Olhe-se escrita por Shayera


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
Boa Leitura.



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A perfeição é um vício da nação

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Escrita por Shayera

Os dedos longos e finos agarraram com firmeza o vaso de porcelana negra. O gosto amargo havia tomado toda a boca delicada e os fios rosados grudaram no rosto pálido e suado. A náusea apenas aumentava a tontura que estava sentindo. O coração batia freneticamente e as pupilas estavam dilatadas. Era a segunda vez naquele dia.

Seu estômago sempre reclamava se comia alguma coisinha a mais. Não! Seu estômago sempre reclamava quando comia, e a solução era a mais óbvia. Colocar tudo para fora. Como sua mãe havia lhe ensinado uma vez, quando estava acima do peso para participar de um concurso em Nova York. Mebuki a obrigava jogar tudo o que comia para conseguir emagrecer e entrar no bendito concurso de beleza.

Bom, os resultados foram positivos, na opinião da Haruno mais velha. Sakura perdeu peso e conseguiu ter seu nome na lista das participantes ganhando a coroa e dando orgulho para a mãe.

Porém, a rosada havia adquirido aquele hábito como a sua salvação para nunca mais engordar, e ter uma aparência agradável aos olhos de Mebuki.

Sakura puxou o ar para os pulmões com certa dificuldade e, buscando equilíbrio em suas pernas, tentou se levantar. Ligou a torneira da pia e encheu suas mãos com água para enxaguar o rosto. Sentia-se fraca, sem forças para ficar de pé. Olhou seu reflexo no espelho e suspirou.

O que viu não a assustou, já havia se acostumado com sua aparecia. Estava magra, muito magra. Os grandes olhos haviam perdido sua bela cor, estavam foscos. Sem vida. Sem brilho. As bochechas gordinhas e rosadas agora eram apenas pele sobre ossos. Os longos cabelos rosados já não eram mais tão sedosos e a pele de pêssego havia sumido, dando lugar a uma pele áspera e ressecada.

Fazia nove anos que estava na França participando de concursos, desfiles e sessões de fotos. Tinha perdido toda sua infância. As bonecas na estante haviam sido substituídas por vidros de perfumes, kitis de maquiagens, acessórios para os cabelos e joias. As sapatilhas confortáveis deram seu lugar para os sapatos de salto altos e completamente desconfortáveis. No guarda-roupa, vários casacos e vestidos de todas as cores e tamanhos. Tudo sempre na moda. Nada poderia ser de alguma coleção antiga ou de algum estilista pouco conhecido. Segundo Mebuki, Sakura deveria se apresentar sempre bem vestida com peças exclusivas de um estilista famoso.

A rosada às vezes tinha vontade de pegar todas aquelas roupas e doar para alguém que realmente necessitava, ou simplesmente queimar tudo. Mas Mebuki a mataria se fizesse. A mulher ficara obcecada pela carreira da filha. Carreira que ela não pode seguir.

Levou a mão molhada até a nuca e estalou o pescoço soltando um gemido de dor.

Saiu do banheiro, entrando no grande quarto dourado com uma cama negra e redonda no centro. O divã, também em tom escuro, estava repleto de roupas e sapatos. Precisava de um closet maior. Retirou suas roupas e se jogou sobre a cama macia.

Não queria estar ali. Não queria mais fazer parte daquele mundo. Ter ganhado a coroa no concurso da Califórnia acabou piorando as coisas. Mais e mais concursos apareciam, em todos os cantos do mundo e, cada vez mais, estilistas fotógrafos e agencias de modelos ficavam interessados na Haruno. Mas quem era ela para dizer “não”, quando a mãe dizia “sim”.

Porém, Sakura também não queria voltar para o lugar que um dia havia chamado de lar. Os anos haviam se passado e a ultima noticia que tivera de seus amigos fora quando, secretamente, telefonou para Chiyo-baa e a senhora dissera que Sasuke e Karin estavam namorando. Isso havia sido há dois anos.

Sua melhor amiga de infância, com seu namoradinho.

O leve som das batidas na porta a fez voltar para a realidade.

– Entre. – disse, fechando os olhos o temendo que fosse Mebuki. Mas ela sabia que se fosse a mãe, não teria batido. Não daquela forma.

– Eu pensei que ver você apenas de calcinha e sutiã, sem estar nas passarelas ou posando para fotos, seria mais interessante. – Disse o rapaz ao entrar no cômodo e se deparar com a rosada jogada na cama.

– Não enche. – Sakura resmungou.

Suigetsu era um garoto animado, um pouco irônico às vezes, e sarcástico, mas era um bom rapaz e estava sempre bom humor. Em varias ocasiões Sakura pensara que era seu amigo Naruto, ali do lado dela lhe arrancando risadas e tornando seu dia melhor. E assim como Naruto e Sasuke o Hozuki também era uma ano mais velho do que a rosada.

Ele fazia bem a Sakura, dava cor aos dias cinzentos e, por mais que soubesse que seus sentimentos não eram correspondido pela rosada, sempre esteve lá, ao lado dela, desde que a conhecera em um dos ensaios cansativos de fotografia.

– Sua mãe está pulando de alegria - Suigetsu deitou ao lado de Sakura e ficou estudando o teto.

– Por qual motivo? - O desinteresse era vivo no tom de voz da rosada.

– A SutairuYamanaka's, de Tóquio, quer você como modelo principal no desfile da nova coleção da Yanka Yamanaka.

Sakura não disse nada. Tóquio. Aquela pequena palavra, pequeno nome, lhe trazia lembranças há muito esquecidas, que fora obrigada a guardar no mais profundo de seu ser.

– Ouvi ela dizendo que ainda essa semana vocês estariam voltando.

– Não quero voltar. - As palavras de Sakura saíram como um sussurro.

Suigetsu a encarou com uma das sobrancelhas arqueada.

– Sempre pensei que o seu maior desejo fosse voltar para Tóquio.

– Pensou errado.

A expressão no rosto do Hozuki era de total confusão. Mas logo se transformou em surpresa quando ouviu o soluço alto da Haruno e sentiu seu pescoço ser envolvido por braços magros e longos.

– Não me deixe ir - O pedido em forma de súplica o assustou. Afastou-se do corpo pequeno para poder encarar o rosto da rosada, e encontrar aqueles olhos grandes, que tanto amava, banhados em lágrimas de tristeza e dor.

A respiração ofegante de Sakura causava arrepios na nuca do rapaz. Ele queria se afastar, mas simplesmente não conseguia.

Ter Sakura em seus braços era maravilhoso, mesmo estando em condições não muito boas emocionalmente.

Suigetsu a abraçou, colando mais seu corpo ao de Sakura, e permaneceu ali, com a rosada deitada agarrada a ele, chorando baixinho.

– Sakura.. - Suigetsu tentou acalma-lá, mas foi interrompido pela porta que fora aberta bruscamente, e uma Mebuki com um sorriso brilhante nos lábios passou por ela.

– Levante-se, Sakura. - disse Mebuki, entrando no closet e retirando as roupas e sapatos da rosada. - Venha me ajudar a arrumar suas coisas. Precisamos voltar para Tóquio o mais rápido possível. Yanka Yamanaka quer você como moledo principal da nova coleção de primavera.

Era visível a felicidade da Haruno, ela havia sonhado com o dia em que veria sua filha desfilando nas passarelas mais importantes do mundo. Mebuki se enxergava em Sakura, e queria que a filha fosse o que ela não pôde ser.

Voltar para Tóquio não estava em seus planos, mas não recusaria uma chance daquela. Nem se fosse louca.

– Está surda, menina? Levanta já dessa cama, Sakura Haruno. - Os perfumes já estavam sendo guardados em uma mala separada. Tudo deveria ser guardado com o máximo de cuidado.

Sakura se afastou de Suigetsu a contra gosto, sentou-se na cama e ficou observando a mãe andar de um lado para o outro, guardando suas coisas com um brilho no olhar. Um brilho que havia sumido de seus próprios olhos há nove anos.

– Não quero ir.

Mebuki fingiu não ouvir o que Sakura havia acabei de dizer. Não importava o que a menina queria. Ela era a mãe, e ela sabia o que era melhor para elas.

– Mãe - Sakura chamou, querendo a atenção para si, mas, mais uma vez fora ignorada pela mesma.

– Sui, querido, tem uma mala grande na última prateleira do closet da Sakura. Eu não consigo pegar. Me faz esse favor?

Suigetsu hesitou por um minuto, mas acabou se levantando da cama e indo em direção ao enorme closet.

Sakura suspirou, deixando os ombros caírem com o pesar e tentou ganhar a atenção de Mebuki, mais uma vez:

– Mamãe..

– Não começa, Sakura. Nós vamos voltar e já está decidido. - Mebuki respondeu, sem encarar a filha.

– Mas você disse que nunca mais iriamos voltar.

– Mudanças de plano.

– Mamãe, eu tenho uma carreira aqui. Todos daqui já me conhecem. - Tentou. Sakura iria tentar fazer com que a mãe mudasse de ideia, mesmo sabendo que não seria uma tarefa fácil.

– A França inteira te conhece, meu bem. Agora chegou a hora do mundo inteiro te conhecer também, e a Yanka fará isso, tenho certeza. - Mebuki retirou as roupas que estavam no divã, as dobrou de forma cuidadosa e colocou na mala.

– E os meus estudos? Eu preciso terminar o colégio.

– Não se preocupe. Você irá terminar os estudos no melhor colégio de Tóquio.

– Mas..

– Chega, Sakura. Eu sei o que você está tentando fazer, mas eu já tomei uma decisão e você só tem uma escolha. Aceitar. - A mala foi fechada e uma terceira foi aberta. Era muita coisa. - O que você quer não importa, eu sou sua mãe e sei o que é melhor para você.

O que eu quero não importa. Nunca importou, pensou, com os olhos marejados.

Faça isso, faça aquilo. Pare de comer. Essa roupa não está boa. Sorria mais, mostre que está feliz.. Sorria mais. Sorrisos de plástico, nunca um verdadeiro.. Sorria mais. Finja mais. Seja o que eles querem, nunca você mesma.. Sorria mais.

Você está feliz consigo mesma?

Essa pergunta a pertubava todos os dias antes de dormir. Quando estava solitária dentro do quarto frio. Tão cheio de roupas e sapatos. Tão vazio de sentimentos.

O que queria? O que sonhava? Pra que vivia? Somente para ser a distração da mãe depressiva que tomava remédios para controlar suas emoções? Era o "tapa buraco" que o homem, a quem acreditou ser seu pai, havia deixado no coração da mulher que a obrigava fingir ser algo que não era? Apenas a morte daria fim a todas aquelas porcarias que não queria mais vestir, calçar, participar... ?

As iris opacas buscaram por algo dentro do quarto que, por algum milagre, serviria como sua salvação, seu bote salva vidas. Mas, ali, observando o cômodo grande, bem decorado, com coisas caras e belas, Sakura apenas encontrou o nada. E foi o bastante para se afundar ainda mais.


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Notas finais do capítulo

Gostaram?
Comentem.

Beijos