Cece Blue escrita por Nani


Capítulo 6
O presente de aniversário




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Cece acordou na manhã do seu décimo segundo aniversário, deu uma olhada rápida ao redor e em seguida voltou a fechar os olhos. Em alguns minutos a família inteira entraria pela porta do quarto trazendo um bolo e cantando para ela. Ela não queria tirar a graça da “surpresa” que fariam, atirando-se à cama para acordá-la com mil beijos e desejos de felicidade.

A menina mudara muito nesses quatro anos. Seu corpinho redondo se alongara, e já começavam a aparecer curvas. Os cabelos agora estavam na altura da cintura, e ela os usava presos em uma longa trança. Ela perdera o ar solene e tristonho, assumindo uma personalidade viva e brincalhona.

Cece levantou um pouco a cabeça do travesseiro para poder ouvir melhor a movimentação fora do quarto. Como previra, havia barulho de passos e vozes abafadas. Ela sorriu e voltou a deitar a cabeça.

Alguns segundos depois, ouviu a porta do quarto sendo aberta, passos furtivos e “psius”. Ela prendeu a respiração.

‒ PARABÉNS CECE! ‒ Entoaram Edmund, Celia, Trevor, Jonathan e Leoward.

Cece fingiu um longo bocejo enquanto se virava lentamente, esfregando os olhos. Ela sorriu para a cena diante dela: todos os Stormfields estavam agrupados ao redor da cama sorrindo e segurando um pacote, à exceção de Frederick, que previsivelmente exibia uma expressão mal-humorada.

Mas ela mal teve tempo de apreciar essa cena, pois Trevor e os dois irmãos mais novos se atiraram à cama para lhe abraçar e fazer cócegas. No meio da brincadeira, Meg também apareceu para desejar os parabéns a Cece. O clima no quarto estava muito gostoso, os risos e brincadeiras reinavam.

Algum tempo depois a família se retirou para que ela pudesse se arrumar para o café da manhã.

O quarto da garota também havia mudado durante esse tempo, e agora estava muito mais ao seu gosto. Os tons de rosa aos poucos foram sendo substituídos por branco, verde e azul. Ao lado direito da janela, próximo à escrivaninha, havia uma estante que ia rapidamente se enchendo com os seus livros preferidos. Ao longo das paredes, pôsteres e quadros que eram uma mistura de filmes, paisagens e heróis do velho mundo (Cece se interessava muito pela história de Gisdel).

Meg, que havia ficado para ajudar a aniversariante a se arrumar, correu para preparar o banho. Enquanto ela se ocupava da temperatura da água e dos sais, Cece abria o grande guarda-roupa para escolher algo para vestir.

Para desgosto da Sra. Stormfield, a menina desenvolvera um gosto por calças de montaria, e as usava constantemente, mesmo quando não estava no haras, cuidando de seu cavalo.

Cece acabou se decidindo por um par de calças marrons, botas pretas e, como estava um dia quente e ensolarado, uma blusa bege justa e sem mangas. Separou a combinação, colocando-a sobre a cama, e foi tomar o seu banho.

Após o banho a garota se vestiu e borrifou um pouco de colônia floral pelo corpo. Meg puxou seus cabelos para trás na habitual trança longa e ajudou-a a calçar as botas. Cece olhou-se no espelho uma vez para conferir o visual. Sorriu para a sua imagem e desceu para tomar o café da manhã.

Assim que entrou na sala de jantar notou que a mesa estava posta muito mais suntuosamente do que de costume. A menina reconheceu vários de seus pratos favoritos, entre eles torta de limão, pernil com crosta de ervas e peras silvestres do Reino das Montanhas. Bem no centro havia um grande bolo de glacê branco com três camadas.

Quando ela chegou, todos na mesa (à exceção de Frederick) sorriram e a saudaram animadamente. Ela sorriu de volta e ocupou seu lugar de costume entre Trevor e Jonathan.

‒ Uau, mamãe! Essa mesa está incrível ‒ exclamou Cece animada, examinando a mesa mais atentamente. ‒ Muito obrigada!

‒ Ah, querida, você merece. E não se preocupe em perder alguma dessas iguarias: vou mandar embalar isso tudo e algo mais para o seu piquenique de aniversário ‒ a Sra. Stormfield sorriu contrafeita.

Celia queria muito ter dado um baile de aniversário para a filha, porém o marido lhe convencera (a muito custo) de que o melhor lugar para comemorar o aniversário da menina era o Royal Club de Farlagos, notoriamente um de seus lugares preferidos.

Cece era muito grata ao pai por isso. Achava que a mãe tinha uma paixão por esses eventos que ela sentia-se incapaz de satisfazer. Como resultado, estavam presas em um impasse: Cece achava que iam a eventos demais e a Sra. Stormfield achava que não iam a eventos suficientes, e ambas acabavam contrariadas.

Não que a menina odiasse bailes ou jantares, mas se cansava deles facilmente e preferia mil vezes uma tarde tranquila na biblioteca do pai ou algumas horas no Royal Club ou no haras. O problema era que nada parecia dar mais prazer à sua mãe do que vesti-la com a última moda e depois desfilar com ela por Farlagos.

Por mais que quisesse agradar à mãe, o gosto por tais coisas simplesmente não fazia parte da natureza de Cece, e ela se via frequentemente dando desculpas para se esquivar desse tipo de programa, muitas vezes acobertada pelo pai.

Cece, percebendo a insatisfação da mãe, tentou anima-la dizendo alegremente:

‒ Anime-se, mamãe! Tenho certeza de que o piquenique será muito divertido. E os seus amigos estarão lá, de qualquer maneira.

Nossos amigos, querida ‒ corrigiu a Sra. Stormfield, recuperando um pouco do bom humor. ‒ Acho que gostará de sabe que convidei Eleanor, e ela ficou muito feliz de poder comemorar o seu aniversário!

A menina forçou um sorriso para a mãe. Eleanor Brightlight era uma jovem meiga e simpática, mas já tinha dezenove anos e muito pouco em comum com Cece além do fato de serem ambas garotas. Porém isso parecia bastar para Celia, e como queria que a mãe se sentisse mais alegre em relação ao piquenique, ela resolveu fingir entusiasmo com a notícia:

‒ Que ótimo mamãe!

A Sra. Stormfield sorriu, satisfeita. De repente, deu um tapinha na testa e exclamou:

‒ Ah, quase ia esquecendo! Hoje teremos um convidado especial.

Ela deixou a frase no ar, saboreando o seu efeito no resto da família.

Jonathan, cujos olhos haviam se arregalado de curiosidade, foi quem perguntou primeiro:

‒ Teremos mesmo? Quem é mamãe?

Celia olhou ao redor da mesa para se certificar de que todos estavam ouvindo antes de prosseguir.

‒ Como vocês sabem, os Greyclouds têm uma fortuna considerável, mas nenhum herdeiro. Pois bem: ao que parece, resolveram adotar o sobrinho mais novo do Sr. Greycloud, Dylian, como sucessor e herdeiro, e trouxeram o garoto para morar aqui com eles!

A Sra. Stormfield parou para apreciar o impacto que as suas palavras teriam causado. Era óbvio que ela pensava se tratar de uma notícia emocionante, por isso ficou decepcionada com a reação dos presentes.

O Sr. Stormfield, que estivera olhando por cima do jornal enquanto a esposa falava, voltou a mergulhar em suas páginas sem fazer comentários. Jonathan, que perdera completamente o interesse no convidado, estava entretido passando geleia de laranja em uma torrada, Trevor cutucava uma orelha com o dedo mindinho em uma óbvia demonstração de desinteresse e Cece saboreava uma pera silvestre e, embora olhasse para a mãe, seu olhar era vago e ela só conseguia pensar em como as peras eram gostosas.

Frederick, porém, se aprumara na cadeira e olhava atentamente para a mãe.

‒ Que notícia interessante, mãe ‒ disse. ‒ Então esse tal de Dylian será o herdeiro dos Greyclouds de Farlagos?

‒ Sim ‒ respondeu a Sra. Stormfield, o tom ligeiramente magoado enquanto olhava novamente ao redor da mesa ‒, a própria Sra. Greycloud me contou ontem, durante o chá. Ela me disse que os dois sempre foram muito apegados ao garoto. E como não têm herdeiros...

‒ Que sorte a dele! Bom, acho que seria sensato travar relações com esse Dylian o quanto antes. Afinal, um dia ele vai substituir o tio na Mesa do Conselho...

‒ Você já vai puxar o saco do garoto novo? ‒ Interrompeu Trevor, desdenhoso.

Frederick ficou vermelho como um tomate. Se de vergonha ou de raiva, era difícil dizer. Talvez um pouco dos dois. Ele respirou fundo duas vezes para se acalmar e então disse, em tom de superioridade:

Não é questão de adulação, é questão de política, Trevor, e você é imaturo demais para...

‒ Blá, blá, blá, meu nome é Frederick ‒ interrompeu novamente Trevor, fazendo voz de falsete e usando uma das mãos para imitar uma boca ‒, blá, blá, blá, puxar saco é legal!

Cece, Jonathan e Leoward riram.

‒ Ora, ora, Trev! Isso foi muito rude... ‒ começou a Sra. Stormfield.

‒ Você é um idiota, Trevor! ‒ Explodiu Frederick, levantando-se bruscamente, batendo com os punhos na mesa e retirando-se da sala em um átimo.

‒ Francamente, Trevor! ‒ Ralhou o Sr. Stormfield. ‒ Será que não podemos ter paz nem no aniversário da sua irmã?

‒ Ora, o Fred é muito sensível... além do mais ele sabe que não aguento quando ele começa com essa conversa de almofadinha ‒ defendeu-se Trevor.

‒ Eu não ligo se você aguenta ou não. Vá pedir desculpas imediatamente ao seu irmão!

Ah, pai! Você sabe que ele fica insuportável quando eu peço desculpas ‒ queixou-se o menino.

‒ Ótimo, quem sabe isso faça você pensar duas vezes antes de provoca-lo ‒ concluiu o pai.

‒ Até parece ‒ sussurrou Cece para Trevor, pelo canto da boca. Os dois riram.

‒ Disse alguma coisa, Cece? ‒ Perguntou o Sr. Stormfield, erguendo uma sobrancelha.

‒ Nada não, papai.

Assim que Trevor saiu atrás do irmão mais velho, resmungando e batendo os pés, a Sra. Stormfield se virou para a filha.

‒ Cece, querida, seria ótimo se você fizesse amizade com Dylian. O pobre garoto acaba de se mudar para longe dos pais e irmãos, e ainda não tem nenhum amigo aqui.

‒ Hã... claro mamãe ‒ respondeu Cece, distraída.

‒ Celia, acho que já é hora de irmos, sabe ‒ comentou o Sr. Stormfield, largando o jornal e puxando o relógio de bolso.

‒ Claro, querido. Eu darei as ordens na cozinha. Você pode levar as crianças para o carro; mandei ampliá-lo hoje mais cedo.

Quarenta minutos depois, a família seguia para o Royal Club. O carro, que normalmente comportava seis pessoas, fora ampliado e acrescido de mais quatro lugares. Todos iam confortavelmente acomodados e conversavam alegremente durante o trajeto.

Passaram pelos conhecidos portões de grade que davam acesso ao parque e seguiram pela estradinha que cruzava o clube.

A família desceu do carro na altura da área de piquenique, onde haviam sido montadas grandes tendas brancas, embaixo das quais haviam mesas de madeira forradas com toalhas da mesma cor. Vários jovens usando uniformes com o brasão dos Stormfields estavam aguardando enfileirados diante das barracas, e fizeram uma reverencia assim que a família se aproximou.

A Sra. Stormfield começou imediatamente a dar ordens para que fossem forradas grandes mantas sobre a grama, e sobre elas fossem dispostas almofadas de seda. Quando o caminhão que trazia a comida chegou, ela explicou aos criados como as mesas deveriam ser postas.

Cece se divertiu por um momento ao observar a mãe, imaginando-a como regente de uma orquestra enquanto esta gesticulava sem parar, dando ordens e apontando direções aos criados, que se apressavam em as seguir.

Levou um tempo surpreendentemente curto até que todo o espaço estivesse arrumado. Celia tinha muito talento para organizar as coisas do jeito que queria, e o resultado foi muito agradável. Toda a área estava coberta de mantas e almofadas coloridas, enquanto as mesas, agora cheias de comida, exalavam um cheiro maravilhoso e convidativo.

Enquanto observava essa cena, emoldurada por um belo dia ensolarado e fresco típico do Plantio, Cece não pôde deixar de se sentir imensamente feliz. O próprio ar que ela respirava parecia carregado de alguma coisa deliciosamente mágica, capaz de lhe preencher os pulmões e também o espírito com uma sensação de prazer e alegria expansivos, e ela tinha a impressão de que arrebentaria seu peito caso respirasse fundo demais.

Cece não conseguia deixar de sorrir. Estava louca para correr pelo bosque com os irmãos, subir nas árvores, nadar no lago. Porém sabia que não devia arredar o pé do piquenique antes de receber os convidados.

Não demorou muito, porém, estes já chegavam e eram recebidos alegremente por toda a família. Em menos de uma hora a maioria dos mantos estendidos já estava ocupada por pessoas que riam e conversavam enquanto aceitavam pratos de frutas que os garçons traziam das mesas.

A atmosfera estava carregada de conversas, risos e do cheiro maravilhoso de comida. Cece passeava entre os convidados, hora sentando com um grupo, ora com outro, ouvindo-os desejar-lhe felicidade e comentarem o quanto crescera e estava bonita.

Ela agora conversava com Eleanor Brightlight, que lhe contava tudo sobre sua saia nova. Esta era feita de tafetá azul escuro, e na altura dos joelhos era comprimida por um elástico para depois se abrir em camadas de babados coloridos sobrepostos, que formavam um “V” invertido até os tornozelos, e, na opinião de Cece, fazia parecer que Eleanor fora meio engolida por um peixe muito extravagante. Segundo esta, aquela era a última moda vinda do Reino do Coral.

Cece estava refletindo tristemente sobre as chances de sua mãe fazê-la usar uma saia daquelas quando a própria Sra. Stormfield veio caminhando na direção das duas garotas.

‒ Querida, finalmente encontrei você! Ah, olá. Eleanor.

‒ Olá, Sra. Stormfield. A senhora está divina hoje!

‒ São seus olhos, querida ‒ respondeu Celia, levemente impaciente. ‒ Se importa se eu pegar minha filha emprestada por um minuto?

‒ Claro, senhora. Eu e ela podemos terminar nossa conversa depois, não é mesmo, Cece?

A menina concordou sem, na verdade, ter a menor intenção de retomar aquela conversa.

‒ Vamos, Cece, quero lhe apresentar alguém ‒ disse a Sra. Stormfield, animada.

Cece mal teve tempo de pensar quem a mãe queria que ela conhecesse quando elas pararam na frente da Sra. Greycloud e ela lembrou. Ela queria apresenta-la ao tal garoto Dylian. Porém não havia sinal dele.

A Sra. Greycloud a cumprimentou de forma simpática assim que a viu.

‒ Ora se não é a pequena Cece. Será que ainda posso chama-la assim? Você cresceu tanto, querida! ‒ Disse. Depois, dirigindo-se à Sra. Stormfield: ‒ Celia, ele está logo ali adiante conversando com o Fred.

A Sra. Stormfield esticou o pescoço enquanto olhava em volta, procurando. Ela avistou os dois meninos conversando a uma pequena distância de onde elas estavam. Curvou-se então para a filha, segurando-a pelos ombros:

‒ Cece, vê aquele rapaz conversando com o Fred? ‒ Ela acenou a cabeça na direção em que os vira.

A menina inclinou-se para o lado para ter uma visão dos dois garotos.

‒ Aquele é Dylian Greycloud. Lembra-se de que conversamos sobre ele hoje mais cedo?

‒ Lembro sim, mamãe...

‒ Ótimo! Agora seja gentil e se apresente a ele.

‒ Como? Agora? Sozinha? ‒ Espantou-se Cece.

‒ Ora, e qual é o problema, Cece? Afinal é a sua festa de aniversário, nada mais natural. Você já está grandinha para precisar ser apresentada a um garoto de treze anos na sua própria festa ‒ censurou-a a Sra. Stormfield.

‒ Não... não foi isso que eu quis dizer ‒ apressou-se Cece, desconcertada. ‒ Eu só pensei... visto que ele está conversando com o Fred, que não seria educado interrompê-los, só isso. Eu não quero atrapalhar os dois.

‒ Ah, não, querida! ‒ Exclamou a Sra. Greycloud, animada. ‒ O Dylian anda louco para conhece-la, garanto. Não fala em outra coisa desde que chegamos. Tenho certeza de que ficará muito feliz em vê-la.

Cece forçou um sorriso e assentiu. Não era Dylian que a preocupava.

Ela tomou coragem e caminhou na direção dos dois garotos. Quando ela se aproximou, os dois pararam de falar para olhá-la. As reações dos dois foram muito diferentes: enquanto um a encarava com um misto de expectativa e curiosidade, o outro demonstrava apenas desdém e irritação.

Decidida a não se deixar abater pela expressão no rosto do irmão, a menina dirigiu-se ao outro garoto num tom que esperava que fosse seguro e gentil:

‒ Olá, você deve ser Dylian Greycloud ‒ Cece estendeu a mão para ele ‒, eu sou...

‒ A Srta. Stormfield ‒ Dylian pegou a mão que a garota estendia e beijou-a.

Cece, que esperava um aperto de mãos, ficou ligeiramente desconcertada com o gesto. Algo na forma como ele segurara sua mão e a beijara, e na forma como agora a encarava, fez com que ela enrubescesse.

De repente ela se deu conta de que Frederick ainda estava ali, e encarava os dois. Rapidamente ela se recompôs e, embora um pouco atrasada, disse:

‒ Por favor, me chame de Cece.

Dylian abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Frederick foi mais rápido.

‒ Se não se importa, Cece, eu e Dylian estávamos no meio de uma conversa.

‒ Eu não me importo de a Cece ficar ‒ apressou-se Dylian.

‒ Você é muito gentil Dylian, mas duvido que ela se interesse pelo que estávamos falando ‒ disse Frederick com um leve desdém.

‒ Podemos falar sobre outra coisa. Alguma coisa de que ela goste. Do que você gosta, Cece?

Cece, que estivera virando a cabeça de um para outro, constrangida, ainda pensava em um jeito de sair daquela situação desagradável. Felizmente ela foi poupada de dar uma resposta pela chegada muito bem-vinda de Trevor.

‒ Hei, maninha! Eu estava procurando por você. Quer ir nadar no lago comigo? ‒ Depois, reparando no garoto ao lado dos irmãos, estendeu a mão: ‒ Trevor Stormfield.

Dylian apertou a mão que Trevor estendia.

‒ Dylian Greycloud.

Trevor ergueu ligeiramente as sobrancelhas. Depois olhou com mais atenção para os irmãos, notando a cara amarrada de Frederick e o ar constrangido de Cece. Um meio sorriso cobriu seus lábios.

‒ E então Cece? O que me diz? ‒ Perguntou, voltando-se novamente para a irmã.

‒ Vamos nessa ‒ respondeu Cece, aliviada. E, dirigindo-se aos outros dois: ‒ Foi bom conversar com vocês, e foi um prazer conhece-lo, Dylian. Se vocês me derem licença...

‒ Eu posso ir com vocês? ‒ Perguntou Dylian.

Trevor e Cece se entreolharam.

‒ Claro...

‒ Sem problemas...

Dylian se virara para ir quando, como se lembrasse de alguma coisa, girou os calcanhares.

‒ Você vem, Frederick? ‒ Perguntou.

Frederick parecia ressentido quando respondeu:

‒ Não, obrigada. Prefiro encontrar alguém com quem possa manter uma conversa decente.

E com isso ele deu as costas aos garotos e saiu andando firmemente na direção do piquenique.

Trevor deu de ombros para Cece, que se sentia ligeiramente culpada. Ela estava acostumada a se desentender com Frederick, e até se divertia bastante tirando sarro dele em casa, mas jamais sentiria prazer em aborrecê-lo em público. Ele era seu irmão, apesar de tudo.

Passaram o tempo deliciosamente. Brincaram no lago até que seus dedos ficassem engelhados, depois recolheram-se em um dos gazebos à beira do lago para aproveitar o sol. Conversaram e riram bastante, até que ficaram com fome.

‒ Vou procurar um garçom e pedir que venha nos servir ‒ ofereceu-se Trevor.

Os outros dois agradeceram entusiasticamente. Ele então foi saiu atrás do garçom, deixando Cece e Dylian sozinhos.

‒ Você nunca frequentou a escola, Cece? ‒ Perguntou Dylian de repente.

‒ Ah... não, nunca frequentei. Eu estudo em casa desde que fui adotada e antes disso tinha aulas no próprio orfanato.

‒ Então você não tem muitos amigos da sua idade, não é?

‒ Não, não muitos.

Eles ficaram alguns minutos em silêncio, até que Dylian soltou uma exclamação, como se tivesse acabado de lembrar de algo.

‒ Caramba, quase esqueci! ‒ Exclamou ele, levando a mão à cabeça. ‒ Eu ainda não te dei o seu presente de aniversário.

‒ Não se preocupe com isso, você não precisa me dar um presente ‒ apressou-se Cece, sem graça.

‒ Mas eu quero dar. Você se importaria de vir buscar o seu presente comigo?

‒ E aonde ele está?

‒ Está ali mais adiante ‒ disse Dylian, apontando para algumas árvores próximas à margem, a uns quinhentos metros de onde estavam.

Cece olhou na direção em que ele apontava. Não havia carros ou tendas por perto. Ela duvidou seriamente de que ele houvesse deixado algum presente lá, mas estava muito curiosa para saber o que ele pretendia com aquilo, portanto concordou em ir.

Ao chegarem ao cerco de árvores, Dylian apontou para a maior delas e disse:

‒ É bem aqui. Aqui está bom. Muito bem, agora fique de costas para essa árvore.

‒ Ok.

‒ Certo, agora feche os olhos.

‒ Quê? Por que?

‒ Você quer o seu presente ou não?

Cece encarou Dylian com desconfiança. Que diabos ele pretendia? Talvez ele fosse tentar assustá-la de alguma forma. Ela olhou rapidamente ao redor para ver se identificava alguma coisa suspeita, mas não conseguiu encontrar nada.

Ela tinha um pressentimento sobre aquilo, mas não sabia bem o que era. Alguma coisa estava fazendo seu coração bater mais forte. Ela pensou seriamente em sair dali, porém estava ardendo de curiosidade para saber o que Dylian iria fazer.

Não era de sua personalidade fugir do quer que fosse e ela resolveu ficar, mas estava decidida a não se deixar assustar por nada. Se ele queria fazer alguma brincadeira boba, ela não daria a ele o gosto de saber que tinha funcionado.

Ela encarou Dylian por mais alguns segundos, franzindo ligeiramente as sobrancelhas. Depois, lentamente, fechou os olhos.

Os segundos pareciam uma eternidade enquanto ela esperava que alguma coisa acontecesse. Cece então sentiu uma coisa que fez o seu coração disparar: a respiração de Dylian. Estava muito próxima ao seu rosto e ele parecia ofegante. Ela teve vontade afastá-lo, mas uma parte dela queria saber o que viria depois.

Seu coração agora batia tão rápido que chegava a doer. Ela ainda não tinha decidido o que fazer quando sentiu alguma coisa macia tocar os seus lábios. Ela abriu os olhos e viu Dylian, de olhos fechados e... puxa ele estava perto. Perto demais! Seus lábios estavam se tocando! Porque estavam se tocando?

Cece finalmente entendeu o que estava acontecendo. Ela estava sendo beijada. Isso está mesmo acontecendo? Então ela sentiu outra coisa tocar os seus lábios, uma coisa quente e molhada. Aquilo tirou ela do transe. Ela empurrou o garoto para longe e saiu correndo.

Enquanto ela corria, um misto de raiva e vergonha tomava conta dela. Ela ouviu Dylian chamando seu nome, mas isso só fez com que ela corresse mais rápido. Porque? Porque eu tenho que correr? Foi só um beijo. Só um beijo, Cece, pare de agir como uma idiota. Ai que raiva, ele bem que podia ter me perguntado antes... e o que eu ia dizer? Acho que essas coisas não se perguntam. Eu não acredito que acabei de beijar aquele garoto!

Ela estava tão distraída que esbarrou em Trevor, que ia na direção contrária.

‒ AI! Cece! Olha por onde anda... onde é que você estava?

‒ Eu... eu estava... ‒ ela parou para recuperar o fôlego ‒, ali... ali perto daquelas árvores...

‒ Hum... sei. E onde está o Dylian?

Cece tentou responder calmamente, mas não conseguiu evitar que um intenso rubor subisse às suas faces.

‒ Ele... eu não sei. Acho que ainda está lá ‒ ela desviou o olhar enquanto falava.

Trevor olhou bem para aquela cara culpada e depois para o lugar que a irmã indicara. Um sorriso zombeteiro começou a surgir em seu rosto.

‒ E o que vocês estavam fazendo lá? Posso saber?

Cece agora estava mais vermelha do que um pimentão. Ela não conseguiu se forçar a responder à pergunta do irmão, então desviou novamente o olhar.

‒ Não me diga que você estava se agarrando com ele! ‒ Ele explodiu em risadas.

A garota ficou, se é que era possível, ainda mais vermelha. Ela sabia que devia fazer alguma brincadeira sobre aquilo: era a maneira mais segura de despistar o irmão. O problema era que seu corpo não queria obedecer. Sua boca estava seca, seu coração ainda batia muito rápido e aquele rubor traidor não queria deixar suas bochechas.

Trevor ria de se acabar.

‒ Quem diria, irmãzinha... você de mãos dadas com o Dylian, os dois escondidinhos! O que será que estavam fazendo? ‒ Ele ergueu as mãos à frente do corpo como se abraçasse alguém e começou a fingir que beijava vigorosamente a pessoa imaginária.

Algo na expressão de Cece, porém, fez com que ele parasse. Trevor analisou por um momento o rosto da irmã e então perguntou, num tom suave e preocupado:

‒ Cece, você está bem? O que foi que aconteceu?

Como ela não respondesse, ele continuou:

‒ Olha, me desculpa, tá? Foi uma brincadeira idiota. Eu sou um idiota.

‒ É mesmo ‒ respondeu Cece com a voz rouca.

Trevor sorriu aliviado.

‒ E então? Quer me contar o que aconteceu?

Os dois voltaram ao gazebo e Cece contou tudo o que se passara entre ela e Dylian, e desabafou com o irmão tudo o que sentira e continuava sentindo.

Trevor ouviu tudo com paciência.

‒ Olha Cece, se você quer saber o que o Dylian fez não foi legal. Você não vai à escola como nós, por isso não sabia nada dessa coisa de beijo. Ele devia ter te perguntado.

‒ Eu sei que é bobagem fazer tanto caso por causa disso... não foi nada de mais.

‒ Como não! Foi seu primeiro beijo, garota ‒ ele sorriu e fingiu enxugar uma lágrima. ‒ Vocês crescem tão rápido!

Cece riu e jogou os ombros contra ele, de leve.

‒ Ora, vamos... considerando tudo, você ganhou um ótimo presente de aniversário. Agora você já sabe como é beijar alguém, e não vai ser enganada facilmente de novo. Além do mais, Dylian... acho que podia ter sido pior ‒ Trevor riu e cutucou a irmã.

‒ Para! ‒ Cece também riu. ‒ Acho que você está certo. Foi meio legal, até.

‒ E você gosta dele? Do Dylian, quero dizer.

‒ Não sei... ele parece ser legal, mas não acho que gosto dele daquele jeito. Não foi ruim beijar ele, mas não tenho vontade de fazer de novo.

‒ Muito bem... parece que você vai começar a sua carreira de beijoqueira partindo alguns corações.

Os dois riram. Depois de algum tempo, Cece lembrou que ainda estava com fome, e seguiram em direção às mesas de comida.

O resto do dia se passou de forma agradável. Eles comeram e riram, e conversaram. Cece evitou Dylian, apesar de suas tentativas de falar com ela.

Ao pôr do sol, o bolo de glacê branco foi colocado em uma mesa enfeitada com muitos doces coloridos. Todos se reuniram em volta da mesa para cantar para a aniversariante, enquanto fogos de artifício estouravam acima de suas cabeças.

Cece não podia deixar de sorrir. Os fogos eram lindos, o bolo estava uma delícia, e ela tinha a família ao seu redor. Quando sentou na grama junto com os outros Stormfields, com um pedaço de bolo nas mãos, e olhou para os fogos de artifício que formavam belíssimas flores coloridas no céu, ela não pôde deixar de pensar, feliz, que aquele tinha sido mesmo um aniversário e tanto.


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