Entre suas asas escrita por AndreZa P S


Capítulo 28
Um presente de aniversário surpresa pra você.




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Hoje acordei muito bem, normal e, de certa forma, contente. Me olhei através do espelho e vi a velha Nora de sempre, a pele já não estava mais tão vistosa assim, os olhos agora tinham um brilho saudável e cumum. Desço as escadas devagar, olhando para o vestido florido que escolhi, um dos meus prediletos sem duvida alguma. Bem, hoje é meu aniverário de 18 anos, minha maior idade! Além disso, voltei a ser humana, e isso era o suficiente para me fazer querer comemorar e me arrumar pra essa data. 

Na sala não havia ninguém. Franzi a testa enquanto descia o último degrau e dava uma olhada ao redor. Caminho confusa até a mesinha de centro, que estava completamente queimada e caindo aos pedaços. Um aperto aflingiu o meu peito. O que será que tinha acontecido ali? Com uma mão sobre o peito, rumo em direção à cozinha, sendo cautelosa em cada passo que dava, dobro o pequeno corredor e quando entro no ambiente espaçoso, dou de cara com os meus amigos batendo palmas e sorrindo para mim.

—Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida! - Cantavam eles entre risos. O meu sorriso era tão grande que chegou a dar uma sensação esquisita nas minhas bochechas.

Patch não cantarolou, apenas encurtou o espaço entre nós e me beijou ternamente, acariciando o meu rosto e meu braço enquanto nossos lábios estavam colados um no outro. Assim que nos afastamos para respirar, todos começam a bater palmas de forma eufórica e eu me sentia muito feliz mesmo, como há tempos não me sentia. 

—Feliz aniversário, anjo. - Sussurra ele em meu ouvido, causando um arrepio já conhecido pelo o meu corpo. Olho para o seu rosto e tento transmitir com o meu olhar o quanto eu o amava e o quanto eu estava contente por ele comemorar essa data comigo hoje. 

Segundos depois, contemplo Bonnie, Vee e Caroline, todas me fitavam de um jeito animado e Care ainda tinha aquele ar de admiração que vira ontem. 

—Obrigada, vocês são incríveis! - Murmurei com a voz um pouco embargada, me dando conta que há algum tempo atrás minhas amizades se resumiam basicamente à Vee, porém, agora o grupo cresceu e a sensação era boa. 

Uma de cada vez, as meninas se aproximaram. Bonnie me abraçou de forma afetuosa, e sorriu para mim quando nos afastamos. Vee bagunçou os meus cabelos e me apertou contra o seu corpo, me fazendo perder o ar por alguns segundos. Já Care, veio saltitante me dar dois beijos na bochecha.

—Espera, tem que ser três pra casar! - Exclama animada, dando o terceiro beijo em minha bochecha esquerda e dando um olhar camarada para Patch. 

Solto uma risadinha nervosa e um pouco constrangida. 

—Obrigada...eu acho. - Respondi. Em seguida, olhei melhor ao meu redor. A cozinha estava muito bem decorada, de rosa e azul fraco, e ficou muito bem feito apesar de ficar claro que fora feita às pressas e não com muitos recursos. O Bolo simples em cima da mesa continha as mesmas cores da decotação e tinha um coração vermelho feito de glassê no meio, e eu reconheci o traço trêmulo. Fora Vee que desenhara. - Vocês fizeram um bom trabalho aqui. - Falei ao puxar a cadeira e me sentar.

—Caroline fez um bom trabalho realmente. - Disse Patch, que estava ao meu lado e pusera uma de suas mãos em minha coxa. Lanço um olhar para ele, que me retribuiu com aquele sorriso cafajeste que eu tanto amo.

Vee deu de ombros, mas abriu um sorriso. 

—Tive a ajuda de todos, não fiz sozinha. - Respondeu Care, um pouco sem jeito, mas com um sorriso enorme em seu rosto. Bonnie apertou a mão de Caroline que estava em cima da mesa, e sorriu para ela. Aquele gesto dizia muito, acredito que eram amigas há muito tempo. 

—Gente, a vela! - Exclamou a morena, balançando os cabelos que estavam ainda mais curtos do que a última vez que a vira, deve ter cortado ontem ou hoje pela a manhã. 

—Verdade! - Concordou Caroline ao bater palmas, e eu achava engraçado o fato dela parecer estar tão animada quanto eu, que sou a aniversariante. Acho que manteriamos contato com ela durante muito tempo, não iria esquecer o quanto tentou me ajudar, assim como todos que estavam ali.

Bonnie apressou-se em pegar duas velas, uma rosa em formato de 1 e outra azul em formato de 8. Ela cravou-as no bolo.

—Faça um pedido, Nora! - Instruiu ela, com aquele sorriso discreto que lhe é típico.

Vee espalmou as mãos sobre a mesa e balançou a cabeça com uma voracidade exagerada. Em seguida, ergueu seu dedo indicador.

—Ela precisa apagar o fogo antes, a vela tem que estar acesa! - Explicou ela. 

—Bonnie, acenda pra nós. - Pediu Caroline com uma piscadela cheia de significados e Patch deu uma risadinha. Esperei que ela pegasse um isqueiro ou algo do tipo, mas ela apenas ergueu dois dedos e apontou para a vela, sorrindo ainda mais que antes.

Phesmatos Incendia. - Murmurou em voz baixa, enquanto eu observava um pouco chocada o fogo se acender em laranja e vermelho vivos. 

Dou um tapa em minha própria testa.

—Ei, foi você que colocou fogo da mesinha de centro na sala?- Perguntei, não contendo a risada. Bonnie deu de ombros e cruzou os braços. 

—Fui obrigada a tomar uma iniciativa. - Explicou ao dar uma olhada reprovadora em Vee e Caroline.

—Bonnie está expert em fazer feitiços aleatórios e superfúlos. - Falou Patch, com aquele ar de riso que antes me irritava tanto, mas que agora sou apaixonada. Bonnie deu de lingua e recostou-se na cadeira. 

—Vai se danar, Patch. - Resmungou, então Vee deu um soquinho de camaradagem no ombro de Bonnie.

—Isso aí BomBom! - Exclamou Vee, causando uma risada em Caroline e outro dos sorrisos de Bonnie. Olhei para Patch, esperando ver um revirar de olhos ou algo do tipo, mas ele estava, aparentemente, achando graça.

Solto um suspiro contente.

—Obrigada. - Falei novamente, sentindo que talvez tudo pudesse ficar bem pro meu lado, mesmo nenhum dos meus amigos sendo "normais", nem mesmo o meu namorado. Mas ainda que eu fosse humana agora, ainda não era exatamente alguém...comum. Éramos um grupo engraçado, mas que ficava óbvio que a cada dia que passava se ligava ainda mais uns aos outros.

 

Algumas horas mais tarde fui ao porão pegar a caixinha que, até então, não tinha significado algum além de puramente sentimental. O lugar está cheio de pó e me perguntei o motivo de eu ter guardado ele ali ao invés do meu quarto. Me lembro que na época eu desejei ardentemente que papai tivesse deixado algo para mim, uma carta, um presente que eu pudesse usar sempre, mas me senti um pouco decepcionada quando abri a pequena caixa e não encontrei nada, apenas um fundo rosa choque e uma única pétala de flor já seca. Porém, era tudo o que eu tinha e decidi guardar.

Bonnie espirrou atrás de mim e eu me virei para ela um tanto corada.

—Desculpa, não sabia que tinha tanto pó assim. 

Ela espana o ar com uma das mãos, mas sua expressão está tranquila.

—Não se preocupe, vamos apenas pegar a caixinha e sair daqui. - Falou ela em tom de súplica que eu teria acharia engraçado, caso não fosse constrangedor.

Caminho entre os entulhos, até chegar no pequeno ármario onde mamãe guardava alguns livros antigos, e outras coisas que ela não usava, mas que tinha pena de jogar fora. Me acoquei no chão, enquanto Bonnie acendia a luz da lanterna de seu celular para facilitar a procura. Abri a segunda gaveta e comecei a retirar as folhas de papel que tinha ali, desenhos que fiz quando era criança. Ao fundo, avistei a pequena caixa e me senti mal por ela estar naquele estado. Completamente coberta com um pó acizentado. 

Pisquei algumas vezes, confusa com o que aconteceu no segundo seguinte que a encontrei. Uma luminosidade rosa a envolvia, ora ficando clara e forte, ora escurecendo e quase sumindo. Curiosa, a puxei com uma das mãos, torcendo para não haver nenhuma aranha ou inseto que pudesse me picar ou morder. Acabo me sentando no chão, sem me importar com a sujeira e deixo a caixa sobre o meu colo. Bonnie se ajoelha ao meu lado e assim que ela se aproximou a luz se intensificou, ficando forte e constante. Viro o meu rosto na direção a ela.

—O que é isso? Ela não fazia isso antes. - Disse eu, olhando encantada e curiosa ao mesmo tempo para a luminosidade. 

Bonnie balança a cabeça em concordancia, parecia perdida em pensamentos. 

—Tem magia nela. - Diz simplesmente, sem tirar os olhos da caixinha. 

Eu estou perplexa.

—Caraca. - Foi o que eu disse, piscando várias vezes enquanto uma agitação se aflorava em meu interior. - O que isso quer dizer? 

—Quando um objeto está enfeitiçado e precisa de magiar para abrir, ou para mostrar o que há em seu interior, ele brilha assim que a escolhida para fazer isso chega perto o suficente, é como se fosse um sinal. - Responde ela antes de estender as duas mãos sobre a caixa e fechar os olhos.

—O que você está fazendo? - Sussurrei com os olhos arregalados. Será que quando eu achava que já sabia de tudo, sempre vinha algo ou alguém para me jogar um balde de água fria?

—Shh. - Pediu ela, respirando profundamente várias vezes. A cada 5 segundos a luz irradiava de forma mais potente. -Rogo vim natura patitur ut quae intus latet, velum ruant aperiam verum assumere quod invisibile pictura. Phesticra ale nahurte. 

A voz de Bonnie se arrastava por todo o ambiente, suas palavras saiam de forma fluída e rápida, enquanto ela repetia várias vezes a mesma frase. Pouco a pouco a luminosidade começou a cessar. Olhei para o rosto de Bonnie, sua testa havia se franzido e ela parecia fazer certo esforço. De repente, ela abre os olhos com a respiração acelerada. 

—Abra a caixa. - Exige com a voz um pouco afobada. Com certo receio -apesar da curiosidade latente em mim- a abri, me deparando com uma folha de papel dobrada. 

—Vou deixar você sozinha. - Falou ela, afastando-se de mim sem esperar respostas. Fito a folha por um breve momento, sentindo as lágrimas querendo transbordar. Papai, no final das contas, havia me deixado uma carta.

Desdobro-a rapidamente, e tive que passar as costas das mãos pelo os meus olhos para poder enxergar as palavras sem que minha visão ficasse turva. 

"Nora, em primeiro lugar quero dizer que eu amo você e sua mãe. Mais que tudo nessa vida.

Se você está lendo isso agora, deve ser porque o meu plano está dando certo, Sheila deve ter vindo lhe contar sobre a Cura. Agradeça a ela por mim. A caixa estava encantada e somente uma Bennet poderia abri-la, e eu tenho muito o que agradecer à essa família que me ajudou muito. Filha, você já deve saber sobre minha linhagem e a sua, sobre o fato de ter a transformado na própria Cura, e espero no fundo do meu coração que eu tenha feito a escolha certa. Desde que a desenvolvi tenho recebido muitas ameaças, parece que as notícias correm rapidamente no mundo sobrenatural e eu sei que não vou poder lhe explicar pessoalmente quanto a isso e poder ver a sua reação. Tome cuidado, meu amor, não fale sobre a sua condição com ninguém e se deconfiar que alguém que conhece vive nesse submundo se afaste. Pedi para Sheila lhe proteger e eu sei que ela o fará perfeitamente bem, confio nela plenamente e eu peço que faça o mesmo. 

Mas, além disso, quero te explicar uma coisa; Nora, por favor, não deixe ninguém suspeito se aproximar de você. Se por algum motivo -e que Deus te livre disso- você se encontrar em uma situação de perigo por conta do seu sangue, tente fugir, pois você não irá sobreviver. Para a Cura fazer efeito em outro corpo, terão que sugá-la até a morte. Além disso, eu pensei muito se contaria para você ou não, mas acho que tens o direito de saber. Existe uma outra Cura, está escondida com magia também...no final da carta, tem as coordenadas. Você terá que se esforçar muito para encontrá-la, caso a queira.

Eu sei que já lhe falei um milhão de vezes e que já escrevi isso aqui, mas eu te amo muito, com todas as minhas forças. Tudo o que eu fiz é por você.

Obs: Cuide de sua mãe."

Observo o desenho confuso que meu pai fez no papel, eu não entendi nada. Algumas palavras estão confusa e com letras trocadas, simplesmente não fazia a minima ideia do que poderia significar. Meus olhos agora já estavam úmidos novamente e eu tive que respirar fundo muitas vezes antes de conseguir me controlar. 

 


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