– Um acampamento exclusivo para peças? – Exclamei, vendo o grande território a minha frente, denominado “Pieces Camp’s” – nome totalmente sem criatividade.

– Ah, meu Deus. Será tão fácil encontrar minhas peças aqui! Ah, Bia, estou tão feliz! – Abracei-a. Senti sua hesitação, pois demorou a retribuir meu abraço, mas quando o fez, foi um abraço caloroso; amoroso.

– Tá, chega de romance as duas. – Disse Kevin, revirando os olhos. Logo nos separamos totalmente rubras. – Bianca, vá procurar o velhote. Eu vou mostrar para Elizabeth e Alice onde elas irão dormir.

– Tudo bem – E todos acompanharam seus passos até a sua sombra sumir de vez.

– Confira seu colar, Elizabeth. – Ah, sempre me esqueço dele. Peguei-o e olhei-o, sem dizer nada. Kevin continuou: – Quem está perto?

– Apenas você e Alice; Gula e Ira.

– Certo. – Suspirou. – Vamos.

Passamos por diversas cabanas, todas numeradas e medianas – deviam caber quatro camas em cada cabana. Havia muita gente no acampamento, desde crianças até os mais idosos. Eu olhava em todo o canto; não queria perder nada de vista. Alice segurava minha mão, olhando ao redor, como eu.

– Está insegura, Alice? – Perguntei, direcionando um sorriso á ela.

– Sim... – Murmurou. – Mas eu estou com você, Lize. Confio em você, então sei que nada de ruim acontecerá comigo!

Fiquei surpresa com sua total confiança em mim. Apertei levemente sua mão, e pude ouvir uma leve risada vinda da menor. Logo Kevin parou, e nós também.

– Chegamos. É aqui que vamos ficar. – Anunciou, tirando um pequeno molho de chaves de seu bolso, escolhendo uma e abrindo a porta da cabana. Olhei por fora da cabana, ela era como as outras: teto verde – assim como o marco que rodeava as janelas e a porta – e as paredes, de madeira, brancas. A numeração da cabana era 1501. – Vai entrar ou não, Elizabeth?

– Ah, sim – Pisquei os olhos freneticamente. – Vamos, Alice?

Adentramos e, confesso, tirei conclusões precipitadas. As cabanas pareciam pequenas por fora, mas eram grandes por dentro. Havia três beliches lindamente arrumadas, dois banheiros, uma estante sem nada preenchendo seus espaços vazios, duas penteadeiras, dois guarda-roupas e um frigobar.

– Decidam em qual cama vocês irão dormir, Bianca decide depois. – Disse, indo em direção ao banheiro.

Decidimos nossos lugares e Bia chegou a nossa cabana, acompanhada de um senhor velho.

– Voltei! – Exclamou. – Eu trouxe o velhote!

– Olá, muito prazer em conhece-las – Disse o senhor. – Sou John Walker, o presidente desse acampamento. Fui eu quem explicou para Kevin e Bianca que eles eram peças; eu quem os ensinou tudo.

– O-Oi! Sou Elizabeth Morgan, eu... Hã... Sou uma herdeira – Cumprimentei-o. Eu estava com certa vergonha, confesso. Afinal, ele era um homem importantíssimo. Segurei os pequenos ombros de Alice e, como eu sabia que ela não se apresentaria, fiz esse favor á ela. – Essa é minha pequena amiga, Alice... Morgan.

– Olá pequena – Sorriu.

– Como vai, John? – Kevin e John se abraçaram, como velhos amigos. – Pode explicar tudo á elas?

– Claro. – Todos nos sentamos. – Então, este é um acampamento para peças antigo, que foi passado de filho para filho. Aqui nós cuidamos das peças que não encontraram seu herdeiro, agrupando-as em cabanas, para mantê-las a salvo de caçadores.

– Nenhum caçador entra aqui? – Perguntei.

– Não. Apenas peças e, em alguns casos, herdeiros, como você. Aqui é um lugar totalmente seguro, não se preocupe. Nós temos refeitórios, esses pequenos dormitórios e varias atividades físicas de manhã. Treinamos as peças para protegerem seus herdeiros. Ensinamos tudo o que sabemos sobre esse mundo de três divisões. É basicamente isso que fazemos. – Terminou, sorrindo.

– Entendi... – Murmurei.

– Enfim, á noite, nós lhe daremos as boas vindas corretamente – Levantou-se. – Ah, sim. Já mandei alguém buscar as suas roupas, Elizabeth, e das suas peças também. Esperamos que vocês tenham uma boa estadia aqui! – E saiu.

–... Hã... Simpático, não? – Comentei, quebrando o silencio.

– Esse é o nosso velhote! – Exclamou Bia. – Bem, me deem licença, vou descansar aqui – Jogou-se na segunda beliche da direita, na parte de baixo.

– Você não vai me ajudar á achar as outras peças da Elizabeth? – Kevin indagou, irritado.

– Não.

Sem dizer mais nada, Kevin saiu da cabana, chamando-me para ir junto.

– Alice, quer vir junto?

– Desculpe Lize, mas eu estou cansada... E com fome... Acho que vou ficar um tempo aqui, ou no refeitório – Murmurou levemente corada. Sem dizer mais nada, saí da cabana, acompanhando Kevin.

– Fique conferindo seu colar a cada momento, tá?

– Tudo bem – Eu respondi determinada. Mas nada havia mudado; apenas a Ira estava acesa. Logo o silêncio se instalou, e então, eu o quebrei. – Ei, Kevin, como faço para te conquistar?

– Ah... Não sei – Murmurou. – Acho que comigo é só com bajulação. Hum... Confiança, talvez?

Não falei nada, apenas fiquei o observando. Eu não conseguia entende-lo. Não sabia nada sobre ele, não sabia seus segredos, não sabia da sua infância, não sabia como ele se sentia em relação á essa história de três divisões, eu não sabia nada dele. Na verdade, eu não sabia nada de ninguém ali. Apenas de Alice, pois passei um bom tempo com ela, mas de resto, não conheço mais ninguém. E foi tendo esses pensamentos que eu me esbarrei em alguém.

– Ai! – Uma voz feminina exclamou com o choque; e eu fiz o mesmo.

– A-Ah, eu sinto muito... – Olhei-a. Ela era alta – mais ou menos 1,75 de altura, porém Kevin ainda era maior que ela. Seus cabelos eram ruivos, seus olhos, azuis. Seu corpo tinha ótimas curvas, e ela aparentava ser uma mulher adulta. Eu chutaria vinte e dois anos. Quando ela direcionou seu olhar para Kevin, ambos ficaram pasmas.

– Kevin... É VOCÊ? – A mulher gritou logo se jogando no pescoço do Kevin, agarrando-o. – Que saudades de você! Achei que nunca mais o veria, que saudades meu amor!

Meu... amor?

– Saia daqui, Lucy! Argh – Ele resmungou, tentando sair das garras de Lucy, mas em vão.

– Eu estava com tantas saudades, Kev, e é assim que você me trata? Poxa! – Ela murmurava, beijando a bochecha e a boca dele.

Ok, eu estou segurando uma grande vela aqui. Olhei meu colar, só por precaução, e vi a luz de Luxúria acesa. Hah. Não me diga que essa Lucy é... A luxúria?

– Hã... Com licença – Falei um pouco hesitante. Ambos me olharam. E então Lucy soltou-se de Kevin, que revirou os olhos, ajeitando seu cabelo e sua camisa.

– Olá, garotinha! Sou Lucy Street, namorada do Kev. Quem é você? – Ela sorria.

– Lucy! – Exclamou Kevin. – Você não é minha namorada, se liga!

Antes que Lucy dissesse algo, eu a interrompi.

– Gente, desculpa, mas eu preciso falar! Muito prazer, Lucy, sou Elizabeth Morgan, irmã adotiva do Kevin – Vi seu rosto se iluminar, um grande sorriso largo de orelha a orelha estava estampado em seu rosto, ela logo me abraçou.

– Oh, eu não sabia dessa! Kev não me conta nada! E Bia, como está? Tenho saudades dela também. Bem vinda á família, Lize! Posso lhe chamar assim, não é? Own, você é tão fofa!

– Si-sim, pode... – Mas que mulher louca é essa?

– Hum, você não é totalmente desenvolvida, quantos anos você tem?

– Vou fazer dezesseis daqui a um mês...

– Ah, você é nova! – Exclamou, pegando meus seios e apalpando-os. – Eles irão crescer ainda! Não se preocupe, os seus ficarão como os meus, bem grandes e cheios, assim todo homem ficará aos seus pés!

– E-Ei! – Exclamei, hesitando e cobrindo meus seios com meus braços. – Você não tem vergonha?

– Haha, não se preocupe, Lize! Isso é algo normal por mim, afinal, eu sou a luxúria.

– Eu ainda existo, sabiam? – Kevin disse, revirando os olhos.

– Claro, meu amor, eu não me esqueci de você! – Exclamou Lucy, abraçando-o novamente.

– Kevin, eu acho que a Lucy é minha peça. A luz está acesa.

– Merda.

– Hum... Lucy?! – Chamei-a.

– Sim, Lize?

– Sabe, acho que sou sua herdeira... – Mostrei á ela meu colar. Lucy arregalou os grandes olhos azuis e então soltou mais um de seus sorrisos.

– Oh, estou tão feliz! Finalmente achei minha herdeira, e ela é da família! Kev, isso é o destino!

– Se acalme Lucy. Você pode ficar séria, por favor? – Kevin disse, com certa alteração na voz. Lucy logo ficou quieta.

– Desculpe.

– Bem... Então, Lucy, eu acho que sou sua herdeira – Comentei novamente. – E não lhe conheço direito...

– Não se preocupe Lize – Riu levemente. – Já sei quem são suas peças. Kev é a ira, Bia é a preguiça, e, pelo que vi em seu colar, você já conquistou a gula. E, como conheço Kev e Bia como a palma da minha mão, sei que você está com boas pessoas. Sem problemas, me conquistar não será difícil.

– Entendi – Murmurei. – Então, hum, você poderia me dar seu coração, por favor?

Gargalhadas. Kevin e Lucy não paravam de rir. Fiquei totalmente constrangida.

– O-O que foi? Eu poderia conseguir desse modo! – Exclamei.

– Vou facilitar as coisas para você, Lize... – Secou uma lágrima, logo ficando séria novamente, mas sem tirar o sorriso do rosto. – Eu amo o Kev. Então, se você quer me conquistar, me faça ter meu momento de luxúria com ele.

– “Momento de luxúria”? Como assim? – Kevin perguntou. Hah! Kevin é tão ingênuo. Mal sabe o que lhe aguarda.

– Eu quero ter momentos íntimos com você. Só com você. A sós com você. – Lucy disse, abraçando-o por trás e mordendo o lóbulo da orelha de Kevin. O mesmo ficou como um pimentão, e acho que eu não fiquei diferente.

– Ah, não, Lucy! Isso não! Elizabeth faça algo!

– Desculpe Kevin, mas se você quer acabar logo com essas coisas de herdeiros e peças, e viver livremente, você terá que fazer isso por mim – Eu disse, segurando minha risada. Isso era simplesmente magnifico!

– Ah... Merda!