O outro irmão. escrita por Wi Fi


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oie!
Acho que tudo o que eu queria falar, coloquei nos avisos. Enfim, espero que gostem, e boa leitura!



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Molly só queria uma noite normal.

Mas ela conhecia Sherlock Holmes. A palavra “normal” não era a melhor para descrevê-lo.

Eram dez horas da noite, e seu turno já estava acabando. Ela estava terminando algumas análises de DNA quando o silêncio mórbido do necrotério foi interrompido pela chegada de Sherlock Holmes, que abriu a porta com tanta força que a bateu na parede.

– Molly, preciso de você, agora – ele disse.

– Oh, olá também, Sherlock. O que foi agora?

– Temos um ferido.

– Bem, algum médico especializado pode fazer isso, e na verdade, se ele está aqui, já deve estar sendo tratado...

– Não, Molly. Mycroft não me deixou trazê-lo aqui.

A patologista entendeu imediatamente. Se Mycroft estava envolvido, o assunto era seríssimo, e o tal ferido era alguém, no mínimo, notável. Molly sentiu-se honrada por ter a confiança de Sherlock e Mycroft – não é sempre que os Holmes confiam em alguém.

– Onde devo ir? – Molly perguntou, finalmente, se sentindo orgulhosa.

– Um carro está à nossa espera do lado de fora do hospital. A vítima levou uma facada no ombro. Pegue o necessário e vamos logo. Sinto muito, mas nós teremos que ser vendados.

***

Molly não sabia dizer onde estava, pois assim que mãos misteriosas tiraram sua venda, ela se viu em um apartamento, e não havia nada em particular que a desse uma ideia de onde era. Afinal, há centenas de apartamentos em Londres.

A pessoa que tirou sua venda também tirou a de Sherlock. Era uma mulher jovem, vestida formalmente, toda de preto. Ela saiu do apartamento logo que deixou os dois ali.

O apartamento não era grande, talvez fosse um pouco menor que o número 221 da Baker Street. A pouca mobília que havia ali era escura e de aparência antiga. O papel de parede estampado estava rasgado em alguns pontos.

Molly logo notou que não estavam sozinhos no apartamento. Era possível ouvir duas vozes masculinas, vindas de algum lugar depois da porta da sala onde ela e Sherlock se encontravam.

– Já esteve aqui antes? – Molly perguntou, virando-se para Sherlock, procurando explicações.

– Sim. Foi daqui que saí, antes de te buscar no hospital. Me acompanhe, Molly, veremos seu paciente.

Ela seguiu o detetive. Atravessaram a sala escura, e Sherlock abriu a terceira porta que ali se encontrava – as outras duas estavam abertas. Uma levava a um banheiro e a outra à cozinha. Aquela terceira porta levava aos quartos, ligados por um corredor. As vozes estavam mais próximas agora, e Molly pode reconhecer, sem muita surpresa, a voz de Mycroft Holmes.

Sherlock parou em frente à primeira porta e a abriu, deixando que Molly entrasse primeiro, com sua mala de primeiros socorros.

No quarto estava de fato, Mycroft Holmes, sentado em uma cadeira baixa, ao lado de uma cama de casal, onde um rapaz, com um pouco menos de trinta anos, estava deitado, coberto por lençóis, e com o tronco nu. Sua cabeça estava coberta por bandagens, com manchas de sangue, sujando seu cabelo escuro. Ele também tinha um ferimento em um ombro, que deixava a cama e os lençóis muito vermelhos.

– ... eu sabia dos riscos, Mycroft, mas você me conhece bem o suficiente para entender que isso não iria me parar – dizia o homem, quando Molly entrou – Ah, olha só, minha médica. Bom gosto, Sherlock, pelo menos ela é bonitinha. Se fosse aquele seu colega, o militar, eu não estaria tão otimista...

– Sherrinford, cale a boca – Sherlock repreendeu, rispidamente – Molly, faça o necessário, mas se ele estiver sendo muito engraçadinho, pode deixá-lo assim mesmo.

– Muito obrigada, Srta. Hooper. Você é sempre uma aliança útil – Mycroft elogiou, se levantando da cadeira – Infelizmente, Watson está aproveitando sua vida de casado, e eu duvido que ele aceitaria ajudar este delinquente – ele indicou o homem na cama com o olhar, cheio de desprezo.

– Se Sherlock pedisse com jeitinho, tenho certeza que ele viria...mas foi isso que ele fez com você, não foi, senhorita Hooper?

Sherlock e Mycroft Holmes reviraram os olhos e bufaram, em sincronia, o que causou uma risadinha no rapaz da cama, mas que rapidamente cessou por causa da dor.

– Boa sorte – disse Mycroft, saindo do quarto.

– Não dê moral pra ele – instruiu Sherlock – E não hesite em nos chamar se Sherrinford te irritar.

– Quanta má fé! – Sherrinford exclamou, irônico.

O Holmes mais novo acompanhou seu irmão. Molly sentou-se na cadeira onde Mycroft antes estava e abriu sua maleta.

Molly começou seu trabalho, sem fazer perguntas. Tudo estava muito confuso em sua cabeça, mas ela havia aprendido que, às vezes, era melhor assim. De qualquer jeito, ela não confiaria em nenhuma informação vinda daquele homem. Confiava apenas em Sherlock.

Primeiro, avaliou a ferida. Limpou-a delicadamente, com um líquido que havia trazido na maleta. Não era a mais grave que havia visto; não era profunda, porém tinha uma certa extensão na vertical. Sherrinford soltou alguns gemidos enquanto Molly limpava, mas não parecia ser a primeira vez que ele passava por uma situação daquelas.

Enquanto fazia o curativo, Molly inconscientemente analisou Sherrinford. Era bonito, suas feições eram finas, os cabelos eram curtos, escuros e cacheados – e na ocasião, um pouco manchados de sangue.

Sherrinford notou o gesto da patologista e deu um sorrisinho debochado.

– Gosta do que vê, não? Meu irmão vai ficar com ciúmes.

Molly corou e soltou uma exclamação de surpresa ao mesmo tempo.

– Vocês são três? Três irmãos Holmes?

– Poxa vida, você é realmente inteligente – Sherrinford zombou – Sim, somos. Mas como pode ver, tomamos caminhos diferentes... Mycroft tem sede de poder, Sherlock se acha melhor que todos. Eu também sou assim, mas a diferença é que eu gosto de um pouquinho de diversão.

– Como levou uma facada? – perguntou Molly.

– Foi isso que Sherlock te disse? Tolinho, errou. Foi com uma navalha. Fui sequestrado e o cara queria me torturar, mas eu fui mais rápido e consegui sair, bem.... Quase ileso.

– Por que foi sequestrado?

– Quanta curiosidade, Srta. Hooper! Quer mais histórias para contar para seus gatos?

– Como você sabe que... – Molly começou, ainda tratando do ferimento – Ah, esquece. Já devia ter imaginado.

Ficaram em silêncio novamente, embora Molly tivesse certeza de que Sherrinford estava observando tudo sobre ela, e deduzindo toda sua vida, assim como Sherlock já havia feito, e Mycroft também.

***

Aproximadamente uma hora depois, Molly estava na sala do apartamento, com Sherrinford deitado em um sofá, com o ombro todo enfaixado. Mycroft estava sentado em uma poltrona, no centro do cômodo. Sherlock e Molly estavam de pé, próximos um do outro, como se quisessem manter distância dos outros dois homens.

– Sherrinford, você faz ideia do quão estúpidas suas ações foram? – Mycroft disse, irritado, mas mantendo controle da voz – Completamente irresponsável e imaturo,

– Lá vamos nós com o sermão de novo. Sim, eu sei o quanto fui idiota, mas eu sabia o que estava fazendo. E eu sabia que ia conseguir sair de lá, de um jeito ou de outro.

– Morto ou vivo, você quer dizer – murmurou Sherlock – Geovanni é um dos mafiosos mais loucos que existem. Ele nem é perigoso, só louco. E você vai diretamente para ele. E nós sabemos porquê.

– Eu te avisei. Se importar não é uma vantagem – Mycroft disse.

Sherrinford soltou um suspiro, que Molly não soube dizer se era de aborrecimento ou melancolia, talvez uma mistura dos dois.

– Mas vocês têm que admitir que a filha dele é muito bonita – respondeu o mais novo dos Holmes.

– Espera, você se engraçou com a filha de um mafioso? – Molly perguntou, olhando para Sherlock.

– Foi pior que isso. Eles fugiram juntos para a Sicília e ficamos sem notícias por três anos – ele respondeu – Sherrinford, há quanto tempo você não vê os nossos pais?

– Eu... Eu não sei.

A patologista sentiu um pouco de piedade por ele, mas lembrou-se que Sherrinford que tinha escolhido aquela vida. Ele não fora forçado.

– Espero que tenha aprendido uma lição com isso – Mycroft disse, severamente – Srta. Hooper, o que nos diz do estado de saúde do paciente?

– Consegui dar um jeito no sangramento – ela respondeu, prontamente – Mas não sei se vai durar. Recomendo que o levem para algum médico especializado nisso, para fechar o ferimento.

– Maravilha. Esses dois vão me deixar sangrar até a morte – resmungou Sherrinford.

– A culpa é sua – lembrou Mycroft – Muito obrigada, Srta. Hooper. E por favor, lembre-se que se você disser uma palavra sobre esse acontecimento para qualquer pessoa...

– Acordarei com provas de assassinato em meu apartamento. Não se preocupe, eu não esqueço disso tão facilmente – ela assegurou. Mycroft assentiu, em aprovação, e Sherlock pareceu achar graça.

– Mycroft, o Governo Britânico personificado... Servindo de babá para o irmãozinho. Obrigada por nos ajudar, Molly.

– D-de nada.

***

Molly e Sherlock foram levados de volta ao hospital, novamente vendados. Quando chegaram, já passava de meia-noite.

– Mais uma noite normal na vida de Sherlock Holmes, eu suponho – Molly disse, assim que o carro onde haviam sido levados sumiu de vista.

– Não é tão empolgante quanto você imagina.

– É porque para você é normal. Para nós, meros mortais, isso é incrível. Falando em meros mortais, você tem notícias de John?

– Na tal da lua de mel? Não muito, ele e Mary têm coisas melhores para fazer do que falar comigo – Sherlock respondeu, seco – Mas eu não preciso dele para sobreviver. Bem, não na maioria das vezes.

Molly não pode evitar sentir um pouco de ciúmes. John sempre seria o favorito de Sherlock, mesmo quando ela que ajudava. Mas ela não gostaria de ficar no lugar dele: nas vezes que Molly teve que ajudar Sherlock a resolver seus casos, se sentiu burra e inútil, diante toda a inteligência do detetive.

– Então, o que fazemos agora? – perguntou Molly.

– Que tal um café? Eu preciso de um pouco para refletir os fatos.

– Adoraria. Tem um restaurante adorável há alguns quarteirões daqui, eles fazem o melhor cappuccino que eu conheço.

– Como quiser.

Puseram-se a andar. Enquanto faziam aquilo, Molly voltou a refletir sobre os pensamentos que tivera um pouco antes, sobre como se sentia quando ia investigar com Sherlock. Inútil, incompetente, inferior.

Mas então, lembrou-se do que o detetive lhe havia dito, alguns meses antes, sobre seu esquema de fingir a própria morte. Moriarty havia cometido um erro. A pessoa que ele pensava ser menos importante era na verdade a mais importante.

E essa pessoa era ela.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Algum comentário, crítica, etc?



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