Lembranças escrita por mlna


Capítulo 16
Capítulo 15 - Parte II


Notas iniciais do capítulo

fjklsdjkljlksdjsl Oieee, voltei! Desculpem mesmo a demora pra atualizar, mas estou louca com os preparativos da viagem. Não durmo há dias e tropeço nas olheiras. Mas não esqueci de vocês ♥ Obrigada, sempre, pelos comentários lindos!
Decidi, enfim, fazer uma segunda parte do capítulo.
Espero que amem :}

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Aquelas palavras da delegada me preencheram rapidamente, acalorando-me por dentro e me deixando com a inédita sensação de que, dessa vez, as coisas dariam certo para mim. Ela se levantou e fez um gesto para que eu a acompanhasse. Enquanto andávamos, senti sua mão repousar em minhas costas inferiores. Esquisito. Mas reconfortante. Chegando ao saguão, ela tomou outro caminho e foi até a sala de Graham, o delegado que me recebera primeiro. Eu continuei seguindo em frente e logo pude avistar Emma sentada na sala de espera, com os cotovelos nas pernas e a cabeça entre as mãos. Parecia que estava no IML esperando meu corpo ser liberado, cruzes! Aproximei-me com cautela e chamei-a.

— Emma? Emma, me desculpe, eu-

— Regina! - Ela saltou de seu assento e seus olhos estavam esbugalhados. - O que deu em você? Você sai de casa antes do sol aparecer, não avisa nada e deixa uma mísera mensagem que nem dizia onde você estava! - Sua voz não era autoritária, não, muito longe disso. Era a voz de quem estava legitimamente preocupada comigo. A prova disso foi que, logo após seu sermão, ela me puxou para um abraço apertado. - Nunca mais faça isso, Gina. Eu não posso te perder, está me entendendo? - Ela sussurrou suavemente em meu ouvido e todo o meu corpo se arrepiou com aquela proximidade.

— Desculpe, Emma. Eu não poderia incluir você nisso. É minha batalha. Você já fez tanta coisa por mim que seria cruel te fazer de escudo nessa empreitada também. - Tentei me explicar, sem nunca deixar seu abraço, deitando a cabeça em seu ombro. Emma era confortável como o enrolar de um edredom numa tarde fria.

— Você se escuta quando fala? Não é possível! – Ela, para meu desgosto, quebrou nosso afago e respondeu gargalhando. - É claro que você tem que me incluir nisso! Quando é que vai entrar nessa cabecinha dura que eu estou aqui por você? Eu vou te ajudar em tudo o que você precisar, desde um abraço até esconder um cadáver. - Já não me surpreendia mais o fato de Emma Swan me fazer rir nos momentos mais adversos. - Sério, agora. Deixe-me ajudar você a passar por isso. Você está morando na minha casa, por Deus! Querendo ou não, Regina, você é parte da minha vida, e eu quero ser parte da sua.

Há muito tempo não sentia nossos olhares com tanta profundidade quanto naquele momento. Mais alguns segundos e eu seria capaz de encontrar sereias no fundo de seus oceanos. Mas não foi possível, já que Bell, analisando alguns papeis, sem sequer fazer contato visual, nos interrompeu.

— Senhorita Mills, falei com o delegado e-

— Rose? - Emma chamou.

— Sim? - A delegada, que agora eu sabia que atendia pelo nome de Rose, desviou a atenção dos papeis para encontrar a voz que a invocara. - Emma? Achei que nunca mais fosse te ver… - Ela abaixou a cabeça e até eu, distante, pude sentir suas bochechas queimando. Agora eu sabia o porquê daquele sorrisinho que Bell havia dado quando mencionei o nome de Emma em sua sala. - O que v-você faz aqui? - O tremor em sua voz entregava seu nervosismo.

— É… desculpe, Rose, sei que prometi ligar mas a vida tem sido difícil. - Um silêncio sepulcral se estabeleceu e aquilo me incomodou de uma maneira que eu nunca soube explicar. Limpando a garganta, Emma continuou. - Ahn…nossa, que falta de educação a minha, ahn, Regina, Rose, Rose, Regina. - Ela apontou para nós numa estranha tentativa de nos apresentar uma a outra.

— Nós já nos conhecemos. - Reagi, rispidamente, sem sorrisos, sem floreamentos. Eu tinha isso, também. Se algo não me agradava, todo meu sistema fazia questão de transparecer minha insatisfação ao mundo. Limpando minha garganta, até porque Bell era uma autoridade, tentei me corrigir. - Bell está responsável pelo meu… caso. Por falar nisso, alguma novidade, delegada? - Desviei do assunto. Não conseguiria ficar ali muito tempo vendo as duas trocarem sorrisinhos e afins.

— Sim! Levarão seu caso adiante, mas primeiro, Regina, tenho que terminar a parte burocrática Você sabe, reunir o resultado do exame de corpo de delito, mais o seu depoimento e essas coisas. - Ela explicou amistosamente, também varrendo o assunto que poderia surgir para debaixo do tapete. Muito mais discreta do que eu, claro.

— Tudo bem. - Respondi em meio a um suspiro. Algo em mim havia mudado depois do contato entre Emma e Rose. Eu sabia bem o porquê, mas não poderia admitir que realmente estivesse acontecendo.

— Aguardem aqui na sala de espera. Emma, foi bom te ver novamente. Já vou indo, preciso atender todas essas pessoas. - Ela se aproximou de Emma e disse algo em seu ouvido. Pude sentir um calor se estabelecendo na ponta das minhas orelhas e um formigamento passar pelo meu corpo. Qual é mesmo o nome disso? Ah… ciúmes. - Até logo, Regina. Vai ficar tudo bem. - A delegada declarou com um lídimo sorriso no rosto, tomando suas mãos nas minhas. Seu olhar se cravou no meu, procurando arrancar algo de mim. Aquele calor foi se dissipando e eu não estava entendendo mais nada. Pude apenas corar, dessa vez não de raiva, e assentir.

Bell foi se distanciando de nós com seus quadris que iam e vinham, num balanço hipnótico. A mulher até de costas era atraente. Não culparia à Emma se ela tivesse uma queda por ela. Ela era tão loira quanto, de olhos tão verdes quanto. Era uma versão mais baixa de Emma Swan, quase que uma irmã mais nova. É, não faria sentido ela se apaixonar por uma mulher que era seu reflexo no espelho. O que faria muito sentido, entretanto, seria ela se apaixonar por alguém que fosse seu avesso. Que ela pudesse aprender com esse alguém a ser um pouco do avesso, um pouco amarrotada, um pouco furada. Mas não aconteceria.

Aquela sala havia se inundado de gente. Mulheres de toda beleza com a qual o universo pode presentear, cobertas por uma capa de vergonha e humilhação. Acredito que mulheres são parte da natureza, e que alguns homens cismam em devasta-las. Ali eu via apenas galhos quebrados, secos, daninhos. Não porque quiseram se desprender da vida ou porque sua hora havia chegado, mas porque alguém os arrancou dali. Eu era um daqueles galhos e poderia compreendê-las mais que a mim. Porém, com sorte, eu viraria reflorestamento. E muitas daquelas mulheres ali, simplesmente, virariam lenha. A imagem de pessoas sendo queimadas, agonizando em sua própria impotência diante de uma agressão, fez meu coração doer e se afundar em mágoa.

Sendo trazida de volta à realidade por um estalo dos dedos de Emma na frente do meu rosto, eu pisquei consecutivamente.

— Oi? Perdi alguma coisa? - Perguntei, olhando ao meu redor.

— Não… eu só perguntei se você estava com dor. Você está? - Seus olhos analisavam os cortes e os hematomas em meu rosto. Não estavam mais tão ruins, mas ainda eram bastante aparentes.

— Estou bem, Emma. Obrigada. - Não fiz contato visual com ela. Eu sei que talvez fosse cruel eu fazer birra de ciúme naquelas circunstâncias, e Emma não merecia aquilo nem um pouco. Ela sempre esteve ali por mim. E ela não me devia satisfações de nada.

— Tem certeza de que está bem? - Ela segurou minha mão e seu olhar procurava pelo meu, que estava vagando pela sala de espera. Eu teria que decidir se continuaria naquela posição infantil ou não.

— Tenho sim. Só estou um pouco cansada e preocupada. - Ainda não havia olhado para ela. Minha atenção se voltara para o chão. - Obrigada por vir. - Sussurrei.

— Pela milésima vez, não precisa agradecer. É minha função como sua melhor amiga. - Ela levemente apertou minha mão.

Será que era mesmo? Ao indagar-me, decidi que era hora de me jogar naquela imensidão oceânica. Eles estavam calmos, mas curiosos. Como marolas que anseiam ter crista mas a temem. Era exatamente isso que eu via nos olhos de Emma Swan naquele momento. Ela sabia que era algo, que era alguém importante. Mas algo em seu olhar denunciava um certo receio de ser mais, ou menos, do que ela desejava. Era estranho poder decifrar tantos sentimentos não ditos em apenas um mar, mas com Emma eu conseguia, e parecia tão certo. Estava contido em seu olhar o medo de ser apenas minha melhor amiga, e o medo de ser mais do que isso. Talvez fosse eu sentindo todas aquelas coisas e seus cristalinos olhos apenas me refletiam. Então, antes que meu corpo fosse rápido o suficiente para denunciar essa dúvida, perguntei:

— De onde você e Bell se conhecem? – Fui direta, apesar de meu tom ameno ter conseguido disfarçar uma ponta de
irritação.

— Finalmente! – Foi tudo o que ela respondeu, levantando as mãos ao céu em agradecimento.

— Oi?

— Achei que você nunca fosse se incomodar com o fato de eu já conhecer a delegada. Achei que você nunca fosse internalizar e remoer, como você sempre faz, o meu comentário sobre nunca ter ligado de volta. – Havia divertimento em sua voz e eu não conseguia acreditar que ela pudesse ser tão pueril. Abandonando esse comentário e a catarse que ele me provocou, tentei continuar.

— Então... vai me dizer ou não? Eu sei que você não me deve satisfações do que faz da vida, de quem conhece ou com quem sai, mas é que me preocupo com-

— Está tudo bem, Gina. – Ela envolveu seu braço em minhas costas, apoiando-o na cadeira da sala de espera. – Eu e Rose nos conhecemos num bar, no dia em que você foi ao hospital. Quando saí daquele quarto, devastada com o que eu havia acabado de descobrir, eu estava perdida. Ao contrário do que você pensa e do que eu deixei transparecer, eu não estava nada bem com aquilo. Não pelo nosso relacionamento ter acabado, porque aquela parte de nosso tempo juntas ter se esgotado era verdade, mas por eu ter feito tanta coisa por ela, senti que perdi anos preciosos me apegando a alguém que não valia tanto a pena assim. Afogando-me naqueles sentimentos, fui me afogar ainda mais no bar mais próximo que encontrei. Eu pensei em te ligar para conversarmos, mas, porra, já era tão tarde e você já havia feito tanta coisa por mim! E então foi isso. Rose estava sentada na banqueta ao meu lado e foi com ela mesmo que eu desabafei assim que ela me deu corda. Tivemos um papo agradável e até um pouco reconfortante. Ela é uma pessoa muito experiente e esperta. Descobrimos que temos alguma coisa em comum e isso foi o suficiente para trocarmos números de telefone e eu ter lhe dado boa noite com a promessa de que eu ligaria. Mas... bem, eu não liguei. – Ela encolheu os ombros e parecia que era essa a história. Eu, entretanto, queria saber mais. Como sempre.

— Por quê não? – Franzi as sobrancelhas e meus olhos se fixaram nos dela. No fundo, eu já tinha uma resposta pronta, que eu gostaria muito que fosse a correta. Porque ela não é você, e eu só quero você, Regina Mills. E então eu me lembrei que eu não estava dentro de um livro do Nicholas Sparks e muito menos que Emma seria capaz de proferir aquelas palavras.

— Não deu tempo. – Ela deu uma ligeira gargalhada, mas logo voltou à órbita da conversa. – Quero dizer, só foi há dois dias, né? Em seguida você e Henry vieram até mim e eu lhes ofereci um lar e, bem, agora... isso. – Sua voz enaltecia certa tristeza.

— Então eu e meu filho somos os culpados de você não ter tido mais encontros com a delegada? – Minha aspereza não pôde passar despercebida.

— N-não, Regina, claro que não! Só pus os fatos em ordem cronológica. Não estou culpando vocês, de jeito nenhum! Para falar a verdade, eu nem pensei em ligar, nem mesmo quando vocês não estavam me importunando com suas existências. - Ela debochou, arrancando de mim uma risada afetuosa.

    Nosso momento foi suspenso por um click-clack de saltos vindo em nossa direção, e uma voz já familiar se manifestou.

    – Senhorita Mills, está tudo certo. - Bell parou à minha frente e me ofereceu um sorriso que estampava pura vitória. Eu nem conseguia acreditar. Será mesmo?

    – É sério? Acabou? - Meus olhos piscavam desesperadamente em pura descrença. Certamente, nunca perdi totalmente as esperanças, mas, depois de tanto tempo tendo coisas arrancadas das suas mãos, eu deixei de acreditar que, talvez, um final feliz digno de contos de fadas seria palpável.

— Acabou, Regina. - A delegada apertou minha mão livre e assentiu satisfatoriamente.

Então, Rose olhou para Emma e elas rapidamente trocaram olhares de agradecimento antes de as densas florestas repousarem sobre meus olhos cor de terra molhada. Emma me presenteou com um olhar como nunca antes vi igual. Havia orgulho naquela conexão estabelecida entre nós e um certo magnetismo me puxou para cada vez mais perto de seu rosto. Era aquilo. Naquele momento. O calor que emanava de sua pele entrou em contato com a minha e eu corei. No momento em que o destino selaria minha confirmação, senti os braços de Emma Swan me envolverem e só me lembro de ter sido forçada pela gravidade a repousar minha cabeça em seu ombro. Na trave.

Limpando a garganta e nos tirando de nossa estima, Bell prosseguiu.

— Regina, sei que já te fiz esperar até demais, mas queria muito que vocês ficassem um pouco mais, se puderem. Há algo que eu quero muito lhes mostrar.

— Uau… o que é? - Questionei.

— Aguarde e veja, senhorita Mills. - Com uma piscadela, ela se despediu de nós.

O que mais poderia acontecer naquele dia? Aliás, ela poderia, na posição que ocupa, fazer mistério sobre qualquer informação? Apesar de sentir meu coração pulando em meu peito, tentei manter a calma. Não tinha mais como nada dar errado, afinal de contas, a própria delegada havia dito que estava acabado.

E não tinha mesmo.

A delegacia já estava começando a esvaziar, já que se aproximava da hora do almoço. A cadeira ao meu lado ficou vaga e eu estiquei minhas pernas, a fim de deitar no colo de Emma e tirar um merecido cochilo - como se fosse possível. A ansiedade gritava em todas as minhas vértebras, todos os meus vasos sanguíneos. Não havia se passado nem dez minutos desde que meus olhos se apagaram quando um audível tumulto se formava do lado de fora do estabelecimento. A balbúrdia foi se aproximando e eu imediatamente reconheci a voz. Robin Hood.

— Soltem-me! Eu não fiz nada! A palavra de Deus fala ‘Não mintais para com o teu próximo!’ Aleluia! - Ele se remexia e se contorcia tentando sair das algemas e do agarre dos policiais. Seu rosto ardia em ódio e tudo o que eu senti naquele momento foi dó. Dó daquele homem que não entendeu nada do que a Bíblia realmente quer dizer. Senti pena do quão infeliz sua vida seria daquele momento em diante, e de como ele era cego. Portanto, ao me dar conta daquele sentimentos, levantei-me. Andei paulatinamente até ele, acenando com a cabeça para os policiais, já cientes do meu caso. Eles também pararam e puxaram a cabeça de meu marido para que ele me olhasse.

— Robin. - Minha voz embargou.

— Sua puta! Como teve coragem de fazer isso comigo? Eu sempre te dei tudo, pra você, pra sua mãe  e pr’aquele viadinho do seu filho! E olha c-

Ele nunca terminou aquela frase. A comunhão entre a palma de minha mão e sua bochecha soou como uma banda de rock. Se duvidar, até Henry escutou o tapa. Henry. Foi por ele que eu fiz aquilo. Meu filho era a melhor criança do mundo e não merecia ser tratada daquela maneira. Aliás, nenhum ser humano deveria ser humilhado por ser quem é. Henry tinha dez anos, o que sabia da vida para ter que lidar com tais comentários? Se, no futuro, meu filho descobrisse que é gay, eu o abraçaria o mais apertado que eu conseguisse e lutaria aquela batalha para ser aceito junto com ele. Ser mãe é isso. Ser mãe é bater no homem que o criou quando palavras ofensivas saem da boca dele para ofender quem você mais ama nessa terra.

— Regina! - Emma voou em cima de mim e me afastou de Robin.

— Olha só, a sapatão papagaio de pirata também está aqui. Vamos dar uma festa! - Robin comentou por cima do deboche que escorria de sua boca.

— Você vai apodrecer aí dentro. Seu monstro, canalha! - Gritei. As lágrimas começaram a correr para longe de meus olhos e se suicidavam quando chegavam ao fim de minha face.

E então, em uníssono, como no Circo Do Palhaço Fracassado, todos começaram a vaiar aquele homem que um dia chamei de ‘amor’, e agora, de acordo com aquela delegacia, era apenas canalha! canalha! canalha!

Com essa trilha sonora de fundo, meu pesadelo chegava ao fim; Robin foi levado, rosnando feito um cão, pelos policiais até os fundos, onde provavelmente uma viatura o levaria até o presídio.

As lágrimas ainda rolavam incessante e incontrolavelmente, mas, dessa vez, a quentura em meu rosto estava se dissipando. Eram lágrimas de alegria, de alívio… de medo.


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Notas finais do capítulo

Vou tentar atualizar pro capítulo 16 semana que vem. Afinal, vou enfrentar um vôo de 12 horas kkkkkkkk bastante tempo pra escrever né non?
Beijos e até a próxima :}
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