Melissa.

O dia se iniciou de um modo diferente.

–O que quer fazer no seu dia especial? - Richard perguntou deitando-se ao meu lado na cama. Eu até podia ligar para isso, mas depois de uma semana aturando um ao outro, isso foi umas das coisas mais naturais que fizemos. Abro meus olhos com uma certa dificuldade pela iluminação do quarto, nos encaramos.

–Hum... - Murmuro. - Vou poder fazer tudo que eu quero? - Um sorriso diabólico brinca em meus lábios.

Ele deu um sorriso fraco: - Tudo o que tiver ao nosso alcance, e que ninguém saia ferido.

–Fechado. - Sorrio.

–Tá ficando velhinha! - Ele comentou, começando a rir. Então, em um movimento rápido ficou em uma posição que meus pés ficaram presos nos seus, e minhas mãos foram encurraladas sobre minha cabeça pelas suas. E, por um motivo que ainda não sei qual, começou a fazer cócegas em mim. Solto um grito de susto, e logo depois tenho um ataque de risos eufóricos, peço para ele parar, mas o mesmo não parece muito interessado em me obedecer, aí o lembro que é meu aniversário, então ele cessou a sessão de cócegas com o sorriso desaparecendo de seus lábios.

Quando saiu de cima de mim resmusgando, ganhei uns segundos para me recuperar. Se há algo que eu odeio é cócegas, e ele sabe disso. Talvez tenha feito apenas para me irritar.

–Nós vamos mesmo parar em Jersey City, né? - Perguntou ele, apoiando-se no cotovelo.

–Sim, e depois eu vou para Nova Iorque, não posso ficar só no notebook trabalhando.-Afirmo.

–Nossa, que moça trabalhadeira. - Ele ironiza e eu começo a rir.

Um som de batidas na porta interrompeu nossa conversa. Encaro a porta curiosa, quem seria? A pessoa do outro lado pareceu ler minha mente e uma voz feminina respondeu:

–Limpeza de quarto!

–Ahh - Richard desviou os olhos de mim. - Claro, claro. Pode entrar.

Uma garota de 16 anos abriu a porta, tímida. Possuía longos cabelos castanhos e um olhar envergonhado, bochechas rosadas. Saio do lado de Richard instantaneamente, o mesmo me fitou confuso, não percebendo o quanto aquilo foi constrangedor.

– Me perdoe se interrompi ocês dois no que... hum... estavam... - Disse ela com dificuldade, mais vermelha ainda, com um forte sotaque.

–Não estávamos fazendo nada. - Digo, forçando um sorriso gentil. - Desculpe a bagunça.

Todos naquele hotel realmente acreditam que nós somos um casal, aliás, não só no hotel como também na cidade inteira. Uma garçonete de um restaurante que fomos até disse anotando nossos pedidos com um sorriso fofo que nós formávamos um belo casal. Antes eu iria me engasgar e a explicar que éramos apenas amigos, mas eu apenas dei um sorriso de lado, nem valia mais a pena gastar minha saliva dizendo novamente que não namorávamos. E para Richard era a mesma coisa, apenas sorria.

Optamos ir para o lado de fora, para a varanda. A vista era incrível, e eu afirmo que passei a madrugada tirando ótimas fotos, Richard se inclinou na sacada e juntou suas mãos, uma expressão de cansaço formou em seu rosto:

–Ei. Você está bem? - Pergunto, devidamente preocupada. Me aproximo dele até nossos ombros se encostarem. Richard não pareceu surpreso com esse ato e muito menos irritado, desviou os olhos para o horizonte por alguns segundos, depois me encarou nos olhos:

–Sim, sim. Apenas pensando... - Desviu o rosto.

–Pensando em quê? - Digo curiosa, franzindo as sobrancelhas.

Ele deu um suspiro pesado, e virou para o lado, na minha direção. Pareceu pensar no que responder por alguns segundos, mas logo anuncia:

–Não é nada demais. Só podemos sair ... - Apontou ao redor do hotel. - Daqui? - Me encarou.

De inicio estranho aquela pergunta. Por que ele queria sair daqui de repente? Rick tinha parecido gostar do hotel no começo, e eu nunca tinha pensado que ele falaria aquilo de repente. Fixo meu olhar no fundo dos seus olhos, tentando ver as pistas que ele deixava, mas ele não queria que eu soubesse, ou guardava a verdade muito bem.

Sempre tive esse defeito- Cravo meus olhos fixamente nos olhos de outras pessoas até que elas se sentem intimidadas e revelam algo que eu queria saber. E, mesmo sendo estranho, esta técnica sempre funcionava: Teve uma vez no 3º ano em que um garoto estava perturbado-me os nervos reclamando que garotas não podiam jogar futebol, mas eu queria jogar futebol, e surpreendentemente também era uma garota. Aí eu perguntei o motivo, e ele apenas respondeu que eu não podia jogar futebol. Então me levantei do banco e fiquei cinco centímetros de distância do seu rosto, o mesmo ficou assustado mas sustentou meu olhar por 10 segundos, em seguida levantei uma sobrancelha, sorrindo. E ele revelou nervoso: " Não seria legal perder pela garota que gosto".

–Melissa? - Ouço Rick me chamando, suas mãos se moviam na minha direção.

–Sim? - Falo um pouco confusa pelo flashback repentino.

–Você tá me encarando com uma cara de retardada que tá me assustando.

–Nossa, então tá. - Digo entre risos. - Enfim, se iremos sair daqui para onde iremos? Preciso organizar uns arquivos para mandar para o meu trabalho hoje.

–Podíamos ir amanhã, é. Porque hoje você vai ter o melhor aniversário de todos os tempos.- Ele se anima subitamente, me assustando.

–O que vai ter de tão especial? - Pergunto entusiasmada enquanto saímos da varanda adentrando no quarto agora limpo e arrumado. Richard se joga na cama em um movimento rápido, e mencionou algo que me deixou assustada:

–Você já roubou algo de uma loja?

–Oh meu Deus, o que você está pensando, Richard Hunter? - Digo incrédula.

Ele se sentou, exibindo o sorriso mais cafajeste que você pode imaginar, e deu dois tapinhas na cama em um sinal para me sentar ao seu lado.

–Querida, você tem que ser mais rebelde se não o mundo te cospe de volta. - Abriu mais ainda o sorriso, e eu preferia ser cuspida do que participar de seus planos. Sento ao seu lado, temendo o que ele está planejando, então ele colocou suas duas mãos em meus ombros, argumentando:

–E antes que negue, sabia que levar você pra Nova Iorque não foi um trabalho fácil? - Mentiu descaradamente. - Me deve esse favor, Melissa.

–Eu estou com medo, mais-que-medo, com um certo pavor.

Ele sorriu de lado.

–Relaxe.