Novamente Você escrita por Letícia Castanheiras


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Desculpem, sei que demorei pra postar. Então pra compensar fiz um capítulo grande pra vcs.



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Capítulo 7

Eu estava tendo revelações demais pra um único dia. Teresa aparecer viva, a descoberta de uma mutação ainda pior do Fulgor, uma notícia de gravidez inesperada, meu amigo sofrendo por não saber se o bebê dele sobrevivera e agora descubro que existe uma chance de tudo mudar pra melhor e vai ser graças ao feto que Teresa está carregando. Era muita coisa pra minha cabeça.


Minho conseguiu tirar Andrew de cima de mim e quando me levantei a única coisa em que consegui prestar atenção foi nos olhos cheios de lágrimas de Teresa. Ela não me olhava com ódio ou raiva como há alguns minutos atrás, mas sim com mágoa, com dor e só daí eu me dei conta de tudo o que havia dito a ela.


– Teresa me desculpe, eu não sei o que deu em mim, eu não queria ter te insultado naquela maneira. Eu não queria ter falado nada naquilo. – Disse me aproximando.


– Mas falou, e com toda convicção que alguém poderia falar – Ela disse se desvencilhando de perto de mim – Você sempre me julga Thomas, sem antes saber a verdade, e eu já estou cansada disso. Como eu queria que o antigo Thomas de antes da clareira voltasse.


– O que você quer dizer com isso? – Perguntei.


– Nada, ela não quer dizer nada. Agora por favor, saia daqui, eu estou louco pra dar um tiro em você, só não faço isso porque Teresa não pode passar nervoso por causa do NOSSO FILHO.


– Não, eu não quero ir. Teresa por favor, me escute. Perdoa-me – Eu suplicava enquanto meus amigos me arrastavam pra fora da sala e Teresa se acabava em lágrimas nos braços naquele mértila.


Saímos do Berg e fomos direto pra cabana do Minho. Segundo ele, eu não tinha condições de aparecer em público da forma em que eu estava e principalmente aparecer pra Brenda.


– Cara, o filho da mãe fez um estrago legal no seu rosto – Gally se divertia as minhas custas enquanto eu limpava o sangue que escorria do meu nariz.


– Até que o Andrew foi bonzinho, se fosse eu, teria dado um tiro na sua cabeça, Thomas. Eu juro que quase te segurei pra ele fazer isso – Vanessa falou vermelha de raiva – Você foi um otário dizendo as coisas que disse. Teresa não merecia ouvir aquilo, ainda mais grávida.


– Dessa vez eu tenho que concordar com minha mulher, Thomas. Eu nunca fui com a cara da Teresa, mas acusa-la de ter dormido e engravidado do Andrew apenas pra conseguir alguma coisa, isso já foi demais.


– Eu sei, e é por isso que eu vou lá, vou falar com ela, pedir perdão. Dizer que eu não sabia o que estava falando na hora, que a raiva era demais e me consumiu. Ela precisa me ouvir.


– Tá, mas você vai fazer isso amanhã depois que os ânimos se acalmarem.


–Será que não entendem? Amanhã já vai ser tarde demais, o Berg vai estar pronto e eles vão partir. Eu não posso esperar até amanhã.


– Os guardas não vão te deixar entrar, Thomas. Tenho certeza que Andrew deu ordens expressas em relação a isso. E mesmo que consiga, acredito que Teresa não quer te ver nem pintado de ouro. É capaz de ela mesma dar um tiro na sua cara – Vanessa disse com nem um pingo de delicadeza.


–Eles nem sabem se vão conseguir consertar o Berg até amanhã – Gally disse do nada e prosseguiu – Enquanto eu estava conversando com o Andrew, um rapaz da guarda apareceu e disse que umas das peças do motor havia desaparecido, provavelmente na queda. Eles vão começar a procura-la pelo amanhecer. Você ainda tem um tempo pra tentar consertar a burrada que fez.


– Mas não hoje, pois agora temos muita coisa pra discutirmos, a começar por essa história sobre o bebê de Teresa. Será que é verdade? – Minho gesticulou.


– Sim, é totalmente verdade – Thaís apareceu na porta da cabana, que estava aberta – Ao contrário do que a maioria pensa, Teresa é uma boa pessoa e tudo o que ela já fez e faz é pra ajudar e por causa disso, ela pode estar correndo risco de morte, de novo.


– O que? Como assim? Quem faria isso? – Perguntei me assustando com o que ela falou.


– O Braço Direito. Teresa só engravidou porque descobriu que esse bebê poderia ajudar a vida humana, mas infelizmente eles também descobriram isso e estão fazendo de tudo pra capturar a hospedeira antes que seja tarde.


–Eles querem matá-la?


– Nós não sabemos o que eles querem, se matá-la ou esperar o bebê nascer e tê-lo como uma forma de proteção. Só sei que Andrew está fazendo de tudo pra protegê-la – Ela olhou para todos nós, possivelmente já sabendo nossa próxima pergunta – Não se preocupem, vocês estão em segurança. Nossa vinda pra cá não é uma ameaça. O Braço Direito sabe de todos os outros Paraísos, menos deste.


– Isso não faz sentido – Indaguei.


– Faz sim. Assim que entraram aqui o Transportal foi destruído por algum de vocês e acontecendo isso qualquer forma de comunicação que tínhamos com esse Paraíso se destruiu também. Quando o Braço Direito conseguiu invadir o computador central da CRUEL pra descobrir a localização de todos os Paraísos, a de vocês já não estava mais lá, então é como se nunca tivesse existido. Poucas pessoas sabem daqui, é um lugar totalmente isolado e distante. Até o nosso Berg que é o mais moderno que existe em tecnologia demorou três dias pra chegar.


– Em que lugar do planeta nós estamos? – Minho fez a pergunta que todos gostaríamos de saber a um bom tempo.


– Estamos numa ilha chamada Tristão da Cunha, no sul do Oceano Atlântico, o lugar mais isolado do mundo. Ava Paige foi muito precisa quanto ordenou que era pro grupo de vocês ficarem aqui, provavelmente já prevendo sobre algum ataque. O Braço Direito não possui infraestrutura para chegar aqui, pelo menos não por enquanto.


– Você me anima tanto me dando uma esperança de que algum dia eu posso acordar e dar de cara com eles aqui me fazendo uma visita – Ironizou Gally.


– Bem, mudando de assunto, eu vim aqui pra ter uma conversinha com você Thomas, e se vocês não se importarem, a sós.


– Nós temos afazeres a terminar, então podem ficar aqui – Vanessa disse já puxando Minho e Gally para fora da cabana.


Thaís se sentou numa cadeira e indicou pra que eu fizesse o mesmo. Ela me olhava de uma forma confusa, não sabia se era curiosidade ou tentando achar uma forma de me matar sem fazer muito barulho. Aquilo realmente estava me assustando.


– Bem, Thomas, como eu já te disse, Teresa me falou muito sobre você. Em alguns de seus momentos de raiva e ressentimento, ela chegou a dizer que você era um babaca, mas eu não sabia que era tanto assim.


– Pode me xingar, Thaís, eu sei que mereço ouvir isso.


– Você merece e vai ouvir muito mais. Agora me deixe terminar. – Ela fez uma pausa – Teresa sempre me diz essas coisas sobre você, mas só nos seus momentos de raiva, momentos em que ela precisa colocar a culpa em alguém, e com certeza essa alguém teria que ser você, Thomas.


–Ela deve me odiar mais do que qualquer coisa nesse mundo, principalmente agora. – Refleti.


– Você já ouviu aquela frase que amor e ódio caminham lado a lado? – Assenti – Pois a história de vocês é assim. Ela te odeia e tem muitos motivos para isso, mas o amor que sente por você é maior e acaba sufocando o ódio. Eu pude presenciar isso agora a pouco depois de toda aquela confusão. Você disse coisas horríveis, a machucou muito por dentro, ela está desolada, ferida, magoada, mas mesmo assim sabe o que ela fez depois de tudo? Pediu pra que eu viesse aqui ver como você estava, se estava muito machucado, se precisava de alguma coisa. Ela praticamente me chutou pra fora do Berg com uma mochila de medicamentos e disse que ela pra eu cuidar dos seus ferimentos como se fosse ela que estivesse aqui.


Dizendo isso, Thaís abriu sua mochila e tirou de lá uma caixinha de primeiros socorros. Ela se aproximou de mim e começou a limpar meu ferimento perto do olho, enquanto isso eu refletia sobre o que ela disse sobre amor e ódio, é, realmente a minha história com Teresa se baseava nisso. Eu me sentia da mesma forma que ela. Em um momento eu queria que ela não existisse, acreditando que minha vida seria muito mais fácil, mas no momento seguinte eu a amava mais que minha própria vida, como se o ar que eu respirasse dependesse dela. Eu estava começando a entender que já havia passado da hora de um dos dois vencer por definitivo, ou o ódio ou o amor.


– Não pense que eu estou feliz em estar aqui obedecendo um pedido dela – Thaís disse, terminando de colocar um curativo no meu ferimento.


– Já sei, você vai falar que preferia que ela estivesse aqui pra nos entendermos de vez. – Disse um pouco brincalhão.


– É nesse ponto que eu queria chegar. Thomas, querendo ou não, vocês vão ter que se entender, mas não por causa de um sentimento conturbado e indeciso que sentem um pelo outro, mas por uma causa maior e muitíssimo importante.


– Eu não estou entendendo – Disse confuso.


– Como Andrew já fez questão de te contar, o bebê que Teresa está esperando pode ser o antídoto contra o Fulgor X. Se ele conseguir nascer nós conseguimos anticorpos suficiente pra salvar o que resta da raça humana.


– Com o assim ‘se’ conseguir nascer?


– Teresa é a única pessoa que conhecemos imune ao Fulgor X – Ok, mais uma surpresa pra um dia já cheio delas – Então a probabilidade de uma criança nascida dela também ser imune é de 50%. O primeiro feto já era imune, mas ele não resistiu. E agora esse, o Rh também é diferente e eu não sei se o coitadinho vai aguentar mais muito tempo.


Ela parecia uma louca falando sem parar, mais para si mesma do que para mim. Eu não estava entendendo quase nada do que ela dizia, eram palavras muito técnicas e a minha falta de memória não me deixava lembrar-se de nada naquilo.


– Thaís, respira e vamos com calma. Que Teresa é imune eu entendi, foi por isso que ela não se importou em colher o sangue da Vanessa. Mas agora que história é essa dela já ter engravidado antes e o feto não resistir. E por que esse de agora não resistiria também? E o que é Rh?


– Tá, vamos do começo. Teresa é imune porque o seu sangue produz um antídoto natural contra o vírus, mesmo que ela tenha contato com os fluidos corporais de alguém infectado, o seu organismo não permite que o vírus entre na corrente sanguínea e chegue até o cérebro, a onde ele se aloja. Quando nós descobrimos isso tentamos usar o seu sangue para fazer a vacina, o problema é que ela só consegue produzir o suficiente pra sua defesa. Foi ai que Ava Paige teve a ideia do bebê.


– Eu sabia que tinha o dedo dessa mulher na história. Como ela descobriu que um bebê poderia mudar tudo?


– Como eu disse, Teresa produz anticorpos suficientes apenas para si, mas com uma gravidez o corpo produz uma quantidade de hormônios muitíssimo maior por causa do feto e no caso de Teresa um desses é o anticorpo contra o Fulgor X. Uma parte vai para o bebê e outra muito maior fica armazenada na placenta, como o cérebro entende que aquilo é uma proteína para o feto, ela vai se multiplicando a cada dia. Nós acreditamos que quando chegar a hora do bebê nascer, essa quantidade ali acumulada vai ser o suficiente para produzirmos vacinas pra todos que restaram.


– Eu tenho certeza que essa história vai ter um ‘mas’ – Disse.


– Sim. Estava dando tudo certo, apesar dos ferimentos por causa do acidente com o muro, Teresa estava saudável e conseguiu engravidar rápido, seu corpo estava liberando o antídoto para o feto então ele era imune e ela estava muito feliz sabendo que tinha alguém crescendo ali dentro dela. Só que o inesperado aconteceu. Assim que completou dois meses, ela teve um sangramento muito forte e perdeu o feto. Ela e Andrew ficaram arrasados, apesar de tudo eles amavam aquele bebê. Foi uma semana de puro silencio na CRUEL e todos achamos melhor esperar um tempo pra ela tentar de novo, para poder se recuperar. O problema era que o vírus estava se espalhando muito rápido, e não havia alternativa, vinte dias depois ela estava grávida novamente.


– É dessa gestação que você está falando, não é? – Ela confirmou com a cabeça – Teresa fisicamente me parece tão bem. Por que ela corre o risco de abortar de novo, tem alguma coisa haver com esse tal de Rh?


– Exatamente. O Rh é uma proteína sanguínea que pode ou não estar presente no sangue humano. No primeiro caso, diz-se que a pessoa possui Rh (Rh positivo); no outro, Rh – (Rh negativo). O de Teresa infelizmente pra nós, é negativo.


–E???


–Quando uma mulher com o Rh negativo engravida de um feto com o Rh positivo existe a incompatibilidade sanguínea. É quando o corpo da mãe estranha essa proteína que existe no sangue do feto e acaba o tendo como um ser ‘intruso’ dentro do seu organismo e tenta de todas as formas expulsá-lo. Nós só fomos descobrir isso há algumas semanas quando ela teve um pequeno sangramento. Fizemos vários exames até que chegamos a esse ponto – Ela ficou cabisbaixa – Eu tenha quase certeza que a qualquer momento ela vai perder esse bebê também.


– Quer dizer que o organismo da Teresa pensa que o bebê não é um bebê, e sim alguma coisa ruim que tem que ser eliminada de dentro dela? – Ela confirmou – Então não tem mais jeito, mesmo que engravide outra vez vai acontecer à mesma coisa?


– Se for do Andrew, provavelmente sim. Ele tem o Rh positivo, não vale a pena continuar tentando, isso só acabaria com a saúde de Teresa. Um feto teria muito mais chances de sobreviver se o Rh de pai e mãe fosse negativo.


– Então por que vocês não tentam fazer uma inseminação com o esperma de um homem com o Rh negativo?


– Nós já pensamos nessa possibilidade, o problema é que as pessoas com Rh negativo que conseguiram sobreviver, ou são mulheres ou ainda muito crianças – Ela me olhou daquela forma assustadora – Com exceção de uma.


– Q- Quem – Gaguejei temendo sua resposta.


– Você!


– Não pode ser. Isso é sério mesmo? - Eu não conseguia acreditar.


– O destino de todos nós está nas mãos de vocês dois. Você estaria disposto Thomas, a ter um bebezinho com Teresa pra poder salvar o mundo?


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Notas finais do capítulo

Será que Thomas vai aceitar? E será que Teresa já sabe dessa ideia de Thais ou também vai ficar surpresa?



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