Onde Nasce O Amor escrita por Sill Carvalho, Sill, Sill


Capítulo 2
Capítulo 02 – A Decisão Está Tomada


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoinhas.
Obrigada a todos que comentaram no capitulo anterior. Vocês foram uns amores.
Simbora ler mais um pouquinho o/



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Naquele mesmo dia, horas mais tarde, Rosalie estava com Emmett na casa dos pais dele. Ansiosos para darem a notícia, enquanto aguardavam que o jantar fosse servido.

Apesar de Rosalie já desconfiar que não fosse ser fácil, não estavam à espera de como aquela noite terminaria.

Sentados à mesa, na sala de jantar, seguravam na mão um do outro.

Após um breve momento de insegurança contaram tudo sobre seus planos de adoção, e sobre Thedy, o garotinho que conheceram mais cedo.

A expressão no rosto de Margo, antes arrogante, se tornou furiosa, quase selvagem.

A mulher elegante, de cabelos negros, com grandes olhos azuis que nesse momento brilhavam de raiva, ficou de pé, atirando o guardanapo branco sobre a mesa.

– Estão loucos! – gritou furiosa. – Não bastasse mencionar adoção dentro de minha casa. Estão também me dizendo que se trata de uma criança com câncer. Um paciente terminal – sua boca se abriu e fechou, com horror e indignação.

– Margo, por favor, controle-se – o marido pediu, tocando de leve no seu braço.

– Não me peça para me controlar. Não me interessa Otávio – grasnou, sem deixar de olhar para o filho e a sogra, no outro lado da mesa. – Isso é a coisa mais estupida que já ouvi – disparou.

Embora não tivesse intenção, Rosalie estava começando tremer de nervoso. Emmett sentiu, na mão que segurava a sua, o desconforto da esposa e apertou sua mão um pouco mais firme.

– Vocês dois têm ideia do que isso pode causar...? – prosseguiu Margo. – Isso é loucura. Chegaram a pensar por um instante no desgaste físico e psicológico?! Nas noites insones?! Na despesa desnecessária que tudo isso vai causar?

– Já pensamos em tudo isso, mãe – respondeu Emmett. – E, se quer saber, isso não nos preocupa, nem um pouco. Minha esposa e eu estamos cientes de nossa escolha, e o que virá com ela, também.

– Não seja estupido. Não permitirei que façam isso. Jamais, ouviu bem? Jamais.

Tomada por uma fúria repentina, Rosalie se pôs de pé, empurrando com o corpo a cadeira onde estava sentada. Jogando o guardanapo sobre a mesa da mesma forma que a sogra havia feito segundos antes.

– A senhora não tem que permitir nada – sua voz saiu raivosa ao se dirigir a Margo –, porque não viemos até aqui para te pedir permissão alguma.

Preocupado com o rumo que aquela discussão estava tomando, Emmett logo ficou pé, passando o braço em torno da cintura da esposa.

– Deixe isso pra lá Rose – pediu, cautelosamente.

Rosalie o olhou brevemente.

– Não. Agora sua mãe é quem vai ouvir. Ela não pode falar o que quer e esperar que eu fique sempre calada. Estou farta de suas grosserias. Cada vez que nos encontramos ela faz questão de me atormentar – e então seu olhar estava novamente em Margo. – Seu filho e eu aceitamos vir aqui essa noite porque queríamos compartilhar a decisão que tínhamos tomado, e, se quer saber, estávamos felizes. Mas se soubéssemos que seria desse jeito, nem teríamos nos dado o trabalho de sair de casa. A senhora querendo ou não, seu filho e eu vamos adotar aquela criança. Ampará-la. Amá-la a cada segundo de seus últimos dias de vida. E para sempre. Faremos um pequeno coração feliz enquanto esse ainda estiver batendo. Vamos pôr um sorriso no rosto daquela criança, sim, a senhora querendo ou não. Vamos doar esperança enquanto ainda houver vida.

Com o coração batendo acelerado, e uma onda de calor que surgiu no momento da fúria, Rosalie virou as costas para se retirar da sala de jantar.

– Esse foi o tipinho com quem nosso filho se casou Otávio – a voz de Margo chegou aos seus ouvidos com arrogância e desprezo. – Sempre soube que essa daí não era a mulher certa pro meu filho. Nem ao menos é capaz de engravidar. Adrienne, sim, era a mulher perfeita para ele se casar.

Tão subitamente quanto havia se virado para sair, Rosalie virou-se novamente para a sogra sustentando seu olhar, furiosa.

– A senhora querendo ou não foi com esse tipinho – ela gesticulou as mãos em frente ao próprio corpo – que seu filho se casou. É comigo que ele vai pra cama todas as noites. É a mim quem ele diz que ama. E é no meu ouvido que ele geme quando fazemos amor.

– Basta! – ordenou o pai de Emmett. Segurando firme no braço da esposa quando essa ameaçou revidar indo até a nora.

Margo lançou um olhar ao marido, indignada.

– Otávio – grunhiu ela.

– Cale-se Margo. Basta. Você está sendo intransigente. Há assuntos entre eles que lhe cabe interferir.

Ofendida, Rosalie virou as costas, pisando duro, enquanto deixava todos eles para trás. Quando passou pela sala recolheu furiosa a bolsa sobre o sofá. Podia ouvir perfeitamente Emmett chamando por seu nome, mas não parou para ouvir o que ele tinha a dizer.

Deixou a porta bater atrás de suas costas quando saiu para a noite fria de outono, recebendo a lufada de ar frio no rosto, de sangue quente depois da discussão lá dentro. A temperatura caíra consideravelmente desde a manhã: uma frente fria chegara àquela parte do país no fim da tarde.

– A senhora foi longe demais – disse Emmett, decepcionado com a mãe, sem querer olhá-la nos olhos.

Afastou com mão a cadeira que Rosalie havia deixado no caminho e foi atrás dela.

– Aonde você pensa que vai, Emmett? – gritou Margo.

– Atrás de minha esposa – respondeu sem ao menos virar para olhá-la.

– Não se atreva a fazer isso, Emmett McCarty. Eu estou te avisando.

– Acho que já sou bem crescidinho para decidir o quero de minha vida. E, no momento, isso não incluiu estar aqui com a senhora – tentou conter a raiva, ao olhar para o pai que não tinha culpa da situação desagradável a qual chegaram. – Boa noite, pai. E obrigado pelo jantar – eles mal haviam tocado na comida, ainda assim achou que não seria educado sair sem agradecer.

– Boa noite, filho. Peça desculpas a sua esposa em meu nome.

Emmett assentiu e passou pela porta da sala de jantar, fazendo o mesmo caminho que a esposa havia feito segundos atrás.

– Volte já aqui Emmett! – Margo continuava tentando lhe dar ordens, esquecendo-se de que o filho já era um homem feito. E que há muito tempo se sustentava sozinho. Que há muito havia deixado de ser o filhinho da mamãe.

Quando forçou se livrar do aperto do marido em seu braço, para poder ir atrás do filho, Otávio apertou ainda mais firme impedindo-a de ir lá fora chamar atenção dos vizinhos.

– Deixe-o em paz – ordenou. – Emmett já é um homem feito. Pare de agir como se ainda fosse aquele garotinho que vivia grudado em suas pernas. Se não vai apoiar seu filho e a esposa dele na decisão que tomaram ao menos não atrapalhe. Deveria ficar orgulhosa de seu filho. E não ofender a mulher dele como ofendeu.

– Aquela fulaninha... Não espere que eu a aprove pro meu filho, jamais. Ela não o merece. Não é mulher pra ele.

– Já chega Margo – Otávio se mostrou furioso de uma forma que Margo jamais havia visto antes. – Não interessa sua opinião. Ele a ama, e isso é tudo.

Ela olhou novamente o marido, indignada. Mas não era boba para querer comprar briga com ele agora. Por isso achou conveniente se retirar.

Enquanto isso, Emmett pegava o casaco de Rosalie no gancho, no hall de entrada, e saía para a noite em busca dela.

Avistou-a encostada ao carro, estacionado no meio-fio, em frente a casa. Ao chegar mais perto, percebeu que chorava e sua respiração formava pequenas nuvens de fumaça no ar. Passou o casaco em torno dos ombros dela, e a trouxe carinhosamente para encostar-se a seu peito.

Ela soluçou ainda mais forte, recebendo o gesto carinhoso do marido, chegando até mesmo tremer em seus braços. Ele repousou o queixo nos cabelos dela ainda enquanto murmurava:

– Shhhh – beijou o topo de sua cabeça, e voltou a falar. – Não dê ouvidos ao o que minha mãe diz.

– Me leva daqui – foi tudo o que ela conseguiu falar – Só me leva daqui...

Emmett assentiu, e, ainda com os braços ao redor do corpo dela, abriu a porta do carro e a ajudou entrar. Um minuto depois, estava sentado no banco do motorista, olhando para ela outra vez.

– Não fique assim, amor – pediu ele, lhe estendendo a mão, afagando suas bochechas, que se mostravam um pouco coradas agora.

– Você é feliz comigo, não é? – pediu chorosa. – Quero dizer, mesmo que ainda não tenha conseguido gerar um filho seu.

– Eu não poderia ser mais feliz, pois tenho ao meu lado a mulher que amo. A mulher mais altruísta que já conheci. E a mais linda também. Minha rosa, delicada e perfumada, mas que, se alguém se atreve a perturbá-la, sabe bem como usar seus espinhos. E, pra que fique bem claro os meus sentimentos, irei repetir que te amo, por toda a noite, enquanto fazemos amor.

Ela desviou o olhar, lembrando-se de como havia sido grosseira com a mãe dele lá dentro.

– Me desculpe Emmett. Ela é sua mãe, eu não deveria ter falado daquele jeito com ela.

– Quer saber – começou ele, acariciando de leve o queixo dela com as pontas dos dedos –, minha mãe bem mereceu ouvir cada palavrinha que disse a ela. Ela foi muito grossa com você, minha rosa. E tudo o que fez foi lhe mostrar seus espinhos. E é exatamente por isso que te amo. Linda e delicada, mas sabe reagir quando preciso.

Rosalie não soube o que dizer, apenas segurou o rosto do marido entre as mãos e o beijou intensamente nos lábios. Somente depois acrescentou:

– Te amo.

– Te amo – ele a imitou –, e não importa o que minha mãe fale ou pense, sempre irei escolher voltar para você. Porque não saberia viver em um mundo onde não haja o aroma e a suavidade da minha rosa preferida. Porque eu amo amar você. E pra não dizer que não me deu um filho; Thedy é nosso filho. Independente de qualquer coisa nós vamos fazer aquele garotinho feliz, pelo tempo que ainda lhe resta. Vamos, sim.

– Está fazendo isso só porque me ama?

– Porque a amo. E porque vou amar aquele garotinho também.

Dessa vez foi ele quem a beijou. E foi um beijo relativamente demorado, carregado de sentimentos verdadeiros e intensos.

[...]

Algum tempo depois...

Estavam em casa agora. Rosalie estava sentada na poltrona junto à lareira, usando uma camisa branca de botões que pertencia ao marido. Uma manta xadrez repousava sobre seus ombros, enquanto mantinha uma conversa segura ao telefone com os pais.

– Acha que o que estou fazendo é loucura, mamãe? – questionou chorosa, após relatar a Esme como havia sido desastroso o jantar na casa dos sogros e o como a mãe de Emmett havia sido grossa com ela. Mas também deixou claro dessa vez não ficou apenas ouvindo.

– Não, meu amor. Está sendo um ser humano incrível, digno de respeito. Me orgulho muito de você, querida. E agradeço a Deus todos os dias por ser sua mãe. De ver que minha garotinha se tornou mulher, mas que sua essência jamais foi alterada. Continua sendo a mesma de sempre. Seu caráter continua intacto.

Um soluço lhe escapou, emocionada com as palavras de Esme. Havia se sentido muito ofendida aquela noite, e nada como as palavras ditas pela mãe para lhe mostrar que estava fazendo a coisa certa.

– E o papai?

– Ele está ouvindo tudo, meu amor. O telefone está no viva-voz.

– Filha – Rosalie ouviu o pai falar –, faça o que seu coração pedir, sem se importar com que os outros possam pensar. A recompensa virá depois por mãos divinas. Porque assim como as coisas ruins retornam a quem as faz, as boas também. Não se preocupe. Papai está orgulhoso de você, querida.

Lágrimas rolaram em seu rosto, enquanto a voz da mãe retornava a conversa.

– Rose, meu bem, quando Thedy estiver para chegar, nos avise para que possamos estar aí. Vamos recebê-lo como merece. Como membro da família que é.

– Em alguns dias – Rosalie esclareceu. – Amanhã mesmo Emmett e eu estaremos levando a documentação para ser avaliada e se aprovada eles já entraram com o processo de adoção, porque Thedy não pode esperar muito, mamãe.

– Não se esqueça de nos avisar o dia certinho. Seu pai e eu queremos muito estar aí.

– Avisarei assim que tiver a confirmação.

– Fica bem, querida.

– Amo vocês.

– Papai e mamãe também te amam – declarou Carlisle.

– Contem a Kate e ao Jasper – apressou-se, antes de desligar.

– Não se preocupe filha. Contaremos tudo a seus irmãos. Eles vão gostar de saber também.

A ligação foi finalizada a tempo de ouvir a voz de Emmett chamando por ela.

– Amor...?

– Ainda estou aqui – ela respondeu.

Ele apareceu na sala, segurando duas canecas de chocolate quente com marshmallow. Usava um roupão preto e chinelos de dedo. Os cabelos ainda estavam úmidos do banho recente.

– Já falou com seus pais? – pediu, chegando ainda mais perto.

– Já. Acabei de desligar.

Uma de suas sobrancelhas se curvou em curiosidade.

– E?

– Eles ficaram felizes. E pediram para avisar quando nosso filho for chegar. Querem estar aqui no dia. Ficaram também de avisar a Kate e ao Jasper.

Emmett estendeu a mão lhe oferecendo uma caneca.

– Tenha cuidado, está quente – avisou.

Antes de receber a caneca, dispensou o telefone sobre o braço da poltrona. Usando agora as duas mãos para segurá-la, aproximou o nariz da borda aspirando ao aroma de chocolate que subia com o vapor.

Emmett sentou-se no tapete vermelho felpudo, que ficava aos pés da poltrona, e encostou-se a ela.

Bebericaram todo o chocolate, ouvindo o estalar da madeira queimando na lareira. Ele estava distraído com seus pensamentos, quando sentiu uma perna dela deslizando sobre seu ombro e parando ali. Com um leve sorriso chegando aos seus lábios, segurou o pé que roçava em seu abdômen. Acariciou-o, depois conduziu a mão até o joelho, apertando ali um pouco mais firme.

Após um breve momento, virou-se e retirou das mãos dela a caneca quase vazia. Dispensou as duas sobre a mesinha do telefone e, em seguida, voltou para perto de Rosalie.

Escorregou as duas mãos sobre as coxas dela até alcançar a cintura, para logo depois puxá-la lentamente para si. Desabotoou todos os botões da camisa que ela usava com cuidado e empurrou o tecido sobre os ombros delicadamente. Aproveitando para beijar no pescoço e ombro.

– Esse é meu momento de provar o quanto te quero. E o quanto a amo – sussurrou ao pé do ouvido.

Conduziu-a ao tapete onde a deitou cuidadosamente. Logo depois se livrou do próprio roupão de banho.

Naquela noite fizeram amor, como em tantas outras, entre juras e promessas, a fraca luz de um abajur, ouvindo o leve estalar da madeira enquanto o fogo a consumia na lareira.

Lá fora, o céu estava tempestuoso. Em poucos minutos a chuva chegaria, forte e pesada.

[...]

Na manhã do dia seguinte, quando saíram para levar a documentação necessária para dar inicio a adoção de Thedy, o jardim ainda estava com poças da chuva que caíra durante a noite. Árvores e telhados ainda gotejavam.

Uma vez que essa questão foi resolvida, aproveitaram para conhecer o garoto melhor. Saber do que gostava e, principalmente, como se sentia em relação a eles. Conheceram também o médico oncologista que cuida do caso de Thedy. Aproveitando para se inteirar do prognóstico e todo o tratamento que o garoto havia sido submetido ao longo desses quatro anos, até a decisão final; interromper tudo.

Voltaram para casa, satisfeitos com a decisão que tomaram. Mais do que nunca, estavam cientes de estar fazendo a coisa certa.

Para surpresa dos dois, no dia seguinte acordaram com uma ligação da assistente social. Ela revelou que, devido ao estado clinico da criança, o juiz entendeu o caso como isolado e especial. Ficou esclarecido que poderiam buscar Thedy no dia seguinte, se ainda estivessem dispostos a ficar com ele, enquanto a documentação definitiva estava em andamento. Esclareceu também que devido à urgência no caso, não levaria mais que alguns dias para que estivesse tudo em ordem.

Rosalie saltou da cama em um estado de ansiedade incomum. Sentia a felicidade renovada. Correu para o telefone mais próximo e fez uma ligação para os pais, que vivem na cidade vizinha. Assim como Emmett que ligou para Otávio, no entanto, não esperou para falar com Margo, ainda estava chateado com ela.

Aquele foi um dia de correria. Passaram a maior parte dele indo de um lado a outro, comprando e arrumando coisas no quarto que seria destinado ao garoto. Queriam fazer do quarto de hospedes recatado um quarto que estivesse de acordo com um garotinho de sete anos.

Móveis foram retirados e levados para o sótão. Paredes foram pintadas com tintas especiais, que não deixavam cheiro, em tons de azul, vermelho e brando. Mobília infantil foi acrescentada. Brinquedos e livros foram chegando aos poucos, assim como as roupas. Alguns itens precisaram esperar a tinta secar completamente para serem postos no lugar.

Passaram a maior parte da noite acordados para conseguir deixar tudo pronto para o dia seguinte, quando Thedy chegaria.

O dia já estava quase amanhecendo, quando, todo sujo de tinta, Emmett pegou Rosalie no colo e a levou para o banheiro. Como havia sido pega de surpresa, deixou que alguns gritinhos escapassem enquanto era levada pelo marido.

Inevitavelmente, acabou se sujando com a tinta nas roupas dele. Tomaram banho juntos, lavando as manchas de tintas um no outro. Foram para a cama e adormeceram em pouco tempo. Dormiram pouco, mas estavam ansiosos e felizes quando a manhã fria de outono chegou se infiltrando pela janela.

Saíram de casa pouco antes das dez. Rosalie tinha deixado uma cópia da chave com os vizinhos, para o caso de seus pais chegarem enquanto ainda estivessem fora.

A diretora do abrigo, Ofélia Johnson, e o reverendo Brown estavam ajudando Thedy a ficar pronto. Tudo o que o garoto tinha coube em apenas uma mala. Os remédios foram posto em uma valise separados das demais coisas.

A senhorita Dickinson – assistente social – bateu na porta do quarto que ele dividia com outras crianças do abrigo. Em seguida a porta foi aberta devagar, e sua voz soou tranquila ao se dirigir ao garoto.

– Vamos lá. Eles já chegaram e esperam por você no corredor.

Mesmo com todo sofrimento que a doença lhe causava, Thedy abriu um sorriso, ansioso por vê-los. E Deus sabia o quanto.

– Está pronto, querido?

Thedy se virou na direção oposta, pegou uma touca vermelha e pôs na cabeça.

– Estou – respondeu.

Estendeu a pequena mão ao homem a sua frente. O contraste entre elas se tornou ainda mais gritante quando a mão branca como cera foi envolvida pela mão do reverendo, que era negro. Todos se encaminharam ao corredor amplo logo em seguida. A diretora carregava as coisas de Thedy pelo caminho.

O casal os aguardava com ansiedade. Rosalie mexia as mãos uma na outra o tempo inteiro. Emmett passava a mão nas costas dela repetindo que daria tudo certo.

Os avistaram ainda distante, e se puseram de pé.

– Nosso filho está vindo – Rosalie comentou em voz baixa.

O marido a olhou brevemente, em seguida, beijou seu rosto. Para depois direcionar a atenção ao grupo de pessoas que se aproximava.

– Vai dar tudo certo – repetiu mais uma vez, em um quase sussurro.

– Estamos fazendo a coisa certa – ela afirmou, sem desviar atenção do garotinho pálido, de lábios roxos que lhe sorria.

– Olá, senhor e senhora McCarty – Thedy os cumprimentou ao ficar de frente a eles. Entre suas pequenas mãos havia uma bola de baseball autografada.

– Olá, querido – respondeu Rosalie, curvando-se um pouco para cumprimenta-lo. – Como está se sentindo hoje?

– Me sinto muito bem. Estou feliz como nunca estive antes.

– Oi, garotão – esse foi Emmett. E sua grande mão afagou o rosto do garoto a sua frente. – Não precisa de toda essa formalidade, pode nos chamar apenas pelo nosso primeiro nome.

– Tá legal – Thedy concordou, enquanto Rosalie o puxava gentilmente para um abraço.

– Seu cheiro é bom – constatou o garoto. – É como cheiro de mãe.

Suas palavras pegaram Rosalie de surpresa. Emocionada, o abraçou ainda mais firme.

– Pode me chamar assim... De mamãe. Quero dizer, quando se sentir pronto. Não vou te pressionar meu anjo.

Ela se afastou devagar, olhando-o com atenção.

– Você tem certeza de quer mesmo fazer isso? – esse foi Thedy, novamente pegando-a de surpresa.

– Isso o que, Thedy?

– Que eu seja filho de vocês. Estou morrendo... Só não quero que fiquem tristes quando isso finalmente acontecer.

– Oh, não diga isso, querido. Tudo o que importa é que seremos felizes juntos. Seremos felizes, você não acha?

E, como que para provar sua resposta, o garoto passou os bracinhos finos em torno da cintura dela. E ela retribuiu seu gesto de carinho.

– Vamos para casa? – disse Emmett.

O garoto se afastou de Rosalie e estendeu a ele a mão que segurava a bola. Emmett a pegou e, em seguida, segurou na mão frágil de Thedy. Rosalie segurou na outra, onde depositou um beijo carinhoso.

Caminharam de mãos dadas para fora do prédio, com todos os outros os seguindo. Emmett abriu o bagageiro do carro e as coisas do garoto foram postas na lá dentro.

Antes de entrar no carro, Thedy se despediu daqueles que foram por muito tempo sua única família. Acenou para todos enquanto o veículo seguia em velocidade diminuta deixando o estacionamento do abrigo e parte de sua história para trás.


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Notas finais do capítulo

Então gente o que acharam?
Ficaria muito feliz se me deixassem algumas poucas palavras.
Beijo, beijo
Sill