresos de Jen, Daniel e Ryan se voltando para Jessica.

Jessica respirou fundo e deu um sorriso longe de ser o mais verdadeiro:

–Eu comi algumas porcarias no caminho e, a propósito, eu iria pedir para mamãe embalar um pouco do mousse para a minha viagem de volta.-ela olhou para sua mãe e foi a vez de Meri se pronunciar:

–Você vai voltar para casa? Mas você disse que iria passar amanhã junto comigo.-Jessica não olhava nos olhos de ninguém.

–Jane, me mandou uma mensagem quando eu estava no quarto, ela precisa discutir uns negócios comigo.- ela disse e rapidamente acrescentou- Mas amanhã eu venho aqui de novo. Sem problemas.

–O tempo está horrível para voltar para Londres,agora. - Ryan disse após um trovão bem forte estremecer as janelas e Jessie lançou um olhar mortal para ele - Mas talvez seja só uma chuva passageira.

–É...- Jess parecia prestes a explodir a qualquer momento.- Talvez eu possa esperar mais um pouco.

Joanne parecia ter desistido da especulação e agora mexia no celular.

O Sr. Williams sugeriu para que todos fôssemos para sala de estar assistir alguma coisa ou apenas continuar conversando num lugar mais confortável, já que a maioria havia terminado a sobremesa.

Aproveitei para falar para Meri que eu iria pegar a minha troca de roupa no carro enquanto o pessoal se ajeitava na sala.

No meio do caminho mandei uma mensagem para Marc:

*mensagem on*

Tyler: Da próxima vez que eu não te escutar você pode me matar.

Marc: O que aconteceu agora?

Tyler: Jessica está aqui.

Marc: COMO ASSIM JESSICA ESTÁ AÍ?

Tyler: Meri e Jessie são irmãs.

Marc: MAS QUE PORRA EU PERDI?

Tyler: Pelo amor de Deus, desliga esse caps lock você está me deixando mais nervoso do que eu já estou.

Marc: Eu estou com pena de você. Jessie não deve estar nem olhando na sua cara.

Tyler: Bingo, você ganhou. Eu "conversei" com ela mas é impossível conversar com ela aqui e agora. Ela não quer mais me ver.

Marc: Até eu, que sou sua alma gêmea, não iria querer te ver, dude.

Tyler: Estou falando sério,Marc. Eu não vou conseguir ficar sem ela.

Marc: Deveria ter pensado nisso antes de fazer isso com ela.

Tyler: Eu não sabia que iria me apaixonar por ela.

Marc: É tão estranho ver você falando assim.

Tyler: Ah, Marc pode parar. Você fica dando uma de pegador mas todo mundo sabe que você morre de amores pela Susanne mas não tem coragem de assumir.

Marc: Okay, então você quer mesmo ir para esse ponto? Tudo bem, mas você vai sozinho, eu não vou ficar lendo as merdas que você vai escrever só porque você precisa descontar em alguém sua frustração. E, para sua informação, eu tenho coragem para falar para qualquer pessoa o que eu sinto, mas eu sei que ainda não sou bom o suficiente para ela, então aos poucos eu vou tentando mudar enquanto a deixo livre para qualquer oportunidade que lhe aparecer. Eu não quero a iludir e prometer ser uma coisa que eu não tenho condições de ser no momento, muito menos fingir ser alguém que eu não sou e a impedir de estar com alguém que realmente a mereça. Porém, se você quiser jogar isso para sempre na minha cara pode jogar, ainda sim meu ato vai ser mais corajoso do que o seu. Boa noite e boa sorte.

*mensagem off*

Droga.

Eu não precisava ter jogado aquilo na cara dele. Eu sabia que o Marc gostava da Susie desde sempre, mas ele não queria magoa-lá.

Pronto agora o dia estava perfeito. Perdi a mulher da minha vida e perdi meu melhor amigo .... E é tudo culpa minha.

Porém, sempre dá para piorar mais um pouco, assim que eu voltei para a sala Joanne falou em alto e bom tom:

–Agora que está todo mundo aqui e Jessie vai ficar mais um pouquinho, por que vocês - ela apontou para mim e para Jessica- não contam como se conheceram antes desse jantar?

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