Intransitividade escrita por AmanditaTC


Capítulo 4
Lágrimas por Ninguém


Notas iniciais do capítulo

O título deste capítulo surgiu depois de uma conversa com a minha sister do coração Drianis. Qdo eu falava da minha separação e do qto isso foi dolorido, ela me lembrou da canção "Ela Disse Adeus" que traz a brilhante frase: lágrimas por ninguém, só porque é triste o fim...



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Mariah deu uma última olhada para o apartamento. Teria poucas boas lembranças para levar dali e ainda assim uma angústia se formou em seu peito. Não voltaria atrás, sua decisão era certa e ela se sentia bem em dar adeus a uma vida sem brilho, mas encerrar um ciclo que prometera, por muito tempo, ser o melhor da sua vida não era algo muito fácil. Ainda encerrar esse ciclo justamente porque as coisas não haviam sido como imaginadas.

Era dar adeus às ilusões da juventude. Abandonar a fantasia da família perfeita que tantos os seus familiares quanto os de Fabrício ainda acreditavam existir naquele local.

Um barulho na maçaneta a fez olhar para a porta. Fabrício finalmente chegara, após três semanas no congresso em Porto Alegre. Lançou um boa noite e jogou as malas ao chão. Se aproximou da esposa e, em vez do tradicional beijo na testa com que sempre a cumprimentara, desta vez buscou seus lábios. Instintivamente, Mariah virou o rosto e apenas o abraçou.

- O que é isso, amor?

- Nada, só preciso sair. Vou pra casa dos meus pais.

- Érico está lá?

- Sim, foi pra lá logo após a escola. Fabrício, depois a gente conversa, o táxi já deve estar lá embaixo me esperando.

- Ah, ok então. Te vejo depois.

A mulher se dirigiu até a porta enquanto Fabrício tomava o rumo do quarto do casal. Antes de abrir e ganhar o corredor, ela falou, sem se virar:

- Antes que eu me esqueça. A Carolina ligou, dizendo que você esqueceu o celular no apartamento dela.

A cor fugiu do rosto dele. Engoliu em seco umas três vezes antes de se virar para responder ou inventar uma desculpa qualquer, mas quando deu por si, Mariah já havia saído. Do corredor, deu uma olhada para o quarto do filho, agora completamente vazio. Móveis, brinquedos, tudo havia sido retirado dali. O choque durou poucos segundos. Correu ao próprio quarto e viu que todas as roupas e objetos pessoais da esposa haviam sido retirados dali.

Correu atrás dela, descendo as escadas do prédio aos saltos e conseguiu alcançá-la antes mesmo que ela pudesse abrir a porta de vidro que dava para a rua.

- Mah, que palhaçada é aquela lá em cima?

Ela o encarou de volta e não disse nada.

- Tudo isso é por causa da Carolina? Amor, ela foi só uma aventura, você sabe que ás vezes essas coisas acontecem...

- Não tem nada a ver com a Carolina, Fabrício. – a voz era calma, porém triste – Não tem nada a ver com a Carolina, com Maria, Fernanda, Gabriela ou qualquer que seja o nome da sua amante. É muito mais que isso.

- Você não pode estar falando sério! Vamos subir e conversar.

- O tempo de conversar passou, Fabrício. Agora é tempo de cada um seguir com a sua vida.

- Você está sendo infantil...

- Infantil? Querer sair de uma relação que me oprime, de uma vida que não se parece em nada com a que eu sonhei pra mim é ser infantil? Desculpe-me, mas infantil é continuar fingindo que ainda vivemos bem e com a mesma harmonia de antes.

- Mah, a gente não briga há tanto tempo.

- E por que a gente não briga, Fabrício? Você não se perguntou isso? Será que não reparou que a gente já não briga porque a gente sequer conversa?

O homem balançava a cabeça, contrariado. O rosto ia ficando ruborizado a medida que ele notava que a situação estava fugindo do controle. Precisava encontrar uma forma de impedir que Mariah levasse aquela loucura de separação adiante. Apelar para o emocional parecia ser uma boa idéia. Sua imagem na empresa, apesar de suas tradicionais escapas durante as viagens, sempre fora de homem dedicado à família e isso lhe rendeu suas duas promoções.

- Tem certeza que vai jogar pro alto o nosso amor, Mah? Porque eu ainda amo você.

Ela sorriu. Aquele argumento se tivesse sido dito há algumas semanas... Se Fabrício realmente demonstrasse qualquer interesse real em fazer aquela relação dar certo, Mariah teria se esforçado. Engoliria o orgulho para tentar construir uma família. Mas agora, quando tudo tinha ruído dentro dela, essa declaração não serviria para juntar os cacos do seu coração.

Mariah andou até o marido e tocou seu rosto com as pontas dos dedos e olhou bem em seus olhos por alguns segundos antes de responder:

- Tem horas, Fabrício, que só o amor não é mais suficiente.

A resposta não era a que ele esperava e ele viu, como em câmera lenta, ela se afastar e abrir a porta de vidro que dava para a rua.

- O Érico fica comigo! – ele gritou num ímpeto.

Mariah estancou. Virou-se pra ele, subiu novamente os degraus da portaria e parando em frente a Fabrício, murmurou com uma dureza no olhar que o marido nunca tinha visto antes:

- Tenta. Tenta tirar o meu filho de mim, Fabrício, e você vai destruir o pouco do respeito que eu ainda tenho por você.

Ela ganhou a rua, entrou no táxi e partiu, deixando o marido atônito parado diante do prédio e sob o olhar assustado e curioso do porteiro.

Chegando à casa dos pais, Mariah desceu com a última mala e foi direto ver o filho que dormia no quarto preparado pelos avós. O antigo quarto de visitas agora tinha um berço, muitos brinquedos espalhados pelo chão e uma cama de solteiro, além de um armário e uma grande cômoda, capaz de guardar as roupas de mãe e filho, e sobre a qual havia sido colocado um televisor.

A luz do abajur tornava tudo azulado e confortável no ambiente. Maria sentou-se na cama, pedindo à mãe que a deixasse sozinha por um instante. Passou os dedos pelo rosto delicado do filho, os cachos escuros e fartos, observou a boca rosada e os dedinhos gorduchos.

Agora deixava que as lágrimas escorressem por sua face e os soluços chacoalhassem seus ombros. Uma etapa de sua vida havia se encerrado. De um jeito avesso aos seus sonhos de juventude. E ela buscava dentro de si um resto de força para lutar sozinha e conseguir vencer.

Sabia que não seria fácil. Precisava vencer mais que ao destino de mãe solteira em cidade do interior. Precisava vencer a si mesma e aos seus próprios preconceitos e comodismos se quisesse ser feliz!

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Notas finais do capítulo

Sou oficialmente movida a reviews...rs... E realmente saber a opinião de vcs é algo que me motiva a continuar escrevendo!

Obrigada à quem está acompanhando a história!



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