Vampira foi despertada com gritos naquela manhã. Ou seria noite ainda?

Não importava.

Trancada naquele laboratório, ela perdera completamente a noção do tempo.

A única coisa relevante agora era Lamúria, que dizia:

–Os X-Men!

Sinistro não alterou sua expressão serena e impotente. Apenas comentou ao sair a passos lentos pela porta:

–Eles demoraram mais do que eu previa.

Vampira não queria saber da demora. Estava salva e estava grata.

Ao ver Sinistro desaparecer pelo corredor, Lamúria correu até a prisioneira, desligando o painel de controle que a mantinha acorrentada.

–Você tem que fugir agora. – ela dizia apressada – Há uma saída subindo-se aquela escada à direita. O combinado era que Remy tiraria você daqui enquanto os outros atrasariam Sinistro. E realmente espero que tenham seguido o plano.

Ao se ver finalmente livre, Vampira demorou alguns segundos para conseguir se equilibrar. Lamúria ajudou a garota a ficar de pé, murmurando:

–Vamos, rápido...

–Por que está me ajudando? – Vampira perguntou confusa.

Lamúria sorriu ao responder.

–Um favor prestado a um amigo.

E foi ao vê-lo que Vampira compreendeu de quem a outra falava.

Remy LeBeau desceu as escadas correndo, o cabelo castanho caindo sobre os olhos escarlates, vestindo seu sobretudo marrom e levando nas mãos o seu bastão.

Ambos sentiram algo como uma corrente elétrica transpassar seus corpos quando seus olhares se cruzaram.

Aos olhos dele, preocupados, ela lhe pareceu mais magra, mais pálida e mais frágil. Mas continuava sendo sua Vampira. Tudo o que queria era correr até ela, segurá-la nos braços e dizer que tudo estava bem, que ela estava salva e que ele a levaria para casa.

Tinha que se controlar.

Para ela, foi impossível não sorriu ao vê-lo diante de si.

Ele estava vivo. Estava bem.

Ainda se importava com ela.

Fora ele quem viera salvá-la, era por ela que estava de volta.

Remy nunca sentira-se tão feliz quanto no momento em que ela murmurou seu nome a sorrir lindamente.

Mas aquele célebre momento do reencontro de duas almas amantes acabou rápido demais.

–O quão tolo vocês acham que sou?

Usando a telecinese, Sinistro transpassou um bastão de metal pelo coração de Lamúria, que caiu com um baque surdo no chão, o sangue a escorrer-lhe do peito e a sombra de seu último sorriso ainda a alegrar-lhe os lábios.

Vampira gritou. Gambit olhava o corpo inerte de Lamúria aturdido.

Com uma mão empunhou o bastão. Com a outra, alcançou algumas cartas no bolso do casaco.

–Vampira, fuja!

Não houve tempo. Com um estalar de dedos, Vampira foi lançada contra uma parede.

Remy correu até ela, gritando seu nome. O coração ainda pulsava, mas ela havia desmaiado.

–Chega, Sinistro! - ele vociferou – Essa loucura já foi longe demais.

–Então você continua a fingir que se importa? Continua a fingir que a ama?

–Non sou o monstro que você quis que eu fosse. Você é o monstro aqui! – gritou, enquanto lançava cartas energizadas contra seu oponente.

Seus explosivos ricochetearam como se fossem bolhas de sabão.

–Pensa que é forte o suficiente para me deter? Os outros X-Men já tentaram e falharam. Logo eles serão apenas cobaias, objetos para se alcançar a perfeição. Já com você, LeBeau, não pretendo ser tão benevolente.

Sem desistir, Gambit investiu mais uma vez contra seu adversário, golpeando-o com seu bastão.

–Posso non ser forte o bastante, Sinistro. Mas um X-Men nunca está sozinho.

–Surpreso, meu caro? – perguntou Joseph, seguido pelos outros X-Men – Você realmente não deveria usar metal para prender meus amigos. Caso não se lembre, eu ainda sou o mestre do magnetismo.

Ciclope, Fênix, Tempestade, Míssil, Fera, Anjo, Wolverine, Psylocke, Joseph, Bishop e Homem de Gelo.

Todos juntos na luta de Gambit contra Sinistro.

Todos atacavam com força máxima, para detê-lo a qualquer custo.

Mas Remy, no fundo, sabia que de nada adiantaria.

Como se mata alguém imortal?

Com a cabeça ainda latejando por conta do impacto, Vampira abriu os olhos.

Um verdadeiro campo de batalha se estendia a sua frente.

Sinistro permanecia invulnerável aos ataques de seus colegas.

Viu Míssil ser jogado para longe e Psylocke ser imobilizada com apenas um gesto.

Tinha a horrível sensação de que se um milagre não viesse logo, todos morreriam.

Olhou para as próprias mãos a formigar.

Descobertas. Desprotegidas.

Armas em potencial.

Joseph logo agachou-se ao seu lado.

–Você está bem?

Vampira sorriu para o amigo.

–Preciso da sua ajuda, Joseph.

Gambit disparou novas cartas.

O desespero quase tomava conta dele. Sinistro parecia ser inatingível.

Era tarde demais quando ouviu o grito de Vampira.

–Joseph, agora!

Com um só movimento, o mutante controlador de metais prendeu Sinistro pelos braços e pernas através de ligas de ferro espalhadas pelo laboratório.

Assim que viu seu oponente imobilizado, Vampira correu até ele.

–Quando não se pode matar alguém, nós o desligamos.

Com as duas mãos nuas, segurou o rosto frio de seu inimigo.

Absorveria toda sua energia, até que ele ficasse vazio.

Talvez não aguentasse. Talvez morresse.

Mas era um sacrifício que valia a pena.

Por todos aqueles que amava.

Gritou. Tanta energia estava se tornando insuportável de guardar.

–Vampira, pare! – a voz de Remy era suplicante.

Joseph segurou o cajun pelo braço, impedindo-o de correr até ela.

–Deixe-a, Remy.

Ele assistiu com assombro os olhos verdes dela tornarem-se muito vermelhos e fundos.

Os olhos de Sinistro.

Com um último suspiro, Vampira soltou o rosto de seu adversário, caindo de joelhos no chão e depois tombando o corpo para frente.

Sinistro permanecia preso à parede pelas ligas metálicas de Joseph. Sua cabeça desceu para frente, como um robô sem bateria.

Antes que os outros tivessem tempo de agir, Remy correu até o corpo imóvel de Vampira, segurando-a nos braços.

Ela vivia. Ainda havia tempo.

–Não desista, mon amour. Eu não vou deixá-la partir. É uma promessa.

E assim, à beira da morte, Vampira sorriu.