Presos Pelo Destino escrita por Fada Dos Tomates


Capítulo 1
Memórias do Dia em que Virei Prisioneira


Notas iniciais do capítulo

Maya diz "Na no" que não significa nada é só para dar ênfase na frase.



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Eu sou Maya, tinha 12 anos quando uma coisa extremamente irritante e estranha aconteceu.

Tinha ido com a escola em um passeio de barco, onde paramos havia uma floresta. Claro que avisaram para ninguém ir lá. Eu não era desobediente, mas era curiosa. Escutei um “psiu”, alguém estava me chamando. Sutilmente me embrenhei na mata para saber quem era a pessoa que me chamava e o que esse sujeito queria comigo. Era um garoto mais velho que eu, de olhos cinzentos e sem vida, cabelos bem negros e roupas normais.

-Quem é você? – perguntei.

-Preciso de uma coisa. – disse ele – É uma questão de vida ou morte.

-O que quer de mim? Nem te conheço! – falei.

-Você vai me deixar morrer? Eu tenho que fazer uma coisa antes do pôr-do-sol, você é minha única chance de sobreviver. – ele parecia apavorado.

-Está bem, mas depois me explique isso direito. O que você quer?

O garoto se aproximou de mim, me segurou e eu fiquei envergonhada por isso.

-Mas o que... – eu ia perguntar, mas antes disso ele me beijou.

Quando me soltou fiquei estupefata.

-O que... Por que fez isso? Não podia... Eu não permiti! Seu...

-Eu precisava disso para sobreviver!Desculpe mas agora você tem a minha alma nas mãos.

-O quê? – olhei para minha mão e vi que tinha um anel em meu dedo – O que é isso?

-É minha alma e você a tem. Não pode deixar perder nem quebrar e não permita que ninguém pegue! – ordenou ele – Ou morrerei.

-O que está acontecendo afinal?Não entendo nada! – eu estava incrédula.

-Eu sou um espírito. Meu nome é Yuma. Precisava beijá-la para não desaparecer, de agora em diante terei de ficar perto de você. – contou.

-Por que eu?Não existem outras garotas para você beijar? – indaguei furiosa.

-Sei lá. Você me pareceu legal, mas é uma idiota mesmo! – xingou-me.

-Ora seu... – me irritei – Quem chama os outros de idiota é que é idiota.

-Esqueça. Tem alguma floresta perto de sua casa? – ele quis saber.

-Não. – neguei.

-Você mora numa cidade grande?! – perguntou Yuma.

-Não, mas tem uns matos perto de lá.

-Hum, é o que se tem. Fazer o que? – Yuma não estava feliz.

-Me explique mais sobre essa coisa de espírito. – pedi – Como estou vendo você?

-Sou um tipo diferente de espírito. Nasci há um ano, por isso não sei muito – explicou – Mas pode ler esse livro para entender.

Ele mostrou um livro grande e todo branco, eu o peguei, gosto de ler e queria saber tudo sobre ele.

Tive de levá-lo junto comigo, paguei sua passagem de barco e menti que o encontrei perdido. Yuma não queria que soubessem que ele era um espírito e não saía de perto de mim.

-Por que não larga a minha mão? – indaguei – Por acaso está com medo?

-Não é isso, é que eu corro risco de morte a toda hora. Se eu for tocado por um humano sem estar com você posso desaparecer. – Yuma parecia apreensivo.

-Ainda tem isso! – resmunguei.

-Há muito mais...

Não entendi àquela hora o que ele queria dizer. Fiquei bem incomodada por ter que andar de mãos dadas com ele, minha turma toda zombava de mim. Sempre fui a quietinha CDF da sala, era vergonhoso andar com ele assim, como se fosse um encontro ou algo parecido. Eu queria ser sugada pelo pôr-do-sol e desaparecer no ar.

Teve uma hora em que o anel caiu do meu dedo, tinham me empurrado e ele rolou longe.

-Mi-minha vida! – Yuma apavorou-se.

-E agora? – também me preocupei – O que a gente faz? Você vai sumir...

Ele tinha interrompido minha fala com um beijo, dei um tapa nele depois disso. Toda a minha turma viu, me perguntava com que cara os olharia depois. Yuma não estava nem aí pra nada.

-Eu fiz isso pra sobreviver! – era o que ele dizia – E se eu morresse você também iria!

-Do que está falando? – parei de andar por um instante.

-Agora nós estamos juntos até a morte, se eu morrer você também morre e se você morrer eu morro. – contou Yuma.

-Eu não acredito que é assim! – coloquei as mãos na cabeça – Eu achei que tinha ido em direção à uma aventura, mas na verdade fui à um peso! Estou presa com um sujeito irritante que fica me beijando e posso morrer!

-Desculpe por metê-la nisso, mas era minha vida que estava em jogo!

-E agora são duas! Você é tão egoísta quanto os humanos! – insultei – Tomara que eu morra de forma bem dolorosa para você sentir!

-Cale a boca! É você quem sentirá e não eu! – discordou ele.

-E seu eu quiser me matar? – o desafiei.

-Ora, faça isso... – Yuma me empurrou para a parede – Nem pense nisso! Será tão egoísta e idiota para nos mandar para o inferno?

-Olha quem fala! Odeio você! – falei – Isso é um castigo?

-Talvez seja talvez fôssemos grandes inimigos em outra vida e fomos forçados a conviver juntos nessa. Deus me castigou me prendendo a uma idiota que quer se matar!

-Você está me fazendo passar por coisa pior, olha essas pessoas debochando de mim. – resmunguei.

-Por que você liga pra elas?

-É vergonhoso! Humilhante! – reclamei.

Achei que ele ia me bater, mas acariciou minha cabeça. Foi a primeira vez que foi amigável comigo.

O resto da viagem foi cheio de discussão, mas contei muita coisa da minha vida pra ele. Voltei pra casa montada em suas costas e não foi um pedido meu, ele fez questão.

O deixei naquele terreno cheio de árvores e mato do qual havia falado, existiam moradores lá, mas Yuma não se importou em viver escondido.

-Você pode ir lá em casa amanhã, é bem ali. – apontei para o local.

-Só amanhã? – ele parecia decepcionado – Então tá... Não perguntei o seu nome.

-É Maya – me apresentei – Irei ler o livro, até amanhã.

Eu ia embora, mas Yuma segurou meu braço.

-Espera. Eu queria... Me desculpar por ser tão rude com você, fiquei tão preocupado com minha vida que não me importei com a sua.

-Sim.

Yuma me abraçou e beijou minha nuca.

-Espero que sejamos amigos já que temos que conviver um com o outro agora. – disse ele.

-Claro. Tchau!

No outro dia estive ansiosa para falar com ele, quando pude Yuma quis saber uma coisa:

-Sabe, há um jeito de eu não ser mais um espírito e me tornar um humano. Está aqui no livro, mas não sei o que é: “Unir-se com seu (sua) humano (a) sexualmente...”

-QUÊ?! – gritei –NUNCA!NUNCA!NUNCA!NUNCA!

-Mas o que isso significa?

-Você nunca será um humano Yuma! Jamais farei o que quer! – neguei loucamente.

-Mas eu não entendo. O que isso quer dizer? – ele estava completamente confuso – Por favor me explique.

-Eu não consigo. Não posso nem pronunciar a palavra. – me escondi num canto.

-Por favor, só me explique. – pediu ele – Não irei fazer nada.

-Não sei explicar.

-Tente. – implorou.

-Hã, você tem que...eu tenho...nós...o seu... Na minha...

-Não estou entendendo nada! – Yuma ficou bravo.

-O seu “coisa”.

-Meu o quê? – ele franziu a testa.

-O que você tem, a parte intima. – respondi.

-O que é “parte intima”?

-Nem isso você sabe? – me indignei – O que você tem aí no meio.

-Meu coração?

-Não foi isso que eu quis dizer, talvez, no meio das pernas. – falei.

-Ah, acho que entendi. – ele assimilou olhando para si – O que tem isso?

-Você tem que... – cheguei a suar frio de nervoso - ...colocar...dentro de mim.

-Dentro de você?Mas como? – Yuma arregalou os olhos.

-Aqui –apontei envergonhada para o “local”.

Yuma se aproximou de mim, me afastei com receio.

-Como é que eu faço isso? Tenho de despi-la?

Me arrepiei com o comentário e me agachei no chão de costas pra ele.

-Se fizer isso eu te mato! Não importa que eu morra, mas te mato! – ameacei.

-Está bem, entendi. – Yuma ergueu as mãos em rendição – Mas não entendi como se faz isso. Tem algum lugar apropriado para fazê-lo?

-Uma cama, eu acho...

Yuma me arrastou para a cama de meus pais mesmo que eu protestasse.

-Que mais?Como eu devo estar? O que tenho que fazer? – indagou.

-Ficar em cima de mim, eu acho...

Yuma ficou em cima de mim, gelei e comecei a tremer.

-O-o que e-está fa-fazendo? – gaguejei – Não pretende...

-Só quero saber como é. Eu deveria despi-la não é? Mas você iria me matar – deduziu ele.

-Iria com certeza – concordei.

-O que mais devo fazer?

-Sei lá, não é coisa que se faça. – eu queria fugir.

-É algo proibido? – Yuma quis saber.

-Não, mas é coisa de adultos!E eu sou uma criança, uma criança! – gritei com medo.

Ele me olhou de cima a baixo.

-Tem realmente um corpo infantil – comentou e dei-lhe um soco.

-Por que na escolheu uma garota menos infantil então?!

-Sei lá, minha intuição me levou até você. Ela deve ser péssima por escolher uma garota tão chata.

-Como você imagina que é fazer “isso”? – mudei de assunto.

-Bom, talvez? Eu me tornarei um humano, acho que será uma boa sensação. – supôs ele.

-Desculpe Yuma. Mas não posso fazer isso. – comecei a chorar.

-Eu posso esperar até se tornar uma adulta.

-Não Yuma. – discordei – Não posso fazer isso na no! Dekinai na no!

Chorei, chorei bastante. Yuma me abraçou e não disse nada. Mas eu nunca iria torná-lo um humano.


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Notas finais do capítulo

Dekinai: Não posso.
Pode ter sido um pouco engraçado, Yuma não sabe muito sobre os humanos e Maya teve sempre evitou falar sobre "aquilo". Apesar de Yuma ter sido chato pra ela inicialmente, essas memórias se tornarão preciosas um dia.