Onde Nasce O Amor escrita por Sill Carvalho, Sill, Sill


Capítulo 3
Capítulo 03 – Bem-Vindo ao Lar


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente. Meu muito obrigada aos comentários deixado no capítulo anterior ;)
Simbora ler mais um pouquinho.



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Não levou muito tempo para chegarem ao bairro residencial, onde o casal vive já há alguns anos desde o casamento.

O garoto estava atento a tudo o que passava pela janela do carro em movimento. Como qualquer criança de sua idade, estava ansioso para conhecer o novo lar. Pensando, também, se teria um quarto só pra ele, com brinquedos e tudo o mais.

– Essa é será sua nova vizinhança, Thedy – disse Emmett ao garoto, manobrando na entrada de automóveis.

Para todos os lados que olhavam, jardins exibiam sua beleza do inicio de outono.

– Essa é a sua nova casa, Thedy – falou Rosalie, inclinando-se um pouco no assento para poder vê-lo melhor.

Apesar da doença em seu estagio final, Thedy parecia feliz por estar ali com eles. Sim. Ele de fato estava feliz por ter a chance de realizar seu maior sonho antes de tudo chegar ao fim.

O garoto olhou de um para o outro, depois para a casa e novamente para o casal. A bola de baseball estava outra vez entre suas pequenas mãos pálidas. Aquilo fez Emmett pensar no quanto àquela bola significava pra ele. Talvez até houvesse uma historia por trás dela.

– É uma casa muito bonita – constatou, admirado. – E muito grande também.

– Você será muito feliz aqui, Thedy. Eu prometo – outra vez Rosalie falou.

– Obrigado sen... Quer dizer, Rosalie.

– Nada de senhora, ou Rosalie. Me chame apenas por Rose. Já falei.

O riso fraco de Thedy foi acompanhado pelo riso vibrante de Emmett, enquanto esse desligava o motor do carro, e retirava a chave da ignição em seguida. E, então, olhou para o garotinho no banco traseiro.

– Amigão, se prepare para todas as verduras e legumes que ela vai te obrigar a comer. Não se engane com essa carinha linda, de aparência delicada. Parece um anjo, mas é osso duro de roer.

Rosalie o cutucou na costela.

– Não diz essas coisas para ele amor. Pode assustá-lo.

– Brincadeira, amigão. Essa mulher é o ser humano mais incrível que já conheci – e então ele olhou para a esposa, e a beijou de leve nos lábios muito rapidamente.

– E eu acredito – concordou Thedy. – Ela me escolheu entre tantos garotos saudáveis que tinha no abrigo. Como não acreditar na nobreza de tal coração.

Rosalie esticou o braço entre os bancos, alcançando o joelho de Thedy com a mão.

– Vamos lá?! Vamos conhecer sua nova casa.

No minuto seguinte, estavam todos fora do carro. Emmett se encarregou de levar para dentro todas as coisas de Thedy.

A casa estava silenciosa, o que fez Rosalie acreditar que sua família ainda não havia chegado como prometera. Por um instante sentiu que poderia ficar triste com isso.

Mas, ao abrir a porta, soube que estava enganada. Foram logo surpreendidos por todos, com exceção da mãe de Emmett que não estava lá, falando ao mesmo tempo.

– Bem-vindo à família, Thedy – o coro de vozes preencheu a casa com verdadeira satisfação.

Na parede central da sala havia uma faixa onde dizia “bem-vindo ao lar, Thedy”. E muitos balões coloridos em volta.

Não só o garotinho ficou surpreso, o casal também. Esperavam que a família viesse, só não esperavam que fizesse uma festinha surpresa, de boas-vindas.

A mão de Rosalie acariciou o rostinho surpreso do garoto, com um olhar de puro carinho direcionado a ele.

– Thedy, querido, essa é sua família agora. Deixe-me que te apresente a todos eles. Aquele ali, de cabelos louros, é o meu pai. O nome dele é Carlisle. Ao lado dele está minha mãe. Esme. Minha irmã Kate e o marido Garrett – explicava à medida seu dedo mudava de direção. – Meu irmão Jasper – e dessa vez acrescentou um pequeno comentário. – Ele reclama de ser o filho do meio, mas se esquece de que é o único filho homem – algumas pessoas sorriram. – Ah, e essa baixinha – Alice fez falsa cara de brava – é a noiva dele. Parece maluquinha, mas é supergente boa.

Chegou um pouco mais perto da irmã, e fez um afago na barriga avantajada.

– E esse aqui, Thedy, é seu priminho que ainda está no forno. Ele ainda não está pronto, restam ainda alguns meses para que possamos conhecê-lo.

Tendo um sorriso terno nos lábios, Kate repousou a mão sobre a da irmã sussurrando:

– Estou orgulhosa de você, mana.

Rosalie a beijou no rosto.

– Obrigada por ter vindo – disse-lhe. E então olhou para o sogro. – Thedy, esse é o senhor Otávio, pai de Emmett. E aquela ali – apontou para a moça que acenava alegremente – é Isabella, irmã mais nova de meu marido. Se eu não estiver enganada, ela deve ter vindo direto da faculdade pra cá – a cunhada lhe sorriu, assentindo com um leve movimento de cabeça.

O garotinho distribuiu sorrisos, olhando cada um deles com atenção, como que para não esquecer seus rostos jamais. Encantamento resumia o que estava sentindo. Por muitas vezes imaginou como seria ser parte de uma família, mas nem de longe chegou perto da sensação maravilhosa que estava vivendo.

Cheio de sorrisos, Emmett cumprimentou a cada um dos familiares, também. Na primeira oportunidade Isabella cochichou ao irmão sua opinião a respeito do que havia acontecido durante o jantar na casa dos pais anteriormente.

– Papai me contou tudo. Eu quero que saiba que não concordo com a atitude de mamãe. Muito menos com o modo como tratou Rose. Vocês não merecem a forma como ela os tratou, não mesmo. Mamãe precisa entender que já não pode mais te dominar. Que, por mais que ela não queira, é Rose quem você ama.

– Valeu Bella! Quer saber, eu não esperava nada diferente vindo de você – e quando tentou bagunçar os cabelos da irmã, ela se esquivou muito rápido. Sorrindo para ele quando já estava em uma distancia que considerava segura.

– E o chato do seu namorado? – provocou. – Qual que é o nome dele mesmo?

– O nome dele é Edward. E só pra você saber, não é nenhum chato. Ele não pôde vir, tinha muitos trabalhos acumulado na faculdade pra fazer. Mas garantiu que vem assim que puder.

– Nossa, fiquei tão triste agora– ele brincou, levando a irmã a gargalhar. – Mas, falando sério, ele podia ter vindo também. Não iria expulsá-lo. Não sou como a mamãe.

– Eu sei – a irmã concordou.

A casa estava barulhenta. Estavam todos envolvidos em algum assunto que surgiu. Cada um se acomodou como achou melhor. As horas foram passando sem que nenhum deles de fato percebesse.

O almoço foi servido com atraso, na varanda dos fundos, onde todos se envolveram no com algo fosse à arrumação da mesa ou no preparo da comida.

O clima familiar era surpreendentemente agradável. Thedy jamais havia passado por isso antes. Apesar de abatido, por causa da doença, a felicidade contida naquele momento simples lhe trouxe brilho aos olhos.

Carlisle ficou encarregado da churrasqueira. Havia sempre alguém chamando por ele. Jasper, lembrando de que sua carne tinha de ser mal passada. O contrario de Kate, que pedia que a sua estivesse bem passada. E mesmo que Rosalie não estivesse exigindo nada, ele sabia que seu gosto era igual ao da irmã mais velha. E então meneava a cabeça e sorria. Conhecia o gosto de cada um dos filhos desde que eram apenas crianças.

Rosalie se manteve o tempo inteiro cuidando de Thedy, cortando seus alimentos sempre que lhe eram acrescentados ao prato.

Todos estavam empenhados em fazer dos últimos dias de Thedy, o melhor possível. Interagiam com ele o tempo inteiro. Contavam piadas. Trouxeram também alguns presentes, mas, o que mais agradou mesmo, foi o vídeo game que Emmett deu. E foi com isso que os rapazes se ocuparam depois do almoço.

Emmett instalou o jogo na tevê da sala. E eles jogaram por quase todo o fim de tarde, parando apenas para se despedir do pessoal, quando resolveram ir embora.

Finalmente Rosalie pôde levar Thedy para tomar um banho e vesti-lo com o novo pijaminha de flanela, de estampas do batman, e pôr um par de meias limpas nos seus pezinhos frios.

Thedy ficou deitado em sua nova cama, no novo quarto, aguardando que Rosalie voltasse do banho. Emmett tinha ficado no andar de baixo arrumando a bagunça que ficou na sala.

Ela penteava os cabelos quando notou uma tossezinha vinda do quarto ao lado – o quarto escolhido para Thedy ficava ao lado do deles, para facilitar a locomoção sempre que necessário – A tosse foi aumentando gradativamente até que se tornou sufocante.

Largou a escova de cabelos sobre a cama e correu para lá. Rosalie o encontrou sentado na cama, cobrindo a boca com as duas mãos.

– Thedy – ela se apressou, com a voz esganiçada. No minuto seguinte, estava ao lado do garoto, na cama, esfregando suas costas levemente com a mão. – Vai ficar tudo bem, querido. Respire devagar.

– Rose – a voz de Emmett chegou aos seus ouvidos, se mostrando tão preocupado quanto ela estava. Ele estava parado na porta do quarto agora, a respiração acelerada, o peito subia e descia muito rápido. Dando a entender que havia subido o lance de escada correndo.

Rosalie o olhou muito rápido, com uma expressão assustada no rosto.

– Amor... – disse ela.

Da mesma forma que a tosse acometeu o garotinho, ela também se foi. O pânico recém-adquirido pelo casal, também. Entretanto, quando Thedy afastou as pequenas mãos da boca, elas estavam salpicadas com sangue.

– Emm, pega alguns lencinhos pra mim – Rosalie pediu, com mãos nervosas.

Muito rápido Emmett entrou no quarto e arrancou alguns lenços da caixinha, posta mais cedo sobre a escrivaninha.

Rosalie os usou para limpar a palma das mãos de Thedy, e os lábios também.

– Sente-se melhor agora, querido? – sondou um pouco mais tranquila.

– Uhumm – o garotinho murmurou em resposta, cansado.

– Quer descer para o jantar?

– Não. Estou sem fome. Comi muito no almoço – acrescentou, e um sorriso ameaçou surgir em seus lábios roxos. – Mas se puder me trazer um pouco de água para beber.

– Sim – ela respondeu muito rápido. – Emm, vai buscar água para ele, amor, por favor.

– Eu volto em um minuto – avisou, virando-se para sair do quarto.

– Vem querido. Volte a se deitar. Você precisa descansar agora. Foi um dia e tanto.

Ela afofou o travesseiro dele, em seguida, o ajudou a se deitar confortavelmente. Deitou-se ao seu lado e ficou lhe fazendo carinho no braço com as pontas dos dedos.

– Obrigado pelo quarto – disse Thedy, a voz arrastada. – Ele é lindo. E eu amei aquele trenzinho ali.

– Foi Emmett quem escolheu e montou ali pra você. Mas se quiser mudar de lugar, é só falar. Você também pode fazer isso, se quiser. Tudo o que tem aqui é seu.

– Não, precisa. Ali no tapete está bom.

– Você se divertiu hoje, querido?

– Uhumm – murmurou, abrindo um sorriso ao olhar para ela.

Amavelmente, Rosalie passou a mão em sua cabecinha sem cabelos, depois na testa. Após alguns segundos em silêncio, ele voltou a falar.

– Rose...?

– Sim, querido?

– Vai doer?

– Do que está falando, Thedy?

– Da morte. Quero saber se vai doer quando chegar o momento.

– Por favor, não pense nisso.

– Só me diz... Por favor.

– Não vai – sussurrou, sentindo os olhos arderam acumulando lágrimas. Inclinou o corpo e lhe deu um beijo na testa. Não podia ter certeza quanto a sua resposta. Só sabia que era o que Thedy precisava ouvir.

E, sem que tivesse planejado, se viu murmurando a letra de uma de suas canções favorita: Make You Feel My Love, de Adele.

Ao retornar trazendo o copo de água, Emmett ficou na porta por alguns instantes a observá-los. A voz doce da esposa chegando aos seus ouvidos em forma de canção, o deixava ainda mais orgulhoso e apaixonado por ela.

O garotinho ao lado dela parecia relaxar, em uma nuvem de calmaria e paz, fechando os olhos lentamente.

Achou melhor entrar antes que ele adormecesse sem tomar a água que pediu.

– Eu trouxe a água – avisou, dando alguns passos em direção à cama de solteiro.

A voz de Rosalie se estendeu num trecho da canção, e então ela parou de cantar.

– Sua água já está aqui, Thedy.

O menino abriu os olhos e sentou-se na cama para tomar a água. Rosalie recebeu o copo das mãos do marido e se manteve segurando até que o garoto tomasse tudo.

Após um suspiro, Thedy agradeceu.

– Obrigado.

– De nada, querido. Agora volte a deitar. Eu ficarei aqui com você até que esteja dormindo.

– Emmett pode ficar também? – ele pediu.

– Pode, sim – no mesmo instante lançou o olhar ao marido. – Vem amor, fica aqui com a gente.

Emmett deu a volta e juntou-se a eles na pequena cama. Não coube todo seu corpo de maneira confortável, mas nem por isso se queixou.

Thedy se encontrava agora espremidinho entre os dois. A sensação de paz que estar assim lhe transmitia era algo sem igual. Nunca havia se sentido assim antes. Se perguntou se era assim que todas as crianças, desejadas e amadas por seus pais, se sentiam.

A vida lhe parecia inspiradora agora... Mas a doença... Essa não o permitira viver por muito mais tempo. Ele sabia.

Naquela noite, Emmett leu para Thedy algumas paginas do livro O Pequeno Príncipe. E o garoto adormeceu coladinho a Rosalie, recebendo seu carinho e afago.

Deixou o livro sobre a mesinha de cabeceira, com um marcador de pagina, enquanto Rosalie ajeitava o garoto na cama e o cobria. Ambos o beijaram na testa e, mesmo que estivesse dormindo, lhe desejaram boa-noite ao se retirarem.

Embora esperassem que Thedy tivesse jantado com eles aquela noite, acabaram jantando sozinhos. Emmett se encarregou da louça, e depois foi encontrá-la na sala, onde juntos adormeceram com a tevê ligada enquanto assistiam a um programa de auditório.

[...]

O tempo passou, o outono se encaminhava para seu fim. Todas as folhas nas árvores a essa altura já haviam se juntado a relva. A cor cinza se tornara constante no céu. Há poucos dias para o inverno oficial começar, o frio se tornava cada vez mais intenso.

Durante esse tempo, Thedy fez tudo o que uma criança normal poderia fazer. Com diferença de que se cansava muito rápido, e que sempre acabava se sentindo mal. Apesar de as intempéries, abria um sorriso, provando ao casal que o escolhera como filho, que estava sendo feliz.

Na primeira semana, Rosalie chegou a fazer uma lista com todas as coisas que ele gostaria de fazer. E boa parte delas estava sendo cumprida com sucesso. Salvo o dia em que tomou sorvete e acabou passando a noite inteira queimando em febre.

Disse que não se importava, pois teve a chance de provar o sabor do sorvete mais uma vez antes de partir. Suas palavras não isentaram Rosalie da culpa, mas foram suficientes para fazê-la parar de chorar por aquela noite.

Com Thedy cada vez mais debilitado, os passeios tiveram que parar. Mas ainda brincava e recebia visitas em casa quase o tempo inteiro. A medicação estava em doses maiores para poder suportar o desconforto e as dores que a doença causava.

O momento se aproximava.

Embora Rosalie não gostasse de pensar muito nisso, se perguntava por que Deus, em sua bondade infinita, permitia uma criança sofrer de tal maneira.

Chegava sempre à conclusão de que jamais compreenderia os planos dele.

Mesmo que ainda os médicos dissessem que não havia nada de errado com ela ou com o marido, não conseguia engravidar. E Thedy nunca chegaria a se tornar um adulto. Não aprenderia jogar baseball. Não teria um baile de formatura. Não iria entrar pra faculdade. Nunca se apaixonaria, nem daria o primeiro beijo. Não aprenderia dirigir, ou tiraria careira de motorista. Jamais saberia o que era ir a uma festa com os amigos, e levar uma bronca por chegar muito tarde em casa.

Difícil entender os planos daquele que tudo sabe, e tudo ver.

Como Thedy agora ficava a maior parte do tempo em casa, Rosalie o levava ao jardim para respirar um pouco de ar puro de vez em quando, quem sabe até brincar um pouco.

Restavam apenas algumas poucas folhas secas sobre o gramado que aos poucos, também, perdia sua cor.

Devidamente agasalhados, estavam os dois agora sentados sobre uma manta ao lado de uma árvore com galhos secos. Ambos sorriam brincando de um jogo de adivinhação. Até serem interrompidos pelo barulho do telefone, dentro da casa.

– Fica quietinho aí, que eu volto em um minuto – disse ela, se pondo de pé. – Vai escolhendo a próxima.

– Vou escolher uma bastante difícil – disse ele. – Você nunca vai adivinhar.

– Essa eu quero ver – ela respondeu, piscando um olho.

– Eu vou pensar bem. Vai ser uma, muito, muito, muito difícil.

– É? Então fica pensando aí que volto já.

– Se for o Emmett diz que mandei um “oi”.

– Tá legal, rapazinho. Não sai daí, hein?! – alertou à medida que se aproximava da porta da frente.

– Tá.

Ela entrou na casa, e rapidamente arrancou o telefone sem fio da base. Chegou mais perto da janela para poder ficar de olho em Thedy enquanto falava.

Percebeu que ele soprava uma flor dente-de-leão que encontrara sendo levada pelo vento. Ele acenou para ela no momento em que a viu na janela.

Acenou de volta, perguntando-se o que ele teria desejado ao soprar o dente-de-leão. No entanto, seus pensamentos mudaram de direção no momento em que avistou um mercedes preto parar encostado ao meio-fio. Não precisava estar lá fora para saber quem chegara.

– Kate, eu preciso desligar agora... Te ligo de vota mais tarde.

Ainda da janela, percebeu o motorista sair do carro para abrir a porta traseira, e a sogra aparecer logo depois. Margo tinha o mesmo ar arrogante de sempre estampado no rosto. Se equilibrando sobre seu par de saltos alto, esbanjando elegância em seus trajes de outono.

Rosalie deixou o telefone sobre o sofá e saiu para o jardim rapidamente.

Olhou para o garoto, depois para a mulher que caminhava pelo jardim pisando em algumas folhas secas, que estalavam.

– Se veio até aqui para me ofender ou destratar meu filho, pode ir embora.

– Não seja ridícula – declarou Margo. – Esse garoto não é seu filho. É só um garoto que está morrendo... E você ficou com peninha.

– Cale-se! – gritou Rosalie.

O garotinho observava a cena com olhar entristecido. O sorriso que carregava nos lábios, não existia mais.

– Você não me manda calar a boca – desafiou Margo.

– Sai do meu jardim. Sai da minha casa – Rosalie exigiu, elevando o tom de voz.

– Essa casa também pertence ao meu filho.

– Seu filho não está. E se continuar destratando o meu, vai saber do que sou capaz. Você ainda não me viu assumir o papel de louca – ameaçou.

– E ainda se diz louca – Margo provocou. – O maior erro de meu filho foi ter se casado com você.

– Por quê? Porque eu não tenho um diploma de medicina, nem sou uma neurocirurgiã renomada, como sua querida Adrieene?

– Você nunca será como ela.

– É claro que não. Eu tenho personalidade. Já ouviu falar disso?!

– Você não tem classe.

– Eu tenho uma dica pra senhora: Embrulha a tal de Adrieene em papel de presente, e leva pra casa. Só não se esquece de avisar que o marido é meu.

Dizendo isso, caminhou para perto de onde o garotinho estava. Se curvou ajudando-o ficar de pé. Ele estava tão magrinho que nem foi preciso muito esforço para pegá-lo no colo.

– Voltamos para pegar as coisas depois querido – sussurrou a ele.

Thedy passou as pernas em torno do corpo dela, e os braços cheios de hematomas ao redor do pescoço. Ficou olhando Margo enquanto Rosalie caminhava com ele nos braços, em direção a casa.

Antes que pudesse abrir a porta, ouviu Margo falar:

– Avise a meu filho que estive aqui.

– Não sou sua garota de recados – resmungou, fechando a porta sem se importar que a sogra estivesse olhando.

Margo ajeitou os óculos escuros. Olhou para onde Thedy estava antes, depois voltou para o carro, acusando Rosalie de estar estragando a vida de seu filho.

Tentando disfarçar o mal estar que Margo causou, Rosalie se encaminhou ao sofá onde colocou Thedy sentado. Ouviu o barulho do carro da sogra se afastando, ainda assim evitou pensar muito nela.

– Quem era aquela senhora? – Thedy perguntou por fim. O tom de sua voz demonstrava o quanto às palavras de Margo o havia perturbado. Magoado.

– Não é ninguém importante.

– Pensei que pudesse ser a mãe de Emmett. Ela falou algo sobre avisar ao filho dela.

– Na verdade, era ela sim querido.

– Ah... – ele pareceu pensar sobre isso. – Ela nunca veio aqui antes, como as outras pessoas sempre vêm. Porque ela não gosta de mim?

– Margo não gosta de ninguém, meu anjo. Nem mesmo do próprio filho. Se gostasse não perturbava a vida dele tanto assim.

– Acho que é porque estou doente – Thedy mencionou quase em um sussurro. – Diz pra ela que o câncer não é contagioso, Rose. Explica pra ela. Talvez ela entenda. E um dia não diga mais coisas feias.

Sentindo que poderia chorar a qualquer momento, Rosalie chegou mais perto e sentou ao lado dele no sofá. Passou o braço em torno dos ombros do garoto e o trouxe para perto.

– Eu acho que ela já sabe... – sussurrou, com o rosto apoiado na cabecinha sobre a touca de lã. – Quer continuar brincando? Posso buscar nossas coisas lá fora, assim podemos continuar de onde paramos. O que acha?

– Estou cansado... Um pouco enjoado, também.

– Tudo bem, não tem problema. Você pode assistir a um desenho na tevê se quiser. Você quer?

– Uhumm.

– Está bem. Eu vou ligar a tevê pra você, e depois vou lá fora pegar nossas coisas antes que os esquilos resolvam fuçar nelas.

– Tá.

Ela se pós de pé novamente.

– Se ajeita direitinho amor – avisou, e antes que Thedy pudesse se mexer, estava ajeitando as almofadas atrás de suas costas. E cobrindo-o com a manta do sofá. – Assim está bom? Está quentinho?

– Está perfeito. Obrigado, Rose.

– Eu te amo – disse, curvando-se para beijá-lo na testa. – Volto em um minuto. Quer dizer, isso se eu não precisar lutar com esquilos selvagens pelo direito a ter nossas coisas de volta – piscou um olho para Thedy, que abriu um fraco sorriso em resposta a seu comentário.

Deu mais uma breve olhada no garoto, certificando-se de que estava verdadeiramente confortável, somente então se encaminhou para a porta da frente, saindo para o jardim a fim de recuperar as coisas que deixaram pra trás.


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Notas finais do capítulo

Mas essa Margo não tem jeito, viu. Eita, lê, lê.
Beijo, beijo
Sill