Sentado no telhado do Instituto, Gambit observava o pôr-do-sol por entre nuvens de nicotina.

–Tudo bem, Tempestinha?

A mutante Ororo Munroe sentou-se ao seu lado.

–Como soube que era eu?

Ele sorriu.

–Uma vez ladrão, sempre ladrão.

Ela não respondeu ao comentário e Remy logo mudou de assunto. Esquecera que Tempestade também já fora uma ladra.

–Como está Vampira?

–Estável. Fera está muito confiante na melhora dela. Diz que logo estará acordada.

O outro deu um meio sorriso.

–Bon.

Deu outra tragada antes de continuar.

–Não gosto de ficar longe dela, mas Fera me faria engolir o cigarro se me visse fumando na mansão.

Tempestade riu.

–Realmente parece coisa do Fera.

Os dois ficaram em silêncio, admirando as cores do pôr-do-sol.

–Precisamos conversar, Remy. – ela disse finalmente.

Gambit virou-se para a amiga, olhando-a nos olhos brancos, sem íris ou pupila.

–Você me odeia, Tempestade?

–Não. Só gostaria de socar a sua cara.

–Faça as honras.

O rosto dele acabou ficando com as marcas dos dedos dela.

–Ai. Esqueci o quanto você é forte.

Ele massageou a bochecha com um sorriso travesso.

Mas Ororo não sorria.

–Por que nunca me contou, Remy? Por que nos escondeu seu passado?

–Porque pensei que non entenderiam. Porque... Tive vergonha. Você não compreende, Ororo. Não sabe o quanto me odiei pelo que fiz.

–Na verdade, eu sou a única que realmente te entende, Remy. Durante anos eu me culpei pelo Massacre dos Morlocks. Levei muito tempo para perceber que a culpa não era minha. E também não é sua. – ela enfatizou com olhos brancos a brilhar.

–Você realmente pensa assim?

–Claro que sim.

Gambit desviou o olhar.

–Apenas...saber que você non me acha um monstro...já é suficiente para mim.

–Você não é um monstro, Remy. Apenas estava perdido.

–E alguma vez eu soube onde estava? – ele respondeu, amargo.

–Se eu pudesse, Tempestade... Juro que morreria no lugar no lugar dos Morlocks. Juro que non deixaria aquele massacre acontecer.

–Eu sei. Mas você não é o responsável. O monstro é Sinistro e, graças a Vampira, ele jaz inerte, sereno e nunca mais ferirá alguém novamente.

Remy voltou a sorrir.

–Bien, essa é a minha garota.

Apagou o cigarro antes de continuar.

–Eu... queria me despedir, Tempestade.

–Despedir-se?

–Oui. Henri entrou em contato comigo. Aparentemente, nosso père está morto.

–Remy, eu... Eu sinto muito.

–Não precisa sentir. Ele non era um père tão bon assim.

Apesar de notar sua amargura, Tempestade preferiu não comentar nada.

–De qualquer forma, Henri solicitou a minha adorável presença para se resolver o futuro do Clã dos Ladrões. Eu só queria me despedir de vocês antes de partir para a Louisiana.

–Não pretende voltar desta vez?

Ele suspirou e segurou a mão dela.

–Non sei, Tempestinha. Realmente non sei.

Tempestade sorriu para o amigo ao dizer:

–Sabe, não sei se você ainda se lembra, mas há um ditado que diz: ‘‘Uma vez X-Men, sempre X-Men.’’ E eu acredito muito em ditados.