Protagonista escrita por a blow in the gale


Capítulo 2
Instinto, Parte II.




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Você sente os uivos chamando por você.

Havia uma forte sensação de proteção na entonação deles. Eles queriam te proteger e queriam que você estivesse junto a eles. Você não sabe como consegue depreender essas coisas, somente o faz.

Uma chama arde em seu peito e você busca o ar gelado que vazava pela fresta da janela. Ao procurar como abri-la, você finalmente consegue deslizar a tábua de madeira e vidro para o lado e sente a brisa noturna roçar em sua pele desnuda.

Várias pessoas gritavam lá fora. Grunhidos animalescos soavam e a palavra “gigante” ecoava em sua mente.

Você tenta falar novamente, mas é como se o modo que você sabia se comunicar antes não funcionasse mais. A única maneira que você descobriu como se comunicar era por uivos, então, sentido a luz da lua queimar sua pelagem quase inexistente, você junta ar em seu peito e então expele em um glorioso e empoderado uivo, que ecoa por toda a vila.

Você está bem acima do chão, mas vê vários rostos virarem em sua direção.

Muitos filhotes que antes corriam pelas ruelas eram levados para dentro das cavernas quadradas por suas mães. Homens com peitos de prata corriam para a borda da vila, onde outros atiravam flechas em um gigante.

Gigante! Era isso que gritavam! Havia um gigante logo após a borda da civilização, onde você mesmo estivera há pouco tempo atrás.

Os três lobos de anteriormente lutavam contra o gigante ao lado dos homens.

Sua garganta coçava e você decidiu liberá-la, lançando rosnados ao ar, inclinando-se sobre a borda da chamada janela, observando atentamente a luta com olhos inteligentes.

De repente um raio corta o ar, mas ele não havia descido do céu, ele partira de algo próximo ao chão e em direção ao gigante, que caiu no chão e tremia. Mais raios foram lançados e quando eles acenderam, você pôde ver que Magella era a fonte.

Você recua em medo, aproximando seus ombros das orelhas e ouve um gemido fino vibrar sua garganta. Com frio, se volta para a lareira que permanecia apagada e se deita no tapete onde dormira, dobrando os braços à frente e aproximando suas pernas do peito.

Seu corpo tremia, mas sua mente fora envolvida por uma névoa. Você, por fim, perde a consciência.

.

A luminosidade o acorda e queima seus olhos. Franzindo sua face, você põe as mãos à frente do rosto e rosna de incômodo.

— Ótimo, está acordado. – Magella aparece ao seu lado.

Você a olha, seus olhos ardendo menos agora. Tudo o que vinha à sua mente era o que você presenciou ontem à noite. Os raios saindo do corpo da fêmea.

— Preciso lhe explicar algumas coisas.

Outra fêmea entra do lugar e põe alimentos em cima de uma mesa e então sai.

— Nem tenho certeza se pode me entender. – Magella continua. – Mas julgando pelo seu olhar, creio que sim. Venha, sente-se comigo.

Ela se senta onde ontem explicou que era uma cama. Você vai até lá e encosta na superfície, percebendo que é macia. Você se senta e deita a barriga, descansando a cabeça nos braços.

— A palavra lobo faz algum sentindo para você? – ela pergunta com olhos brilhantes.

Você sente a chama em seu peito esquentar. Magella pareceu ver algo em sua feição.

— Claro que sim. Seu espírito é um lobo.

Certeza populou sua mente. Um grunhido baixo escapa pelos seus lábios. Memórias do vento fresco assoprando seus pelos lhe envolve.

— Esse corpo, entretanto, não é da mesma espécie. Esse corpo é humano.

Seu rosto franze e você se sente estranho. Você não sabia o que aquilo significava, ou como parou ali, nem como tudo começou. Você se sentia permanentemente fora de lugar.

— O espírito que ocupava esse humano se foi. Pela lógica esse corpo deveria se decompor, mas algo muito peculiar aconteceu. Eu não tenho certeza do que, simplesmente senti algo ocorrer.

Ela pausou e suspirou.

— Meu filho saiu para uma caçada e não retornou por semanas. E então, quando meu desespero parecia não ter fim, eu sinto a alma dele partir, mas seu cheiro permaneceu.

Ela o encarou de forma inquisitiva.

— Acredito que você veio até aqui por causa das memórias que este corpo carrega, pois este era o corpo de meu filho. O senti vindo, ao mesmo tempo que sabia que sua alma se fora.

Agora era ela que parecia confusa.

— De qualquer forma, esta deve ser uma oportunidade para eu manter minha... cria, como talvez você entenda. Sei que animais possuem mentes espertas. Com o tempo você aprenderá tudo o que este corpo já sabe.

Ela virou seu rosto para a janela e suspirou.

— O que sei é que, almas precisam expressar sua vontade para habitar um corpo. Pergunto-me, por que você, poderoso lobo, quis habitar a pele de meu filho.

Você vira seu olhar para baixo, encarando a pelagem da cama.

Outro grunhido saiu de você, mas desta vez, partiu de sua barriga.

— Vamos, coma. – Magella levanta e aponta para a mesa. – O pão está quente e a água, fresca. As frutas lhe darão energia. Não lhe forneço carne, pois meu filho tem péssima reação a ela. Talvez esse seja seu maior empecilho, querido carnívoro. – Ela aperta seus olhos e ri baixo enquanto sai do recinto.

Você segue o cheiro de alimento e se encontra de frente e mesa. Agarra um pedaço de massa pálida com seus dedos macios e longos e morde o pão, sentindo seus dentes curtos amaciarem a comida, para então descê-la pelo seu pescoço.

A sensação era conhecida.

De repente você se vê devorando tudo, apaziguando o ardor de sua barriga.

Pouco tempo depois, Magella retorna e o enfia em tecidos que agarram seu corpo, para, então, o levar de volta às ruas da vila.

Dezenas de rostos o encaram com carrancas endurecidas. Você podia cheirar ambos aflição e medo. Além de um azedo pútrido que lhe queimava as narinas.

Você foi levado à feira, onde comida derramava de caixas de madeiras e depois à praça, onde filhotes corriam como o vento e anciãos sentavam-se à sombra.

Todo o tempo você se sentia desconfortável e se perguntava por que você estava ali.

Homens com peito e braços e prata seguiam a você e a Magella. Em certo momento, uma comoção tornou-se abundante e gritos eram dirigidos a você e Magella.

— Bruxa!

— Não é possível, era certo que ele estava morto!

— Viu como ele estava selvagem ontem? Fiquei sabendo que estava com lobos.

— Ele foi enfeitiçado!

Os homens de prata repreenderam o tumultuo e você foi levado de volta para a grande estrutura onde dormira.


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