Um som agudo penetrou meus ouvidos e eu estava prestes a xingar o maldito som, quando uma dor tremenda resolveu aparecer em coração. Estão tentando arrancar fora meu coração agora? Fala sério!

Tentei debater-me e socar quem quer que fosse o causador de toda a dor, mas não consegui sentir o movimento de meus braços. E a mesma coisa eu sentia nas pernas. Mas que merda é essa? Eu forcei minha mente para lembrar-me dos últimos acontecimentos, mas a única coisa que vinha em mente era uma imagem borradade Steve correndo em minha direção. Ok... até que não é uma coisa ruim.

Pensei em chamar por Steve, mas eu não consegui transpor o pensamento em palavras. Foi então que uma luz forte começou a queimar todo meu corpo e eu não conseguia mais suportar a dor. Começou em meu coração dolorido e espalhou-se por meus membros sem demora. Era uma dor infernal e eu lutava contra ela, gritava de agonia, mas não sessava. Queimou infinitamente meu corpo inteiro e eu não pude controlar. Eu me sentia em chamas.

Então um ar refrescante tocou meus dedos, começou a lutar contra as chamas e criou em mim a expectativa de que o fogo cessasse. E foi o que aconteceu. Aos poucos a sensação de refresco cresceu pelos braços até conquistar território em meu peito e, em questão de segundos, eliminar qualquer possibilidade do calor terrível que ali habitava.

Eu não estou pronta para morrer. O pensamento veio logo após a ideia de que eu estava transitando entre inferno e céu várias e várias vezes, já que o fogo voltara a lutar e tentar dominar seu território.

Eu preciso dizer a Nick que sinto muito. Preciso provar a ele que posso ser uma boa agente, uma boa salvadora, uma boa filha...

Preciso passar um natal na casa de Clint e participar de troca de presentes com ele e Natasha.

Preciso dizer a Tony que eu quebrei seu quadro favorito da garagem. Preciso ajudá-lo a construir um arsenal de armaduras também, assim como preciso ser madrinha de seu casamento e ajudá-lo a preparar um discurso descente aos convidados.

Preciso contar ao Banner que ele é o monstro verde mais legal e inteligente que conheci em minha vida inteira. E que ele é o único monstro verde que eu conheço.

Preciso dizer a violoncelista de Phil que eu fui a causadora do término do relacionamento dos dois.

Preciso dizer ao Thor que sua capa parece muito uma cortina e que acho seu cabelo legal.

E ao Steve... Preciso dizer que eu o amo. Que entreguei meu coração a ele, mesmo sem pensar, mesmo sem saber... Que eu pertenço a ele de corpo e alma e estou disposta a desistir de qualquer coisa, abrir mão de qualquer coisa por ele. Por nós. Preciso dizer que sinto muito por ter feito tudo errado, por ter fugido achando que o que Fury disse sobre mim era o certo, dizer que ele conseguiu me mudar. Que graças a ele eu passei a me esforçar na tentativa de ser uma pessoa melhor. Que eu não sei lidar muito bem com sentimentos e ele terá de ser paciente comigo e minha mania de me esconder em um casulo...

Preciso me perdoar. Por tudo o que eu já fiz, disse ou pensei. Preciso fortalecer meus laços com minha família e...

Principalmente, entre todas as coisas nessa vida: preciso dar uma surra em Loki.

⊱❋⊰

─ Ellizabeth... ─ uma voz conhecida soou bem próxima a mim, mas não consegui agarrar-me ao som logo de início.

Um feixe forte de luz queimava minhas pálpebras fechadas e me causava irritação, forçando que eu movimentasse meu braço com dificuldade para protegê-las dele.

─ Ellizabeth. ─ uma outra voz soou mais perto e eu resolvi, mesmo apesar da dor que sentia, abrir meus olhos e olhar a minha volta.

O primeiro rosto que vi foi o de Steve. E foi o único ao que me prendi. Seu rosto estava com um semblante cansado, olhos fundos e em tom mais escuro, corpo reprimido e com a postura inflexível. Assim que pus os olhos nele, ele praticamente voou em minha direção e segurou minha mão que estava deitada sobre o que parecia ser uma cama. Eu estava no hospital! Constatei pelo cheiro de remédio, água sanitária e álcool em gel que rodeava o espaço em me encontrava.

─ Oi. ─ sua voz soou baixa, controlada, porém cheia de sentimentos ─ Você acordou.

Apesar de me sentir fraca, deixei escapar um sorriso leve por pensar logo em uma ironia de resposta ao homem. Não me diga que acordei?

─ Como está se sentindo? ─ a voz de Fury soou do outro lado da cama, mas não desviei os olhos de meu Capitão um segundo se quer.

─ Quebrada. ─ murmurei baixinho e ouvi uma risada ao fundo da sala.

Tony também estava ali.

─ Você nos assustou, Lizze. ─ foi tudo o que ele falou no momento para que eu pudesse confirmar que realmente estava ali.

─ E então... o que eu perdi? ─ desci minha mão, já acostumada com a claridade que refletia das paredes brancas e o sol, preparada para suportar o peso de meu corpo e me sentar, mas uma dor aguda surgiu em todo meu braço e causou uma sensação de queimadura infernal. Soltei um gemido e deixei meu corpo onde estava.

─ Cuidado. ─ Steve pressionou meus dedos e colocou-se ereto prestes a me ajudar.

─ Eu estou... queimando por dentro... O que aconteceu? ─ eu gemi, soltei minha mão da de Steve e passei-a por meu braço direito que ainda queimava.

─ Nós vencemos a guerra. ─ Fury falou brevemente ─ Mas... você foi ferida por um chitauri.

─ Morta por um chitauri. ─ corrigiu Tony de forma irônica.

─ O que? ─ desviei meus olhos para Tony e o encarei perplexa.

─ Stark! ─ grunhiu Steve ─ Nós combinamos que...

─ O que foi? ─ Tony que estava encostado na parede, resolveu se afastar dela e seguir em direção a minha cama ─ Ela é capaz de suportar a notícia, Capitão Rogers. Não sei se você percebeu, mas ela é forte. Muito forte.

─ O que você quer dizer com morta? ─ eu indaguei pasma ─ Eu... eu... estou... eu estou morta? ─ voltei a tentar me levantar, mas o fogo tornou a passear por meu corpo me mantendo deitada.

─ É. ─ Tony assentiu ─ Quer dizer... Não. Você morreu, mas voltou. Acontece que você pegou fogo, explodiu em mil e uma luzes feito diamante, mas surgiu do nada jogada no chão assim.

Percebendo meu pavor e total confusão, Nick empurrou Tony para fora da sala.

─ Saia daqui Stark. ─ ele grunhiu para o homem enquanto o afastava do quarto.

─ Eu... peguei fogo? ─ encarei Steve pasma ─ Como assim? Como... eu... o que? ─ foi então que, de súbito, todas as últimas coisas que aconteceram comigo voltaram em um estalo. Steve e eu fomos encurralados. Um chitauri atirou uma lança em meu coração. Eu desmaiei. Sonhos estranhos. Uma mulher. Pequena lágrima. Deusa Phoenix... o fogo que me circulou e queimou cada pedacinho de mim...

Levantei as duas mãos e coloquei-as sobre minha face para esconder minhas feições de pavor. Não é possível! Não é possível!

─ Lilly. ─ Steve se aproximou de mim e tocou minhas mãos por um instante ─ Você precisa descansar. Por favor.

─ Eu não preciso descansar. ─ minha voz soou abafada por conta de minhas mãos ─ Preciso entender porque Tony disse aquelas coisas. O que ele quis dizer com... pegar fogo? ─ retirei as mãos do meu rosto e deixei que ele percebesse que eu estava com os olhos ardendo por causa das lágrimas teimosas e traiçoeiras.

─ Tudo bem. ─ ele assentiu, puxou uma cadeira para perto da minha cama e sentou-se nela ─ Você... como posso começar... O chitauri...

─ Um chitauri me matou. ─ iniciei por ele.

─ Isso. ─ ele concordou às pressas deixando transparecer seu semblante de dor ─ Eu corri tentando salvá-la, mas foi tarde demais. Foi então que Thor apareceu e destruiu os chitauris com seu raio. Mas... antes que pudéssemos chegar perto de seu corpo, você estava... pegando fogo. Literalmente. Eu tentei alcançá-la, mas Thor não permitiu. Me segurou e me manteve longe, dizendo que tudo ficaria bem. Que você estava bem. Então outros chitauris se aproximara e, antes que pudessem nos atacar... seu fogo aumentou e destruiu cada um deles em um simples piscar de olhos... Foi então que as coisas passaram a ficar estranhas, uma ventania surgiu e eu até achei que fosse coisa do Thor, mas... mas... era você. Seu corpo estava flutuando e... se transformando.

─ Como assim me transformando? ─ minha cabeça já girava a mil por hora, mas fiz a maior força que pude para perguntar.

─ Eu... não sei se... deveria te mostrar.─ foi só então que percebi como Steve me olhava diferente. Ele parecia um pouco desconcertado e evitava me olhar nos olhos.

─ Steve. ─ minha voz soou autoritária, mas pouco caso fiz isso. O que ele e os outros estavam me escondendo?

─ Lilly... ─ ele suspirou e voltou a me olhar por um breve momento. Ergui uma das sobrancelhas e esperei que ele tomasse uma atitude. Acho que foi meu olhar furioso que o fez tirar o celular do bolso de sua calça jeans e me entregar ─ Por favor, fique calma. Não está tão ruim como parece.

A imagem de minha cabeça com cabelos chamuscados e rosto deformado passou em mente antes que eu me visse através do reflexo da tela do Smartphone. Respirei fundo e me procurei no reflexo.

Mas não era eu. Quer dizer... Era eu, mas... não era eu. Uma mulher ruiva de olhos extremamente esverdeados e com feições bem semelhantes a minha estava ali me encarando com seus imensos olhos apavorados e boca em um tom avermelhado entreaberta de surpresa. Sua pele parecia ser pálida e, só então, parei para perceber a palidez que meu braço se encontrava. Estava tão claro quanto a neve na manhã de Natal.

─ Quem... quem é essa? ─ a mulher no reflexo me copiou ao franzir o cenho.

─ É você. ─ foi tudo o que Steve conseguiu dizer.

Levei uma das mãos até meu rosto e cutuquei um lado da face para confirmar. Realmente aquela era eu.

─ Como... ─ não consegui formular o resto da frase, porque ainda estava chocada com a revelação.

─ Assim que você se sentir melhor e receber alta, Thor deseja conversar com você.

─ Ele ainda está aqui? Com o Loki? ─ uma pontada de esperança cresceu em meu coração cansado com a possibilidade de poder dar uma surra em Loki finalmente.

Porém, acho que Steve tomou a ideia de uma forma diferente, pois me olhou surpreso e se quer escondeu o ciume no olhar.

─ Sim. ─ ele endireitou a postura e assentiu com a cabeça ─ Acho que... vou chamar Fury agora. Ele também quer conversar com você.

─ Você vai voltar? ─ minha voz soou quase que como um sussurro ao proferir as palavras.

─ É... Acho que sim.