Capítulo 1 – O despertar

Era uma floresta sombria, misteriosa, ocupada por uma névoa, que tornava impossível ver o que estava ao meu redor. As únicas coisas que conseguia ver eram as largas folhas da altas árvores da floresta e uma pequena trilha. Mesmo sem saber para onde ela levava, continuei andando, sem olhar para trás. Por mais que eu andasse, parecia que a trilha não acabava, eu passava várias vezes por um mesmo cenário. Após uma longa caminhada, notei que estava onde havia começado. Nesse momento, ouvi alguém chamar meu nome. Era uma voz doce, porém, ao mesmo tempo, sombria. Virei para trás e à princípio não vi ninguém, mas logo vi um vulto distante, que desapareceu logo após.

Voltei a andar, com objetivo de encontrar novamente aquilo que havia avistado. Cheguei a um campo parcialmente coberto pelo espesso nevoeiro, e avistei o vulto, só que dessa vez foi possível observar melhor. Era uma garota, vestida de preto, com o cabelo preso, colhendo flores e as colocando dentro de uma cesta que carregava. Por onde ela passava, a névoa se abria, como se estivesse dando espaço à ela. Acabei me distraindo, e quando percebi, ela havia sumido, e mais uma vez, escutei meu nome ser chamado. Mesmo sem ver nada devido ao nevoeiro, atravessei o campo, e, ao mesmo tempo que eu passava, as flores iam murchando e o ar ficava ainda mais sombrio.

Pelo que eu percebi, estava em uma fazenda, aparentemente abandonada. Não havia animais ou pessoas lá. Fui até o celeiro, para ver se havia alguém (ou pelo menos algo interessante) lá dentro. A porta estava trancada, então tive que entrar pelos fundos, por uma pequena janela que consegui alcançar. Não havia nada lá dentro, nem mesmo uma barata ou qualquer inseto. Destranquei a porta e saí. Fui até a casa da fazenda. A porta estava aberta, para a minha surpresa, porém todas as outras portas da parte debaixo estavam trancadas. Resolvi subir para a parte de cima, para checar se havia alguém lá. Após subir uns cinco ou seis degraus da escada que ficava perto da entrada da casa, senti a madeira da escada quebrar, e acabei caindo e perdendo minha consciência.

Acordei em uma cama, em um quarto estranho. Haviam buracos na parede que permitiam a entrada de pequenos feixes de luz. “Teriam sido aquela fazenda e a garota apenas partes de um sonho?”, me perguntei por um tempo. Abri a porta do quarto e saí. Me deparei com um longo corredor. Todas as portas estavam trancadas, com exceção da que estava no fim do corredor. Eu não fazia ideia de onde estava, parecia ser algum prédio antigo, talvez abandonado, mas com uma aparência de “novo”. Ao olhar por uma janela, percebi que estava em um lugar isolado, pois não havia nem sinal da cidade onde eu morava. Desci às escadas. No andar debaixo, o corredor que levava às outras salas estava muito escuro e havia um cheiro esquisito. Por sorte, ao lado das escadas havia uma porta com “zelador” escrito. Mexendo no pequeno armário, que estava muito escuro, porém não mais que o corredor, encontrei uma lanterna, um molho de chaves e, por incrível que pareça, um revólver calibre .38 totalmente carregado.

Usei a lanterna para me ajudar a andar pelos corredores daquele andar. O cheiro ainda me incomodava. Tentei descobrir de onde vinha aquele odor, e isso me levou a uma sala. O choque veio quando mirei a lanterna para as paredes e consequentemente para o chão, e percebi que estavam parcialmente cobertos de sangue. Senti uma forte vontade de vomitar, mas acabei me contendo. Por mais sangue que houvesse, não havia nenhum corpo lá. Eu já havia visto aquela cena antes, não sei como e não lembro onde, mas aquilo estava na minha mente. Foi uma forte sensação de Déjà vu. Eu estava passando mal, estava quase desmaiando. Todos os outros andares abaixo estavam assim, alguns até piores do que aquele. Finalmente, desci até a entrada do prédio. Estava toda bagunçada, as portas e as janelas estavam todas bloqueadas. Talvez estivessem tentando evitar que alguém (ou algo) entrasse.

Depois de remover as coisas que bloqueavam a porta de entrada, finalmente saí e pude ver como o prédio era por fora. Era um hotel, não muito alto, muito bem decorado do lado de fora. No topo, havia uma placa com o nome “Lextan Hotel”. Antes de sair, eu havia encontrado um mapa, que mostrava que o hotel estava localizado à uns 10 Quilômetros de distância da cidade. No estacionamento, havia um carro, com uma pintura vermelha, estacionado. Estava aberto, e a chave estava no porta-luvas. Dirigi somente até a entrada da cidade com ele, pois quando cheguei lá, ela estava bloqueada com barricadas e alguns veículos. Tive que continuar à pé. Esperava encontrar alguém que pudesse me explicar sobre aquela situação, mas pelo contrário, era como se não houvesse ninguém na cidade. Assim, parti à pé, caminhando por ruas desertas, em busca de respostas.