Hontou Seishin escrita por Der Kaiser


Capítulo 3
Punição




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A sala da Diretora Inoue Katagiri era o ponto mais alto da escola depois da quadra poliesportiva. Uma sala simples com alguns arquivos, uma mesa grande ao fundo da sala, com a cadeira de costas para uma enorme janela de vidro com persianas que pegava quase toda parede lateral da sala. Era dali que Katagiri ficava horas a fim observando seus alunos e executando suas funções habituais. Mas naquele dia ela recebeu um telefonema do coordenador esportivo sobre uma possível briga na quadra comentada pelos alunos. Katagiri não hesitou ao sair de sua sala e ir para lá. O que veria minutos depois, não era mais surpresa.

- Sentem-se, por favor. – ela mostrou lhes suas cadeiras.

Ela sentou-se confortavelmente em sua cadeira de escritório de couro preto e pondo as cotovelos apoiados a mesa, juntou as mãos. Ela olhava para os dois rapazes de 17 anos parados a sua frente com rostos machucados e com caras emburradas, como duas crianças.

      - O que eu faço com vocês? – perguntou retoricamente. – Desde que vocês tinham apenas 13 anos, vocês se encontravam na mesma situação. Eu me pergunto... O que mudou em vocês?

Os dois permaneciam de rostos virados, desviando olhar enquanto ouviam em silêncio as palavras da Diretora.

      - Hanamori Yagami. O neto do fundador do colégio. Você carrega o nome desse colégio, mas não quer dizer que ele é seu. Quando seu pai me deixou no comando desse colégio ele disse explicitamente que cuidasse de você e não deixasse que você fizesse o que quisesse. Parecia que ele conhece bem o filho que tem. Mas eu me pergunto, mesmo sabendo disso, porque continua fazendo esse tipo de coisa?

      - Diretora, eu apenas estava ajudando meus amigos que esse...

      - Os mesmos amigos que costumam ser conhecidos como “gangue do colégio Hanamori” e que você faz questão de apreciar isso? Eu não sou cega, nem surda! Eu sei de tudo que vocês fazem pelo colégio. E por isso que eu estou perguntando o porquê você leva o nome do colégio para causar esse tipo de coisa! O que você quer afinal?

Yagami não pode responder. Eu não preciso responder isso. Eu quero o que é meu por direito. Esse colégio é meu. Apesar de saber disso, ele não conseguiria falar.

      - Talvez você ache que pode mais do que os outros aqui, mas estou aqui justamente para lembrá-lo o contrário. Você não precisava ser o exemplo para todos, mas podia ao menos ser alguém de respeito?

      - Mas eu sou...

      - Não interessa quem você é. Aqui você é apenas um aluno. E como sempre vai receber a punição como todos eles. Acho que não preciso lhe mostrar a saída e onde fica a detenção certo?

Resmungando em voz baixa, Yagami se levantou e se dirigiu a porta.

      - E que fique avisado que seu pai saberá disso.

Como um estalo a porta bateu. Ela sabia que ele havia ouvido aquelas palavras e que elas o deixariam na linha. Pelo menos por enquanto. Ela agora voltava sua atenção para Ryozaki. Ela abriu a gaveta de sua mesa e jogou sobre a mesa a ficha escolar do garoto. Ela olhou bem o garoto que se assustou quando a pasta caiu sobre a mesa.

      - Sato Ryozaki. Qual é a surpresa em eu repetir as mesmas palavras que você já ouviu aqui muitas vezes? – perguntou novamente retoricamente e fez uma pausa. Ela abriu a pasta e começou a folhear.

Ryozaki podia ver claramente seus boletins, ocorrências, entre outras informações sobre tudo que havia passado naquele colégio, mas preferiu não olhar. A Diretora continuou.

      - Sabe o que é interessante na sua ficha? Suas notas são muito boas na maioria das matérias. Até as piores estão acima da média. Há também registros de muitas conquistas esportivas em seu nome pelo colégio em campeonatos regionais. – ela fez uma pausa enquanto tirava um amontoado de folhas na parte final da pasta. – Porém na outra metade da pasta há diversas ocorrências de brigas, danos ao colégio, entre outras situações. É isso o que eu realmente não entendo na sua ficha.

      - Diretora, a gangue do Yagami estava me provocando e...

      - Irritando, provocando? Acho que já ouvi isso em algum lugar. – ela interrompe o rapaz. – Em todos os casos você alega a mesma coisa. As pessoas te irritam, as pessoas te provocam... Mas isso é motivo para fazer o que você faz?

      - Eu... Eu apenas me descontrolo um pouco...

      - Um pouco? O que você quer dizer com um pouco? – ela joga uma única folha perto de Ryozaki. – Nesse dia você estava apenas um pouco descontrolado quando fez isso?

Ryozaki nem precisou olhar a folha para saber de qual dia ela estava falando. Ano passado ele tinha sido aconselhado pelo professor de educação física a entrar no time de basquete. Mesmo com sua estatura mais baixa do que a média para aquele esporte ele era um ótimo jogador. Porém, um dia o time de basquete resolveu tirar sarro de Sato Ryozaki por causa de sua estatura e de seu físico. Porém eles exageram de mais e cometeram um erro mortal. Eles passaram dos limites. E Ryozaki também. Em fúria, Ryozaki acabou pegando o mastro da bandeira do colégio e o arrancando do chão. Logo em seguida ele arremessou o mastro em diagonal no time de basquete. Por sorte ele mesmo percebeu o que estava fazendo naquela hora e desviou o mastro segundos antes de atingir os jogadores. Não houve nenhum ferido. Porém uma mureta do colégio e sete janelas foram quebradas quando o mastro atravessou o pátio. Naquele dia o nome Sato Ryozaki passou a ser o sinônimo de violência. A Diretora se encostou à cadeira novamente e pôs o queixo sobre os braços apoiados a mesa.

      - Sato Ryozaki. Obviamente você tem um problema de temperamento. Eu realmente não sou a pessoa certa para mudar você, mas posso pelo menos ajudar, pelo bem do meu colégio e pelo seu. – ela o fita com um olhar sério e determinado. Ryozaki não gostou nada daquele olhar. – Eu provavelmente lhe aconselharia atividades complementares mais calmas, mas quem as escolhe são os alunos. Porém eu arranjei outra solução. – ela folheia os boletins de Ryozaki. – Parece que suas piores notas são de história. Algum comentário sobre isso?

      - Eu prefiro pensar no meu presente, em vez de ficar no passado. – ele responde com um sorriso sem graça.

      - Uma ótima filosofia de vida, mas não é o suficiente. A partir de hoje o senhor terá Monitoria de História.

      - Mas Diretora...

      - Está decidido! Comunicarei o professor Yagiri e depois arranjarei um ótimo monitor para você. Considere isso parte de sua punição.

      - Parte?

      - Sim. Sabe senhor Sato, Kyoto é uma cidade com grande conteúdo histórico. Existem monumentos, museus e todo tipo de construções que tiveram papel importante na história desse país. E por grande coincidência o professor Yagiri vai fazer uma visita com uns alunos em um dos Museus de História mais importantes da região, localizado bem aqui em Kyoto. Que sorte não? Considere inscrito dentro dessa visita. E para seu próprio bem, é bom que não haja nenhum dano ao museu ou as pessoas lá. Porém duvido muito que algo te chateie lá, pois promete ser uma visita muito relaxante. Então se estamos combinados...

      - Sim, Diretora. Relaxante? Você quer dizer tedioso.

      - Bom, acho que o senhor Hanamori está o esperando na detenção. Só espero que você consiga dar conta de ficar até o final das aulas com ele na mesma sala. Mas espero que para o seu bem que consiga.

      Ryozaki se retira da sala e vai até a detenção. Um passeio no museu? Mas amanhã é sábado! Quem vai a um museu ao sábado? Comparado a isso, aquela sala de detenção parecia ser muito mais relaxante.


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