Save You escrita por Mrs Neko


Capítulo 9
Capítulo 9 - Lar, Doce 221B


Notas iniciais do capítulo

Estava toda feliz, achando que já conseguiria terminar a fic por aqui, mas caí do cavalo, pois o capítulo ficaria muito longo! :'( Mas o próximo, sim, será o último!!!

Por favor, não esqueça de imaginar os personagens com a aparência do episódio-piloto; com exceção do Mycroft, que não aparece por lá... :(



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– Você confiou em mim, para resolver o seu primeiro caso... O assassinato do nosso pai. Agora deixe-me confiar em você, e acreditar que você não vai mais se drogar!



Manipulação ou de fato, a sombra pequena e fugaz de um sentimento de culpa e apreensão nos olhos de Mycroft?



– Você tem recebido, além dos pedidos da polícia, mensagens de civis que querem encomendar seus serviços de... - temperou a garganta, desnecessariamente, com ironia. - consultoria. Parece que, além de um passatempo, sua Ciência se tornou um trabalho agradável e lucrativo, não é mesmo...?



O lucro não lhe importava muito, mas como o trabalho realmente lhe agradava, concordou silenciosamente com o interlocutor, enquanto balançava a cabeça.



– Muito bem, então. Você tem um mês para arrumar a sua própria casa... Enquanto tiver responsabilidades para arcar, e um passatempo para essa cabecinha de vento, com certeza não vai se envolver com mais encrencas que de costume, muito menos com drogas. Caso não consiga se virar sozinho, você vai para minha casa, e bem quietinho. É isso, ou a casa da mamãe. Ah, sim, e a sua conta bancária, aquela que tínhamos planejado para suas despesas da faculdade, está intacta. Leve o cartão.



– Não... - abaixou a voz até pouco menos que um sussurro - Muito obrigado, por tudo, mas não quero...



Não conseguiria se concentrar em terminar a frase, focado no rosto atento e nos olhos penetrantes do mais velho, então começou a virar-se devagar e deparou-se com o sobretudo azul-marinho no cabide. Era longo e prático, quente e elegante. Por que será que o ruivo nunca o usava?



– Só quero levar este casaco, mesmo...



Disfarçando o silêncio constrangedor, o diplomata desviou o olhar também, para o estojo sobre o sofá, e teve uma lembrança súbita.



– Por falar na mamãe, fiz uma visita rápida neste fim de semana, e o tio Sherringford [1] enviou isto para você.



Um estojo de violino. O moço felino mal podia esperar para tocar e saborear o conteúdo...! Mas, por enquanto, tinha que se ocupar em engolir o sorriso.



O primogênito escondeu um suspiro e desejou que o caçula não estivesse prestes a fazer nenhuma loucura. Despediu-se em silêncio e, enquanto observava o outro pela janela, apreciou a figura jovem, esguia e frágil perdida naquele overcoat enorme e quase esvoaçante, como a aura de um personagem de livro de suspense.



Embora destoasse completamente dos jeans, tênis e da camisa verde-escura, até que o conjunto realmente ficava muito bem nele. [2]



Era tão maravilhoso estar, novamente, livre.



Liberdade era atividade, velocidade de movimentos e pensamentos. Correr e maquinar tudo, infinitamente mais rápido que o tempo, e o vento que queria brincar com seus cabelos que, aos poucos, recomeçavam a crescer.



Lestrade estava mais ocupado que nunca, e terminava por lhe passar toneladas de casos.



E o absurdo e barulhento escândalo que ele causava, por ser a única pessoa, em toda a New Scotland Yard, que não sofria a presença asquerosa de Anderson em silêncio, causou a curiosidade de vários outros investigadores. Dois deles, Gregson e Dimmock, se interessaram por sua consultoria, e o mantinham ainda mais distraído e ocupado.



Era maravilhoso estar sempre ocupado. Era a certeza absoluta de jamais ter tempo para se sentir inútil ou sozinho.



Mas este tempo iria acabar em breve. E ele estava tão entusiasmado com a trama de tamanhos, cores e complexidades dos fios de inúmeros enigmas, que esquecera completamente do desafio inescapável do irmão. Divertiu-se tanto com seus quebra-cabeças, que nem prestou atenção ao fato de já ter perdido vinte dias.



Duas semanas e preços absurdos certamente não eram condições muito convidativas para alugar um apartamento... Procurou por anúncios em jornais e na internet, perguntou em telefones e imobiliárias, aos policiais e aos clientes em potencial, nas redes de informação dos grafiteiros, à meiga legista Molly Hooper, que dividia a morgue e o laboratório com ele - e que lhe transmitia uma imensa vontade de tê-la como irmãzinha, ao contrário do superprotetor e intrometido Mycroft! - , aos outros residentes do alojamento dos médicos-aprendizes em St. Barts, e finalmente ao professor deles, o gorducho e simpático dr. Mike Stamford, que costumava emprestar-lhe equipamentos para suas experiências forenses. Sem sucesso.



Exasperado com o azar, o rapaz felino decidiu esquecê-lo por alguns instantes. Seu estômago começava a doer de fome, era melhor comer alguma coisa antes que a dor lhe subisse à cabeça e o impedisse de pensar.



Uma garoa gelada colava-se às suas roupas e tornava a caminhada pela frenética e barulhenta rua Baker ainda mais desconfortável. Faminto, encharcado e mal-humorado, ele parou debaixo de um toldo vermelho e um delicioso cheiro de café quentinho e comida caseira seduziu suas narinas e o fez olhar para trás, e perceber que era o toldo de uma lanchonete - Speedy's - café, sanduíches, macarrão, dizia o letreiro.



E qual foi a agradável surpresa ao ver quem vinha anotar o seu pedido!



O corpinho esguio e miúdo, o aventalzinho florido sobre o vestido roxo, o cabelo ondulado curtinho, tingido de ruivo, os lábios finos num constante sorriso doce e maternal, os olhos castanhos, cálidos e gentis... munidos de uma pequena centelha, de um brilho inteligente e perigoso, perceptível apenas ao observador atento, ou a quem tivesse a sorte de conhecê-la há muito tempo.



Era maravilhoso ver que Martha Hudson estava muito bem, depois da execução do marido.



Ora, ela não se chamava Martha Hudson na época em que morava nos Estados Unidos. E nenhuma organização criminosa, independente do tamanho ou capacidades, se daria à loucura de perseguir Sherlock Holmes. Então, enquanto ambos permanecessem longe da Flórida, estavam relativamente fora de perigo. [3]



Nunca imaginou que fosse se sentir tão renovado após experimentar algo tão comum quanto uma refeição quente e a camaradagem de três anos de conversa, finalmente colocados em dia.



E o melhor de tudo: ela tinha, na sobreloja, vários apartamentos vagos para alugar, com um desconto especial.



Foi um pouco trabalhoso mover os pertences dos vários esconderijos que mantinha pela cidade até o 221B, mas era infinitamente melhor que ser expulso de um futuro local de observação útil, ou de St. Barts, só porque as pessoas tendiam a não compreender seus experimentos químicos...



Era infernalmente tedioso preocupar-se com aluguel ou contas, e pior ainda, usar o dinheiro de Mycroft - por mais que o irmão inventasse subterfúgios, e por mais que ele próprio realmente houvesse usado aquele dinheiro para pesquisas, para casos, e mais tarde para drogas, na época da faculdade, jamais consideraria aquele dinheiro como seu. Não queria ser um peso nem para o mais velho, nem para Mrs. Hudson; se ela precisasse da quantia ao fim do mês, ele sempre poderia cobrar uma dívida ou extorquir um cliente.



Terminou a tarefa ao amanhecer, e ao sufocar o pensamento de que Mycroft tinha razão sobre as vantagens de ter uma casa só para si, com uma xícara de café muito quente e forte, voltou, elétrico e contente, ao laboratório do hospital, para trabalhar mais um pouco.



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Notas finais do capítulo

1. Sherringford era um dos nomes com que sir Arthur Conan Doyle planejava batizar seu personagem. (Ainda bem que ele mudou de ideia!!! :D) Porém, este nome aparece em alguns contos não publicados, descobertos pelos parentes de sir Arthur e entregues para análise literária (Para aliviar sua curiosidade, procure as "Aventuras Inéditas de Sherlock Holmes", da Coleção L&PM Pocket), o que acabou originando uma controvérsia e um bocado de teorias quase conspiratórias e questões jamais respondidas; por exemplo, sobre se Sherringford seria simplesmente o nome do pai dos irmãos Holmes, ou se Sherlock e Mycroft teriam mais um irmão... Algumas destas teorias inclusive, já foram parar em outras adaptações de Sherlock Holmes no rádio, na televisão e no cinema.


2. Todo esse drama pra pensar num motivo plausível pro Sherly viver enfurnado naquele casaco gigante, que vergonha... ¬##¬ Se eu disser que sempre imaginei que aquele proverbial casaco dramático com certeza tinha uma história meio parecida com esta, você acredita?


3. Todo mundo que teve o gosto de assistir o primeiro episódio viu Sherlock explicando pro John sobre a "ajudinha" que ele deu ao Sr. Hudson. Mais tarde, no episódio em que aparece o maldito Charles Augustus Magnussen, descobrimos que a Sra. Hudson era obrigada pelo marido a fazer a contabilidade do cartel de drogas que ele controlava, na Flórida.



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