Chihiro to Sen no Kamikakushi escrita por Delvith


Capítulo 13
Sangue


Notas iniciais do capítulo

Todos os meus capítulos começam com um pedido de desculpas. Mas geralmente eu seguia em frente com mais força pois tinho consciência de que, apesar da demora, eu não vou desistir da fanfic.
Mas não foi assim esse ano. Eu estou passando por uma fase realmente difícil com escrita. Eu sempre amei escrever e isso foi tudo pra mim. Era meu sonho. Mas, atualmente, eu simplesmente não tenho tido vontade ou força pra manter qualquer vontade. Isso já vem acontecendo há muito tempo, na verdade, mas agora está mais forte.
Sinceramente, eu comecei a escrever este capítulo e o próximo pouco depois de postar Gelo e Cristal. Mas simplesmente não rendia.
Eu sinto muito. Eu juro que vou tentar meu máximo. Eu não quero desistir dessa história.
Eu também preciso explicar que não haver algumas coisas relacionadas à sangue neste e no próximo capítulo. Eu não coloquei antes nas tags pois não sabia que faria isso, pensei nisso escrevendo Gelo e Cristal. Sinto muito aos sensíveis, eu tentei deixar o mais brando que consegui.



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A força que Sen utilizou ao morder a língua foi tanta que, por um instante, a menina acho que ia arrancá-la. Sentiu o gosto de ferro inundando sua boca e escorrendo lentamente pelos seu lábio inferior, mas não soltou a trava imaginária que prendia seu maxilar. O sangue agora corria até seu queixo, pingando sem escrúpulos no chão, caindo livremente como se fosse a mais pura água.

A menina levou alguns segundos para perceber que seu grito de espanto havia saído sem som. Então, para garantir a permanência do silêncio, mutilava-se, a dor acabando com qualquer chance de ser descoberta ali. Não confiava em si mesma para manter aquele frio, mortal e assustador silêncio; sua vontade era de correr mas suas pernas estavam bambas; sentiu a pressão cair e o sangue correndo em suas veias ficar gelado, contrastando de forma incômoda com a pele quente.

A feição da bruxa era assustada, medo e horror estampados em seus olhos, uma das mãos à frente e a outra agarrada ao seu peito. Jamais esperaria encontra-la assim, ainda mais depois de tantos meses.

Para a menina, vê-la daquele jeito, naquele lugar, naquela pose e configurada naquela expressão era devastador. A imagem composta diante dela era a confirmação de um medo latente, o qual evitou completamente pensar sobre, para não precisar enfrentá-lo até este tornar-se impossível de ignorar. Depois de tantos anos, já não esperava mais o dia que encontraria qualquer princípio de resposta, mas o momento finalmente chegou. Não havia uma parcela de dúvida sequer: os sonhos que teve desde que partiu da Casa de Banhos pela primeira vez eram reais.

No princípio, a garota não conseguia se lembrar do que sonhava. Acordava incomodada, assustada ou nervosa, sem jamais saber o porquê. Com o passar do tempo, porém, começou a acordar pensando em pequenos detalhes, imagens borradas, sons, luzes. Aos poucos, começou a ver Kohaku e Yubaba, entretanto, acreditava estar sendo afetada pela saudade. Os sonhos estranhos se misturavam com lembranças e a menina já não sabia mais definir qual era a diferença.

A primeira vez que viu, verdadeira e completamente, uma cena acontecer, foi o sonho que tivera alguns meses antes, o sonho que a instigou a lutar mais uma vez, a procurar seus amigos novamente. Kohaku enfrentando Yubaba, informando à bruxa que deveria cumprir o trato e libertá-lo. O acontecimento se deu, provavelmente, pouco depois da partida de Chihiro; a garota, por outro lado, só adquiriu tal informação anos depois.

Eram as lembranças de alguém, ou talvez gravações mágicas; seja lá o que fossem, por algum motivo apareciam para ela; e era assustadoramente fiel à realidade, como pôde finalmente constatar – a expressão marcada no rosto de Yubaba era a mesma de quando a mulher gritara com um ser invisível ao final de seu último sonho.

Sen deu leves e desconfiados passos em direção à estátua de gelo. Na realidade, não era bem uma estátua, considerando que o corpo de Yubaba não parecia esculpido em gelo. Quase como uma câmara condensada, dentro de si, o gelo mantinha a bruxa. A garota ergueu a mão e a posicionou na estrutura glacial, como se fosse coloca-la junto à mão da velha. Lembrou de todos os momentos e lembranças ruins acerca de Yubaba, sobre seus pais, sobre Haku, sobre o filho da bruxa. Aquela mulher fez mal a muitas pessoas e mesmo assim Sen era incapaz de desejar-lhe coisas ruins. Sentia pena e uma tristeza enorme, vendo-a daquela maneira, possivelmente há anos vivendo acolhida apenas por uma grossa e fria camada de gelo.

A jovem não pôde deixar de pensar em como sua alma deveria estar gelada.

Aos poucos, foi retomando a calma. Ajoelhou-se frente à grande peça cristalina e começou a vasculhar sua memória em busca de encantamentos. O que poderia derreter um gelo mágico supostamente eterno? Sua vontade era ficar sentada ali até a inspiração vir, mas tinha consciência do quão ruim isso seria. Logo procurariam por ela e ninguém jamais poderia saber de sua descoberta. Acabaria com todas as chances dela, a única esperança de Haku e de toda a magia.

Um lampejo chamou sua atenção, e o olhar da menina capturou o chão a seus pés. Pequenas luzes brilhavam e eram atraídas para o gelo. A extremidade da estrutura em contato com o chão era envolvida pelas luzes e a cor mudava, como se o cristal se tornasse cada vez menos cristal.

Atônita, suas pernas, que mal haviam recuperado a estabilidade, bambearam. As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Sen. A menina sorriu ironicamente.

Um destino árduo estava à sua frente. – “Que cruel...”

Os pequenos pontos de luzes brilhantes eram, na verdade, o sangue que havia escorrido dos lábios de Sen quando a garota se mordeu. Parada ali, apenas observando, a garota tomou total ciência do que estava acontecendo, mas era tão absurdo que não parecia ser possível.

A única maneira de destruir a magia de gelo e cristal era com sangue.

De repente, o ar se tornou difícil de respirar. A calma irônica que apossou Sen dissipou-se tão rápido quanto surgiu, e a garota caía em desespero. Sendo incapaz de permanecer naquele lugar por mais tempo, girou em seu próprio eixo e partiu, deixando para trás a cena, a bruxa congelada, seu sangue destruindo parte da estrutura. Saiu da sala com falsa frieza, passada e lentamente. Porém, quando fechou a porta atrás de si, foi incapaz de se manter. A sua própria estrutura ruiu, assim como aquele pedacinho de gelo e cristal que teve contato com seu sangue. E então a menina correu. Correu como tem feito mais vezes do que deveria desde que chegara naquele lugar. Seus olhos estavam cegos pelas lágrimas, estas grandes e embaçantes demais para que a garota tivesse qualquer visão do que estava à sua frente. Correu pelos degraus descompassadamente, sem saber muito bem onde estava indo. Caiu, tropeçou e rolou alguns degraus abaixo algumas vezes. Era uma corrida desenfreada e desesperada como jamais teria acontecido antes naquela Casa de Banhos.

De volta ao seu quarto, era uma confusão de achar que não haviam mais lágrimas para cair e, de repente, seu corpo mostrar que ainda havia muito a se chorar e as malditas brotarem novamente em seus olhos. Muitos viram o estado da menina em seu caminho de volta, mas ninguém se dignou a perguntar. Naquele lugar, somente Haku teria qualquer interesse em saber o que houve, porém, o jovem encontrava-se doente em seu próprio quarto. Sen queria checa-lo antes de se jogar, exausta, em sua cama. Mas, em meio ao seu desespero, parada do lado de fora do quarto do rapaz, ela não foi capaz de encontrar forças para se reerguer. Não podia entrar naquele jeito. Seu estado, com tanta energia negativa, pioraria o de Haku. Sem contar com o fato de que, se tivesse melhorado um pouco, ele veria a situação da menina e isto era algo que ela não podia permitir – não por algo como orgulho, mas porque não queria ver a expressão de preocupação que o jovem esboçaria. Com ele enfermo, Sen não podia permitir que nada além da própria recuperação ocupasse a mente de Haku. Portanto, a visita ficaria para depois.

Agora, a menina encontrava-se deitada, com o pulso sobre os olhos. As lágrimas não paravam de escorrer. “Não tem outro jeito...? a mente de Sen enchia de perguntas retóricas, amargurada demais para pensar em soluções.

Cristal e gelo envolviam todo o corpo de Yubaba e uma área de pelo menos uns 30 centímetros além do corpo dela. A mulher, considerando seu volumoso cabelo com coque alto, deveria medir aproximadamente 1,82m; a área corporal da bruxa deveria ser enorme. Seriam muitos metros quadrados de gelo.

Sen olhou para si, fingindo que analisava algo sobre o seu corpo franzino. Não era boa com matemática para calcular litros de sangue por metros quadrados ou qualquer que fosse a matemática que seria necessária nessa situação. Então só se olhou, questionando se seu sangue seria o suficiente. Talvez, em sua forma adulta, a situação fosse melhor – tornou-se uma pessoa mais atlética, ganhou massa muscular e altura – porém, com dez anos, era uma criança pequena e frágil. Não sabia se a quantidade de sangue aumentaria consideravelmente, mas tinha certeza que sua resistência à perda, sim. Na atual conjuntura, não aguentaria muito tempo antes desmaiar.

Por mais que tentasse pensar, refletir, montar um plano, não sabia como faria. Sua mente estava em branco. Apenas um dia não seria o suficiente, precisaria “doar sangue” continuamente. Sua pressão cairia e seria incapaz de fazer as tarefas se utilizasse uma quantidade muito grande de uma vez, mas não havia tempo para quebrar a magia aos poucos. Além disso, cruel como é, Sen não se surpreenderia se o efeito do sangue invertesse depois de muito tempo – fortaleceria a magia ao invés de enfraquece-la. Deste modo, seria necessária uma grande quantidade de sangue de uma vez ou o feitiço não sofreria danos.

Qualquer que fosse o bom deus responsável pela doença de Haku, Sen estava agradecida. A enfermidade não era algo a ser comemorado, mas, vendo o quadro em que se encontrava, era algo necessário. O plano inicial de Sen de tentar subir de posição na Casa de Banhos estava cancelado – com mais importância administrativa, teria mais tarefas, situação que não poderia enfrentar no momento. Se Haku não tivesse adoecido, tudo teria seguido como o planejado quando, agora, a menina precisava exatamente do contrário, reduzir ou se abster de suas atividades. Como ficaria cada vez mais fraca, em breve, veria a si mesma enferma, e não poderia sair de seu quarto. Haku assumiria suas funções e a checaria de tempos em tempos.

Pensada essa parte, era necessário elaborar uma forma de chegar despercebida à sala onde Yubaba estava. O que a menina precisava, então, era teletransportar-se ou ficar invisível, além de monitorar Kohaku para não ocorrerem desencontros.

A sólida impossibilidade de teletransporte através de mágica já era conhecimento adquirido de suas aulas – algo deveras engraçado para garota, ao pensar nas inovações tecnológicas de seu mundo e as chances de realização de tal proeza futuramente, mas esta sendo absolutamente impossível em um mundo onde tudo deveria ser viável. De qualquer maneira, sendo assim, invisibilidade era a única opção.

Em sua mente, formava-se uma ideia. Lembrou da ponte e como prender a respiração a deixava invisível às pessoas. Porém, logo descartou esse fragmento de ideia, já que na ponte a garota humana não ficava “invisível”; era algo mais próximo de “despercebida”. Sem o seu cheiro, os seres ao seu redor simplesmente não prestavam atenção nela e não notavam sua presença.

Mas a ponte trouxe uma outra lembrança: Sem Face. O deus ambicioso sem rosto era capaz de desaparecer. Dez anos atrás, ele foi capaz de entrar na casa de banhos sem qualquer tipo de problema, todos completamente ignorantes quanto à sua presença.

Seria ela capaz de fazer o mesmo que um deus?


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Notas finais do capítulo

Novamente, eu sinto muito pela demora. Sei o quanto é difícil esperar tanto por atualizações. Mas informo que a fanfic não está muito longe do fim. Meu planejamento inicial era de 12 capítulos, resolvi estender um pouco, mas não deverá passar de 20.
Eu espero que continuem gostando e acompanhando



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