Entre suas asas escrita por AndreZa P S


Capítulo 6
Coldwater High está ficando movimentada ou é impressão minha?




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Olhei para Patch com os olhos franzidos por conta da chuva. Ele parecia um gatinho molhado, com os cabelos escuros caindo até a altura dos olhos. Meu coração batia descompassado dentro do peito.

–Vamos, Nora, não fique me olhando com essa cara. - Ele apontou para cima e sorriu de lado- se não percebeu, está chovendo muito e eu não estou com o carro...- ele deixou o restante da frase pairando no ar.

–Não sei se minha mãe vai gostar da ideia.

O sorriso de Patch alastrou-se pelo o rosto.

–Somos parceiros, e ela quer que você tire uma nota boa, não é?

Assenti com a cabeça. Bom, estava chovendo muito forte, seria muita indelicadeza minha deixá-lo sozinho na chuva. A parada de ônibus mais próxima ficava a quinze minutos daqui, e pensando no que Patch dissera, mamãe não se importaria muito.

–Tá bom- falei por fim. Saí correndo pelo o gramado verde, com Patch logo atrás de mim. As chaves estavam no esconderijo secreto (embaixo do tapete de entrada que dizia "Seja Bem-Vindo"). A verdade é que tinhamos que escolher outro lugar, porque de secreto não tinha nada, era muito óbvio.

–Vire- mandei. Patch ergueu as sobrancelhas. Primeiro me deu um sorriso divertido e depois virou-se de costas para mim. Seus ombros eram largos, e a água fizera com que sua camisa ficasse colada na pele, evidenciando seus musculos e me deixando com pensamentos que normalmente eu não teria.

Catei a chave e abri a porta num rompante. Dentro de casa estava quente, fazendo com que eu largasse um suspiro de aconchego ao por meus pés na madeira escura e conhecida. Tirei os tênis completamente encharcados, deixando-os pelo o caminho e joguei a jaqueta vermelha num cabideiro antigo que ficava no hall de entrada. Estava começando a escurecer, e por isso acendi a luz da sala. Por um momento havia esquecido de que eu e Patch estavámos no mesmo ambiente. Ele deslizava uma das mãos pelo o cabelo emaranhado, forçando-os inutilmente para trás. Quando percebeu que eu o estava observando, eu olhei para baixo e corei. Ao que parece, toda vez em que me encontrava na presença dele, o rubor se tornava uma parte obrigatória do meu ser. Cruzei os braços, tentando manter o calor que insistia em escapar de mim.

Patch escorou-se no batente da porta e sorriu. Me olhou de baixo a cima, e quando finalmente chegou no meu rosto, seu olhar era vibrante. Ergueu um canto dos lábios para cima e balançou a cabeça em concordância.

–Nunca te vi tão bonita, Nora- falou, parecendo sincero. De repente, fiquei com medo. Não com medo do que ele poderia fazer a mim, mas do que eu poderia fazer. Eu tinha que me esforçar muito para não cair na tentação de olhar o seu corpo ou encarar a sua boca.

Eu sorri para ele. Mas assim que meus olhos esbarraram no espelho no outro lado do recinto, e pude constatar que meu cabelo estava uma coisa e que minhas roupas úmidas não me ajudavam em nada, tive certeza de que ele estava me zoando.

Fechei a cara.

–Que engraçado - murmurei, sem graça. Queria sair correndo e me trocar, mas não me sentia confortável em deixar Patch sozinho perambulando pela a casa. Se sumisse alguma coisa, provavelmente seria ele.

Ele arqueou uma sobrancelha e deu um passo na minha direção.

–O que foi?- Perguntou, parecendo realmente sincero. Um dos pontos que bloqueavam minhas tentativas em confiar nele, era que eu nunca sabia o que espreitava lá dentro daquela mente, não tinha certeza quando eu podia realmente confiar em suas palavras.

Soltei um espirro, e passei as costas da mão abaixo do nariz discretamente para verificar se não estava escorrendo nenhum líquido constrangedor.

Nada.

Ainda bem, pensei.

–Eu estou horrível- falei.

Patch atravessou o curto espaço entre nós, e agora não havia nada mais do que pouquissímos centímetros separando nossos corpos. Podia sentir o calor que emanava de sua pele, e percebi o que já era óbvio, mas que eu tentava negar a todo custo e esconder por debaixo do tapete. Eu estava terrívelmente atraída por ele, e a cada dia que passávamos juntos, mais essa atração crescia e tomava conta de mim. Eu não confiava em Patch, porém, não confiava em mim mesma quando estava perto dele.

–Isso quer dizer que eu estava certo quando disse que você era meio cega hoje mais cedo- murmurou, sorrindo torto.

Argh!

–Você é muito idiota- comuniquei-o e me virei.

O que eu estava pensando, afinal? Retiro o que disse sobre a atração.

–Nora- chamou-me. Demorei alguns segundos antes de me voltar novamente para ele.

–Nunca vire as costas pra quem você não conhece- disse. Apesar de suas feições mostrarem humor, não consegui deixar de sentir um calafrio percorrer o meu corpo.

Eu estava prestes a dar uma resposta mal criada quando a luz se apagou. Lá fora o vento gritava exigente e o aguaceiro não parava de cair do céu. Eu mal conseguia enxergar os móveis da casa e Patch. Podia ouvir a minha respiração acelerada e a de Patch completamente tranquila. Balancei a cabeça para mim mesma, aquilo não era certo. Minha intuição me dizia para sair correndo, para mandá-lo embora, mas meu corpo me mandava sinais de que queria ele perto. Muito perto.

–Que merda!- Xinguei.- Fique aí- ordenei, enquanto começava a avançar em meio a semi-escuridão com a sacolas de compras na mão, rumo a cozinha. Deixei-as em cima da mesa e abri a segunda gaveta do armário, onde mamãe costuma guardar as velas para situações como essa. Não havia nada ali. Quando voltei para sala, vislumbrei sua silhueta escorada na parede com os braços cruzados. Pisquei várias vezes, tentando apressar meus olhos a se adaptarem com a nova iluminação.

–Nada?- Perguntou. Havia uma nota de humor na sua voz. Eu nunca havia ficado mais desconfortável em toda a minha vida. Nem mesmo quando fiquei menstruada pela a primeira vez na aula de educação física e a maioria dos meus colegas tinham visto. Joguei o peso de uma perna para a outra.

–Não.

–Vamos ficar aqui então, vamos nos sentar no sofá. Parece bem macio.

Franzi a testa.

–Estou melhor de pé.

–Você que sabe- ele quase riu. Senti um calor queimar minhas bochechas. Ignorei o que ele dissera.

–Acho que tenho algumas velas no meu quarto- murmurei, tentando lembrar-me de onde exatamente as havia guardado. Subi as escadas de dois em dois degraus. Tinha organizado meu quarto hoje antes de ir para a escola, e tenho certeza de que elas estavam ali em algum lugar...

Ah, embaixo da cama!

Me deitei no chão e peguei um plástico com umas cinco velas brancas, quando me levantei, me deparei com Patch me fitando da soleira da porta. Meu coração deu um solavanco e meu coração disparou. Pousei a mão sobre o peito e fechei meus olhos.

Suspirei profunda e lentamente.

–Nunca mais faça isso!- Falei.

–Isso o quê?- Perguntou debochado, enquanto adentrava o quarto e pegava uma vela de dentro do saquinho que eu segurava. Novamente, estavamos perto demais pro meu gosto.

–Me assustar- resmunguei. Ele riu suavemente.

–Prometo que vou tentar não assustá-la mais.

–Tá.

Patch retirou um isqueiro dourado e preto de dentro da calça e acendeu a vela. Pegou um pires que se encontrava em cima da minha escrivaninha e pingou um pouco de cera em sua superficie para poder cola-la ali. O quarto era pequeno, e uma luminosidade alaranjada invadiu o recito, lançando sombras não muito indentificáveis pelas paredes rosa claro.

–Você fuma?- Eu quis saber. Patch pareceu curioso com a pergunta por apenas um segundo.

–Não.

Apontei para o isqueiro em sua mão. Ele sorriu.

–Gosto de estar preparado para emergências.

Imaginei por um efêmero momento qual tipo de emergência passava pela a mente de Patch para ele se dar ao trabalho de carregar um isqueiro junto consigo. Para mim, ele estava mentindo e com toda a certeza do mundo fumava. Fazia bem o feitío dele.

–E gosto do fogo. - Ele se aproximou novamente e acendeu-o diante de nós. Observou enquando a pequena luminosidade oscilava em meio as nossas respirações e o apagou.- Sabe por quê?

Balancei a cabeça. Ele abriu O sorriso.

–Porquê ao mesmo tempo que ele destrói, ele ilumina, ele salva.

Eu mal prestava atenção em suas palavras. Ali, agora, no meu quarto e a luz de vela, eu não conseguia parar de imaginar qual seria o sabor do seu beijo. Nunca soube o que era desejo de verdade até aquele momento. E Patch sabia disso, sabia porque encurtou ainda mais o espaço entre nós, e porque abriu levemente os lábios para deixar sair seu hálito quente, inclinando-se levemente para o meu pescoço. Eu estava paralisada, um beijo seria inevitável e tinha consciência de que me arrependeria amargamente depois. Um friozinho que nada tinha a ver com a temperatura se instalou no meu estômago.

–Não vou enconstar em você- ele se afastou apenas o suficiente para me olhar nos olhos. - A não ser que você peça.

Seu sorriso presunçoso surgiu. Meu ego falava forte, brigando comigo para que não precisasse engolir minhas palavras, mas meu coração mandava que eu pedisse e deixasse com que Patch me beijasse, para comprovar não somente em devaneios, mas também fisicamente na realidade a sensação de ter seus lábios nos meus.

Eu abri a boca para pronunciar algo quando a luz voltou, e junto com ela minha mãe parada na frente da porta aberta. Seus olhos estavam muito abertos e os lábios comprimidos numa linha rígida.

–O que é que está acontecendo aqui?- Perguntou. Sua voz me lembrava alguém que estava prestes a cometer um suicídio.

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Acordei ouvindo mamãe conversar com alguém. Ela questionava sobre um tal trabalho de Matemática, e se não teria outra forma de fazê-lo. Pus o travesseiro sobre a cabeça, sentindo a mínima vontade de encarar Patch e enfrentar uma maratona de estudos. Mas nem sempre querer é poder.

A manhã se passou lentamente. Não, na verdade ela se arrastou como um zumbi. A cena do quase beijo com Patch invadia a todo instante a minha visão, e a indignação comigo mesma por ter quase implorado para que ele me beijasse me assombravam a cada segundo. Eu não sabia com que cara eu conversaria com ele hoje. Talvez eu pudesse fingir que nada aconteceu.

Isso, nada aconteceu. Foi um erro, e vou passar uma borracha por cima. Irei pedir para o professor Nathanael para fazer dupla com Scott.

Na hora do almoço encontrei Vee sentada em um dos bancos da área verde da escola. Ela pintava suas unhas com uma cor vermelho sangue. Sentei-me ao seu lado.

–E aí- me cumprimentou.

–Fala, Vee.

–Você ficou sabendo?- Perguntou ela. Pensei por um momento sobre o que ela poderia estar falando, mas nada me veio em mente.

–O que?

Ela deixou o esmalte de lado e me fitou sorridente.

–O Sr. Nathanael vai sair da escola amanhã.

Ergui as sobrancelhas.

–Sério? Por quê?

Vee deu de ombros. Não que eu morresse de amores pelo o professor, mas não queria que ele fosse embora.

–Não sei, mas o cara que irá substiui-lo já está na escola. Parece que ele é namorado de uma menina do último ano que chegou na escola ontem.

–Como você sabe? - perguntei, curiosa.

–Sei o quê?

–Que eles são namorados. Pensei que aqui os professores não podiam manter contato intimo com os alunos. Acho que em qualquer colégio é assim.

Vee assentiu e aproximou-se de mim. Fechou a tampa do esmalte e me fitou com os olhos bem marcados de preto.

–Há boatos de que eles são irmãos e tal, mas eu vi eles se pegando atrás do estacionamento.

Minha boca se abriu.

–Nossa!- Exclamei.

–Isso mesmo. Bom, eu não vou acabar com o lance deles...mas se ele puder me ajudar em matemática eu acharia muito gentil da parte dele- Vee sorriu de um jeito um tanto venenoso, e eu não duvidei de que ela seria capaz de largar alguma charadinha para o novo professor. Ela lançou o olhar para o lado e eu o segui. Um homem de 1, 85 mais ou menos se aproximava ao lado de uma menina que devia ter a minha altura. O cabelo dele era muito escuro, e os olhos muito azuis. No seu rosto trazia um sorriso que poderia ser considerado sexy por muitas pessoas, mas para mim era mais assustador do que qualquer outra coisa. A garota tinha cabelos lisos e compridos, vestia jeans colados e camiseta escura. A bota de cano alto chegava até a altura dos joelhos.

Um casal muito atraente. Eles mantinham uma certa distância um do outro, mas dava para perceber que era bem intímos.

–Esse cara lindo de morrer é Damon Salvatore, nosso novo professor. A menina de sorte é Elena Gilbert- sussurrou Vee para mim enquanto eu observava eles atravessarem a passarela de granito e passarem por nós. Não conseguia desgrudar o olhar deles e eu podia jurar que quando o tal de Damon passou por nós, ele deu-me uma piscadela e um sorriso que causou-me arrepios de algo que não consegui identificar.

–Você viu?- Perguntei para Vee assim que eles entraram no prédio da escola, referindo-me à expressão dele ao passar por mim.

Ela juntou as sobrancelhas e franziu a testa.

–O quê?- Quis saber.

Agitei o ar com as mãos, dando a entender que não era nada importante.

–Nada não.

Provavelmente eu tinha imaginado.

Provavelmente.


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Notas finais do capítulo

Bye!



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