Chihiro to Sen no Kamikakushi escrita por Delvith


Capítulo 14
Não vou chorar


Notas iniciais do capítulo

Eu comecei a escrever esse capítulo junto com Sangue, mas nossa, foi difícil fazê-lo sair. Como sempre, eu sinto muito pelas demoras eternas, eu sei que é horrível e eu juro que eu não estou esquecendo da história... Só tem sido difícil escrever.
Tem algumas explicações de coisas da história nas notas finais (indicado com um *)

AVISO: sangue (não sei fazer avisos, desculpem)
Eu tentei deixar essa parte bem breve pra não incomodar ninguém ~ sangue é um assunto complicado ~



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A menina estava jogada em sua cama, com as costas apoiadas no colchão e as pernas na parede. Ficou daquele jeito por muito tempo, até que sentou na cama; e então deitou; e aí ficou de pé; sentou novamente. Simplesmente não conseguia parar quieta, tentando colocar os pensamentos em ordem. Depois de desperdiçar algumas horas olhando para diferentes vazios que encontrava em seu quarto, Sen chegou à conclusão de que não adiantava perder tempo pensando em coisas às quais não podia resolver, como era o caso de sua incapacidade de tornar-se invisível. Não conhecia encantamentos e não sabia como Sem Face ou a ponte funcionavam. Deste modo, começou a ponderar sobre questões mais concretas acerca do seu problema atual. O pouco tempo livre que ela possuía não podia ser desperdiçado andando em círculos.

A tarde parecia correr e congelar, a noção de tempo completamente perdida. A noite finalmente chegou, escura e gélida, banhada por uma luz fosca de um luar tímido. Colocou a agulha em seu braço e posicionou o saquinho de coleta no chão.

No mundo dos mortais, Chihiro aprendeu que a reposição do volume de plasma ocorre em 24 horas e a dos glóbulos vermelhos em 4 semanas depois de uma doação. Levam 12 semanas para o corpo de uma mulher repor o sangue perdido.

Sen não tinha 4 e muito menos 12 semanas. Estava no segundo dia e a urgência já a alarmava. E no quadro atual, por mais que seu jovem corpo não menstruasse, era necessário mais tempo para recuperação. Em uma conjuntura ideal, naquele estado, ela sequer possuiria idade suficiente para doar.

Decidiu que coletaria um pouco de manhã e um pouco à noite, não esgotando suas forças completamente. Também usava magia para multiplicar os saquinhos, mas não tinha certeza se o conteúdo podia ser realmente considerado sangue e ainda não tinha visto nenhuma evolução efetiva para tirar qualquer conclusão. De qualquer modo, acreditava que valia tentar. Não sabia qual seria o resultado final, mas era um dentre duas possibilidades: salvaria a magia ou a esgotaria de uma vez por todas. Para ambos os casos, aquele não era o momento de economizar encantamentos.

A garota realizava a coleta em seu quarto, como se fosse para doação. Era preciso muito cuidado e preocupação para cuidar bem do material de enfermagem que conseguiu roubar. Possuía poucas agulhas e seria problemático reutilizá-las.

Descobriu a situação de Yubaba, congelada naquela horrível estrutura de gelo, alguns dias antes. Demorou um pouco para decidir como procederia, quanto à retirada de sangue, realização das suas tarefas e maneiras de não ficar muito fraca. Não ajudava muito o fato de que, constantemente, caia em meio às lágrimas de desespero. Em vários momentos, perguntava-se se não havia outro jeito; já havia tentado água, chás e vários outros líquidos e nada parecia funcionar.

Com as mãos trêmulas, removeu a agulha e assepsiou o local. Na noite anterior, em sua primeira tentativa de retirar sangue, a garota desmaiou e acabou “perdendo” mais do que o esperado. Como era o primeiro dia, não teve noção de seus limites e acabou exagerando. Porém, tal erro não poderia se repetir, e a reposição precisava ser rápida, pois mesmo os seus 5 litros de sangue não seriam o suficiente para quebrar o feitiço. E mesmo se o fosse, era uma situação fisicamente impossível.

A palavra “cruel” ecoava em sua mente, como um cântico. Era tudo o que ela conseguia pensar em seus momentos de fraqueza.

Ela não tinha tempo a perder. Yubaba precisava ser liberta logo e elas precisavam... Precisavam o que? Sen nem sabia como procederiam. Como lutariam contra o Senhor? Como libertariam Haku e todos da Casa de Banhos? A garota trabalhava no imediatismo, remendando buracos e apagando incêndios; não tinha nada planejado para o que viesse depois-

Espantou esses pensamentos. Pensar demais em coisas que não podia resolver apenas a levava ao desespero. Então, pegou suas coisas e dirigiu-se à sala onde estava Yubaba. Sentia-se triste e impotente, mas toda vez que adentrava o recinto para depositar o sangue, forçava a compostura não chorava. O desgaste emocional já era demais sem ela gastando energia chorando aos pés da magia maligna de seu inimigo. Não se esgotaria dessa maneira. Choraria para si, mas nunca naquele lugar. Quando terminou de despejar o sangue, saiu do local às pressas.

Sen sabia que precisava urgentemente de uma nova estratégia. Não podia pedir ajuda à ninguém, mas seria incapaz de fazer tudo sozinha.

Tal situação fez com que, no terceiro dia, levantasse do desespero que agora era sua cama – usada para sessões de auto tortura psicológica por não saber o que fazer e tortura física com a retirada de sangue – aonde estava deitada após realizar todas as suas tarefas, e se dirigisse ao quarto de Haku.

A desesperança forçou-a a perguntar para seu Mestre como repor sangue com magia. Sabia que o efeito não seria grande na escala necessária; entretanto, qualquer adianto possível era essencial à missão.

A enfermidade ainda assolava o rapaz. Então quando perguntou, meio sem forças, o motivo daquele estranho questionamento, não foi difícil para ela contornar a situação. Afirmou ser um conhecimento para ser usado como garantia caso presenciasse algum tipo de acidente e fosse obrigada a fazer algo.

Normalmente, tal resposta teria sido pouco para Haku, mas ele a tomou como suficiente; fosse por estar cansado demais para discutir ou por não ter percebido o quão estranhamente repentino era o pedido de sua aprendiz.

De qualquer maneira, Haku ensinou os dois encantamentos que a menina se veria recitando algumas vezes ao longo do dia, um para os rins e um para o sangue em si*:

 

Pelo oxigênio que falta em minhas veias,

Pelo sangue que circula em mim,

Eritropoietina, lance-se!

 

Ó sangue, circulas pelas veias e artérias

Pelo seu plasma, plaquetas e glóbulos,

Pelos gases que carregas,

Pelo ferro que possuis,

Reponha-se!

 

Depois de falar com Haku, retornou ao seu quarto para mais uma sessão. Tendo coletado tudo o que aguentava, a menina retirou a agulha, guardou tudo e esperou alguns minutos para recompor-se. Por conta de tal provação, roubou um estoque de comida das cozinhas da Casa de Banhos, tendo consciência de que precisaria se alimentar regularmente para manter a energia. Naquele momento, consumia um pacote de bolachas.

Sentiu, aos poucos, o calor recomeçando a tomar seu corpo, circulação melhorando. Sen fugiu de seus aposentos e seguiu furtivamente até o local onde Yubaba estava. A melhor estratégia, acreditava, seria libertar primeiramente a cabeça da bruxa: assim, se a mulher acordasse, poderia lhe dar algum auxílio. Usando uma escada para alcançar, jogava todo o conteúdo no topo do cristal e recitava alguns encantamentos de força e quebra-maldição que Haku havia lhe ensinado.

Enquanto o último saquinho esvaziava, refletia sobre como aquela era, realmente, sua única chance. O tanto de encantamentos que precisava recitar com todo esse processo estava esgotando a magia mais rapidamente do que previra: já sentia certa dificuldade para realizar alguns, às vezes precisando repeti-los. Nas suas tarefas cotidianas, já se via obrigada a realizar tudo manualmente.

As gotas finais caiam no topo do gelo e o ritual estava finalmente terminado. Pingando de suor, Sen deitou-se por alguns minutos, recuperando o fôlego. Mais um dia estava completo.

Antes de sair da sala, Sen observou o topo da estrutura brilhante. Sua ponta já estava extinta, o imenso coque feito no cabelo de Yubaba mostrava-se livre, e algum trecho de cabelo além disso. Porém, a ponta superior era a parte de menor diâmetro; se precisasse quebrar toda aquela magia, não aguentaria até o final.

Mergulhada por uma infelicidade profunda, lágrimas voltaram a cair e Sen correu para longe daquele lugar, tentando com todas as forças cumprir a promessa que fez a si mesma de não chorar ali.

Pequenos pontos brilhantes correram no sentido oposto ao que a menina corria, atraídos para a estrutura cristalina.


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Notas finais do capítulo

Eu dei uma pesquisada sobre doações, retirada de sangue, tempo de reposição e essas coisas pra tentar fazer uma coisa ""realista"" nesse capítulo.
Eu vou ser muito sincera, eu tinha montado um textinho explicando tudo, mas aparentemente eu apaguei em algum momento ao longo dos meses que eu fui e vim mexendo nesse capítulo.
Então eu vou explicar mais a parte da Eritropoietina que aparece no encantamento. O resto eu tentei deixar bonitinho durante o capítulo mesmo
A eritropoietina é o hormônio responsável pela eritropoiese, que é a produção de células vermelhas do sangue. É secretada essencialmente pelo córtex renal e também no fígado (mas no capítulo só falei do rim). A produção é estimulada pela baixa de oxigênio nas artérias renais, e a eritropoietina é utilizada no tratamento de anemia
Com a perda de sangue, os tecidos ficam com carência de oxigênio, precisando de mais. Essa carência causa a secreção de eritropoietina. Aí ela estimula células relacionadas aos glóbulos vermelhos, aumentando a produção

(na época eu tinha achado umas informações ótimas, mas agora não tá aparecendo nada além da Wikipedia?? e além disso eu sou confusa pra explicar. Me desculpem, qualquer erro me avisem) (e dúvidas eu tentarei tirar, mas eu não sei nada de biologia apeokawopek)



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