Os 3 Mosquiteiros [Fic de humor] escrita por KenFantasma


Capítulo 4
Raphael II - Verdadeira essência.


Notas iniciais do capítulo

Okay, confesso que eu queria muito fazer a parte da batalha, mas ia ficar um capitulo muito grande e eu ia monopolizar muito a história. Então.. vamos ver como se seguirá nas mãos de outros.



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Fabrício se via em algum tipo de lanchonete genérica, percebeu a jovem que o acompanhara até o lixão se aproximando, ela segurava duas bandejas com hambúrgueres e cervejas, vestia um avental e nada mais. A garota piscou para Fabrício antes de dar uma risada tendenciosa. O rapaz sentiu a barriga chutada.
–Acorda, seu tarado!!! – Uma menina de aparentemente 12 anos e de vestes maltrapilhas chutava um Fabrício sonolento.
–Argh! O que você ta fazendo, sua pirralha? – Fabrício se sentava na cama improvisada com garrafas pet.
–A velha mandou te acordar. Para de sonhar putaria e levanta daí.
–Ahm.. eu n... Como você sabe disso? Algum poder teu?
–Você tava babando.
–E...
–Sorrindo de um jeito estranho.
–E...
–Tua barraca ta armada.
–E... Pera! Que!? – Fabrício se envergonhou ao olhar para baixo. – Merd@!

Fabrício e a menina atravessaram o casebre, este possuía um único cômodo dado seu tamanho compacto. Fabrício tomou cuidado para não pisar na jovem de nome desconhecido e o menino que dormia ao seu lado no chão. Antes de atravessar a porta parou por um instante e observou a garota deitada, o menino de aparentemente mesma idade que a outra criança agora abraçava a companheira de Fabrício em um sono terno. O rosto de Fabrício corou ao notar como eram de fato belas as feições da jovem sob a pacificidade do sono.
–Não corou nada não, beleza!?

A velha Lucinda sentava-se em uma cadeira de praia fora do barraco.
–Dona Lucinda, estou indo. – Disse a menina já se afastando dos dois.
–Tome cuidado com o velho, Maria.
–Queria falar comigo, Dona Lucinda?
–Sim, querido. Venha, junte-se à mim.
Fabrício se sentou no chão sujo, ainda vestia a calça do terno de quando saiu para trabalhar. A parte que cobria a blusa havia sido jogada fora graças ao terrível cheiro que o caminhão de lixo deixara.
Hospede e hospedeira agora observavam um amanhecer que tingia o céu de uma mistura de azul e laranja. O sol se elevava por detrás das montanhas de lixo em ritmo preguiçoso e belíssimo, esquentando a pele de Fabrício em seus primeiros feixes.

–Então... ahm, você me chamou aqui só pra observar o sol mesmo, ou o que?
–Meu rapaz, você não vê nada de diferente neste sol?
Fabrício fitou o céu por mais uma vez antes de entender o que a velha dizia.
–Ele me parece bastante colorido. Não é cinzento como o que vi antes de chegar aqui, aliás.
–Esta é a única diferença?
–Pensando bem, os pássaros não cantam em depressão, as coisas aqui parecem ter uma cor mais viva também. Como se, sei lá, eu estivesse em outra atmosfera.
–E você não poderia estar mais certo, gafanhoto. Na verdade este lugar é uma anomalia nessa dimensão?
–Okay, isso vai ser interessante. – Fabrício se virou para a velha com olhares atentos.
–Ouça, pode parecer assustador pra você, mas eu e o Nilo não pertencemos a essa dimensão.
–Por isso os poderes?
–Sim. Acontece que em nosso mundo, algumas pessoas conseguem despertar algumas habilidades especiais. Oque nós fazemos é entrar em sintonia com a atmosfera que nos rodeia para então manifestarmos os poderes.
–Legal, parece algum tipo de mangá. Mas, você e Nilo se conheciam?
–Ele foi meu primeiro namoradinho na época da escola. Mas assim que manifestou seus poderes eu senti certa maldade em seu coração.
–Wow.
–Sabe, meu filho, em nosso mundo existe uma lenda. Que diz que há um certo artefato capaz de abrir portas para outras dimensões, foi aí que Nilo percebeu que com isso poderia tentar dominar outros mundos. Ele teria ido atrás do artefato se eu e minha sobrinha não tivéssemos feito uma emboscada. Com nossas magias juntas nós conseguimos banir Nilo para essa dimensão, no entanto, eu também acabei sendo pega e pelo que percebi foi como se tivéssemos, na verdade, trocado um pequeno espaço de nossa dimensão pelo de outra. Esse lixão é o único lugar deste mundo onde eu e Nilo podíamos manifestar nossos poderes, por isso não saímos daqui.
–E como é, mais ou menos, esse tal artefato?
–Dizem ser um livro. Ele é guardado por uma menina, Daniela. Não se sabe se ela é algum tipo de ser... é... como vocês dizem quando alguém pode viajar pelas dimensões?
–Interdimensional?
–Essa coisa aí. Ou se existe uma menina e um livro para cada dimensão.
–Acho que tô com dor de cabeça. Dona Lucinda, o que a senhora diria se eu dissesse que somos nada mais que parte de uma pequena história criada por um ser que faz o que quiser conosco?
–Que bonito, você também é católico?
–Que? Não. Bom, esquece. Não sei nem porque ainda tento. Me diz uma coisa, dona Lucinda, a senhora sabe como chegar até a garota do livro?
–E por que você acha que eu precisei por uma barreira nessa casinha recauchutada? Nela eu escondo um pequeno bloco com anotações sobre como encontrar a menina. Mas cuidado, meu filho, uma vez na mão de Nilo, eu não sei o que poderá ser deste mundo.
Fabrício tentava mastigar tanta informação em tão pouco tempo. Não fazia um dia ele sentira que sua vida era nada mais que um romance de poucas páginas, em seguida foi apresentado à ideia de que existem múltiplos mundos dentre desta suposta história, assim sendo, aquele artefato era o que ele ambiciava.
–Ahm.. Dona Lucinda. Sabe, eu estava pensando aqui por alto... Se as coisas ficarem feias, e o Nilo, sabe...
–Se ele acabar falecendo?
–Sim. Quero dizer, a senhora ainda sente algo por aquele anão do mal?
–Meu filho, quando o coração escolhe, ele acredita na escolha até o último minuto. Mas por mais que me doa, eu sei que Nilo vivo é um perigo para todos aqui. Afinal de contas seria egoísta da minha parte fazer outros sofrerem pois eu fui incapaz disso.
–Entendo. – Fabrício se levantou, espreguiçou braços e torso e então prosseguiu. – Pegar o bloco, passar por Nilo e seu exército de pirralhos, seguir pela avenida para fora daqui, encontrar a menina e então encontrar finalmente o livro. Hunf, só não digo que é moleza pro Escritor não levar isso como um desafio.
–Vejo que já possui pretensões com o livro.
–Eu só... não quero fazer parte deste mundo. Me sinto, eu não sei bem... apenas não quero continuar sendo o que sou aqui. Então eu vejo que talvez esse livro seja minha porta de saída. Talvez nele eu encontre as respostas que procuro.
–Ou só mais dúvidas.
–Antes esse talvez do que a certeza das dúvidas que já possuo.
–Um jovem mancebo obstinado. E eu vejo em seus olhos, criança, que não há maldade nessa obstinação.
Fabrício olhou com um sorriso de malícia para a velha.
–Então, Dona Lucinda... Conte-me mais sobre essa história de manifestar habilidades nessa atmosfera.

...

–Aqui será onde vocês ficarão até conseguirem voar ou alguma outra coisa não-humana. – Lucinda dizia aos 2 que agora jaziam sentados de pernas cruzadas naquele chão barrento. Eles estavam em um campo envolto em montanhas de lixo, como uma espécie de arena sem acesso à visão exterior, o local era também protegido por uma barreira mais fina de Lucinda. – O treinamento pode ser rápido ou lento, isso depende de o quanto vocês conhecem a si mesmos.
Fabrício se levantou e rumou para o caminho de volta à casa.
–Valeu, galera. Bom treinamento aí pra vocês.
–Ei Bruce-Droga! Não vai nem tentar?
–Mulher, eu me conheço tem nem 5 folhas, sei lá já to perdendo a conta. Se tem uma coisa que eu não sei é sobre mim.
–Ah, volta aqui, parece legal.
“Essa mulher tem ao menos noção do quão séria é a situação?”, pensou.
–Arh, okay. Vamos ver no que da. – Ele se sentou.
–A primeira etapa é a mais difícil. Vocês terão que me responder uma pergunta. “Que material tece sua alma?”. Quero que meditem sobre
–Ectoplasma? – O menino atrás de Fabrício e sua companheira bateu na cabeça do rapaz com um pedaço de madeira carcomida. – Awh! Que merd@ foi agora?
–João baterá em vocês toda vez que eu não aceitar uma resposta. Volte a meditar sobre.
–Mas essa pergunta é muito vaga. Posso te responder filosoficamente ou materialmente, e mesmo assim eu não sei exatamente nenhum dos dois. – Fabrício tentou forçar mais um pensamento. – Minha alma é feita de... energia espiritual? – Mais uma pancada sem muita força – Awh! É bom pra você que eu não saiba soltar fogo pela mão, senão eu te torro, seu capetinha!
–Pare de conversa fiada e volte à meditar. Cada segundo pode ser decisivo, Nilo pode atacar a qualquer momento.

“Okay, vejamos”, Dizia pra si mesmo. “A velha disse que precisávamos nos conhecer, então a resposta não é exata, deve ser algo mais filosófico. Hm... o que tece minha alma... Ainda é difícil saber a resposta certa pra isso. A não ser que... ela não disse que minhas respostas anteriores estavam erradas, só disse que não as aceitou. Então é isso! Não existe uma resposta certa ou errada, existe apenas uma resposta com convicção. Mas para ter convicção eu preciso sentir que é a resposta mais adequada. Então, o que diabos tece minha alma? Calma, pense em tudo que te aconteceu nesse pequeno tempo de vida. Eu descobri que sou personagem de uma ficção, percebi que devia sair do cotidiano ao qual fui designado, conheci a menina e a trouxe comigo pra fora daquele mundo cinza, agora estou disposto a lutar contra Nilo para alcançar meu objetivo... Hum... meu objetivo... Pera, então é isso!”

Lucinda sentia a atmosfera em volta do rapaz mudar, era o que ela estava esperando.
–Hahá. Até que não levou uma eternidade pra entender não é, criança?
–No fim das contas você não queria uma resposta certa, não era isso que você avaliava. Você avaliava a certeza do meu olhar ao lhe dar a resposta.
–E com esse olhar eu imagino que você a tenha.
–O material que tece minha alma é o espírito de liberdade!
–Já podemos ir ao próximo passo. – Lucinda sorria orgulhosa.
–E quanto a você, mulher? Conseguiu pensar em algo?
–Não consigo me concentrar se você ficar perguntando. – Ela virou-se para o outro lado.
–Puxa, eu só perguntei. Não precisa ficar com inveja pois eu consegui em pouco tempo. – Fabrício mostrou a língua como provocação, como reação pôde ouvir um único “hunf”.

Dona Lucinda expôs um boneco improvisado de treinamento feito de baldes de ferro, tocos de madeira e espuma de colchão.
–Esse aqui é o José, é nele que você vai manifestar seus poderes, entendeu?
–Acho que essa é a parte onde você explica como faço isso.
–O que se deve fazer em primeiro lugar é entender a si mesmo, sua essência matriz. Converta essa essência em algo palpável, algo que fará parte de seu corpo de agora em diante. Tente imaginar essa essência materializada em energia física. E então descarregue-a.
–hm... Materializar meu espírito de liberdade. Espírito... Será que algum poder relacionado a isso? Não, a palavra-chave é “liberdade”. Liberdade... asas, talvez? Muito bem, vamos ver.
Fabrício respirou fundo em concentração. Tentou imaginar a solidificação de sua índole libertina, sentiu a atmosfera em volta do corpo mudar e então socou com vontade o boneco. Seu punho acertou nu o tronco de ferro do boneco que absorveu com eficiência o impacto. Fabrício urrou de dor, segurou a mão enquanto rolava no chão.
–Argh, cacet&! Boneco de satanás!
–Vamos tentar fazer isso a distância. Não quero que acaba quebrando as mãos antes mesmo de conseguir as habilidades.
–Okay, vou tentar algo diferente. - Fabrício se afastou do boneco e se agachou sob um joelho. – Asas. Vamos lá, eu quero asas. – Ele enrijeceu todos os músculos do corpo que conseguia para materializar asas à suas costas, mas fora um completo fracasso. – Vai à merd@, cara. Eu to me esforçando aqui, valeu?
–Falando com alguém?
–Não, nada. Olha eu achei que fosse mais fácil que a primeira fase.
–Normalmente é assim que é. Não se preocupe, logo logo você consegue, continue tentando.
–Aaarh, esse boneco ta me olhando torto! Ele vai ver só quando eu conseguir! – Fabrício se tornava mais impaciente à cada soco dolorido e sem efeito. A jovem agora olhava para ele se divertindo com a cena.

Após alguns minutos observando Fabrício descansando antes da próxima leva de tentativas, Lucinda já se preocupava com a demora do retorno de Maria, então pediu que seu irmão fosse a procurar. Após algum tempo ele volta ofegante, como quem acaba de correr o mais rápido possível.

–Que houve, João? – Lucinda e os outros dois se atentaram à resposta do menino.
–Nilo pegou a Maria. – Ele respirou antes de terminar. – Eles estão vindo pra cá!

–Lucinda, sua vaca velha! Para de se esconder e vem me encarar!
Dona Lucinda ainda estava na arena de treinamento com Fabrício e a jovem que ainda sequer havia conseguido passar da primeira parte.
–Eu vou lá! – Dizia Fabrício se preparando para escalar a montanha de lixo circundante.
–Não, garoto! Você não deve sair daqui enquanto não puder lutar, do contrário vai ser só um peso morto que ele não vai pensar duas vezes antes de trazer as tripas pra fora.
–Nossa! Falando gentil assim eu fico.
–Garota, me ajude a subir isso, preciso ver o que aquele velho asqueroso ta armando agora.
Dona Lucinda e a jovem subiram o lixo, dando vista ao casebre 30 metros à frente. Lucinda sentiu um baque no coração ao notar a situação real.

Nilo estava agora cercado por centenas de cópias sombrias dele. Uma magia negra que ele aprendera há poucos dias e esperava ansioso para usar contra a velha. Todas as suas cópias eram vestidas com armaduras e armamentos feitos de reciclagem. Ferros, metais e latões. As crianças escravizadas por Nilo eram forçadas a manufaturar o que agora os clones usavam como veste.
–Iiiihihihihihihi! O que houve, sua leitoa? Traga seus novos cachorrinhos pra cá, eu preciso de mais assistentes. Ihihihihihi! – Então Nilo se virou para a horda de clones sombrios e com um balançar brusco do pequeno braço gritou. – Derrubem essa barreira! EU QUERO O MAPA!
Os clones marcharam para a casa onde foram impedidos pela barreira. Não que não estivesse nos planos de Nilo quebra-la antes de conseguir o bloco de anotações.

–Oh cels! A barreira não vai aguentar muito tempo. O que fazemos agora?
A jovem olhava para Fabrício que lá em baixo ainda se frustrava com tentativas inefetivas. À cada baque que escutava dos clones na barreira, sentia-se mais pressionado.
–Ei! Bruce-droga! – Fabrício olhou a silhueta daquela jovem com dificuldade pelo brilho do sol e seu rosto. – Talvez você esteja visando uma liberdade muito longe e nebulosa. Me diz, moço... que liberdade você quer dominar no agora?

O pequeno exército de Nilo batia por todos os cantos da barreira, era possível notar rachaduras que aumentavam cada vez que machados e espadas encontravam o feitiço de proteção.
–Hihihihi! Espero que tenha decidido fugir, não quero ter que bater em velinha pra conseguir as notas! - Nilo achou ter ouvido um barulho de algum tipo de sapo gigante ecoar pelo ar, quando percebeu alguma coisa caindo do céu em direção à suas tropas. – Mas que po... – Foi interrompido pela queda do objeto no meio de seus clones, alguns se desequilibraram, outros se dissiparam com o choque.

Uma vez abaixada a poeira, Nilo pôde ver o que aconteceu. Era Fabrício que se encontrava no meio da rala cratera. Em volta de seu corpo curvado parecia existir uma espécie de luminosidade desenhada como a crosta do casco de uma tartaruga.
–Você, seu bostinha! VEIO PRA MORRER TAMBÉM!?
–Libertar essas crianças da sua exploração de merd@!
–Que!? Fala pra fora, seu bostinha!!
–Libertar a coroa do arrependimento de nunca ter te impedido quando tinha chance.
–Ah! Que se dane! PEGUEM O MULEQUE ABUSADO! – Os clones se viraram para Fabrício.
–Libertar esse mundo do perigo que é abrigar alguém como você... Essa era a liberdade que eu precisava entender pra te sentar o casset&, seu anão de merd@!!!
–To pagando pra ver!!!


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