Hontou Seishin escrita por Der Kaiser


Capítulo 1
Prólogo




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Ano 2000. O ano do dragão.

      O menino sentado na beirada de sua cama esperava ansiosamente pela chegada de sua mãe. Ele balançava suas pernas e sacudia a cabeça enquanto cantarolava uma de suas músicas favoritas. Quando a silueta de sua mãe aparece pela porta um sorriso se abre. Ele rapidamente se joga na cama e se cobre deixando visivelmente sua ansiedade.

      - Então você não agüentou esperar? – disse a mãe com um sorriso no rosto trazendo consigo um livro nas mãos.

      - Na verdade... – respondeu o menino – Eu estava pensando em uma das histórias que a senhora me contou.

      - E qual delas seria? – dizia com um tom sereno lembrando-se que desde que ele esteve ali, já havia lhe contado dúzias de histórias.

      - Sobre os animais do Zodíaco. Ainda não entendi muito bem.

      A mãe se senta na cadeira perto a cama do menino. Ela arruma seus longos cabelos negros e pousa o livro em seu colo. Ela acaricia a cabeça do filho e lhe prepõe algo.

      - Vamos fazer assim. Eu vou lhe contar a lenda dos animais do Zodíaco de outra maneira. Mas teremos que deixar esse livro para amanhã.

      - Ok. Mas eu posso fazer perguntas durante a história? – diz o menino empolgado.

      - Tudo bem. Bom, era uma vez...

[...] No começo das eras existia um homem que buscou o puro esclarecimento. Esse homem, que se afastou do mundo material para alcançar o espiritual, tornou-se apto o suficiente para ascender o que as pessoas chamam de “reino dos céus”. Hoje ele é conhecido como o símbolo religioso mais famoso no Japão. Buda foi um homem que se tornou Deus.

Porém, ao ascender aos céus, Buda não podia cuidar mais da Terra que amava como se devia. Foi então que ele resolveu fazer uma festa antes de partir e chamou todos os animais da criação e lhes prometeu um presente a cada um. Apenas 13 animais foram até a festa...

      - Mas não são apenas 12 signos do Zodíaco? – interrompeu o menino.

      - É verdade. Mas deixe-me continuar e logo você irá entender.

Os animais que realmente atenderam ao chamado de Buda foram 13: O rato, o gato, o tigre, o macaco, o dragão, a serpente, o galo, o coelho, o cavalo, o boi, o carneiro, o cachorro e o porco. Todos eles se apressaram e foram logo até Buda para prestar sua homenagem. O gato, considerado o animal mais bonito entre os 13, pretendia impressionar Buda com sua rara beleza e pediu ao rato para que o avisasse a hora que os animais partiriam para a festa, para que pudesse acompanhá-los.

      - Acompanhá-los? Mas isso não foi uma corrida? – interrompeu o menino novamente, agora intrigado.

      - Na verdade não era uma competição, afinal todos iriam chegar de qualquer forma a Buda. Mas a ordem de chegada foi importante...

Quando chegou a hora, os 12 animais foram até o local que foi lhes combinado. Porém o rato, sentindo que o gato estava sendo pretensioso de mais, lhe informou a hora errada. Assim apenas os 12 animais chegaram até o local. Buda presenteou cada animal com um dom e uma missão. Durante um ano inteiro, cada animal deveria cuidar do planeta, semeando a bondade e a sabedoria de Buda através dos seres vivos, enquanto os outros animais praticariam a mesma missão silenciosamente. Esse ciclo de 12 anos se renovaria sempre dando lhes mais força para cumprir sua missão sempre se iniciando na ordem de chegada dos animais a festa de Buda.

Durante o primeiro ano após a partida de Buda o rato, o primeiro animal a chegar, assumiria essa missão. Logo depois dele seria a vez do boi. Depois o tigre, o coelho, o dragão, a serpente, o cavalo, o carneiro, o macaco, o galo, o cachorro e por ultimo o porco. Assim o ciclo se renovaria e...

- Mas e o gato? Ele não conseguiu chegar à festa depois?

- O gato não conseguiu chegar a tempo na festa. Por isso ficou fora do Zodíaco e da missão dos animais. É por causa disso também que dizem que o gato não gosta do rato.

- Faz sentido. Mas não achei certo o que o rato fez. Os gatos são animais bonitos mesmo, não há problema em mostrar isso. E ele pareceu confiar no rato, então não entendo por que ele fez isso?

- De acordo com a lenda, o rato pensou que o gato estava sendo pretensioso e se sentindo superior aos outros animais. Isso é um sentimento que Buda não apreciaria por isso rato resolveu mentir para o gato.

- Mesmo assim! Mentir também não é certo e ele mentiu. E ele recebeu a missão como todos os animais. Não é justo. – o garoto se exaltou.

      A mãe riu da reação do garoto.

      - Você deve mesmo adorar gatos, não é?

      - Bem... Eu gosto bastante deles. São animais incríveis. – dizia se acalmando e sentindo-se sonolento.

      - Então me deixe terminar, que talvez você goste da outra parte da história.

      - Outra parte? – perguntou o garoto confuso.

      - Sim. É mais ou menos assim...

Após sendo definidos os ciclos e a missão dos animais, Buda sabia que não seria fácil para os animais fazerem tal coisa por muito tempo. Então em um dos Dons que deu a cada um deles, ele deu o Dom da viagem astral. Assim os animais poderiam atravessar as eras cumprindo com sua missão mesmo estando em espírito. Ele também prometeu que um dia voltaria do reino dos céus para presentear o que melhor cumprisse sua missão. Ele o levaria consigo o mais puro dos animais para o reino dos céus consigo e transformando-o no guardião dos céus. Motivados, os animais atravessaram os anos protegendo a ordem natural da Terra e continuam com sua missão até hoje.

      O menino parecia sonolento ao final da história. Já estava tarde, mas ele se mantinha firme para perguntar mais coisas para a mãe.

      - Então, esse ano é o dragão que protege a Terra? – lembrando-se de que estavam no ano do dragão.

      - Exatamente. Mesmo sendo um animal extinto, o espírito do dragão ainda está entre as pessoas, semeando o conhecimento e a bondade de Buda.

      - Entendi. Mas e o gato? O que aconteceu com ele?

      - Bem, muitos dizem que o gato é animal muito esperto. Em muitas culturas o gato é símbolo espiritual de muito poder. Então talvez o espírito daquele mesmo gato que foi excluído do Zodíaco esteja por ai.

      - Sério mesmo? – o menino parecia animado novamente.

      - E porque não? Afinal ele não fez nada de errado como você disse. Talvez ele possa encontrar com Buda em seu retorno a Terra e explicar o que aconteceu. E quem sabe Buda reconheça seu valor e o leve ao reino dos céus.

      - É mesmo... – sua voz abaixava de tom enquanto encostava-se ao travesseiro. – Seria muito bom... O reino dos céus...

      Os olhos do menino iam se fechando enquanto a mãe terminava de cobrir seu corpo. Ela levantou-se silenciosamente e foi até a janela da casa. Como se um chamado Divino estivesse na sombra daquela história, um gato é visto da sacada.

      - O ano do dragão. O ano da libertação.


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