Mesmo Que Não Venha Mais Ninguém escrita por Leoh Ekko


Capítulo 11
Palavras horríveis ditas tão docemente


Notas iniciais do capítulo

Amores, a Zoë Hausherr comentou que o ator Bertie Gilbert é muito parecido com o Artie, eu não o conhecia, mas fui pesquisar e agora concordo com ela < 3. Obrigado pelos comentários, e boa leitura.



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Os dois deslizaram em direção ao outro. Foi tranquilo e inevitável. A boca de Andrew tocou na de Artie bem de leve. Um mergulho, um toque com um sussurro. E depois veio a pausa. Havia um espaço entre eles de novo, um espaço bem pequeno, seus rostos muitos próximos.

Dois pares de olhos compartilhando um momento de intensidade e leveza.

As mãos de Artie que antes jaziam aos lados do seu corpo, subiram e se entrelaçaram no pescoço de Andrew. Suas pernas tremiam e ameaçavam ceder, mas as mãos que enlaçavam sua cintura o sustentavam.

Eles respiraram a respiração um do outro enquanto uma força irresistível aumentava entre os dois. E então o espaço desapareceu novamente, e tudo o que havia era o beijo.

Doce.

Suave.

Quente.

Trêmulo.

Forte.

Profundo.

Dizem que um beijo é um momento em que duas bocas se calam para ouvir a voz do coração. Para Artie, foi impossível ouvi-la, pois, seu coração gritava tão, tão alto que as palavras acabavam se tornando ecos incompreensíveis.

E então a doçura se transformou em alguma outra coisa, algo mais selvagem e violento. Prazer. Pulsação. Artie se perdeu na completude de Andrew: o gosto dele e a sensação contra seus lábios, a boca, depois o maxilar com a barba por fazer que lhe provocava deliciosas cócegas, o pescoço e a pele queimando. A realidade física de Andrew o impressionava e deliciava — músculos, calor, carne e coração batendo.

Eram tantas sensações diferentes e inéditas que faziam Artie temer explodir em um milhão de pedaços.

E de algum jeito as suas mãos desliaram para debaixo da camisa de Andrew e para cima, deliciando-se com a solidez do peito dele. Depois Artie se inclinou mais para trás, puxando Andrew para baixo com ele, sobre ele.

Aquela luz fluorescente dava ar quase cinematográfico ao momento. Era como se estivessem em uma daqueles videoclipes punks que vivia passando no Video Killed The Radio Star.

Mas então, tão rápido como vidro se quebrando. Andrew se afastou. Foi abrupto e inesperado. Artie perdeu seu apoio e deslizou pela porta até estrar sentado no chão, sem saber para onde fora a sua respiração.

Olhou para Andrew, que havia se virado de costas, com as mãos nos quadris. Ele também parecia estar tendo dificuldade para respirar. E depois de quase um minuto, ele virou-se para Artie novamente, que, ao analisar aquele olhar, soube que o que quer que tenha acontecido entre eles alguns momentos atrás, havia desvanecido como fumaça. Estava acabado.

— Desculpe — sussurrou Andrew. Ele parecia estar constrangido.

Artie ficou em silêncio, envergonhado pela força do que o havia tomado. Nunca sentira nada como aquilo. Seus beijos de antes agora pareciam uma pequena faísca perto daquela explosão nuclear. E ficou triste, ninguém fica alegre ao receber um pedido de desculpas após um beijo. Ainda mais um beijo como aquele.

— Não, fui eu que...

— Um beijo não é feito apenas por uma pessoa.

— Andrew, está tudo bem.

— Não, não está tudo bem — Andrew bufou e passou as mãos pelos cabelos — Artie, não está nada bem. Eu não queria que isto tivesse acontecido. Não quero que você se arrependa.

Artie só não revirou os olhos porque estava exausto demais para demonstrar qualquer reação.

— E por que diabos eu me arrependeria?

— Merda, não me faça parecer um clichê — resmungou Andrew — É que... eu não sou a pessoa certa para você.

— Que bobagem. Não existe isso de “pessoa certa”.

— Não, não é bobagem. Eu não quero causar problemas para você, e só isso que eu faço quando entro na vida das pessoas: causar problemas. — Ele se aproximou e se ajoelhou na frente de Artie. — Quanto maior a distância que você ficar de mim, melhor vai ser.

Artie não acreditava naquelas palavras horríveis ditas tão docemente, não depois daquele momento que haviam vivido. Aquilo que mostrou-se ser muito mais que um beijo não podia ser ignorado. Como fingir que não havia sentido aquilo? Ele não querer manter distância, seu desejo era que as paredes se fechassem maios ao redor dos dois para que nunca mais saíssem dali.

Ele estava apaixonado e não havia nada que Andrew pudesse fazer para impedir esse sentimento.

— Você faz isso com todo mundo? — Perguntou, sem conseguir esconder a amargura na voz — Os seduz e depois pula fora.

— Não. Com as outras pessoas é diferente... com elas eu posso sair apenas por uma noite e fica tudo bem, porque é isso que elas esperam que eu faça. Mas não você. Você quer mais e precisa de mais. Ou é isso que você quer? Quer ser apenas uma foda?

Artie negou com a cabeça e piscou para impedir uma lágrima de cair.

— Você mesmo disse agora pouco que um beijo não é feito apenas por uma pessoa, pois bem, eu me recuso a acreditar que senti aquilo tudo sozinho — as palavras saíram hesitantes e falhas. Artie não conseguia traduzir todos os seus sentimentos em palavras. Ele piscou novamente e se levantou. — Eu estou indo bora, mas vou com a consciência de que você sentiu aquilo também.

E então, sem dizer mais nada, ele se levantou e abriu a porta. Deixou a luz azul para trás e entrou na escuridão do corredor. O som daquela porta se fechando atrás dele soou com um coração se quebrando.

Caminhou até a recepção com passos lentos, na esperança tola de que Andrew o alcançasse ele ali. Mas isso não aconteceu.

Teve que aturar muito bem para lidar com uma Trace sorridente, que pareceu uma criança saltitante na ansiedade de ver a tatuagem dele. Artie não queria estragar o dia dela.

— Ficou linda — disse trace.

— Não é grande coisa, mas eu gostei.

Os dois se despediram de Lola e saíram do estúdio, discutindo para onde iriam em seguida. Acabaram decidindo irem jogar boliche. Por um lado, Artie ficou desanimado, pois o que ele desejava mesmo era ir para casa chorar. E por outro, achou que aquela seria uma distração bem-vinda. Então forçou-se a interromper o drama e aproveitar o momento.

Só que mesmo ele tentando disfarçar, Trace notou seus olhares distantes e seus silêncios cortantes.

— Tudo bem, Artie — disse ela pegando a mão dele e dando um aperto incentivador. — Pode começar a falar.

* * *

And all the roads we have to walk are winding
And all the lights that lead us there are blinding
There are many things that I would like to say to you
But I don't know how

Because maybe
You're gonna be the one that saves me
And after all
You're my wonderwall

Andrew desligou aquela música, que estava fazendo ele se sentir pior. Ele não era do tipo que chorava quando estava triste, ele ficava horas olhando para o nada, perdido na sua introspecção, tudo ao redor ficava borrado e sem graça, coberto pelo cinza.

Sentia-se arrependido por ter mandado Artie embora. Sabia que aquilo fora necessário, mas isso não diminuía a dor. Ainda podia sentir a presença dos lábios dele contra os seus, para lembra-lo do que ele estava abrindo mão.

E então, ele decidiu fazer o que sempre fazia quando estava em alguma fossa: foi até a recepção, pegou o telefone e ligou para Sarah.

Ela atendeu no segundo toque.

— Alô.

— Sou eu.

— Ah, o que você quer?

Como se precisasse perguntar.

— Você sabe do que preciso, me encontra no Rogers às oito. Tchau.


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Notas finais do capítulo

Por hoje é isso gente, até o próximo capítulo