Fui para o lugar mais calmo que eu achei. A mata do Central Park. Assim que apareci brilhando e voltei ao normal a vi. Um menininho que estava ali perto deixou seu sorvete cair e começou a puxar a mãe.

– Mamãe aquela menina apareceu ali brilhando! – ele falou.

– Claro. – falou a mãe concentrada em tirar fotos de um animal.

– Mais mãe... – ele continuou.

A mãe passou por mim e por ela com o menininho sem dar atenção. Me joguei no chão e comecei a chorar, segurando a cabeça. Que ódio daquele filho de Érebo.

– Entendo. Mas eu devo uma para ele. – falou Nyx.

– O que está fazendo aqui? – rugi.

– Você mais do que ninguém deve saber que estas noites são de meu domínio. E você quando usou os meus poderes, me alertou de sua presença.

– Odeio ele! – bufei.

– Devia o tratar bem. Ele é nosso aliado. – falou ela calmamente.

– Nosso aliado? Do que? – perguntei.

– Nosso aliado na guerra ora. Caos, Érebo, Tártaro, Hemera, Ponto. Todos aliados contra os deuses.

– E Éter? E Tálassa? – perguntei.

– Éter não quer ir contra os deuses, Eros também não, e Tálassa não por causa de sua adorada filha, Afrodite. – falou ela, a voz venenosa.

– Entendo. Mas não entendo a parte do “nosso”. Quem disse que estou do seu lado?

– Eu disse. E pare de chorar. Tem que se orgulhar por ser minha filha! Nós vamos retomar o trono. Os primordiais devem reinar. – falou ela e desapareceu.

Gritei e me levantei. Sai correndo do Central Park, e fui em direção a uma cafeteria horas que estava aberto. Minhas lágrimas rolavam mais forte.

– Moça! O que aconteceu? Posso ajudar? – perguntou uma atendente.

– Não. – falei rapidamente, e sai correndo em direção ao banheiro.

Limpei meu rosto com um lenço e me olhei no espelho. Eu estava, apesar de tudo, linda. Meus cabelos voltaram a ser totalmente pretos, e meus olhos estavam azul elétrico com círculos dourados em volta. Por que eu nunca ficava feia? E, por que, eu estava chorando?

Será que era por causa da minha mãe? Ou aquele filho de Érebo? Ou os deuses? Ou eu mesma por ser assim?

Depois de mais ou menos 15 min, eu sai do banheiro. Pessoas pararam para me olhar. Aquela garota de cabelos negros brilhantes e olhos azuis, eu passei pela atendente e sentei na bancada.

– Quero um cappuccino. Com espuma. – falei.

Eu estava com dor de cabeça. O que era muito estranho para uma deusa. Senti uma presença de monstro entrando no café. Continuei parada bebericando meu cappuccino. Ele ou ela sentou do meu lado. Virei a cabeça para olhar. Era uma mulher em vestido curto colado. Retirei a Névoa revelando uma dracaenae.

– O que quer aqui? – perguntei.

– Estooou obsseerrvanndo você. – sibilou.

Pelo jeito ela não sabia “falar”. A moça olhou para ela sem entender. Depois entregou um menu do café.

– Nyx mandou você? – perguntei.

– Sssiimm! – falou.

– Di Immortalles! – sibilei. Joguei o dinheiro no balcão. – Pode ficar com o troco.

Levantei e sai da cafeteria. A dracaenae veio atrás de mim.

– Temos vários monstros espalhados! E mais estão por vir! – ela falou.

– Foda-se. – xinguei.

Ela se assustou. Nunca ouvira um deus falar um palavrão humano. Virei pra ela e apontei.

– Fale para Nyx que eu não estou no exército dela! E não ligo para seus espiões. – sibilei.

– Clarrro... – ela falou.

– Agora, vá para o Tártaro! – E com simples gesto de mão, ele se desintegrou em poeira.

Eu odiava aquilo. Nyx e seus joguinhos. Os deuses e suas profecias. Eu queria ser livre. Livre para ficar com quem eu realmente amava, no lugar que eu realmente gostava.

A guerra nem começou e eu já não queria ela. Mas não podia fazer nada para impedi-la. Eu só podia mandar mortais. Mas eu sabia, no fundo do meu coração, que não era isso. Dessa vez seria diferente. Pois eu era mais humana que todos os deuses.

A profecia voltou na minha mente:

“Deuses primordiais despertam;

Para recuperar o que lhes foi tirado

O equilíbrio será quebrado

A filha da noite, uma viagem para fazer,

No local onde o seu sangue é vital

Tente evitar, o que já está acontecendo.

E o mundo será um caos”.

Definitivamente, era sobre mim. Virei a cabeça na direção do céu, agora era quase madrugada.

– Que os jogos comecem! – gritei e, assumindo minha forma divina, voltei para o Acampamento.