Entre suas asas escrita por AndreZa P S


Capítulo 29
Uma chance?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/612090/chapter/29

Eu tinha a sensação de estar tentando construir uma casa dentro do olho de um furacão o que, obviamente, seria uma tentativa que no final não daria em nada. As palavras do meu pai ainda enchiam os meus olhos, e eu quase podia escutar a voz dele pronunciando elas pra mim. Por que tudo tinha que ser tão difícil? 

Por uma fração de segundos desejei ter os antigos problemas de volta. Como minha mãe namorando um cara um ano e pouco do papai ter morrido, as notas de fim de ano que me levariam para a melhor faculdade do estado, ou para trabalhar como garçonete em algum barzinho por aí. Nada contra as garçonetes, mas meu futuro não se resumia à esta cidade. Os problemas sobre ter minha mãe respirando no meu cangote durante 25 horas por dia. 

Mas logo passou, porque se não fosse isso eu jamais teria conhecido Patch. Jamais teria conhecido meus novos amigos. 

No dia do meu aniversário recebi uma ligação de mamãe, sua voz estava arrasada e eu me senti mal por ela. 

—Oi, mãe. Estou com saudades. - Falei enquanto ligava a luz do abajur e me sentava na beirada da cama.

—Querida, sinto muito por não estar com você. Meu bebê está crescendo, nem posso acreditar. - Choramingou ela do outro lado da linha e eu enguli em seco. Não era sua a culpa dela estar longe no dia do meu aniversário.

—Tudo bem, mamãe...não estou mal, eu sei que você estaria aqui se pudesse. - Digo, tentando reconfortá-la.

—Não, Nora. Por que fui ter essa ideia idiota de ir viajar logo agora? - Então suspirou, e eu também.

—Não se preocupe, quando você voltar pode me recompensar. 

Mamãe riu um pouco.

—Vou pensar em algo muito grande pra conseguir isso. - Murmurou.

—Sei que vai conseguir. 

—Uhum. Hugo te mandou parabéns aqui. - Me disse.

—Diz muito obrigada... - olhei para Patch deitado com as mãos atrás da nuca na minha cama, enquanto ele me encarava sem nem piscar. - Olha só...tenho um trabalho importante pra apresentar na escola. Te vejo segunda a noite? 

—Sim, querida. Boa sorte, meu bebe. 

—Ai, não, mãe...bebê não. 

Ela riu mais alto dessa vez. 

—Tudo bem, boa noite, filha.

—Boa noite. Beijo e eu amo você.

—Amo você.

Então eu desliguei e fui me alinhar próximo ao corpo de Patch, repousando minha cabeça eu seu peitoral quente, enquanto minha perna ficava por cima da sua. Ele me apertou mais contra si, e eu imaginei que talvez ele estivesse pensando sobre toda essa maluquice que descobri. Sua mão descia e subia em uma velocidade calma, tranquilizadora. 

Depois de alguns minutos de completo silêncio, perguntei:

—Por que está tão quieto? 

—Estou apenas aproveitando o momento. - Respondeu com um sorriso na voz. Ergui o meu rosto para fitá-lo, apenas para ver aquele canto de sua boca arqueada de forma sexy.

—Sabe, eu estava aqui me perguntando...você não gostaria de saber como é tocar e sentir algo? - Eu ainda mantinha os olhos fixados em seu rosto, mas seu olhar estava direcionado para o teto do meu quarto. Suas feições não demonstravam nada, só percebi que minhas palavras haviam o afetado de alguma forma quando senti que seus músculos ficaram tensos de repente.

—Nora, me sinto contente o suficiente por estar ao seu lado, se esse é o preço que tenho de pagar por estar completamente apaixonado por uma garota humana, então pagarei de bom grado. - Finalmente seus olhos se encontraram com os meus, e eles me queimavam sem dor.

—Não acho justo. - Reclamei, escondendo o rosto em sua camisa escura. 

—A vida não é justa. Mas a que está se referindo exatamente? 

Solto um longo e ruidoso suspiro.

—Isso. Você me faz sentir coisas... - permancei imóvel e corei violentamente o rosto. Patch, como se para me provocar, deslizou sua mão quente nas minhas costas, por baixo da blusinha fina do pijama. Sinto meu corpo esquentar com o seu toque, mas não seria tão simples assim me desviar do assunto. - Sério, Patch. Quero que você me sinta também. - Falei, agora cravando um cotovelo no colchão e me erguendo o suficiente para ficar cara a cara com ele. 

Patch apertou a ponte do nariz usando a mão que segundos antes repousavam provocativamente na minha pele das costas. 

—Pra mim está bom assim. Por quê você não esquece esse assunto? - Perguntou, me puxando para cima de seu corpo e me segurando firmemente pela a cintura. Perdi o ar por um momento, e minha mente se revirou, então tive que fechar os olhos durante alguns instante para recuperar a coerencia. Quando os abri, Patch sorria meio brincalhão e sedutor, mas seus olhos estavam tentando esconder alguma emoção de mim.

—Eu não vou esquecer isso, não. Quero que você sinta tudo o que eu sinto. - Como se para provar o que dizia, depositei um beijo cálido em sua boca, e deixei com que minhas mãos erguessem sua camisa. - Quero que você se arrepie com o meu toque também. 

Patch havia fechado os olhos, mas seu corpo já começava a relaxar.

—Sinto você, não de forma física. Mas sinto, você, anjo. Isso basta. - Murmurou e eu solto um grunhido baixo.

—Não acho certo essa relação ser unilateral. - Resmunguei, saindo de cima dele e me sentando o mais longe possível dele na cama. 

Ele inclinou a cabeça para o lado, me olhando com a mandíbula trincada.

—O que sugere então? - Questiona, a voz soando um pouco mais dura do que eu esperava, fazendo com que minha coragem fosse um pouco abalada. Hesito por alguns segundos antes de pronunciar em voz alta o que tive pensando desde lera a carta que papai me deixou.

—A Cura.

Patch me olhou como se eu fosse louca, tanto que ele sentou-se e ficou olhando para a parede vazia durante um bom tempo.

—Não vou fazer isso com você. - Respondeu simplesmente, como se aquilo estivesse fora de cogitação. 

—Não eu, a outra. É a nossa chance Patch. - Eu disse, ficando de joelho sobre o colchão e puxando os braços dele em minha direção. Ele parecia perdido em pensamentos. - Por favor, vamos encontrá-la, poderemos sair daqui...você poderia entrar para a faculdade comigo, teriamos filhos e...

Parei de falar quando vi uma fagulha de ressentimento em seu rosto, mas que logo sumiu, quase como se nunca tivesse passado por ali. Enquanto Patch balançava a cabeça de um lado para o outro, comecei a sentir que alguma coisa estava errada.

—Nora, eu não sou bom pra você. Não posso te dar tudo o que quer. A quem queremos enganar? Jamais poderei te dar uma família normal, não quero te privar de nada. Nós dois somos uma péssima ideia, por mais que eu odeie admitir. - Seus olhos escuros estão tão duros, e sua expressão desolada, e agora ele não fez questão de escondê-la. 

Me embrenhei entre suas pernas, pondo minhas mãos uma de cada lado de seu rosto. Não pude impedir que as lágrimas enchessem os meus olhos, aquilo que Patch dizia não era, nem de longe, uma possibilidade. 

—Não fala assim, eu amo você. - Sussurrei. Patch tentou me afastar, mas logo parou, e eu respirei um pouco mais aliviada.

—Eu sou o cara mais egoísta do mundo, não é a toa que fui expulso do céu. - Murmurou, dando uma risadinha...querendo fazer graça, mas o clima não estava bom pra isso, pelo o contrário. - Por que não consigo simplesmente largá-la e te deixar seguir o seu caminho? - Questiona mais para si mesmo do que para mim, suas sobrancelhas estão franzidas. 

Passei o dedo em sua testa, empurrando para trás alguns fios de cabelo rebeldes para trás.

—Eu não vou suportar se me deixar. Apenas vamos tentar...sobre a Cura, vamos procurá-la...não custa nada. E caso não dê certo, por mim tudo bem...antes uma vida com você, do que sem você. 

—Eu te amo. - Sussurrou ele antes de pousar os lábios no meu pescoço e eu me inclinar automaticamente para frente.

 

Dois dias depois estávamos em uma rua íngrime, caminhando o mais silenciosamente possível entre um beco que, com certeza, me faria estar tremendo caso não estivesse com Patch. Nós haviamos tentado desvendar as coordenadas da carta com a ajuda de Bonnie, Caroline e Vee, mas fomos sozinhos durante a noite. Patch não queria que eu não fosse de jeito algum, mas eu disse que iria de qualquer forma, ele querendo ou não. Praticamente bufando, ele me trouxe junto com ele. 

Quando estamos perto de uma porta de metal, onde era possível (quem sabe) encontrar algo que nos ajudasse a desvendar o mistérios, escutamos um barulho suave logo atrás de nós. Engulo em seco e sinto meu coração acelerado.

—Vá para atrás de mim, Nora- murmurou Patch, os lábios comprimidos em uma linha rígida. Deu um passo para a esquerda, me escondendo por detrás de seus ombros largos e musculosos. Meu coração batia acelerado, e eu podia sentir a adrenalina correndo por minhas veias.

Olhei em volta, procurando por algum sinal de ameça, mas tudo o que podia ver eram silhuetas de prédios arruinados e escuridão.

—O que houve?- Indaguei com a voz tensa. Mesmo não tendo visto nada fora do normal, minha intuição me dizia que estávamos correndo algum tipo de perigo.

—Escute, anjo, preciso que você saía daqui o mais rápido possível.- Sua voz era calma, mas eu podia ver a urgência de suas palavras e a sua mandíbula cerrada. Ele virou-se para mim, envolvendo meu corpo no seu abraço quente. Apertei meu rosto contra seu pescoço, inspirando cuidadosamente o seu aroma típico de hortelã e terra molhada.

Quando voltou a falar, seus lábios roçavam minimamente a pele exposta do meu ombro, causando-me arrepios automaticos.

—Preciso que vá para a avenida principal. Meu Jeep está na rua a direita, logo depois daquelas lixeiras de aço, você se lembra?- Assenti com a cabeça.- Passe por entre os prédios, é escuro o suficiente para ninguém enxerga-la. Mas seja Rápida, Nora.

Seu rosto estava angustiado, e eu queria dizer que não queria ir sozinha, que queria ficar junto com ele. Mas essa seria uma batalha que já começaria perdida. Dei um passo em direção ao local em que me indicara, mas fui surpreendida por seu aperto no meu braço.

—Nora- sussurrou. Me virei pra ele na hora, sentindo meu corpo todo amolecer.- Nora, por favor...não caía, não tropece nos próprios pés e não faça barulho.

Eu corei. Claro que cair e tropeçar em obstáculos invisiveis era a minha cara. Claro que ele não poderia perder a piada.

Lhe mostrei o dedo do meio, e recebi um quase sorriso como resposta.

—Você vai demorar?_-Perguntei.

—No máximo 10 minutos, não se preocupe, não vou deixar nada te acontecer.

Concordei com a cabeça. Mas eu não estava temendo por mim, era por ele. Sabia que estava envolvido com coisas que eu não entenderia mesmo se quisesse.

Patch me empurrou delicadamente, fazendo com que eu finalmente começasse minha jornada imprevísivel pela a noite. Pelo que me lembrava, o trajeto não demoraria mais do que cinco minutos se eu fosse rápida o suficiente. Corri em direção aos prédios, quase tropeçando em um metal retorcido no chão. Antes de virar a esquina, me dei a oportunidade de me virar e fitá-lo mais uma vez.

Mas Patch não estava lá. Senti meu sangue gelar, e uma sensação ridicularmente apavorante de solidão. Onde ele estava? Queria gritar por seu nome, mas não sabia quais os riscos que isso implicaria a mim e a ele. Comecei a ficar zonza, e foi então que mãos àsperas seguraram firme meus pulsos, como uma algema de aço, do qual não existia a possibilidade de eu me libertar.

—Fique quieta, que será melhor pra você- murmurou uma voz masculina, seu hálito quente causando um formigamento estranho no meu pescoço. Apesar da voz macia e agradável, eu temi pela a ameaça sutil de suas palavras. O homem então amarrou meus pulsos atrás das costas, e vendou-me com um tecido escuro.

Fui guiada por algum lugar extremamente úmido, e o cheiro de urina era muito desagradável. Quando paramos pude vislumbrar dois faixos fortes de luz através do tecido, provavelmente de algum veículo. Fui empurrada bruscamente para dentro do carro. Queria gritar para Patch, mas mesmo assim agradeci por ele não estar comigo naquele momento.

—É essa a menina?-Perguntou outra voz masculina. Meu corpo inteiro estava enrijecido.

—Sim, vi quando ele deixou ela.

Patch não me deixara. Eu que não seguira suas instruções a risca.

Passamos por ruas esburacadas, curvas intermináveis até que o carro parou em algum lugar. O cheiro de borracha e o som de metais me dizia que era alguma fábrica, ou algo do gênero. Me levaram por um elevador até uma sala quente e abafada, devia estar uns 39 graus ali.

Talvez eu estivesse no inferno, afinal, de uns tempos pra cá cheguei a conclusão de que nada era impossível na minha vida. Alguém retirou minha venda, e eu tive que piscar várias vezes até conseguir focar no cara que se encontrava diante de mim. Era alto, loiro e de olhos azuis assustadores.

—Nora?-Questionou-me. Não respondi. Não respondi porque estava com medo, e porque não interessava pra ele.-Essa algema está machucando? Vou tirar ela pra você...

O cara se aproximou de mim, retirou a algema e eu quase me senti agradecida por isso. Porém, ele não se afastou, manteve-se ali, muito perto de mim, mais do que eu gostaria. Mantive a cabeça baixa.

—Me chamo Gregory H. e você é a Nora, não é?

Dei de ombros.

—Não interessa.

—É a namorada do Patch?

O fitei.

—Não.

—Mentirosa.

Gregory puxou meu queixo para cima, dando-me um beijo nojento e violento. Sem pensar, mordi seu lábio inferior com toda a força possível, e pude sentir o gosto de sangue na minha boca. Gregory me fitava incrédulo e com os olhos em brasa.

—O que você fez?!

—Não tá vendo!

E foi então que ele me empurrou com uma força sobrehumana em direção a cadeira, que se espatifou no chão junto comigo. Me encolhi no chão, me posicionando em posição fetal. Minha cabeça estava ardendo muito, e o sangue que vertia do possível corte na minha testa escorria sem limites pelo meu rosto.

E não, Gregory não se satisfez em me ver naquela situação, ele tinha que me machucar ainda mais. Chutou-me no estomago duas vezes, para depois me erguer pelo o pescoço até que meus pés não estivessem mais tocando o piso úmido. Retirou do bolso um pequeno canivete e balançou ele descuidadosamente diante de mim.

—Patch não te ensinou a ser educada?

—Já nasci educada, querido, ninguém precisa me ensinar...já você.

Antes que ele pudesse me matar de vez, chutei no meio de suas pernas com toda a força que havia aprendido nas aulas de luta que tive quando criança. Felizmente havia surtido efeito, e acabei me esborrachando no chão quando me soltou.

Tentei me arrastar até onde o canivete caiu, tentando calcular mentalmente minhas chances de chegar lá antes dele. Mas no fim, não demorou muito para Gregory pega-la e se posicionar em cima de mim, me imobilizando e desliza-lo sutilmente pelo o meu pescoço.

—Vou te beijar de novo, e dessa vez você vai cooperar e dar o melhor de si- disse com um sorriso sinistro nos lábios.

—Não sonha.

Cuspi entre suas sobrancelhas e pude sentir que dessa vez não teria escapatória, ele me mataria. Mas quer saber? Tudo bem, eu só desejo que exista vida após a morte para poder inferniza-lo todos os dias da sua existencia suja.

Gregory ergueu a mão com punho fechado, acho que queria me soquear até a morte ou algo do tipo, mas uma voz alta entrou no cenário. Virei minha cabeça pro lado pateticamente, podendo ver um homem de uns cinquenta anos.

—GREGORY O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?

Pontos negros começaram a tingir a minha visão, e não demorou muito para que eu fosse sugada para a incosciência.

Suspirei exausta.

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!