Protagonista escrita por a blow in the gale


Capítulo 1
Instinto, Parte I.




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Você acorda sob a luz do luar, estrelas cintilam acima de sua cabeça e névoa flutua sob o campo gramado à sua volta. Ao leste, perto do horizonte, um conjunto de chamas clareia a noite. Não parece ser incêndio, parece civilização.

Ao se levantar, você sente uma intensa dor na cabeça, e logo se senta novamente, mas parece piorar. Quando outra vez se levanta, ouve rugidos ao longe, mas eles parecem ficar a cada segundo mais perto. Sua única reação é correr. Com a adrenalina nas veias, suas pupilas dilatam e suor frio escorre pela sua testa. Tudo o que passa pela sua mente são seus pensamentos mais primitivos, os de sobrevivência.

Quando suas pernas cansaram de se movimentar ao máximo, você vai diminuindo o ritmo, e os rugidos vão se aproximando. Quando uma dor suprema explode em seu peito, você cai. Sua respiração pesada se torna o único som da noite. Segundos depois disso, uivos denunciam a presença de lobos ali e estes uivos parecem guerrear com os rugidos. A luz da lua ilumina um grande corpo de um urso que estava sendo atacado por um trio de lobos selvagens. Seu coração não poderia estar batendo mais rápido.

Com o fôlego parcialmente recuperado, você volta a correr. Suas pernas reclamam, mas depois da cena presenciada, você não tem a intenção de parar.

Depois de certo tempo correndo, seu coração estourando, você volta a parar e nesse momento os lobos, que já haviam calado os rugidos do urso, te alcançam. O suor cobria seu corpo e você não poderia estar mais assustado. Pensamentos de desistência invadem sua mente, e após um último uivo de um dos lobos soar, você acolhe aqueles pensamentos, aceita que é o fim.

Quando deixa seu corpo cair no chão, os lobos o cercam. Era difícil manter-se concentrado em algo diferente da ideia de morte.

Um dos selvagens se aproxima pela frente. Ele chega perto, tão perto que o ar condensado que vazava da boca dele e escorria pelas presas chegava até você. Os olhos do animal brilhavam a luz do luar e você quase podia ver seu reflexo ali. O hálito de carne podre grotesco do animal invade seu pulmão.

Quando ele expõe os caninos e rosna, algo animalesco se apodera de você, algo antigo. Você rosna de volta para o lobo, expondo seus dentes e aproximando seu rosto do rosto dele. Seu rosnado se torna mais forte e mais grave, você não sabe o que está acontecendo. Quando seu rosna se torna um uivo, os outros lobos recuam, não por medo, você percebe isso, mas por respeito.

E então os lobos se aproximam de você e lambem seu rosto amistosamente.

Tudo o que sente é frio.

A noite parece muito escura, muito fria, e se apoiar em duas pernas parece estranho. Outro pensamento toma conta da sua mente, você se levanta e caminha em direção para onde anteriormente corria. Enquanto fazia isso, o trio de lobos o acompanha.

O frio percorria seu corpo e eriçava seus pelos e a grama pinica a sola de seus pés.

Quando chega, vê um grande portão ligado a uma grande muralha. Esta parecia cercar civilização.

— Alto! Quem vem lá? – exclama um homem que estava de guarda em cima da muralha, do lado direto do portão. Seu elmo prateado brilhava sob a luz da tocha que segurava.

Você tentou falar algo, mas sua voz estava grossa, bruta, parecia nunca usada.

— Quem és? – ele pergunta novamente.

Um dos lobos uiva baixo e isso assusta o homem.

— Isto é um lobo! – grita ajeitando o arco em mãos.

Quando você percebeu o que ele ia fazer, olhou para os lobos, aflito. Como se entendessem o que queria, partiram.

O guarda lançou uma flecha, mas errou e quando posicionou outra os animais já estavam longe demais.

— Vou perguntar somente mais uma vez, - ele diz agora apontando o arco para você – Quem és?

Nessa hora o portão se abre e de lá sai uma mulher vestida notoriamente de preto cercada por homens que se vestiam muito bem. Ao ver a mulher você recua um passo.

— Tudo bem, tudo bem, este é meu convidado. – diz ela ao guarda e ao resto das pessoas. – Você chegou rápido! – comenta enquanto segura seu rosto com as duas mãos e analisa suas feições. Ela parece estar orgulhosa de alguma coisa. – Ah, por favor, não tema a mim.

Ela pega em sua mão e o trás para dentro das muralhas.

Enquanto caminham pela viela de lama, a senhora de preto se apresenta:

— Eu sou Magella.

Você percebe que a vestes dela se arrastavam na lama, mas ela parece não se importar. Também vê que todos os moradores daquele lugar vinham para perto ver o que acontecia e olhavam horrorizados para você.

Todos pareciam um pouco desconfortáveis.

Magella, que se apoiava em seu braço, lhe contava coisas sobre aquela cidade, como o clima era instável, como o mercado era o melhor lugar para comprar frutas frescas pela manhã, como você iria adorar o castelo. Pela conversa você descobre que Magella é a rainha e que seu marido havia acabado de assumir o trono após a morte do pai.

— Há tanto desta cidade ainda para vês. Os campos de treinamento, as casas dos nobres, arquitetadas pelo meu irmão, a praça do equinócio. Será um dia tomado de compromissos.

Estar ali, no meio de tanta gente, não parece natural. Seus pelos se arrepiam e você fica em dúvida se é pelo frio ou por estranheza.

Quando finalmente chegam ao castelo, a estrutura absurdamente grande o assusta. As paredes de pedra parecem tão sólidas que durariam milênios, os ornamentos do portão reluziam diante da luz das tochas que os guardas que estavam ali seguravam.

Quando adentram a construção, você se sente imediatamente mais quente.

— Traga uma manta. – Magella comanda a uma criada.

O teto do salão em que estava era adornado por formas geométricas douradas e as colunas que o sustentavam eram cobertas por flores que exalavam um aroma agradável. Ainda assim, você podia sentir o cheiro ruim que várias das pessoas ali tinham. Certas delas usavam algo como perfume de flores para disfarçar, mas você ainda sentia o odor. Era difícil não torcer o nariz.

Magella o cobre com a manta que acabara de receber e a acompanha até o quarto em que ela disse que você iria ficar.

Tudo ainda estava confuso, desde quando você acordou até quando os lobos baixaram a guarda e esta mulher ao seu lado abrira os portões da cidade para lhe acolher.

Ela parecia conhecer-te, mas você não se lembrava dela de lugar algum.

Quando você e ela estão sozinhos no quarto, ela se senta na cama e você deixa cair a manta, não estava mais com frio, manteria aquilo por quê?

Magella solta um pequeno riso, como se risse de algo infantil. Os olhos dela eram tão negros quanto as vestes, e estavam humorados. Ela parecia tentar esconder um sorriso que insistia em aparecer.

— Eu me surpreendo a cada dia. – ela sussurra para si mesma quase inaudivelmente e então ri.

Você se sente confuso.

— Desculpe, eu não sei seu nome, não sei nem se você tem um nome. – ela diz e ri novamente. – E nem sei se sabe falar. Se souber fale agora.

Você tenta falar, mas sua garganta reclama, parece seca, e só grunhidos saem de você.

— Certo... Vamos deixar este assunto para amanhã. – ela se levanta. – Isso é uma cama, você dorme aqui. Aquilo é uma janela, por favor, não pule por ela. E isto, bem, é para suas vontades. - ela termina pontando para um balde.

Enquanto sai, aponta para uma mesa e completa:

— Isto são vestes. Você pode usar quando decidir... Quiser usar algo.

E então sai dando risinhos.

Enfim, você está só. A iluminação do quarto vem de uma única fonte, a lareira em frente à cama. Por um tempo você senta em frente a ela e a observa estalar e diminuir até que apaga de vez e uma leve fumaça cinza paira no ar.

A próxima coisa que escuta são gritos e você percebe que havia caído no sono e estava deitado no chão.

— Gigante! Gigante próximo ao portão!

O barulho de passos se multiplica e seu coração começa a bater mais rápido.

A porta de seu quarto se abre e você recua, porém percebe que é Magella.

— Não se preocupe, não há nada a temer. Não saia do quarto. – instrui rapidamente e sai.

Os berros do gigante ecoam.

No quarto escuro, você abraça as suas pernas e um sentimento súbito de solidão surge.

Ao longe, uivos soam e você se alarma.

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