Talvez ainda tenha cor escrita por HFanfics


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo




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Me aproximei do caixa, ficando a sua frente e colocando a cesta em cima do balcão. Agora que já estava mais próxima do indivíduo pude perceber pequenas mexas ruivas fugindo por de baixo do seu boné azul com o nome do mercado em destaque. Ele também vestia uma blusa branca com detalhes azul claro junto de uma calça jeans escura. Quanto a seu rosto, eu não consegui vê-lo devido a sua posição e ao seu boné.

Não sabia como chamar a atenção do mesmo e falei a primeira coisa que me veio à mente.

Excuse me. – O chamei um pouco baixo, recebendo apenas um silêncio em troca. Bufei irritada, e comecei a estalar os dedos próximo a seu rosto, como se o mesmo fosse um cachorro. Não sou mal-educada, só trato os outros como eles merecem. Dessa vez minha presença foi notada com sucesso, o ruivo que antes estava de cabeça a baixa agora já estava subindo lentamente seu rosto. Quando o mesmo já estava me encarando com notória indisposição, comecei sem querer a fitar seus olhos que estavam distantes e visivelmente apagados, seu rosto tinha uma aparência saudável, típica de um adolescente bem cuidado. Em seguida, comecei a descer meu olhar ao seu crachá, que agora estava visível em sua blusa. E assim, o desconhecido ganhou o nome de Castiel.

– Que incompetente. – Resmunguei baixo enquanto massageava minhas pálpebras com os dedos. A melhor coisa de vir para um país estrangeiro é poder xingar sem sentir-se culpada, já que o mesmo não iria entender.

– Não sou pago pra aturar ofensas de clientes resmungões. – Respondeu sem mudar sua expressão e novamente voltando sua atenção ao celular, o que me fez ficar com profunda raiva do aparelho e querer taca-lo longe, mas também um alivio, por não precisar usar meu inglês completamente bizarro com o ser a minha frente. Eu só sabia três coisas sobre ele, seu nome era Castiel, ele era brasileiro e também era muito grosseiro.

– Enfim... – Ignorei o fato de o mesmo ainda estar vibrado em seu celular e comecei a retirar os alimentos de minha cesta, colocando-os em cima do balcão.

– O que está fazendo? – Perguntou com uma sobrancelha arqueada e logo depois deu um longo suspiro. – O caixa está quebrado.

– Jura? – Me apoiei na ponta dos pés para ver o visor do computador o qual me parecia perfeitamente bem. – Não parece quebrado para mim.

– Quem é o profissional aqui? – Cuspiu as palavras e voltou a mexer no celular.

– Com certeza ele não é você. – Retruquei. – Olha, eu só estou querendo ir pra casa logo. Esse dinheiro deve conseguir pagar tudo e ainda sobrar algum troco. Eu já estou indo. – Joguei o dinheiro em cima do balcão, começando a colocar tudo dentro de uma bolsa de plástico, visivelmente irritada.

Ele não disse nada, apenas pegou o dinheiro e o guardou em uma gaveta. Logo, voltando a mexer em seu celular.

Comecei a caminhar em direção em direção a saída (Que também podia ser definida como entrada) com passos calmos, segurando duas sacolas com o braço esquerdo e um com o braço direito.

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Já estava em frente ao prédio encarando um gato preto, que havia me feito companhia desde que sai do mercado. Era pequeno e frágil, poderia apostar que se tratava de um filhote.

Pensei na possibilidade de pega-lo e trata-lo, minha tia não via problemas nisso e minha mãe... bom, não ligaria muito. O único problema é o fato do dono do local não aceitar animais no prédio e proibir a entrada de qualquer um deles.

Suspirei em derrota e entrei no prédio, deixando-o ali fora. Cumprimentei o porteiro e entrei no elevador, que por sorte tinha acabado de descer com um passageiro.

Me encostei na parede espelhada, relaxando meus ombros e largando as sacolas ao chão. Senti algo vibrar em meu bolso e em reflexo procurei por meu celular na minha calça. Quando encontrei, deslizei meu celular sobre a tela, desbloqueando-o e vi que se tratava de uma mensagem de Julia, dizendo que precisava conversar. Respondi um “okay” já sabendo sobre o que se tratava e guardei-o novamente em meu bolso.

O elevador parou finalmente em meu andar e eu comecei a andar em direção ao meu apartamento. Estava apressada para chegar em casa, tomar um banho e dormir. Minhas pernas estavam me matando, minha cabeça latejando e meus olhos já estavam a ponto de fecharem sozinhos.

Toquei a campainha e em pouco tempo ela foi aberta.

– Finalmente. – Suspirou aliviada me dando passagem para entrar.

Me joguei no sofá encarando o teto enquanto tentava ignorar os pensamentos irritantes que estavam passando pela minha mente.

– Sua mãe comeu uma tigela de sopa, hoje à tarde. – Sentou-se no sofá ao meu lado com um sorriso curto enquanto prendia seu cabelo em um rabo de cavalo.

– Pelo menos uma notícia boa.

– Não quer ir falar com ela? Ela estava até comentando sobre... – Me levantei do sofá interrompendo-a.

– Vou tomar banho. – Procurei por minha mochila, e sem precisar me dar o trabalho de procurar roupa dentro dela, apenas a arrastei para o banheiro junto a mim.

Comecei a tirar meu moletom, jogando-o dentro do cesto. Em seguida, tirei o resto de roupa que ainda estava colada ao meu corpo, dando a elas o mesmo fim que o moletom.

Encarei meu reflexo no espelho e liguei a torneira da pia abaixo dele, começando em seguida, a limpar meu rosto. Aos poucos, toda beleza que a maquiagem trouxe estavam descendo pia abaixo. Parei de encarar o espelho e entrei no box, ligando o chuveiro e esperando que a água se estabilizasse.

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Terminei meu banho e sai do banheiro. Eu estava com o cabelo preso em um rabo de cavalo (muito mal feito, se quer saber) e vestia uma blusa com manga comprida cinza e uma calça de moletom preta, junto de uma meia com listras azuis e uma pantufa de panda. O máximo que consegui fazer para me esquentar.

Me sentei no sofá olhando pro relógio na parede que marcava exatamente 19:30 e cogitei a probabilidade de alguma pizzaria estar aberta a essa hora.

Disquei o primeiro número de pizzaria que eu encontrei em meu celular e esperei até que fosse atendida. Demorou um pouco, mas me atenderam. Eu tento, mas acabo enrolando a língua quando falo inglês. Bom, quem mandou sair do curso dois anos antes de terminar.

Eles me deram um prazo de meia hora até que a pizza chegasse aqui, tempo o suficiente para fazer uma ligação.

Disquei o número rapidamente, o bip do celular continuava e a pessoa nada de atender. Já estava quase desistindo quando ouço uma voz do outro lado da linha.

– Alô?

– Julia, sou eu.

– Ah, oi Zoe. – Sua voz estava baixa e um pouco rouca. Poderia apostar que estava chorando.

– Algum problema? Seu pai novamente? – Falei a última parte receosa, tudo bem que ele é um canalha, mas é o pai dela, afinal.

– N-Não.. – Senti seu choro ser abafado por algo, provavelmente um travesseiro.

– Hm. – Pensei durante um tempo. – Foi ele, não é?

– E-Ele...E-Ele disse... – Não terminou a frase antes de se afogar novamente em lágrimas.

– Julia, quer se acalmar!? Eu não entendo nada com você falando desse jeito.

– Desculpa. – Disse baixo e tentou se acalmar, voltando a falar depois de um tempo. – Ele terminou comigo Zoe. Ou melhor, ele nem se deu o trabalho de terminar comigo antes de ir pra cama com ela.

– Ela?

– Sim, Camila Watson. Você deve se lembrar dela..

– Ah.. – Suspirei baixo. – Julia, você tem certeza disso?

– Tenho, uma amiga dela veio falar e...

– Você está me dizendo que uma amiga DELA veio te dizer isso e você simplesmente acreditou!?

– Mas é claro Zoe, porque ela mentiria?

– Julia... – Levei minha mão até a testa em completa reprovação. – Ele admitiu isso pra você?

– Eu ainda não falei nada com ele..

– JULIA! – Gritar foi inevitável. – Você não acha que está sendo injusta? Você nem ao menos sabe se é verdade.

– E-Eu sei mas... – Ela parou de falar e parecia ter tentado se acalmar. – Com quem está falando? – Uma voz um pouco mais grossa, que eu reconheceria de longe entrou no local – Ninguém papai. – Respondeu a mesma tentando normalizar a voz. – Me dá seu celular, amanhã você tem aula. – E assim nossa conversa foi encerrada.

Joguei meu celular no sofá e entrei na cozinha.

– Brigou com alguém? – Uma voz doce e calma perguntou me chamando atenção.

– Não, não.. – Respondi em desanimo me sentando em uma cadeira observando-a lavar a louça. Ela pegava um prato passava a esponja por dentro, por fora e girava a mesma sobre a borda do prato, e repetia isso várias vezes. Fiquei assim, olhando-a durante um bom tempo, saindo do transe quando ouço a campainha tocar.

– A essa hora!? – Perguntou minha tia se virando para mim visivelmente intrigada.

– Pizza. – Respondi saindo do cômodo e indo em direção a porta. Olhei primeiramente no olho magico para me certificar que se tratava realmente do entregador de pizza, e sim era ele mesmo. Girei a chave na porta e abri a mesma um pouco devagar.

– Olá. – O entregador me cumprimentou com um sorriso amigável.

– Boa noite. – Dei um pequeno sorriso ao notar que o mesmo falava português.

– Caramba, de novo. – Colocou a mão em sua boca em profundo desgosto. – Me desculpe, eu acabei falando português outra vez. Olha é que é meu primeiro...

– Tudo bem. – O interrompi entregando seu dinheiro.

– Aqui está. – Colocou a caixa em meu braço enquanto guardava o dinheiro em seu bolso. – Obrigado e me desculpe novamente. – Saiu devagar enquanto coçava a cabeça. Esperei que o mesmo estivesse longe do meu campo de visão e fechei a porta.

Voltei novamente a cozinha colocando a caixa em cima da mesa e em seguida abrindo a geladeira a procura de algum suco.

– Oba. – Minha tia já tinha acabado de lavar a louça e agora estava sentada ao meu lado com um prato a sua frente.

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Comemos a pizza toda, não que tenha sido difícil já que seu tamanho era pequeno, e depois fomos ambas dormir.

Me deitei no sofá, me cobrindo com o enorme edredom e mexendo no facebook vendo algumas postagens dos meus colegas antigos. Todos sorrindo, comemorando, curtindo... vivendo.


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