Fangirl Fairy Tales escrita por march dammes


Capítulo 2
Theory


Notas iniciais do capítulo

(pensaram que eu tinha morrido, né)
Conto sobre um pequeno prodígio e uma teoria. Em que ele aprende que o amor não se mede por meio de cálculos.



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Theory

Louis era um cientista.

Desde pequeno fora fascinado por engenharia, fuçando no trabalho do pai e desmontando brinquedos cheios de pecinhas só para montá-los de novo, adicionando algumas melhorias pessoais.

Não fora difícil notar que era um pequeno gênio.

Mas como gênios nunca são valorizados até o momento que morrem, Louis não era nenhum cara super popular nem prodígio de sua época – as crianças de sua classe sequer gostavam dele. Então, ter seu primeiro melhor amigo aos dezessete anos era um evento meio importante.

O problema mesmo não era ele fazer esse amigo, mas ter se percebido apaixonado por ele.

Tudo bem, não fora bem assim. O fato é: Louis não conhecia o amor. Sua mãe morrera no parto de sua irmã mais nova, que por sua vez era jovem demais para conhecer qualquer amor que não fosse os dos contos de fadas, e seu pai não era grande ajuda. Otto era bom com máquinas, não com sentimentos. Assim como ele.

Então, Louis se via num impasse. Quer dizer, Tobias era uma pessoa maravilhosa: era espontâneo, sempre otimista, fazia piadas e era o tipo de garoto que encantava os pais dos amigos, sendo objeto de comparações e aquele amigo que você sabe que em casa é vagabundo, mas na casa dos outros, lava até o próprio prato.

Tobias era sorrateiro além de tudo, o que contrabalançava sua personalidade radiante.

Eram amigos há um bom ano e meio e Louis não demorara a perceber que o clima entre os dois ia de um conforto mútuo de quase irmãos para aquela timidez inicial, entre as piadas internas e as risadas exageradas. Ele tinha a sensação de que Tobias estava há algumas semanas jogando indiretas e abrindo brechas para ele, mas sua racionalidade não o permitia pensar tão fundo nisso.

Só para esclarecer, Louis era gay e muito bem resolvido, obrigado. Percebera cedo na adolescência, e a confusão inicial durara quase nada. Os tempos eram outros! Não haviam motivos para embaraço quanto à sua preferência: pois é, eu beijo rapazes. Pronto.

E sabia que Tobias era bissexual. Mas diferente dele, não era tão aberto sobre isso, e preferia manter segredo até poder sair de casa. Seu pai era ótimo, dizia, mas não tinha tanta certeza quanto à mãe aristocrata e tradicional.

De volta ao ponto, depois de tanto tempo de amizade Louis se via numa situação da qual não sabia como sair. De uns tempos para cá, não conseguia controlar os batimentos cardíacos perto do amigo, ou tocá-lo sem se estabelecer um silêncio ansioso entre os dois, como estivessem ambos cheios de expectativa por algo que não sabiam se o outro podia dar. O que poderia ser isso?

E o pequeno cientista começou a investigar. Não era biólogo, e por isso mesmo fora difícil aplicar a lógica nessa situação: analisava acontecimentos, tomava notas, fazia cálculos, montava listas quilométricas, e com tanta álgebra e número ainda assim não conseguia encontrar o xis da questão. Ora, como isso poderia ser mais difícil do que qualquer fórmula em física?! Chegou a criar uma teoria: a timidez é proporcional ao gostar que por sua vez depende em 40% da distância e divide-se pela repressão dos sentimentos ao quadrado da atração. Tudo bem, isso não fez sentido nenhum.

Louis estava encucado. Estava mesmo frustrado. Não conseguia tirar a sensação estranha da cabeça, essa que sentia quando estava perto demais do amigo. E não sabia também o que fazer sobre isso.

Uma noite, Tobias o convidou para sair. Não sair, sair, quer dizer, sair como amigos, como sempre faziam. Arranjaram-se de modo a se encontrarem na casa do próprio Louis, já que sua irmã estava na festa de uma amiga e o pai recusava-se a sair do sofá nas sextas à noite.

E lá estavam os dois garotos, rodeados por papéis e latinhas de refrigerante e cálculos complicados. Geralmente, era isso o que faziam: sentavam no chão do quarto e conversavam enquanto Louis estudava alguma coisa.

(Mal sabia Tobias que dessa vez, estudava justamente sua atração por ele.)

E conversavam como sempre, apesar de Louis sentir o rosto queimar por algum motivo. Tentava disfarçar enfiando a cara nos cálculos, riscando o papel agressivamente na posição mais gárgula manca o possível. Tobias deixara de rir de suas posições estranhas para estudar mais ou menos na terceira vez que o visitara em casa.

—...e eu tô te falando, o professor não tinha a menor ideia de quem tinha feito! Provavelmente a direção suspeitou do Gabe, eu nunca apronto.

—Eles que acham! -exclamou Louis, deixando os papéis um pouco de lado para rir da expressão de Tobias, que contava sobre a pegadinha que pregara no professor de Química. Era o clássico aluno da fileira da frente: os quietinhos são os piores.

Tobias riu, encolhendo-se em seus ombros e enrubescendo de leve. Louis não conseguiu não sorrir. Seus olhos caminharam então dos cabelos, para o nariz, e finalmente para...a boca do rapaz. Ficaram ali. Dançando sobre a visão dos lábios grossos de negro do garoto, que era tão misturado quanto ele senão mais – a diferença é que parecia ter puxado a característica mais bonita de cada uma das etnias de sua árvore genealógica.

Tobias era um rapaz bonito. Já recebera incontáveis confissões de meninas naquele Ensino Médio. E Louis, gay ou não, devia admitir sua beleza.

Mas, como era, sim, gay – e agressivamente gay –, pegou-se imaginando algumas coisas não muito amigáveis, vamos dizer assim, sobre o amigo.

 “Isso...esse sentimento...”, imaginou mais uma vez, aquela sensação estranha e tímida e aquele impulso voltando com força total, causando-o de fitar Tobias com um certo olhar distante. “Existe explicação lógica para isso? Meu coração não...não para de bater descompassado...eu quero tocá-lo. É isso. Eu quero tocá-lo diferente de sempre, e...e quero que ele me toque de volta...”

Antes que percebesse, se ajeitara mais para perto de Tobias. E o rapaz ainda falava, distraído, apenas para ter um sobressalto dos sérios quando Louis tocou seu rosto com a mão direita. O moreno se virou para olhá-lo, as orelhas se avermelhando pela proximidade repentina.

—Uh...Lou? Qual o problema, tem alguma coisa no meu rosto?

Louis não respondeu. Em vez de formar uma frase concisa, uma resposta decente, quebrou ainda mais a distância entre os dois, curvando-se para a frente, esticando o pescoço para alcançar o garoto que era bem mais alto que si.

—Louis -Tobias chamou novamente, soando bem mais alarmado- O que está fazendo?

Seu pescoço cheirava a cravo. A textura de sua pele tornava claro o tanto de sol que costumava tomar quando morava na fazenda da avó, época que o marcara para sempre. Até hoje mantinha o sotaque delicioso do sul.

Louis ergueu o rosto para o encarar fundo em seus olhos. Eram azuis, cristalinos.

Então ele disse, ainda que hesitante:

—Estou testando uma teoria.

Não era seu primeiro beijo. Não era sequer seu segundo. Mas fora, ele admitia, muito melhor do que todos os seus beijos juntos.

Não fora coisa de cinema, e nenhum dos dois tinha experiência; saíra um gesto atrapalhado, completamente adolescente, sem jeito e sem técnica.

Para Louis, Tobias era um novo elemento na tabela periódica que ele agora colocava em teste. Se iria brilhar no escuro ou explodir na sua cara, isso ele não sabia – era a hora perfeita de descobrir. O beijava pela ciência, para o simples objetivo de testar os efeitos que esse toque tinha em seu corpo.

Mas para Tobias, tornara-se rapidamente outra coisa.

O garoto não o repelira. Deus, pelo o contrário, fora o primeiro a torna-lo muito mais profundo – e muito, muito mais passional.

Tobias quase imediatamente devolvera o toque, segurando o rosto do amigo com as duas mãos, e nenhum deles se atreveu a tocar o outro abaixo dos ombros. O que não significa que não estavam enlouquecendo ali, pondo finalmente em cheque sentimentos reprimidos que agora eram muito claros, sendo colocados bem visíveis naquele beijo confuso.

Mas foi Louis a engasgar baixinho contra os lábios de Tobias, diante da imediata epifania.

“Oh”, pensou ele, “Oh Deus. Oh não. É amor.”


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Notas finais do capítulo

final em aberto sim senhor :v podem imaginar uma continuação, e uma aparência pros moleques também Q
não tem imagem dessa vez, porque essa história foi tirada direto da minha cabecinha. na verdade eu fiz um rascunho dela éons atrás, mas decidi colocar no papel só agora. espero que tenham gostado. reviews?



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