Pulsos Atados escrita por Anayra Pucket


Capítulo 19
Capítulo 18 - Descobertas - Mariana




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Claro que depois de eu voltar à minha sanidade mental fiquei completamente desconcertada com o que havia acontecido.
Ele praticamente fugiu de mim e eu não ficaria tão surpresa se ele tivesse saindo gritando para a noite deserta: "Socorro! Tem uma nerd horrorosa apaixonada por mim!" Okay isso seria ridículo, mas foi o que minha frustração me fez achar de primeira hora.
Senti ódio de mim mesma por ter deixado tão óbvio o quanto eu estava sendo afetada por ele, foi como se eu tivesse praticamente me jogado para seus braços. Sabe, não é que eu seja tão cabeça fraca ao ponto de achar, como normalmente toda a sociedade acha, que eu tenho que me fazer de difícil para conquistar um cara. Na verdade eu estava tão confusa quando entrei dentro da sala e fechei a porta atrás de mim, que mal notei Keyla sentada no sofá, me encarando com olhos curiosos.
Bufei prendendo um sorriso, enquanto me dirigia para sentar ao seu lado e enfiar a mão na bacia cheia de pipoca.
Enchi a boca mastigando de forma bem mal educada enquanto assistia um desenho que eu não sabia o nome.
– Quem era? - Ela murmurou e antes que eu me contesse encarei seu olhar.
Ah merda! Ela com certeza tinha no mínimo dado uma espiada pela janela, porque a maneira que me fitava deixava óbvio que ela já sabia que era Ariel.
Suspirei e quase ri ao fazer isso porque muito pedaços de pipoca voaram longe da minha boca, mas o momento de total abstinência me impediu.
– Ariel - Eu respondi tentando soar neutra.
– E...? - Ela me encorajou, mas eu hesitei em respondê-la - O que ele queria? - Ela acrescentou com aquele olhar de felina para mim.
Pensei em mentir, ou ficar na defensiva, reforçando pela milésima vez que não havia nada entre mim e ele para ela. Mas acho que já era hora de ela saber pelo menos parte da história.
– Bem, nem eu entendi direito. Ele só perguntou se eu estava bem, e então começou a dizer algumas coisas sem sentido. - Senti o olhar dela fisgado em cada movimento que eu fazia e dei de ombros - Talvez ele tivesse meio nervoso, mas acho que ele podia ter vindo conversar comigo de dia. Fala sério ele me assustou.
Keyla para minha surpresa, forçou meu rosto a virar em sua direção segurando em meu queixo e ficou um certo tempo me encarando com um olhar avaliador. Ela me conhecia tão bem. Sempre sabia quando eu estava mentindo, pelo menos quando o assunto era meninos.
– Entendi... - Ela resmungou - Mas eu quero os mínimos detalhes, você sabe o jeito que eu sou.
Segurei uma vontade tremenda de virar meus olhos para ela.
– Bem, tipo eu deixei na cara que eu tava afim dele, mas ele permanecia naquela mesma pose de ameaçador e misterioso.
– Sabe, eu acho que é melhor você ficar longe desse cara. - Keyla disse bruscamente, me fazendo encará-la no mesmo instante.
– Por que você diz isso?
Ela bufou, deixando bem claro que falar sério a deixava desconfortável.
– Eu não sei. Tenho guardado pra mim mas, ele não parece ser aquele tipo de cara confiável e normal. Ah sei lá, eu simplesmente não confio nele.
– Mas Key, você conversou com ele uma vez lembra?
É claro que ela lembrava, praticamente pulou nos braços do cara na escola.
– Sim mas... - Ela passou as mãos pelo cabelo, parecendo tão madura que quase a desconheci - Eu só estava fazendo o meu papel de sempre. Sabe, eu ignorei essa sensação a partir do momento em que fisguei meus olhos nele pela primeira vez. Desde o começo eu sabia que esse cara, de alguma forma, era furada.
Abri minha boca para argumentar com ela, mas eu não tinha palavras. Elas haviam simplesmente fugido de mim e da minha compreensão.
Sem saber o que dizer grudei meus olhos na televisão e tentei fingir que eu estava assistindo (como eu sempre fazia quando estava nervosa), mas o silêncio não durou muito.
– Então você quer saber sobre ontem, certo?
Engoli secamente, quase engasgando com uma pipoca. Na verdade, eu não queria saber, sabia que precisava, mas simplesmente não estava forte o bastante para lidar com isso.
– Sim... - Hesitei.
– Muito bem então, mas antes eu quero saber: você realmente não lembra o que aconteceu? Nem mesmo do jantar?
Para o meu alívio ela não estava com gracinhas, nem sarcasmo o que fez meus ombros tensos relaxarem um pouco, e me senti confortável o bastante para poder empurrar as palavras da minha boca.
– Não Keyla, eu só me lembro de eu ter visto um vestido vermelho que estava no quarto da Thammy e simplesmente tudo apaga depois disso.
Olhei pra ela esperando que me lançasse um olhar do tipo você pirou totalmente, mas ela me contrariou ao simplesmente coçar o queixo e se mostrar pensativa.
"Acho que eu tenho que parar de achar que sei prever tudo o que Key vai fazer" - Eu estava pensando nisso quando ela falou de novo:
– Acho que deve ser algum tipo de amnésia, quero dizer, Richard pode ter te dado alguma bebida e sei lá, seu corpo pode ter tido uma reação adversa.
Agora foi a minha vez de coçar a cabeça e sentir vontade de gritar de frustração.
– Keyla, não tente descobrir o que aconteceu com a minha cabeça, só peço que você me conte os detalhes de ontem a noite. Tudo o que você conseguir lembrar.
Previsivelmente, ela bufou mais uma vez, e começou a me contar lentamente, com um tom bem mais sério.
– Bom, você passou aqui perto das 20h, que era a hora combinada da gente ir pra lá caso você não se lembre, com um carro que me foge totalmente da memória de quem fosse. Até aí alguma dúvida?
Eu sabia de quem era o carro, mas não ia mencionar isso naquele momento para ela, então apenas balancei a cabeça para os lados, incapaz de pronunciar uma sequer palavra de tão apreensiva que eu estava.
– Eu lembro de poucas coisas depois disso, acho que também devo ter bebido um pouco porque tudo fica um pouco confuso. Eu não me lembro muito bem da hora exata em que eu te vi pela primeira vez como uma versão gótica da Taylor Swift, nem mesmo me lembro do que a gente conversou dentro do carro tanto na hora da ida quanto da volta. Mas eu ainda me lembro de poucas coisas quanto à hora que a gente estava indo pro restaurante, já quando a gente estava voltando tudo fica tão embaralhado.
Ela fez uma pausa para limpar a garganta e continuou:
– Mas eu lembro um pouco mais de quando a gente estava lá, reunidas com o Richard e os convidados. Agora que estou pensando nisso até me lembrei da piada que você fez com o garçom que estava nos conduzindo para a nossa mesa, lembra? Você disse que a calça dele enfiada até o umbigo fazia o rego dele ficar desproporcional.
Ela começou a rir, e eu até pensei em forçar uma risada, mas estava pasma demais para forjar alguma reação. Não conseguia acreditar como eu poderia ter dito uma coisa dessas, antes mesmo até de beber.
Foi nessa hora que me caiu, como um balde de água fria na cara, que os meus atos tão inesperados da noite anterior não tinham acontecido porque eu estava sob o efeito de álcool. Quer dizer, se nessa hora que eu fiz essa piadinha foi antes do jantar, isso sem contar com o estilo bizarro para alguém como eu escolher para usar em uma espécie de encontro, então isso significava que bebida estava fora de questão.
– Keyla, acho que já posso descartar uma alternativa para a pergunta do por que eu estava tão estranha e fora de mim mesma ontem, quer dizer, se eu já estava estranha antes do jantar, antes da bebida ser oferecida e talz, então deve ser outro motivo, por mas que eu não faça a menor ideia de qual seja.
Ela arregalou seus lindos olhos para mim, compreendendo meu raciocínio no mesmo instante.
– Você tem razão, quer dizer, eu ainda me lembro com pouca destreza do quanto eu achei estranho você estar contando piadas. - Então Key olhou pra mim mais uma vez e ao se deparar com o meu olhar encorajador de prossiga, ela continuou: - Bom, então quando a gente finalmente chegou na mesa, eu me lembro do clima que rolou entre você e ele. Quer dizer, vocês dois não paravam de secar um ao outro. E tem mais um detalhe estranho que me veio à cabeça agora, você conversava com todo mundo. Quer dizer, Mary não é que eu esteja fazendo alguma piadinha, mas você não é nem um pouco extrovertida e dessas que se enturmam rápido.
Incrédula tentei calar os gritos de confusão do meu interior e preparar minha mente para continuar a ouvi-la, mas a cada vez que a minha melhor amiga terminava uma frase, mais difícil era aquilo pra mim. Era uma coisa mais absurda do que a outra. Era como se estivéssemos falando de uma estranha, e não de mim. Não fazia sentido, não tinha haver com a minha personalidade, por mais que eu reconhecesse o quanto estava mudando desde que Ariel e seu irmão cruzaram meu caminho.
– Depois disso tudo, na hora de nos despedirmos... - Ela fez uma pausa, deixando bem óbvio que ela havia acabado de se recordar de algo - Ah aliás os convidados que estavam lá além dos pais do Richard eram a Annabel, o Christian, o Pablo e o John. Você se lembra deles certo?
Assenti levemente com a cabeça de novo. Eu já havia estudado com alguns deles, e outros eu conhecia apenas de vista. Eram os populares do colégio que normalmente andavam com Richard e eram bem colados com os pais dele também. Por mas que eu vou ser sincera, sempre achei que era mais interesse no dinheiro do que amizade.
Bom enfim, na hora de ir embora eu me lembro... - Ela fez uma careta de dor e grunhiu - Eu me lembro de ver você abraçar e dar um beijo no rosto de todos e na hora de você se despedir do Richard você entregou de modo bem disfarçado, num aperto de mão, um guardanapo que estava manchado com batom vermelho. Eu estava atrás de você, por essa razão, eu me lembro de ter visto isso, apesar de ter sido bem rápido. E então a gente foi embora para casa, fim. Eu acho que você tinha até comentado comigo em algum momento que ia se encontrar com ele em algum lugar ainda naquela noite mas... - Keyla grunhiu mais uma vez e esfregou sua cabeça - eu não me lembro de muita coisa. E parece que quanto mais eu tento me lembrar, mais os detalhes me fogem.
Um silêncio se prosseguiu depois das palavras dela. Eu não sabia o que dizer, cada parte de mim berrava por dentro querendo uma explicação clara para tudo.
– Era por isso que eu fiquei meio histérica te ligando que nem uma louca assim quando eu acordei e me lembrei dessa parte que vocês iam se encontrar sozinhos. Mas eu realmente não me lembro de tudo também, o que é bem estranho por sinal. - Ela mordeu seu lábio inferior e encontrou meu olhar - Sabe Mary, parece que ainda está faltando uma parte muito importante da noite passada, mas eu honestamente não consigo me lembrar. Quer dizer, agora que eu estou totalmente consciente, parece loucura pensar que você estava totalmente alterada e fora de si, mas ontem por algum motivo eu achei tão normal, que não me lembro de ter te questionado nada, nem de me sentir muito estranha quanto a tudo isso.
– E agora? - Eu ouvi minha boca perguntar - Agora você se sente estranha quando se lembra desses pouquíssimos detalhes de ontem?
Ela hesitou apenas por algumas frações de segundos e respondeu honestamente:
– Sim, demais.


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