Ainda conseguia sentir a temperatura quente e o cheiro do vapor deixado por Sasuke no banheiro. Havia acordado não muito depois do moreno, e por mais que o visse nu todos os dias, nada era mais sexy para ela do que ver o corpo pálido e impecavelmente seco pela toalha que ele enrolava na cintura. Apenas Naruto na mesma situação. Os dois eram capazes de fazer ela perder o fôlego tão facilmente que chegava a ser ridículo.

Procurou o creme dental entre um amontoado de cremes para pele, perfumes e maquiagem que ela nunca tinha paciência para guardar e apenas deixava no armário do banheiro. No meio daquela bagunça, encontrou um pacote de supositórios que Naruto havia comprado para Sasuke uma vez, mas o mesmo havia se recusado a usar. Riu com a lembrança não muito recente e não pôde deixar de pensar com os seus botões que eles sempre estiveram juntos.

A loira (de cabelos tingidos mensalmente de rosa desde uma crise de adolescência) não conseguia nem sequer se lembrar de um momento em que eles não estivessem juntos no passado. Seja na infância com brincadeiras (que acabavam gerando choros de Sakura, brigas entre Naruto e Sasuke que se resolviam em cinco minutos e muita bagunça), na pré-adolescência com inseguranças como primeiro beijo, popularidade e “ser gente grande”, na adolescência, onde resolveram finalmente não ligar mais para o restante do universo e apenas serem constantes, palavra que Sasuke usou para os definir uma vez e que Sakura jamais esqueceu.

E agora, no ápice da juventude. Depois do ensino médio, a moça tentou por dois anos cursar medicina e não obteve sucesso, mas naquele ano havia finalmente passado e estava estudando como uma condenada para conseguir manter a primeira classificação nas notas da sua sala. Seus pais, que se mudaram para o interior por culpa do trabalho do patriarca dos Haruno, lhe entregavam uma “mesada” para ela pagar sua parte do aluguel do apartamento, comida e o que precisasse lá. Era difícil se manter com o pouco dinheiro que ganhava, mas uma proposta de estágio estava a deixando tentada a sacrificar horas de estudo por um salário estável.

Sasuke já havia terminado a faculdade de administração e se recusou a ajudar seu pai e seu irmão na empresa deles no exterior. De acordo com o moreno, ele não queria nem sequer pensar na hipótese de deixar Naruto e Sakura sozinhos, então abriu sua própria empresa que, com a publicidade do pai dele, estava sendo promissora.

Naruto estava no terceiro período de direito e, com muita insistência por parte dela, ele estava estudando para não pegar mais dependências. Por causa de suas notas, era inviável ele sequer tentar ir atrás de um estágio, mas o trabalho de meio período que ele tinha como assistente de um velho estranho lhe dava um salário até consideravelmente alto.

Depois de terminar de escovar os dentes, Sakura deu uma analisada no rosto livre de qualquer maquiagem, mostrando as olheiras e a acne na testa grande. Se viu novamente presa na frase de Sasuke.

“Eu não quero nem sequer pensar na hipótese de abandonar vocês.”

Ela imaginou o que seria dela sem o loiro barulhento e com péssimas manias de higiene. Quem faria ela rir quando estivesse muito brava? Com quem ela assistiria Flashdance e Ghost para acabarem chorando no final? Quem faria ela sentir fogo ardendo dentro de si a cada toque recebido?

E como conseguiria viver sem sentir o gélido da pele de Sasuke? De quem mais ela receberia cafunés espetaculares? Com quem ela iria compartilhar um silêncio que nunca seria desconfortável? Quem conseguiria entrar em sintonia perfeita com ela sem precisar nem de uma única palavra?

Seria impossível.

Sem Naruto e Sasuke, o círculo jamais seria fechado ou contínuo.