Em Nova York...

A claridade que iluminava o quarto começou a me incomodar. Me negava a abrir os olhos, mas comecei a pensar que dia é hoje e então me lembrei de tudo o que tínhamos para fazer. Annie dormia como um anjo no meu peito, não queria de forma alguma acorda-la, tentei sair da forma mais cautelosa possível.

— Se eu fosse você continuava aqui.

Ela falou de olhos fechados terminando a fala com um sorriso.

— Você tá tão perfeita assim que eu devia te fotografar.

Seus cabelos loiros estavam espalhados de uma forma única pela cama, o sorriso nos lábios, a claridade parecia perfeita na sua pele.

— Acho que não tem nada de perfeito em acordar. Vem aqui.

Voltei para a cama deitando por cima dela, espalhando beijos por seu pescoço.

— Bom dia meu amor.

— Bom dia meu amor.

— Temos que nos levantar.

— Não diga isso, aqui tá ótimo.

Ela se virou para mim beijando a curva da minha mandíbula terminando no lóbulo da orelha.

— Aqui tá ótimo, mas tem um lugar melhor.

— Duvido.

— Ah é?

Dito isso me levantei rapidamente, puxei-a da cama, colocando-a nos meus braços.

— O que tá fazendo? A cama e eu temos uma conexão.

— Rum, a única conexão é a nossa. Vamos tomar um banho.

— Me deixa, por favor.

— Te deixar? Jamais.

Nisso já ia entrando no banheiro da Annie.

— Cuidado para o Cam não nos ouvir ok?

— Essa frase devia ser para você.

Ela deu um tapa na minha nuca.

— Bobo.

Eu nunca sabia qual era a forma mais prazerosa de ter a Annie. Se era daquela forma calma ou voraz. Nós tínhamos uma sincronia, uma conexão que eu tenho certeza que jamais encontraria em outra pessoa.

— O Cam não nos ouviu, mas meus ombros estão ligados do que aconteceu aqui.

— Calado.

Ela terminava de lavar os cabelos enquanto eu me enxugava. Passei a toalha pela cintura e apressei o passo para encontrar algo. Esse era o momento.

Vesti uma cueca, uma calça mais folgada e uma camisa xadrez que deixei aqui. Tentei arrumar o cabelo de alguma forma, mas estava sempre revolto.

Annie saiu secando o cabelo e já se encaminhando para o closet. Vestiu uma calça jeans que ela só usava em casa, e pegou um dos meus moletons que estava aqui.

— Você fica muito bem com esse moletom.

— Concordo, tanto é que já é meu sabe.

— Isso eu não concordo.

— Só digo que perdeu Percito.

Ela veio ao meu encontro jogando a toalha na cama e me dando um beijo calmo.

— Annabeth Chase.

— Perseu Jackson.

Ela tinha um sorriso brincalhão nos lábios.

Aproximei-me dela preenchendo seu pescoço de beijos e pressionando suas costas para não restar um espaço sequer entre nós.

— O que tá querendo?

— Você.

— Mas já me tem.

— Para sempre.

— Já me tem para sempre.

— Eu não sabia. Mas deixa eu seguir o protocolo.

— Que protocolo garoto?

— Esse.

Tirei um anel prata, ele é fino com uma espécie de fio entrelaçado e em determinado ponto uma pedra única que era de um verde como o mar.

— Di immortales!

— Calma, ainda não terminei.

— Mas isso, o que é isso?

— Pedi ao meu pai para me ajudar com isso. Não estou te pedindo em casamento agora, não precisamos organizar nada agora, nem um noivado.

— Não?

— Ei, calma. Esse anel é único, quero você tenha ele para lembrar do compromisso que quero te propor. O compromisso é o nosso amor. Porque só nós sabemos o que já passamos para chegar aqui, vivemos coisas que nem mesmo nossos amigos passaram ou mortal nenhum. Quero que saiba que te amei a partir do momento que tive medo de te perder. Manter você sã e salva era a minha real missão. Você também me salvou e foi a razão de eu sair daquele rio. Você me conhece como ninguém e eu o mesmo. E ninguém jamais terá a capacidade de nos separar porque sabemos disso tudo e sempre que olhar para essa pedra lembre-se como o nosso amor é único nesse mundo.

— Céus Percy. Você...

— Não precisa dizer nada Sabidinha. Aceita viver esse amor para sempre?

Ela me abraçou, beijou meu pescoço, disse coisas indecifráveis.

— É claro, pelos deuses você é perfeito.

— Onde quer pôr?

— Não sei, aqui?

— Pode ser.

Coloquei o anel no seu dedo anelar esquerdo.

— Ficou perfeito!

Ela deu uma risada estrondosa e me beijou mais uma vez.

— Tô muito a fim de comemorar isso. Mas já são quase nove e temos que tomar café e arrumar tudo para a chegada do pessoal.

— Temos muito tempo para isso. Sem pressa meu amor.

— Você é incrível. Eu te amo.

Nos abraçamos pelo que pareceram minutos.

—Vamos, tô com fome.

Saímos do quarto atravessando o corredor que levava a sala e a cozinha. E Cam já estava sentado no balcão tomando café e comendo pão com alguma coisa de recheio.

— Bom dia casal!

— Bom dia Cam.

Fui para balcão arrumar um pão como o do Cam e preparar leite quente para mim.

— Hoje preciso de muita cafeína para organizar esse apê pro pessoal.

Provavelmente Annie já tava pensando em mil coisas enquanto colocava café na caneca com desenho de coruja que era a sua preferida.

—Bom, eu tenho que sair para comprar algumas coisas de última hora. Vai comigo?

Olhei para o Cam enquanto terminava de arrumar o meu pão.

— Claro.

Então uma mensagem de Íris surgiu na pia ao fundo do balcão.

“Piper McClean, do Acampamento Meio-Sangue, para Annabeth Chase, em Nova York, aceita essa mensagem?”

— Sim deusa Íris!

— Bom dia Annie, Percy e... — ela olhou para o lado tentando falar baixo “quem é aquele?” — Oi gente!

Jason apareceu também, talvez para tentar reconhecer o Cam.

— Oi pessoal!

— Bom dia Pips, Jason. Esse é o Cam, o filho de Ares, da missão e tal?

— AAAAAH.

Piper foi bem expressiva agora enquanto Jason segurava um riso. Parece que o filho de Júpiter agora estava mais leve, que bom viu.

— Pessoal, estamos indo. Nico já tá vindo, e as caçadoras estão aqui no Acampamento, Thalia também tá indo.

Jason adiantou o assunto da mensagem.

— Acredita que eu vou ter que ir no banco de trás porque ela não quer dividir banco com os meninos, nem mesmo o Nico.

Piper tinha uma expressão indignada no rosto que fez os outros que acompanhavam a conversa rir.

— E o pessoal do Júpiter, alguma notícia?

— Ah bem lembrado, também estão a caminho. Acho que pegaram um carro. Chegam hoje mais tarde. Estamos indo agora, porque vamos comprar presentes.

— Annie tá liberado fazer troca de presentes?

— Claro que tá, mas não planejei isso. Combinou com os outros?

— Sim, só faltam vocês dois pegar os papeis. Não falamos antes por causa da missão.

— Espero que dê tempo de comprar algo.

Falei porque Nova York perto do Natal era um caos. Sempre tinha muita gente de última hora comprando algo.

— Vai sim Percy, relaxa. Pessoal estamos indo, Thalia e Nico estão vindo. Até daqui a pouco.

— Até!

E assim a mensagem sumiu.

— Melhor nos apressarmos amor. Terminei aqui, e você?

— Só vou trocar essa calça de moletom e já venho.

Cam saiu apressado para o quarto onde estava instalado.

— Hoje vai ser um dia corrido não vou ter tempo de aproveitar você agora que essa missão acabou.

— Logo vamos ter um tempo só pra gente Cabeça de Alga.

Ela me deu um beijo com gosto de café. Encostei ela no balcão aprofundando nosso beijo.

— Daqui a pouco — dei outro beijo — o Cam — mais outro — aparece.

— Xiu, só tô te beijando, se ele visse o que fizemos no balcão um tempo atrás ai sim seria constrangedor.

—Nossa, nem me lembre. Aquele final de semana foi...

— Sim, foi intenso. Pronto pra outro?

Prensei-a mais um pouco no balcão, tirando o cabelo que tampava sua orelha, depositando um beijo casto próximo dela.

— Céus Percy. Vai pegar sua carteira, chave, o que precisa pra sair.

— Tá me dispensando gatinha?

— Não bonitinho. Tô evitando pular em você e comemorar esse bendito anel.

Eu ri da sua expressão de frustração. Sai para pegar a carteira que estava no quarto dela cruzando com o Cam indo para a sala.

Missão hoje era comprar alguns ingredientes e bebidas para o jantar, por mim era só ligar para alguma pizzaria e pedir várias famílias, mas Annie queria fazer macarrão, carne e salada para todos. A parte da salada é mais para a Piper. Eu ia levar alguns sacos de batatas fritas, com certeza ela não negaria de fazê-las.

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Pouco antes do meio dia consegui chegar na casa da Annie, o mercado tinha muita gente fazendo compra de última hora.

Ela terminava de preparar alguns frangos fritos com molho para o almoço rápido que teríamos.

— O supermercado tava bem cheio e eu tô morto de fome, aquele pão no café não foi o suficiente.

— Cara, eu digo mesmo. Que confusão pra fazer as compras.

Cam falou tirando o casaco e o boné que tinha posto, temia que alguém o reconhecesse e começasse a questionar sobre o seu abandono.

— O pessoal já deve estar chegando então tentem deixar alguns pra eles. Diz que comprou batata? Não tava na lista, mas pode ser uma salva-vidas.

— Não disse cara, ela ia querer batata.

— Você é um gordo Percy. Mas obrigada por comprar.

Ela trouxe um prato com os pedaços de frango frito e logo em seguida trouxe o molho. Assim que eu ia colocando primeiro pedaço na boca, o interfone tocou.

— É, são eles.

— Cam só uma dica, a Thalia é uma das caçadoras de Artémis, talvez ela seja um pouco ríspida com você. Mas não é nada pessoal é com os homens mesmo.

— Ah, tudo bem então. Obrigada pelo aviso.

Ele ria, mas na primeira ironia da Thalia, ele iria sentir.

— Percy eu não terminei de arrumar os quartos, e o pessoal tá chegando.

— Já terminamos isso, calma.

Dito isso bateram na porta.

— Oi gente!

Piper sendo filha de Afrodite e se jogando nos braços da Annie. Enquanto dava um abraço em Jason e no Nico.

— Olá prima! Um abraço de Natal?

— Nem vem Jackson. Um oi tá bom.

— Você quem manda, mas que bom que veio ein.

— Vai ser interessante essa reunião.

— Oi Percy! — Piper veio me dando um abraço e falando no meu ouvido. — Reparei no anel, parabéns por isso. Vocês realmente merecem.

— Obrigada Piper, Annie vai te contar depois.

— Contar o que?

Annie nos olhou atenta.

— Sobre isso aqui Annabeth.

Piper pegou a mão da Annie dando tapinhas nela.

— Sério cara? Parabéns!

— Vocês vão se casar?

Jason e Nico pareciam bastante impressionados.

Annie veio na minha direção, passei o braço por seus ombros.

— Perai, você tá grávida Annabeth?

Isso foi a Thalia. Pelos deuses, que imaginação.

— Não Thalia, só estamos celebrando o nosso amor.

— É prima, sem gravidez. É um presente que dei a Annie apenas.

Ela levou seu olhar para o Cam que estava logo atrás de nós.

— Nossa Cam, desculpa. Galera esse é o Cam, filho de Ares.

Todos o cumprimentaram e disseram estar com fome. Comemos do frango e recebemos as últimas notícias do Acampamento e do mundo mágico.

Piper nos entregou os papeis para a troca de presentes. Annie terminou de arrumar os quartos para o resto do pessoal e saímos para comprar os presentes.

— Eu não sei mesmo o que comprar para a Reyna. Você conviveu com ela um tempo, deve ter ideia Perseu?

— Por que tem um “Perseu” nessa frase?

— Por nada querido. Alguma ideia?

Ela tinha uma expressão brincalhona e só me restava rir.

— Bom, ela é uma líder, gosta de cães, cavalos, romana de tudo. Serve?

— Você ajudou tanto.

— E o que eu compro para a Thalia? Tenho medo de ela recusar qualquer coisa que eu compre.

Dirigia em direção ao centro na esperança de encontrar qualquer coisa. Íamos passar na minha mãe também para deixar um feliz Natal para ele e o Paul.

Pouco depois das três da tarde chegávamos ao apartamento da Annie. Lanchamos cupcakes azuis na minha mãe e tinha deixado o presente que comprei para ela, um colar dourado e simples.

Ao abrir a porta vi todos sentados na sala com a TV ligada em um programa qualquer e conversando sobre algo que deixava todos com sorriso nos lábios.

— E essa invasão aqui?

— Percy!

— Frank, você não parece um urso fofo.

— Cara, que bom né.

— Vem cá.

Agora ele já estava da minha altura, forte e com um porte de um pretor.

— Annabeth, como vai?

— Tô bem, tudo certo na viagem?

— Nem me fale.

Reyna vinha na nossa direção. Hazel riu.

— O que houve gente?

Os olhos da Annie brilhavam de curiosidade. Filhos de Atena sempre curiosos.

— Acredite, não queira ter o Frank como motorista. Jamais imaginei morrer por acidente de carro, mas pensei isso inúmeras vezes durante a viagem.

Reyna olhou discretamente para o Frank rindo.

— Não é pra tanto Reyna. Hazel defenda-me.

— Não vou falar nada, é melhor eu cumprimentar a dona da casa.

— Cara, você tá mal ein.

— Isso é exagero delas. Sou excelente motorista.

Reyna e Hazel tossiram forçadamente arrancando risos de todos que estavam ali.

— Bom, só passar algumas instruções pra vocês. Fiquem a vontade, os quartos tem colchões para todos, toalhas, travesseiros, e qualquer coisa que precisarem é só perguntar pra gente. Se quiserem sair e precisarem de guia o Percy conhece Nova York muito bem.

— Posso ser o guia turístico de vocês sem problemas.

— É isso, fique a vontade e é muito bom ver todos.

Sai em direção à cozinha para tomar água e Annie veio junto.

— Vou arrumar as batatas me ajuda?

— Claro o que precisa?

— Faz uma porção que faço outra.

Nico entrou na cozinha.

— Precisam de algo?

— Nico você poderia levar os refris e sucos lá para sala, daqui a pouco tem batata.

— Ok.

Cam também veio.

— Eles realmente são muito legais. O Jason tá me contando sobre o acampamento, porque os sátiros que tentaram me levar antes não contaram tudo isso?

— Você não deu chance.

Eu disse rindo.

— Cam se não for incômodo, pode pegar esses copos vermelhos e levar para sala.

— Claro!

Thalia entrou na cozinha e pegou um copo d’água.

— Annie se precisar de alguma ajuda com o jantar, eu tô manjando de cozinhar.

— Quando eu começar te aviso, vou precisar de ajuda mesmo. O Percy só sabe fazer isso.

— Ei, sei fazer outras coisas também, hambúrguer, frango.

— Só come fritura priminho? Tá bem ein.

— Viu só Percy, melhor parar.

— A gordice não para minhas caras.

— Pronto, terminei a minha. E você?

— Quase no ponto. Compramos ketchup, tá em alguma das sacolas.

— Vou pegar.

— Já vou colocar sal para adiantar. Onde fica Percy?

— Aqui do lado.

Apontei para uma porta onde estavam os temperos e molhos. E logo levamos as porções para sala. Depois que lanchamos as batatas fritas, ficamos conversando por um bom tempo, estávamos todos ansiosos com o processo de intercâmbio entre os acampamentos no verão.

Annie, Thalia, Piper e Nico iam fazer o jantar. Fiquei com o resto do pessoal na sala, eles queriam dar uma volta mesmo no frio que fazia. Levei eles para a pequena praça que havia perto do prédio. E combinamos de depois do Natal ir ao Central Park e na quinta avenida, o pessoal do Júpiter estava encantado com a cidade. Quando chegamos algumas coisas já estavam quase prontas, Hazel disse que podia terminar de tomar conta e Reyna também ajudou, assim Thalia e Piper foram ficar a toas.

Cam também se voluntariou para ajudar e Nico saiu.

— É já tá tudo encaminhado. Só não deixar passar do ponto. Vou me arrumar e vocês aí quem quiser banhar já já o jantar tá pronto.

Sai atrás da Annie lhe abraçando pelas costas e depositando um beijo na sua nuca.

— Olá namorado, quanto tempo.

Ela entrou no quarto se virando para mim, fechei a porta trancando para o caso de alguém tentar entrar sem bater.

— Quase não te beijei hoje, lamentável.

— Também lamento isso Sabidinha. O que acha...

E a frase não terminou, porque a garota que se encontrava um segundo atrás na minha frente tinha me puxado para um beijo sedento de desejo e só me restava recompensar.

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— Priminho, Annie jantar tá pronto.

Thalia batia na nossa porta enquanto terminávamos de nos vestir. Fomos rápidos, mas pelos deuses Annie sempre me surpreendia.

— Estamos indo Thalia!

Annie gritou terminando de abotoar o short que vestia. Terminei de abotoar minha camisa e saímos em direção a cozinha onde todos se encontravam.

Ao ver todas as pessoas que de alguma forma eu partilhava lembranças desde quando descobri ser semideus foi um momento único. Eu sabia que só tinha que agradecer por ter todos eles como parceiros, amigos. Estar ali de mãos dadas com a Annie eu não tinha o que reclamar. Olimpo nenhum me separaria dela ou deles. E que viessem mais missões só para eu não perder o jeito com esses malditos monstros.