Mesmo Que Não Venha Mais Ninguém escrita por Leoh Ekko


Capítulo 18
Mais do que palavras


Notas iniciais do capítulo

Hey, folks! Cá estou eu novamente para mais um capítulo (é o penúltimo, tirando o pequeno epílogo que eu escrevi). Espero que gostem!



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A primeira coisa que chamou a tenção de Artie assim que ele passou pela porta do apartamento de Andrew foi o divã velho e charmoso no meio da sala, ele não sabia o porquê, mas sua mente projetou uma imagem de solidão diante daquela mobília. Seus olhos passearam pelas paredes nuas de decoração e pelos poucos móveis do lugar, depois caminhou até a grande janela e abriu. Ela dava para uma vista bela e feia, com o céu cinzento andares acima cortado pelos trilhos de um trem, que vinha deslizando pelo metal e fazendo um barulho ensurdecedor. O som despertou-o de seus devaneios, esteve pensando na última vez em que estivera parado diante de uma janela com Andrew trancando uma porta ás suas portas. Tanto e nada haviam mudado de lá, um muro havia se erguido entre os dois, e ele estava ali para usar suas palavras como marreta para derrubar tijolo por tijolo daquela distância.

— Deve ser difícil conseguir dormir com esse barulho todo.

— Na verdade não, eu estranho mais quando estou dormindo em algum lugar silencioso. E é bom porque ocupa minha mente e a impede de ficar pensando demais durante a noite.

Talvez fosse por ter ficado vários dias sem ouvir aquela voz, mas Artie tinha a sensação de que havia algo diferente nela. Absorveu cada palavra que saiu dela e caminhou até o divã e se sentou, mordia os lábios e passava as mãos pelo cabelo em sinal de nervosismo. Sabia que aquela era última chance de fazer o relacionamento deles dar certo.

— Você tem andado pensando demais?

— Sim, o tempo todo.

— Em que?

— Você, principalmente.

Artie engoliu em seco. Teve que usar todas as suas forças para sustentar o olhar profundo na sua frente, havia tanta mágoa, dúvida e algo mais doce ali, algo que ele não conseguia ler muito bem, como uma página com um texto de um idioma diferente. Ele gostava disso em Andrew, gostava de não saber o tempo todo como ele se sentia, aquilo lhe dava mais vontade de continuar perto dele e desvenda-lo pouco a pouco.

— Tenho pensado em tudo que eu queria te dizer e não conseguia — continuou Andrew. — Eu queria ter ido ver você, saber como você estava, só que ao mesmo tempo eu queria respeitar a sua vontade de ficar sozinho.

— Eu sei — respondeu. — E eu te agradeço por ter respeitado a minha vontade, muito obrigado, de verdade.

Andrew deu um sorriso fraco e perguntou se ele queria beber alguma coisa, e ele respondeu que uma água seria suficiente. Aproveitou o momento em que ficou sozinho na sala para repassar em sua mente o discurso que tinha improvisado no carro enquanto voltavam do cemitério.

— Eu achei que sua casa seria... diferente — falou depois que Andrew voltou para a sala.

— Diferente como?

— Imaginei que ela era cheia de desenhos nas paredes, até consegui visualizar um retrato meu bem ali.

Andrew riu.

— Eu não me importo o suficiente com esse lugar para pintar aqui, é só onde eu durmo durante as noites. Quando eu me mudei eu já sabia que aqui será apenas o lugar onde eu ficaria até que algo acontecesse.

— Algo?

— Sim, algo. Eu te falei aquele dia que sempre tive a vontade de pegar o meu carro e sumir por uns tempos, eu só nunca tive uma grande motivação... ainda.

Artie notou a mensagem nas entrelinhas naquela fala, e soube que era o momento certo para começar a falar o que queria.

— Sabe, aqueles dias sozinho realmente me ajudaram a enxergar melhor tudo que estava acontecendo. Foi como poder enxergar novamente depois de vários anos vivendo no escuro, eu descobri coisas que antes eram sempre acompanhadas de uma dúvida.

— Coisas? Que coisas?

Andrew deu depois pequenos passos para frente e puxou o ar com muita força. Aquela proximidade estava distraindo Artie, que parecia saber cada centímetro haviam entre seus corpos e o quão fácil seria ultrapassá-los para chegar até Andrew, mas antes disso algumas coisas precisavam serem ditas, por isso ele se levantou do divã e foi se escorar na parede mais distante. Se arrependeu disso no instante que viu a expressão magoada no rosto de Andrew. Quantas vezes mais você vai continuar quebrando o coração dele? Seu idiota.

Artie respirou fundo, e quebrou a represa que esteve segurando seus sentimentos e deixou que eles escorrerem para fora através de suas palavras.

— Eu descobri que eu te amo, Andrew. Todos aqueles dias em que fiquei sozinho eu ficava pensando em você o tempo todo, e me sentia péssimo por isso, afinal eu devia estar de luto pelos meus amigos e não ficar ligando para a minha vida amorosa. Mas a saudade de você era maior do que a minha tristeza por eles, pode ser egoísmo meu, mas eu não ligo. Sim, eu amo você. Eu não sei desde quando ou como aconteceu, mas é a verdade. Eu estive ignorando isso esse tempo todo porque sempre desconfiei das coisas que me faziam bem, porque no fim era elas que mais me machucavam, e este amor ainda vai me machucar um dia, mas eu prefiro viver com as cicatrizes dele do que com a ausência de algo que eu poderia ter vivido com você.

Andrew estava com os olhos arregalados e com a respiração impossivelmente ainda mais rápida. O peso que aquelas palavras tiraram assim que saíram de sua boca foi tão grande que Artie achou que iria desabar bem ali. Ele sentia-se leve e aliviado, como se pudesse começar a flutuar pelo céu a qualquer momento.

Eles permaneceram calados encarando um ao outro, e agora Artie não estava nada contente por não saber o que Andrew estava pensando, pelo menos a surpresa ele conseguia notar.

Talvez ele tivesse falado demais. Talvez não fosse o momento certo para dizer aquelas coisas. Talvez Andrew não sentisse o mesmo com ele e estava pensando em uma maneira de dizer isso. Talvez deveria ter continuado em casa, onde era mais seguro. Talvez ele devesse parar de pensar demais se não iria enlouquecer.

— Andrew... diz alguma coisa — sussurrou.

Andrew começou a caminhar em sua direção, muito lentamente. Quando se aproximou o suficiente, levou uma mão até o rosto de Artie e o tocou tão suavemente que chegava a doer. Os dois agora estava olho a olho, com as respirações próximas, mais perto do que estiveram há muito muito muito tempo. Tão, tão perto que Artie perdia a consciência de onde ser corpo terminava e onde começava o de Andrew. Ele respirou, mordeu o lábio, contou até dez, esperou, e esperou, até que Andrew finalmente falou:

— Esse é o problema, Artie — a voz dele saiu tão baixa, que mesmo estando tão perto foi difícil entender. — Eu nunca sei o que dizer. Mas talvez eu possa mostrar o que quero dizer de outras maneiras.

E então Andrew o beijou, bem de levem, como uma folha caindo sobre um lago. Porém, aquele roçar entre os seus lábios foi combustível o suficiente para fazer Artie explodir por dentro. Ele deslizou suas mãos para cima até elas se enroscarem no pescoço de Andrew para trazê-lo mais para baixo. O beijo ficou mais intenso e Artie perdeu o folego entre uma respiração e outro, seu coração se apertava em seu peito e lágrimas de felicidade ameaçavam fugir pelos seus olhos. Quando os dois se afastaram para respirar, Artie conseguiu enxergar algumas verdades escondidas nos olhos de Andrew, e naquele momento, ele soube que ele o amava também.

— E então, como nós ficamos daqui para a frente? — Perguntou Andrew.

— Eu não sei, eu não planejei um depois. Mas se for para sugerir algo específico, entrar no seu carro e fugir com você parece uma boa maneira de começar nosso depois.

Andrew sorriu.

— Isso não precisa ser o nosso começo, eu tenho uma sugestão melhor e mais imediata.

Artie sorriu de volta, seu rosto quase havia se esquecido de como agir diante daquele comando: sorrir. Mas agora era claro que os sorrisos se tornariam muito mais frequentes.

— É mesmo? E qual seria essa sugestão.

— Vem comigo.

Andrew pegou a sua mão e o levou até o quarto, que era tão ausente de decoração como o resto do apartamento, mas mesmo assim aquela cama parecia perfeita naquele instante. E foi justamente para ela que ele caminhou depois de tirar os sapatos. Ficou olhando com curiosidade Andrew revirar algumas fitas k7 velhas jogadas dentro de uma caixa até achar a que queria e colocar para tocar. Uns acordes suaves começaram a sair do toca fitas, Artie demorou reconhecer aquela música, mas depois que se lembrou de ter ouvido em uma das playlists que tocavam na rádio durante a madrugada — “More Than Words” – Extreme.

Saying ‘I love you’

Is not the words I want to hear from you

It's not that I want you

Not to say, but if you only knew

How easy it would be to show me how you feel

More than words is all you have to do to make it real

Then you wouldn't have to say that you love me

Cause I'd already know

What would you do if my heart was torn in two?

More than words to show you feel

That your love for me is real

What would you say if I took those words away?

Then you couldn't make things new

Just by saying I love you

A lera servia como uma luva para o momento em que se encontravam, e aquela conveniência toda o fez pensar que Andrew não havia escolhido aquela fita por acaso.

Andrew tirou a jaqueta e a camisa e jogou-as de lado, depois abriu o guarda-roupa e tirou um violão lá de dentro. Depois começou a dublar e fingir que estava tocando, sua expressão engraçada fez Artie se distrair de ficar encarando o abdômen dele e começar a rir. Andrew começou a andar ao redor da cama, fazendo movimentos exagerados que se sobrepunham ao ritmo da música.

— Eu senti saudade disso — disse ele, depois que a música acabou.

— Do quê?

— Da sua risada.

Eu também, mais do que achei que seria possível sentir.

Andrew subiu na cama e ficou de joelhos, puxando Artie pelo braço até ele estar na mesma posição. Depois eles se beijaram novamente, mais intensamente desta vez. Andrew pegou na barra da sua camisa e a puxou para cima até tirá-la. A ausência de toque por tanto tempo havia deixado e a pele de Artie mais sensível, então toda vez que as mãos de Andrew percorriam as suas costas ele sentia um arrepio. Ficaram naquela posição por um tempo e foram descendo aos poucos, até Artie estar deitado no colchão com Andrew em cima dele.

— Desta vez eu não vou perguntar se você tem certeza, pois eu não sei se seria capaz de parar agora — sussurrou Andrew, que depois começou a depositar pequenos beijos em seu pescoço.

— E eu não estou louco o bastante para pedir que você pare.

Do lado de fora, o céu cinza ficou preto e a lua minguante brilhou nele. E a cada nova estrela que aparecia era uma nova peça de rouba que caía ao redor da cama, até que o céu estava todo salpicado pelos distantes pontinhos dourados e tudo o que havia entre eles era uma infinidade de pele se tocando, e se abraçando e se reconhecendo. Artie percorreu o corpo de Andrew com as mãos e com a boca, buscando a dureza dos músculos e a maciez de sua pele. Amou cada centímetro, sentiu cada respiração profunda, cantou e ouviu cada gemido, os baixos e os altos.

Foi diferente da primeira vez. Foi mais intenso e mais sensível, eles se agarravam um ao outro como se quisessem ter a certeza de que não desapareciam entre um toque e outro. Artie era a chama de Andrew, e não pôde pedir para queimar devagar, porque ele queria aquecer aquela paixão até ela se transformar em cinzas e estar pronta para queimar novamente. Mordidas, arranhões, um chupão no pescoço, marcas que apareceriam amanhã para lembrá-lo do que estava vivenciando. Mas aquelas marcas seriam passageiras, sumiriam depois de algumas horas, apenas as marcas no seu coração iriam permanecer para sempre.

Por fim, seus corpos encontraram o êxtase e eles caíram lado a lado na cama, com os ombros suados se tocando e com as mãos dadas sobre o peito de Andrew. Levaram um tempo para conseguirem voltar a respirar no ritmo normal. Artie olhava para o teto, mas o que ele enxergava era o céu estrelado, desejou poder ver uma estrela cadente passando para ele pode desejar que o tempo parasse bem ali, e que ele pudesse continuar aproveitado a felicidade deitando naquela cama, sem que nada e nem ninguém mudasse o que ele estava sentindo.

— Artie?

— Sim?

— Eu te amo.

Artie sorriu e se virou de lado para olha-lo nos olhos.

— Eu não sei se acredito em você — brincou.

— Eu não me importo de você acredita ou não, é apenas um fato.

Artie riu e beijou-o de leve.

— Quando vamos partir?

— Eu não sei, quando você estiver pronto.

— Eu estou, eu iria agora se pudesse.

— Você não vai querer se despedir da sua mãe, faça isso e depois a gente vai.

— Tudo bem.

E foi assim, fácil. Quantas vezes Artie não ficara acordado durante a noite pensando do que faria da sua vida e ficando apavorado com a perspectiva de ter que encarar o futuro, e agora com apenas algumas frases em um breve diálogo e ele já sabia o que queria fazer. Ali, com a cabeça deitada em cima do peito de Andrew, ele conseguia enxergar seu futuro como se olhasse para uma fotografia, e ele estava muito, muito feliz com ele. Mais do que ele jamais achara ser possível.


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Notas finais do capítulo

( link para a música que citei no capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=UrIiLvg58SY) Beijos gente < 3 e até o próximo cap : )