Sinto lhe informar que não sei a quanto tempo isso ocorreu, mas foi a um bom tempo...quase uns setenta anos, ou até mais, somente sei dizer que foi a muito tempo, quando um mundo assombroso era desconhecido para nós humanos e esse exalava alegria.

Era uma manhã levemente ensolarada, em uma casa cor-de-rosa com o jardim florido com belas tulipas e também com o riso feliz de uma criança brincando em meio a grama molhada. Essa criança era uma menina, e essa menina era um pouco diferente das que costumamos ver e ela iluminava aquela casa como a pequena luz de uma vela envolto a escuridão plena. Tudo era repleto de harmonia, a Bela Dama cujo o nome verdadeiro era Marissa tinha um marido que a amava acima de todas as coisas, e ele havia lhe dado o seu maior presente, o motivo principal de sua existência, sua filha Evangeline que por acaso...é a menina descrita acima.

Ela era basicamente uma cópia da mãe, aos olhos do mundo poderia ser uma criatura bizarra, ossuda, alta em relação as meninas da sua idade, e digamos que ela tinha olhos peculiares. Aos olhos de Marissa, Evangeline era perfeita, sua melhor bonequinha, e o que ela achava mais lindo na menina eram seus botões. Curiosa e determinada, a garota adorava explorar e se aventurar pelo mundo, porém, o seu mundo era pequeno, sem muitos habitantes além das marionetes que a mãe criava e até elas eram limitados, até que um dia, quando a menina tinha aproximadamente dez anos(lembrando que e contagem de idade deles é diferente da nossa, porque a Bela Dama continua do mesmo jeito), brincando em sua sala, ela encontrou uma pequena deformidade no papel de parede avermelhado, no qual se encontrava uma portinha.

Com uma pequena faca, ela cortou o papel de parede e tentou abrir a porta, porém ela estava trancada. Como uma boa menina faz, Evangeline foi até a sua mãe que estava costurando um vestido no seu ateliê.

–Mamãe, eu estava na sala e achei uma porta.

O Coração da Bela Dama gelou, porém delicadamente respondeu:

–Sim minha querida, ela está trancada e vai permanecer assim.

–Mas Mãe...

–Sem Mas Evangeline!-gritou

A menina se assustou, era a primeira vez que ouvia sua mãe gritar, então ela deu meia volta e saiu do ateliê magoada.

Triste e assustada, a menina sentou-se na escadaria e ficou olhando seu rosto num pequeno espelho. ”Será que existe alguma coisa lá?”, “Por que ela falou daquele jeito comigo?”, estas eram algumas das perguntas que passavam pela curiosa cabeça de Evangeline, a dia após dia essa curiosidade cresceu de tal forma que ela não se aguentou e procurou uma forma de abrir, porém nenhuma chave dava certo então ela desistiu.

Chegou a hora do almoço, a menina, sua mãe e seu pai reuniram-se para comer, o sorriso já não era mais estampado em sua face, e seus pais começaram a perceber isso, de modo que para tentar agradar a garotinha, Marissa costurou um vestido branquinho com fitas rosas e presenteou-a também com um novo par de botões.

–Obrigado mamãe, obrigado papai- e dos pequenos lábios dela surgiu um sorriso

Seus pais se iluminaram ao ver o rosto feliz da filha o que fez a Bela Dama esquecer do desejo da menina pela porta mas ele ainda era crescente dentro dela, até que passados uns dias enquanto estava lendo uma revistinha ela avistou emoldurada em um porta-retratos de vidro, uma chave marrom escura em com um botão na ponta.Com um pouquinho de hesitação ela pegou a chave e sem fazer barulho rompeu novamente o papel de parede que foi remendado pela sua mãe e colocou o objeto na fechadura, a porta imediatamente se abriu e uma passagem azul arroxeada com uma outra portinha na extremidade, então ela repetiu o que fez, abrindo a segunda porta que revelou uma sala de estar parecida com a sua, ela ficou fascinada olhando aquela sala de estar, mas ela não sabia que naquela casa, morava um cientista, sua esposa, e suas duas filhas.

Enquanto olhava, Evangeline tomou coragem e quis conhecer os outros cômodos, e quando chegou ao “seu quarto” se deparou com a figura de duas meninas que gritaram assim que a viram, as horas seguintes foram de puro desespero para menina, que foi levada para o sótão, torturada e usada como cobaia para os estudos do cientista. A Bela Dama nesse momento terminou o seu trabalho de costura e foi até a sala onde ela achava que a filha estava e se deparou com a porta aberta, então desesperadamente entrou para dentro da passagem, assim chegando na casa onde escutava-se o choro de duas meninas, a mãe furiosa seguiu o som do choro que levava até a cozinha, onde ela viu uma outra mãe e suas filhas, que foram brutalmente assassinadas por ela, limpando a tesoura no vestido, Marissa começou a procurar por Evangeline na casa até encontrar o sótão. Ao vê-la, o Cientista tentou apunhalar a mulher mas ela foi mais rápida e acertou a artéria do pescoço dele, que caiu no chão e gemeu de dor, feito isso, ela ajoelhou-se diante ele e com lágrimas escorrendo pelos seus botões ela apunhalou sua tesoura repedidas vezes no homem, que obviamente morreu.

Marissa levantou-se, jogou a arma do crime no chão e dirigiu-se a uma cama onde estava deitado o corpo sem vida de Evangeline. E foi assim que tudo começou.

Após o ocorrido, A Bela Dama pegou o corpo da filha e chorando amarguradamente foi pra casa.A garota foi enterrada no jardim usando o vestido novo e os botões, e os seus velhos foram guardados como recordação, a partir daquele dia a vida no Mundo Secreto tornou-se sem cor, sem vida, as risadas transformaram-se em gritos de tristeza de uma mãe e de um pai que perderam a filha, e desde então, A Bela Dama sequestra cada criança que venha a morar no Palácio Cor-de-Rosa, oferecendo-a uma boneca espiã, que no final leva as crianças a um mundo perfeito, onde suas vontades são atendidas...e depois elas são mortas. Pode parecer cruel e supérfluo o que ela faz, mas tudo é com o intuito de conseguir uma nova criança, só que todas elas só pensam no bem estar, nos privilégios e por isso querem costurar os botões, e é assim que elas morrem.

Isso ocorreu com três crianças que moraram no Palácio, até a chegada de Coraline Jones, uma garota com sede de curiosidade e que também se deixou levar pelos encantos, mas diferente das outras, ela se recusou a costurar os botões e era a que mais tinha características de Evangeline, e é por isso que Coraline é o pequeno e doce Prêmio da Bela Dama.

Este foi o trágico e verdadeiro passado da Bela Dama