Entre suas asas escrita por AndreZa P S


Capítulo 9
Por onde você esteve?


Notas iniciais do capítulo

Não iria postar hoje, mas...
Aqui está.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/612090/chapter/9

De todos o sentimentos que venho sentindo nesses ultimos dias, com certeza, a frustração e desolação estariam encabeçando a lista. De repente meus pensamentos iam de encontro a Patch diariamente, o que não deixava uma sensação agradável. Esperei por ele no dia seguinte à noite em que fora na sua casa, mas foi em vão. Ele não foi a aula. Na verdade, fazia exatamente um mês inteirinho que não tinha a oportunidade de fita-lo, mesmo que de longe.

E sabe o que é o mais desesperador disso tudo?

É que eu não consigo tira-lo da cabeça. Simplesmente não consigo. Por mais que eu tente enfiar na minha cabeçona dura de que o que existe entre nós é puramente físico, uma partezinha de mim gritava e chamava insistentemente por ele. Normalmente não sou de me apegar às pessoas, no fim das contas, minha única amiga era Vee. E agora Scott também fazia parte do meu seleto e pequeno círculo de amizades. Afinal, o que havia de tão tentador em Patch? Não sei a resposta, mas queria muito que ele aparecesse para pelo menos me dizer que nunca mais nos veriamos. Tá certo que não somos amigos, muito menos namorados...mas sei lá, acredito que depois daquele beijo alguma coisa deve ter mudado entre a gente.

Bati a testa três vezes na porta do meu roupeiro. Acorda, Nora!

Não tínhamos nada. Nadica de nada. Desde quando eu deixava meu orgulho de lado e ficava horas pensando em alguém que nem sequer me disse tchau? Ou melhor, desde quando eu me sentia tão envolvida com alguém sem ao menos conhece-la a um tempo considerável, e não apenar alguns dias?

Devo ser carente. Devo ser a pessoa mais carente do mundo. Do universo. Um beijo foi o suficiente para que eu me derretesse toda por um cara que não está nem aí pra mim. Abri a porta do armário e comecei a vasculhar algo para vestir. Hoje surpreendetemente estava calor e tinha sol, então iria aproveitar para mostrar minhas pernas e deixa-las um pouquinho mais coradas...no minimo porpocional a tom do meu rosto. Era esse o problema do inverno. Quando chega o calor, minhas pernas sempre estão de uma cor diferente da do rosto, colo e braços.

Acabei me entrertendo e desviando meu pensamento de Patch ao escolher o que vestir, e em uma hora de coloca-tira-roupa decidi por um short jeans ragados e uma blusinha branca de seda. Observei meu rosto no espelho. Hoje estava particularmente pálida e meus lábios sem cor, então me obriguei a passar um brilho lábial e fazer uma maquiagem que desse a impressão de naturalidade e arrematei com uma bela passada de rímel nos cílios.

Meu celular começou a tocar. Olhei em volta, correndo os olhos por cima dos cômodos a procura do aparelho, mas não encontrei. O som ficava cada mais mais alto e não demoraria muito para a ligação cair na caixa postal. Fiquei quieta, procurando identificar o caminho que me levaria até o telefone. Segui o barulho até minha cama. Deslizei as mãos pelo o cobertor, puxando-o para fora da cama. Na mesma hora, ouvi um baque no chão.

O celular acabou caindo próximo ao pé da cama, então me apressei para pega-lo. Afobada, nem me lembrei de olhar no identificador de chamadas, mas eu tinha quase certeza de quem era.

–Baby.

–Fala, Vee. Onde vocês estão?

Peguei a bolsa que usara para ir a aula hoje e esparramei todo o conteúdo em cima da cama.

–Estamos quase chegando na sua casa!

–Quantos minutos?- Indaguei ao recolocar os objetos novamente dentro da bolsa. Onde eu tinha guardado minha carteira mesmo?

–Uma hora e meia mais ou menos...

Eu parei. Vi meu reflexo estreitando os olhos do outro lado do comodo.

–Diz que é mentira. Então porque você pediu pra me arrumar quase três horas antes de você chegar aqui?!- Quase rosnei. Se tinha uma coisa que eu odiava, era estar pronta para sair e mesmo assim ter que ficar aguardando. No geral quando tinha algum compromisso, sempre chegava em cima do laço, no máximo uns 10 minutos antes, só para não precisar ficar parada esperando. E Vee sabia disso tanto quanto eu.

Ouvi a risada abafada de Scott do outro lado da linha, me dando conta tardiamente que a chamada com certeza estava no viva voz.

–Calma, Norinha!-Ele gritou.

–Sério, vocês são idiotas.- Murmurei, sorrindo.

–Te amamos, moreca.

O som da buzina atravessou o rencinto no mesmo instante em que o ouvi através do aparelho celular.

–Estamos te esperando- Vee disse antes de desligar.

Desci as escadas correndo, quase tropeçando no último degrau. Digamos que velocidade não é meu forte. Abri a porta da frente e fui presenteada com um Scott de bermuda jeans escuras e regata preta e uma Vee com um vestido floral que sempre usava em tempos de calor fora de época.

–Paçoca e Paçoquinha!-Exclamei.

Os dois se entreolharam e então começamos a rir. Sem duvidas, eles eram a melhor parte da minha vida naquele momento. Antes erámos apenas Vee e eu, mas agora com Scott tudo parecia mais completo e coeso.

–Você não é normal- disse Vee ao passar pela a soleira da porta e me dar um tapinha no braço. Sorri para ela.

–Por isso somos amigas.- Disse, recebendo uma piscadela cúmplice.

Scott pigarreou e apontou para o seu relógio de pulso, erguendo sua sobrancelha aloirada.

–Estou com sede, preciso me hidratar. Sabe como é, não é possível ter uma pele maravilhosa como a minha sem a ajudar da divônica mãe água!

Ele revirou os olhos.

–E eu preciso achar minha carteira. Não sei onde enfiei ela!

–Tá, mas não demorem- falou ele.

–Pode entrar Scott, a gente não vai te agarrar e te prender aqui...a não ser que você queira, né...

Ergui as mãos para cima, deixando claro que o comentário era de única e exclusivamente responsabilidade de Vee. Scott jogou a cabeça para trás e de uma risada suave, logo depois deu um passo para dentro de casa.

franzi os lábios.

Parecia que algo havia bloqueado sua passagem, porém não tinha nenhum obstáculo a sua frente. Podia jurar que tinha visto seu corpo bater contra algo e voltar...

Ele se afastou rapidamente, passando uma das mãos pelo o cabelo curto. Estourou uma bolha de chiclete.

–Nora é a dona da casa, então é ela quem deve me convidar para entrar

Agora foi Vee quem revirou os olhos.

–Tudo bem...pode entar Scott Parnell, eu deixo- disse sorrindo. Ele retribuiu o sorriso e adentrou sem nenhuma dificuldade. Olhei novamente por onde ele havia acabado de passar e tudo parecia normal. Será que eu estava imaginando coisas?

–Bom, vou lá procurar minha carteira!- Comuniquei, já rumando em direção ao meu quarto.

–Olha embaixo da cama! Você sempre acaba esquecendo alguma coisa embaixo da cama!- Berrou Vee quando já estava abrindo a porta. Me ajoelhei no chão e verifiquei lentamente. Bem ao canto, na parte mais escura estava ela. Minha linda e surrada carteira que ganhei de 15 anos dos pais de Vee.

Encontrei os dois na cozinha, enquanto Vee emborcava um copo de água rapidamente, bebendo tudo em menos de cinco segundos. Scott apontou para ela com o dedo polegar e abriu um grande e belo sorriso.

–Ela não para de beber água, Nora. Sério, daqui a pouco vai acabar se mijando por aí...

Eu ri. Vee franziu a testa e mostrou a língua.

–Rá-rá. Vou fazer xixi na sua cama, Scott.- Murmurou, jogando os cabelos loiros e compridos para trás.

–Ok- cortei, antes que a conversa se prolongasse mais do que o necessário.- Vamos indo, tenho que estar em casa da mãe chegar...ela quer um jantar em família hoje...

Cocei a lateral do rosto e Funguei. Vee bufou. Ela me entendia. Às vezes achava que só ela conseguia me entender.

Scott captou o meu desconforto e falou:

–Ainda sente falta do seu pai, né?

Dei um sorrisinho amarelo, aquele que eu dedicava para momentos delicados, ou quase delicados.

Ergui um ombro e deslizei as mãos pelo o rosto.

–Sim.

–Bom, temos uma praia para pegar, gente! Uhul! Vamos abalar bambu!- Cantarolou Vee.

Seguimos pela a Imperial Street, estacionando o novo (quer dizer, nem tão assim) Neon de Vee. Ele estava com problemas e passou uns três meses no conserto, e agora, finalmente, eu não precisaria mais bancar uma de motorista particular. Não que eu estivesse reclamando, mas...

Nos acomodamos em uma das dezenas de mesas de um bar a beira-mar e pedimos sorvete. Eu de chocolate, Vee de morando e Scott um misto de morango com chocolate. O ar estava muito quente ali, fazendo com que volta e meia alguns fios que escapavam do meu rabo de cavalo grudassem na testa. Na areia várias pessoas se divertiam, alguns mergulhavam. Sempre era assim, quase todos os anos tinha uma época durante o outono-inverno chuvoso e frio, que fazia calor. Praticamente toda a cidade ia pra praia, aproveitando o máximo dos poucos dias de calor e sol antes que a temperatura caísse de vez.

Estava quase caindo na tentação de lamber a ponta dos dedos para retirar o melado do sorteve quando Vee me fez uma pergunta.

–E esse colar?

Automaticamente deslizei a mão sobre a protuberancia em meu pescoço.

– Que que tem?

Vee agitou o ar, impaciente.

–Não vai tirar?

–Porque tiraria?

–Porque você ganhou de um cara que nunca mais deu as caras. Hello.

Dei de ombros, tentando passar um ar indiferente.

–Gosto do colar em si, e não da pessoa que me deu- minha voz falhou um pouqinho no final da frase. Torci para que não tenha ficado tão evidente para Scott e Vee, quanto ficou para mim.

–Sei.- Disse, arqueando uma sobrancelha.

–Certo, meninas...de quem vocês estão falando?- Perguntou Scott, deixando transparecer certa confusão. Ei ia abrir a boca para respondê-lo, mas Vee foi mais rápida.

–Do quase namorado de Nora- disse.

A chutei por baixo da mesa e recebi um olhar zangado como resposta.

–Ele não era nada disso- retruquei.

Vee revirou os olhos. Cruzei os braços no peito.

Ele ergueu as duas sobrancelhas e um sorrisinho maroto brincava no canto de seus lábios.

–E quem é esse?- Quis saber.

–Meu ex-parceiro nas aulas de matemática.

–Ex?

Assenti com a cabeça.

–Uhum.

–O que estava no meu lugar?- Ele sorriu e apareceu uma covinha no seu queixo.

Sorri de volta. Simplesmente não conseguia ficar indiferente àquele sorriso.

–Exatamente.

–Qual era o nome dele mesmo?

–Patch.

–Do quê?

Forcei a memória e me recordei de ter vislumbrado um dia o nome dele na lista de chamada.

–Cipriano.

Ele retesou levemente os músculos da face. Seus olhos endureceram.

–Foi melhor ter ido embora mesmo.

Vee e eu trocamos um olhar inquisitivo. Eu podia jurar que ela estava pensando a mesma coisa que eu.

–Você o conhecia?

Ele deu de ombros, parecendo um pouco distante e indiferente agora.

–Não.

Fiquei quieta por um momento.

–Entendi- falei por fim.

–Sério gente...quem é que quer uma Cola-Cola Light levanta a mão!

Scott levantou as duas mãos e relaxou um pouco na cadeira. Nós estavamos suando e minha blusinha fina estava colada em cada centimetro de pele. Não tinha percebido até aquele momento, mas minha garganta estava bastante seca.

–Tá, e quem é que vai pegar?-Indagou ela, olhando entre mim e Scott.

Ninguém se pronunciou.

Vee suspirou.

–Não posso ir, está tão calor que meus pés estão super inchados- argumentou.

–Nem vem- eu disse.

–Então vamos tirar discordar. - Propôs Scott.

Três minutos depois eu estava na fila do bar, jogando o peso de uma perna para outra a cada 10 segundos. Sério, não devia ter aceitado jogar discordar. Sempre perco. Definitivamente não tenho sorte.

–Está calor hoje, não?- Perguntou uma voz familiar logo atrás de mim. Me virei e encontrei Damon Salvatore, vestindo uma camisa de botões azul marinho e bermuda que iam até os joelhos.

–Oi, professor- cumprimentei.

–Que isso Nora, me chame de apenas Damon.

Sorri um pouco sem graça.

–Certo.

–O que está fazendo aqui?- Qustionou.

Tipo, não era óbvio?

–Pegar três Cocas...

–Está aqui com Vee e...?

–Scott- respondi sem pensar. Porque isso interessava ao professor de matemática da escola?

–Tem algo estranho nele- ele disse do nada. Por um segundo desfoquei a visão em algo distante. Quando voltei a fita-lo, tenho certeza de que minha expressão não era das mais amigaveis. Scott era meu amigo, e eu não gosto que falem mal dos meus amigos perto de mim.

–Sério? -Perguntei, meio cinica e então me virei novamente para frente.

–Nora?- Chamou de novo, mas dessa vez sua voz era mais fria e menos simpatica.

Ergui uma sobrancelha.

–Sim?

De repente o ar a minha gelou. Senti todos os pelos do meu braço se arrepiarem. As pupilas de seus olhos ficaram negras e dobraram de tamanho, parecia que seus olhos mudaram de azul para negro num piscar de olhos. No lugar onde o pingente tocava a pele do meu colo ardeu um tiquinho.

–Onde está Patch?

–O...o quê? Não...não sei- respondi, confusa.

Ele murmurou alguma coisa ininteligível.

–Seu pai, onde ele está?

–Morreu. Mas por que isso te interessa?- Perguntei, recuperando o foco e tomando consciencia da situação.

–Não interessa- respondeu rispiamente, parecendo perdido em pensamentos.

–Me interessa sim! Conhecia meu pai?- Eu quis saber, sentindo a pele de minhas bochechas queimarem.

–Nora, esqueça essa conversa- falou, olhando-me fixamente nos olhos. Pareia que queria me manipular, mas eu não conseguia entender do que se tratava aquela situação.

–Não- falei baixinho, como se minha gargante tivesse secado tanto que qualquer volume de voz mais alto que isso iria arranhar minha pele.

Dessa vez foi ele quem ficou confuso. Seus olhos voltaram ao tom natural e ficou me encarando pelo o que me pareceu um longo período. Franziu o cenho, e sua expressão me dizia que ele seria capaz de arrancar a cabeça de alguém. Dei um passo para trás, de repente com medo da hostilidade que emanava dele.

–Me desculpe, não sei o que me deu- murmurou por fim, virando de costas e partindo rapidamente, sumindo por entre o amontoado de clientes.

Voltei para a mesa alguns minutos depois, completamente desconcertada. Queria comentar com meus amigos o que aconteceu, mas minha intuição me pedia para guardar o que aconteceu para mim.

–------------------------------ ♥ ----------------------------

Ficamos a tarde inteira na praia. E quando cheguei em casa fui direto tomar um banho para me refrescar. O jantar com mamãe e Hugo foi normal. Nem muito chato, nem muito legal. Parecia que minha cabeça não conseguia se fixar muito tempo em apenas uma coisa.

Lavei a louça, me despedi e voltei para o quarto. Lá dentro, encontrei Patch sentado na beirada da minha cama. Arregalei os olhos e ele sorriu.

–Buh!- Exclamou baixinho.

–O que está fazendo aqui?- Perguntei, fechando a porta atrás de mim. Na verdade, não sei ainda porque não saí gritando pra minha mãe que tinha um desconhecido dentro de casa. E o pior. No meu quarto.

Ele levantou-se rapidamente e pousou delicadamente seu dedo indicador nos meus lábios.

–Fale baixo, Nora. Não queremos que sua mãe me pegue no seu quarto...mais uma vez.

Eu pisquei. Sabia que deveria manda-lo ir embora, mas não conseguia pronunciar as palavras. Só queria confronta-lo e questiona-lo o motivo por ter ficado tanto tempo sem aparecer. Queria saber como ele entrou no meu quarto. Queria saber se ele conhecia Scott e o Damon.

Queria saber muitas coisas que minha mente gritava e intitulava como "urgente", mas toda a minha força de vontade e pensamentos coerentes escorreu por água abaixo quando Patch me puxou para mais perto de si.

–Você não faz ideia de como eu queria fazer isso de novo- sussurrou. Seus lábios encontraram-se com os meus e nossas línguas começaram uma coreografia perfeita. Sexy. Quente. E eu me dei conta de que não queria me desgrudar dele tão cedo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre suas asas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.