O reino das rosas. escrita por Lord JH


Capítulo 65
Filhos.


Notas iniciais do capítulo

Jennifer e Wendy descobrem os terríveis segredos escondido nas profundezas do castelo branco.



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   Depois de uma longa descida por enormes escadas espirais de pedra, Jennifer, Wendy e Clara, finalmente chegaram em frente a uma enorme porta de madeira, que ao ser aberta revelou um enorme salão repleto de várias mesas de madeiras e muitas ferramentas cortantes como facões, espetos e tesouras.

De início a garota azarada acreditou que aquele lugar se tratava apenas de uma peixaria real, pois muitos eram os pedaços de enormes peixes pendurados em ganchos e correntes por todo lado.

Porém, ao andarem em direção a uma outra porta que estava do outro lado do salão, Jennifer ouviu gritos de dor e desespero; gritos esses que eram tão altos que fez o coração da garota azarada palpitar forte como nunca e suas mãos ficarem gélidas de medo.

O que está acontecendo aí dentro? — Perguntou Wendy desconfiada sobre os gritos claramente humanos que ecoavam pela porta e pelo salão de peixes.

Apenas vingança e negócios. — Respondeu Clara antes de abrir a porta — E lembrem-se, não perguntem ou toquem em nada.

E então, ao se abrir a porta, uma visão totalmente apavorante e traumatizante se demonstrou diante das duas pequenas garotas loirinhas.

Em cima de uma enorme mesa de madeira, estava acorrentada uma bela sereia de longos cabelos verdes, que gritava e chorava como uma louca, enquanto dois homens magros e sem camisa lhe cortavam a parte do ventre com um enorme serrote, separando assim a parte peixe da parte humana de seu corpo.

Os gritos da pobre sereia eram agonizantes, e a visão era tão aterradora, que Jennifer segurou fortemente na mão esquerda de Wendy, antes de perder controle sobre o seu próprio corpo e se urinar toda de medo e horror.

Os olhos de Wendy quase dilataram de terror, pois apesar da princesa solitária já ter avistado muitas coisas estranhas e apavorante em toda a sua vida, a princesa das rosas vermelhas nunca vira algo tão bizarro, asqueroso, medonho e cruel como o que estava acontecendo naquele lugar.

Então, tomada por uma fúria enorme e uma curiosidade incontrolável, a rainha das rosas vermelhas perguntou — Clara, do que se trata tudo isso!?

Clara então apenas se aproximou dos dois homens, e ao jogar uma magia no rosto da sereia, a fazendo desmaiar de imediato, perguntou — Por que vocês não degolaram ela antes para evitar toda esta gritaria?

Peço perdão, senhorita Clara, é que este trabalho demanda bastante tempo de nossas vidas, e sem um pouco de som de gritos não tem tanta diversão assim. — Respondeu um dos homens, que estava sem camisa e com um pano branco envolto na região da testa.

E eu concordo com Higor, minha senhora, o trabalho se torna bem mais prazeroso com um pouco de som em nossos ouvidos. Mas não sabíamos que vossa senhoria viria por aqui hoje, e ainda mais com visitantes tão... Jovens! — Completou o outro homem, mais baixo e com um pano branco completamente ensanguentado pendurado em seu ombro direito.

Porém Clara não deu a mínima atenção aos detalhes de prazer no trabalho que os seus servos lhe explicaram, e ao apanhar uma enorme faca afiada que estava jogada no chão, a princesa sereia fincou a afiada ferramenta na madeira da mesa e falou— Não me importa o que vocês acham ou não, da próxima vez cortem a garganta dela, pois se eu ouvir mais algum som de grito enquanto eu estiver aqui com as minhas convidadas, serão vocês que alimentarão a produção. — E deu as costas aos dois rapazes retornando assim para perto das duas garotas assustadas.

Clara: — Não se preocupem, minhas queridas, creio que não escutaremos mais nada a partir de agora.

Wendy, porém, não aceitou o fato de Clara não ter lhe respondido, e ao apertar mais forte a mão de Jennifer, perguntou mais uma vez — Clara, o que diabos está acontecendo aqui?

Foi então que um sorriso medonho se abriu na boca de Clara, e ao dar as costas para a princesa e sua amada Jennifer, a princesa sereia respondeu — Isso, minha rainha, já lhe foi respondido na entrada desta sala. Ou seja, se trata de negócios e vingança. Pois aquela sereia de cabelo verde ali foi a vadia que iniciou uma guerra contra o meu reino!

Jennifer então relembrou da fala de Clara minutos antes de atravessarem a passagem secreta atrás do quadro, e ao olhar novamente para a pobre sereia agora dividida em dois pedaços, a garota azarada não controlou o estomago e vomitou no chão de imediato.

Clara, isso é loucura! — Exclamou Wendy — Se você queria se vingar tanto dela por que não a matou assim que a capturou? Precisava mesmo esperar nós chegarmos aqui para nos mostrar uma cena terrível e horrenda dessas? — Perguntou a rainha ao perceber que a sua parceira não estava nada bem depois do que vira.

Hahahahaha!.... — Gargalhou Clara bem alto — Você acha que eu a prendi aqui apenas para matá-la quando vocês chegassem? Hahahaha!... Mas é muito presunçosa mesmo! Hahahaha!.. Eles não estão matando-a, minha rainha. Eles estão apenas separando a parte mais deliciosa do corpo dela para nós vendermos. Acredite em mim, ela já passou pelo mesmo procedimento inúmeras vezes, e graças ao meu feitiço de regeneração e resistência, ela não morre. Apesar de que ela não deixa de sentir a mesma dor toda vez que é necessário repetir o mesmo processo. — Explicou Clara ao expor os seus esverdeados dentes em um sorriso medonho e assustador.

Então você está me dizendo que você regenera essa pobre coitada toda vez, apenas para fazê-la sofre novamente e conseguir metade do corpo dela para vender como alimento!? — Perguntou a rainha Wendy totalmente incrédula.

Sim, nós podemos resumir o processo em basicamente isso que você acabou de falar. Hahahaha! Você não imagina a quão saborosa é a parte de baixo de uma sereia ou um tritão; os negócios culinários do reino estão fluindo melhor do que nunca! Todas as pessoas das casas, estalagens e pensões do meu reino vem até meu castelo comprar a preciosa e deliciosa carne de peixe gigante que eles tanto adoram. E olha que eles sequer imaginam de onde ela vem. Hihihihi.... Ou se sabem, fingem não saber. — Explicou Clara como se estivesse apenas falando de uma granja que fornece ovos e galinhas para o seu povo.

Você é louca! — Gritou Wendy totalmente enojada e abalada com o que acabara de ver ou ouvir.

Hahahahaha!.... — Gargalhou a princesa sereia novamente. — Você acha, princesa? Pois eu vou dizer apenas mais uma vez, minha rainha....  Vossa majestade concordou em não falar ou fazer nada sobre o que avistássemos por aqui, não lembra? Então.... Será que a rainha Wendy consegue manter as suas promessas? — Perguntou Clara enfatizando bastante a promessa que a princesa das rosas vermelhas havia feito antes de descer as escadas.

Wendy então percebeu naquele momento que não deveria ou poderia quebrar a promessa ou o acordo que havia feito com Clara, momentos antes de descer, pois apesar da tremenda loucura e crueldade que a rainha estava presenciando naquele lugar, Wendy ainda necessitava dos barcos e navios do reino do litoral; além de que apenas Clara poderia levá-la até o velho mago Hoffman.

Então, bastante confusa e indecisa sobre o que deveria fazer, a rainha Wendy apenas sorriu falsamente, e ao ajudar Jennifer a se recompor após vomitar todo o ensopado de peixe frio no chão, a rainha falou — Eu me lembro bem do que eu fiz, senhorita Clara, e espero que vossa senhoria também não se esqueça que prometeu não tocar ou usar magia contra nós duas, correto?

Hahahahaha.... — Riu Clara histericamente —  Eu não me esqueci do que prometi, vossa majestade. Então não se preocupe com vossa segurança, ou com a de nossa amiga e companheira. A adorável Jennifer está tão segura aqui comigo, como nunca esteve ao seu lado. — Zombou Clara ao olhar para a pobre garota azarada que chorava baixinho e segurava fortemente o braço de sua amada.

Ótimo! Então peço pare que nos leve para fora desse seu maldito açougue e nos leve diretamente para o mago Hoffman, assim como foi prometido. — Retrucou Wendy sem dar atenção para a pequena zombaria da princesa.

Clara então apenas concordou com a rainha, e ao ir na direção de outra porta, a abriu e esperou Wendy e Jennifer se aproximarem lentamente.

Jennifer ainda estava em choque com o que vira, e ao atravessar a nova porta, não chegou a perceber de imediato o que estava acontecendo naquele estranho e inédito local.

Wendy, porém, logo percebeu e avistou as inúmeras piscinas, banheiras e poços de vários tamanhos de largura e profundidade. Todos eles abarrotados de sereias e tritões nus, acorrentados e bastante machucados.

Em algumas banheiras haviam apenas algumas mulheres e homens sem a parte inferior do corpo, essas que Wendy reconheceu como sendo as criaturas que haviam passado pelo terrível procedimento de tortura e crueldade dos novos negócios alimentícios de Clara.

As criaturas terrivelmente amputadas apenas gemiam e sussurravam palavras sem sentido enquanto a parte debaixo de seu corpo ia se regenerando aos poucos, em um processo que aparentemente era bastante lento e doloroso.

O que é esse lugar? — Perguntou Jennifer ao finalmente perceber onde elas haviam entrado.

Aqui é o “viveiro”. Não façam muitas perguntas ou falem com as criaturas, esses seres ainda conseguem enganar e enfeitiçar qualquer pessoa despreparada com seu canto e a sua voz. E é por isso que todos que trabalham aqui recebem um feitiço de imunidade contra a magia desses desprezíveis seres. — Explicou Clara como se estivesse apenas mostrando a sua plantação de morangos para uma garotinha curiosa.

Mas que engraçado. — Falou Wendy de supetão — E eu pensei que as únicas criaturas desprezíveis que existiam aqui embaixo era você e os seus trabalhadores.

O comentário provocador da rainha fez Jennifer temer pela segurança das duas, mas ao perceber que Clara apenas gargalhou alto e depois concordou com o comentário de Wendy, a garota azarada relaxou um pouco mais a mão esquerda que apalpava levemente a adaga com runas escritas na lamina e com o cabo de ouro em formato de peixe que estava escondida embaixo do seu vestido.

Então, ao atravessarem mais uma porta e deixarem o horrendo “viveiro” para trás, Jennifer e Wendy se depararam com um lugar ainda mais traumatizantes para as duas pequenas garotas.

O local se tratava de uma enorme sala com várias camas e colchões de palha espalhados pelo chão, leitos esses que estavam ocupados por belas sereias acorrentadas e com cabelos de diversas cores; cores essas que iam do verde alga ao vermelho ruivo mais forte e profundo.

E por sobre o corpo nu de várias das sereias estavam homens nus, que copulavam por uma abertura na parte inferior do corpo das pobres criaturas que gritavam, choravam e se desesperavam enquanto tentavam libertar suas mãos e os seus braços da apertadas correntes e algemas que lhes impediam de lutar ou revidar contra os seus estupradores.

Impressionada com a medonha visão, Wendy tentou fechar os olhos de Jennifer com a sua mão direita, porém demorou segundos demais para conseguir impedir os olhos da garota azarada que já havia testemunhado a terrível cena com completo repudio.

Parem! — Gritou Jennifer ao retirar a mão direita de Wendy de seus olhos. — Que droga de lugar maldito é esse!? — Perguntou Jennifer ao olhar com extremo ódio e nojo para Clara.

Aqui é a sala de reprodução. — Respondeu Clara até com mais cortesia — Os tritões possuem uma parcela de esterilidade bastante alta, ou sejam eles não conseguem engravidar as sereias com facilidade; logo nós tivemos que resolver o problema da reprodução da maneira que as próprias sereias já faziam.

Homens humanos. — Completou Wendy completamente enojada e incrédula com toda aquela situação.

Exatamente, princesa. Estamos apenas seguindo o rumo natural das coisas aqui. — Falou Clara como se tudo que estava acontecendo ali fosse corriqueiro em seu dia a dia.

Jennifer já não estava aguentando aquela situação, e ao perceber que a mão da garota azarada estava se fechando em um punho que provavelmente iria acertar em cheio a barriga pálida e cicatrizada de Clara, Wendy se aproximou novamente de Jennifer e ao pegar suavemente em sua mão esquerda, falou — Meu amor, vamos sair logo daqui? Nós temos que encontrar logo o mago Hoffman, e se cedermos ao que avistarmos aqui, não teremos como derrotar os imps e vencer a guerra, concorda comigo?

Clara apenas sorriu ao perceber a tentativa bastante óbvia de Wendy de tentar acalmar Jennifer, e então ao simplesmente passar pelos homens que estupravam as sereias e se aproximar da próxima porta que daria em outro salão, a princesa sereia falou — É isso aí, minha doce e querida Jennifer. Nós ainda temos bastante coisa para vermos nos quartos adiante. Então não percamos tempo nesse aqui e passemos logo para o próximo.

O olhar de ódio de Jennifer se intensificou um pouco mais ao ouvir as palavras asquerosas de Clara, mas ao sentir o toque carinho e cuidadoso de Wendy em sua mão, a garota azarada apenas anuiu e seguiu em frente no que se tornou o passeio mais bizarro de sua vida.

Dentro da próxima sala haviam mais banheiras e piscinas repletas de sereias gravidas e nuas, além de pequenos filhotes das mesmas criaturas dentro de vários aquários de diferentes tamanhos espalhados por todo o local.

Deixe-me adivinhar, aqui é a maternidade. — Comentou Wendy com uma voz totalmente sarcástica e irônica para com Clara.

Exatamente, princesa. É aqui onde deixamos as sereias grávidas e os filhotes até que eles cresçam e tenham idade o suficiente para passar pelo mesmo procedimento de suas mães. — Confirmou Clara com uma voz totalmente despreocupada e um pouco perturbada.

Wendy então não aguentou mais e ao chutar uma enorme pinça de metal que estava caída no chão, perguntou — Caralho, Clara, quantas pobres sereias você tem nesse maldito lugar!?

Clara então gargalhou mais uma vez ao ver a reação de raiva da rainha, e quando finalmente conseguiu controlar a sua perturbada crise de risos, a princesa sereia respondeu — Hahahaha.... Digamos que inicialmente eu tinha 47 sereias e 12 tritões aprisionados, esses que se renderam ou foram capturados na guerra quando ousaram atacar meus navios. Porém hoje, depois de todo o trabalho de reprodução que nós fizemos, eu tenho cerca de 117 sereias e 42 tritões, incluído os filhotes e excluindo os que ainda estão para nascer, claro.

Wendy apenas conseguiu conter o impulso de se transformar em ursa naquele mesmo instante e despedaçar a garota perversa e nojenta que estava bem ali na sua frente, mas Jennifer, por outro lado, conseguiu cuspir nos pés de Clara, antes de pegar na mão quente e delicada de sua amada, e sussurrar — Calma Wendy, nós precisamos ver o mago Hoffman, lembra?

A princesa das rosas vermelhas então se acalmou mais, e ao soltar a mão macia e carinhosa de Jennifer, foi em direção até a próxima porta de metal e a abriu com um chute tão forte que fez o som da pancada da porta contra a parede ecoar por todo o calabouço; e então, ao olhar para os lados para ver o que havia na nova sala, Wendy perguntou — E aqui? Que tipo de loucura ou ato repudiável você faz nesse local?

Clara então se aproximou aos risos, e ao adentar na sala que estava repleta de frascos cheios de água, álcool e outros líquidos estranhos que as garotas menores sequer conheciam, a princesa sereia respondeu — Aqui é o quarto das minhas crianças! Ou seja, o lar dos meus filhos.

E foi naquele momento que Jennifer adentrou no quarto e se aproximou de um dos vários potes preenchidos com um liquido estranho, que continha uma pequena coisa ou criatura enegrecida, que aparentemente possuía membros parecidos com braços e pernas.

O que são eles? — Perguntou a garota azarada ao imaginar que se tratavam de pequenos imps deformados ou de filhotes de sereia malformados.

Eles, minha querida, doce e amada Jennifer. Eles são meus filhos. — Respondeu Clara ao levantar a sua velha camisa marrom, suja e totalmente surrada, e mostrar a sua barriga pálida repleta de cicatrizes cobertas de sujeira e costuradas com linha negra como carvão.

Jennifer não conseguiu acreditar na resposta que Clara havia lhe dado, e ao olhar espantada para Wendy, a garota azarada replicou — Você quer dizer que eles são seus bebês?

Sim, minha querida, doce e amada Jennifer. Eles são todos os meus filhos que eu tive, ou no caso deveria ter tido durante todos esses anos. — Respondeu Clara ao se aproximar de um dos potes, pegá-lo e beijar o vidro com se estivesse beijando a cabeça ou a testa de uma criança.

Jennifer apenas conseguiu conter o impulso de vomitar novamente, enquanto Wendy olhou novamente para os vários potes espalhados em prateleiras e móveis por todo o quarto, e ao abrir uma gaveta de um pequeno cômodo que estava ao lado de uma mesa, perguntou — Se eles são todos seus filhos, quem é o pai?

Clara então se aproximou de Wendy e ao fechar a gaveta aberta por Wendy de vez e impedi-la de ver o conteúdo que estava ali dentro, respondeu — São quase todos de um único pai, exceto aquele com rabo de peixe ali. — Completou ao apontar para um pote que possuía um bebê malformado com barbatana entre os dedos e cauda de peixe na parte debaixo.

Esse é do rei do mar? — Perguntou Jennifer sentindo até um pouco de pena da pobre criança que provavelmente nunca chegou a nascer e nunca pode sentir o prazer que seria nadar por sobre as ondas altas e refrescantes do mar.

Sim, ele era. — Respondeu Clara ao se aproximar do pote que continha a pequena e deformada criatura.

E por que ele e os outros estão mortos? E quem é o pai de todos os outros? — Perguntou Wendy agora curiosa com toda aquela situação.

Porém Clara apenas gargalhou, e ao pegar um pote que ainda estava vazio e atirá-lo no chão o fazendo se despedaçar em vários pedaços de caco de vidro, respondeu — Eu não queria ter um filho com aquele desgraçado, então abri o meu próprio ventre e retirei a criatura antes que ela nascesse e se tornasse um ser tão ruim e desprezível quanto o maldito pai dele.

Ou como a mãe — Completou e interrompeu Wendy com um sorriso tão falso, sarcástico e irônico, que conseguiu até arrancar mais uma risada da princesa sereia antes de ela continuar a responder.

Realmente, princesa. Você está completamente certa, eu sou um ser desprezível e imundo, e o meu mestre sempre esteve certo sobre isso durante todos aqueles anos; mas ele não tinha o direito de retirar os nossos filhos de mim! E por isso ele vai pagar por toda a eternidade! — Esbravejou Clara completamente louca e furiosa de insanidade.

Jennifer até pensou em acalmar e consolar a louca princesa, mas ao se lembrar de tudo o que a garota azarada havia avistado até aquele momento, a garota azarada apenas perguntou — E quem é esse pai que merece pagar por toda eternidade pelo o que fez com os seus filhos?

Foi então que o sorriso de Clara mudou drasticamente, e ao andar lentamente em direção a outra porta da sala, a princesa sereia respondeu — Vocês conhecerão ele no próximo quarto, e talvez Jennifer, você se lembre de alguma coisa ao ver os objetos que estão aí dentro.

E ao abrir a porta para o próximo quarto, a princesa sereia revelou uma enorme sala de tortura repleta de mesas, aparelhos de tortura e correntes, e amarrado e acorrentado na parede mais distante da entrada da sala, estava um velho homem, nu, com a ponta dos dedos machucados, uma venda negra nos olhos e com uma pequena bola de ferro amordaçando a sua boca.

Jennifer, porém pouco reparou no prisioneiro acorrentado, e deu mais atenção aos objetos de tortura que lhe eram bastante familiares, por algum motivo que a garota azarada não conseguia entender.

Wendy, porém, não se importou com os vários objetos diferentes, e ao avistar o velho homem acorrentado, perguntou — Quem é esse?

Clara então riu e gargalhou mais uma vez, antes de ir até o pobre velhinho e lhe retirar a sua venda negra, enquanto respondia — Esse, minha querida princesa das rosas vermelhas.... Esse é o querido e amável pai dos meus filhos! Esse, ou melhor “ele”, é aquele a quem você tanto queria ver, adorável rainha. Com toda honra e glória do Reino do litoral, eu, a Princesa Clara do reino do mar, vos apresento o grande, magnifico e poderoso.... Mago Hoffman!

Jennifer então ficou horrorizada ao perceber que o pobre velho estava bastante maltratado e desnutrido, além de possuir várias marcas de cicatrizes de chicotada, laminas e até mesmo queimaduras de cera quente por todo o seu corpo.

O que você fez com ele!? — Perguntou Wendy totalmente descrente e impressionada com o estado e a situação do pobre e velho homem.

O que eu fiz com ele? — Perguntou Clara enquanto fitava a rainha com um olhar furioso — O que eu fiz com ele!?

Sim, o que diabos você fez com ele? — Confirmou Wendy sem recuar e com uma voz completamente séria e sem sarcasmo.

Clara, porém, apenas riu e gargalhou novamente, antes de chutar um chicote negro que estava caído por sobre o chão, e falar — O que eu fiz com ele!? O certo seria você perguntar o que ele fez comigo! — Gritou e esbravejou a princesa mais uma vez.

Então me diga, o que ele fez com você? — Perguntou Wendy agora um pouco mais calma e tentando controlar a sua respiração e voz.

Hahahaha... O que ele fez comigo... — Murmurou a princesa sereia em loucura e confusão. — Ele me roubou meus filhos antes mesmo de nascer! A Jennifer sabe! Ela sabe o que ele bem fazia comigo! Conte a ela Jennifer, conte tudo o que você sabe e viu! — Exclamou, exigiu e gritou Clara ao apontar para a garota azarada e pedir apoio em sua resposta.

Jennifer, porém não sabia ou se lembrava de nada sobre o que Clara estava falando, e ao olhar desesperada para Wendy e para o pobre velho, falou — Me perdoe princesa, mas eu não me lembro de nada sobre quando estive aqui. Na verdade, eu sequer me lembro de qualquer coisa antes do acidente com os meus pais.

Mentirosa! — Exclamou e gritou Clara novamente — Você tem que lembrar de tudo! Pois foi você quem me fez fazer tudo isso! Foi você quem me disse e me incentivou a tomar o poder com as minhas próprias mãos! Foi você quem não me deixou desistir e me entregar para aquele maldito rei do mar! E foi você quem me transformou e me fez ser o que eu sou hoje! — Esbravejou Clara tão alto que fez até os ouvidos de todos apitarem com o eco de sua voz.

Me desculpe, mas eu não me lembro! — Gritou Jennifer em resposta — Eu realmente sinto muito se fui eu quem causou tudo isso ou se eu fiz alguma coisa que te motivou a fazer tudo de ruim que você faz ou fez.... Mas a verdade é que eu realmente não me lembro de nada! Acredite em mim por favor! — Pediu e implorou Jennifer completamente confusa e perturbada com toda aquela situação.

Você realmente não lembra...? — Perguntou Clara com uma voz de choro completamente triste e depressiva.

Não, me perdoe. — Respondeu Jennifer sincera antes de olhar novamente para os objetos de tortura e sentir que tudo aquilo que Clara falara poderia sim ter um fundo de verdade.

Porém, antes de Clara insistir na conversa, Wendy se aproximou do velho mago, e ao apontar para a boca do mesmo, ordenou — Princesa Clara, eu exijo que você retire essa mordaça da boca desse coitado senhor! E exijo agora.

Clara então bufou de raiva, e ao retirar a mordaça começou a rir, e falou — Eu faço como a minha rainha ordena, mesmo sabendo que não será de bom proveito.

E por que não? Você prometeu que eu poderia falar com o velho mago e também antigo Sir Hoffman das terras além da floresta. — Replicou Wendy sem entender o motivo das risadas da assustadora e temível anfitriã.

Hahahahaha... — Gargalhou Clara novamente — Veja só, meu amor. A rainha conhece todos os seus antigos títulos e honrarias! É uma pena que eu tenha apenas prometido que levaria ela até você.... E não que ela poderia conversar contigo! — Falou Clara ao jogar a mordaça do velho longe e levantar a cabeça do mesmo para que a princesa Wendy pudesse observar melhor.

Foi somente então, que ao se aproximar um pouco mais da luz da tocha de metal mágica que queimava presa a parede próximo do lugar onde Sr. Hoffman estava, que Wendy finalmente pode olhar mais atentamente para o velho mago e finalmente constatar que o pobre coitado estava com uma marca enorme de cicatriz na região da garganta, o que fazia com que ele não conseguisse falar mesmo movendo a sua língua e tentando formular palavras.

O que foi que você fez com ele? — Perguntou Wendy séria e bastante furiosa apesar do seu tom de voz baixo, calmo e controlado.

Fala da cicatriz no pescoço? Digamos que eu fiz apenas um pequeno corte em suas cordas vocais para impedi-lo de entoar ou invocar feitiços e maldições. E aproveitei também para enfiar alguns espinhos mágicos em seus dedos das mãos para impedir que o mesmo usasse magia ou alguma ilusão em mim. — Respondeu Clara com total sinceridade.

Droga, Clara! — Exclamou Wendy furiosa — Então você quer dizer que eu andei até aqui e tive que ver e assistir todas as suas aberrações e loucuras para nada!?

Jennifer então se preparou para puxar a adaga pois provavelmente a situação sairia de controle rapidamente.

Porém Clara apenas balançou a cabeça em negação, e ao apontar para o velho Hoffman acorrentado, falou — Você me pediu para trazer você até o Sr. Hoffman, rainha. E eu assim o fiz. Eu nunca falei que você poderia ou conseguiria falar com ele.

Wendy então ficou mais furiosa do que antes e ao chutar um grande e enferrujado alicate que estava caído no chão, a rainha exclamou — Clara, o meu reino está em guerra contra um maldito exército intermináveis de imps! Meu pai e minha mãe morreram, assim como os pais de todas as outras líderes que aqui estão, e você me diz que o único que poderia nos ajudar contra os imps não pode falar mais porque você o mutilou!?

Foi então que Clara apenas levantou a mão direita em um ato que aparentava pedir um pouco de silêncio, e ao se aproximar lentamente de Wendy, sussurrou — O Sr. Hoffman não é o único que pode ajudar vocês contra os imps. Eu também posso; pois fui eu quem aprendeu magia com ele, fui eu quem escutou todas as histórias e contos que ele já ouviu falar, fui eu quem leu todos os livros de magia daquela biblioteca, e sou eu quem sabe quem está por trás de todo o ataque imp.

Jennifer não conseguiu acreditar no que Clara havia acabado de falar, e Wendy aparentava compartilhar da mesma dúvida, mas após as duas garotas olharem uma para outra e concordarem mentalmente em se aprofundar um pouco mais sobre aquele assunto, a rainha das rosas vermelhas perguntou — Clara, você sabe quem é a pessoa responsável pelo ataque imp aos nossos reinos?

Nossos, não! Seus reinos, minha adorável rainha. O reino do litoral não sofreu ataque nenhum durante todo esse tempo. — Corrigiu Clara rapidamente.

Foi então que Wendy percebeu que o que Clara falara era verdade, e durante todo o tempo de guerra apenas o reino dos espinhos e o reino das rosas sofrera com dor e sofrimento; e então, consumida pela dúvida, a rainha perguntou — Mas por que o seu reino não foi atacado? Qual é a explicação?

A explicação, minha bela e esperta rainha, são as flores douradas que empestam o meu reino. Elas são altamente toxicas para a maioria dos imps, o que manteve não só o meu reino, mas grande parte do reino das terras além da floresta á salvos. — Explicou clara detalhadamente.

Mas e o reino do Norte? Por que ele não sofreu ataques? Ou a grande floresta selvagem? — Perguntou Jennifer bastante perturbada e confusa.

Porque, minha curiosa e esquecida Jennifer, eles possuem proteção natural de frio no reino do Norte, e das flores amarelas do reino vizinho no caso da grande floresta. — Explicou Clara dando a resposta mais óbvia possível.

Faz sentido, mas você falou que sabia quem estava por trás do ataque e das invocações dos imps fantasmas. — Relembrou Wendy.

Falei mesmo e confirmo, eu sei quem é a pessoa! — Confirmou Clara com um sorriso bastante sádico em seu rosto — Ou melhor, nós dois sabemos, não é, meu amor? — Sussurrou Clara ao se sentar no colo de Hoffman e lhe dar um beijo profundo na boca.

A cena foi bastante nojenta e grotesca para o bom gosto de Wendy. Porém foi Jennifer, quem tomou coragem e totalmente enojada ao ver aquela cena horrenda de beijo, perguntou — Por que você o mantém vivo se o odeia tanto?

Clara então riu novamente, e ao se levantar apontou para o órgão reprodutor do velho mago, e falou — Porque ele não pode partir antes de me dar tudo aquilo que ele me tirou!

Jennifer entendeu claramente sobre ao que Clara estava se referindo, e ao sentir um pouco de pena da louca e perturbada princesa, perguntou — Você não tem um feitiço que faça vocês dois terem um filho mais rápido?

Clara então concordou com a cabeça, e ao começar a segurar a mesma como se tivesse batido a testa na parede, começou a falar — Eu sim, eu tenho sim! Mas não funciona, não funciona! Você mesma viu! Todos os meus filhos nascem mortos, mortos como os que ele tirou de mim quando eu ainda era humana! — Segredou a pobre princesa quase se rendendo as lágrimas.

Clara, esqueça os seus filhos agora! Nesse momento eu preciso que você me diga quem é a pessoa por trás dos ataques dos imps e como eu posso derrotá-la! — Pediu Wendy mais ansiosa do que nunca.

Você não pode derrotá-la, minha rainha! Apenas eu posso, e mesmo se você pudesse, ainda assim você precisaria expulsar todos os imps do reino e atravessar uma quantidade muito maior deles até conseguir ao menos chegar perto dessa pessoa! — Explicou Clara bastante confiante nesse fato.

E onde está essa pessoa!? E quem é!? — Perguntou Wendy novamente quase já em desespero.

Ela está na terra dos imps do outro lado do mar. Eu posso levar você e sua comitiva até lá em alguns dos meus navios, abastecidos obviamente com todo o pó dourado que vocês precisarão para conseguir avançar até o lar da mesma e alguns cavaleiros e marinheiros meus para lhes auxiliarem. — Falou Clara com um tom de voz bastante calmo e negociador.

Mas deixe-me adivinhar, você quer algo em troca. — Falou Wendy ao finalmente entender o que toda aquela enrolação de Clara significava.

Exato, minha rainha.... Eu desejo algo que essa pessoa tem e que me será bastante útil. — Confirmou Clara bastante desejosa por tal item.

E o que é essa coisa? — Perguntou Wendy bastante curiosa.

Clara então sorriu e ao apanhar uma vara de madeira usada em torturas de espancamento que estava caída no chão, respondeu — É uma varinha mágica.

Uma varinha mágica? — Perguntou Jennifer totalmente impressionada e descrente.

Sim, minha amável Jennifer, uma varinha mágica. Mas não se engane! Não é uma varinha mágica qualquer.... É a varinha mágica mais poderosa de todo este mundo! Segundo o meu amado Hoffman, essa varinha é capaz de curar qualquer doença ou condição de maldição causada por magia neste nosso mundo. Somente com uma varinha tão poderosa assim, é que alguém conseguiria invocar um exército de imps espíritos para atacar vários reinos. — Explicou Clara com bastante precisão e informação.

Wendy então percebeu que Clara provavelmente desejava a varinha para tentar se curar de todas as suas mazelas ou a de seus amados filhos, e ao perceber que finalmente poderia negociar com Clara, falou — Eu aceito, Clara. Por que não fazemos assim? Você me cede os navios e tudo que você me ofereceu antes como foi planejado, e em troca eu te entrego a varinha e um perdão real se você cumprir as seguintes exigências.

Quais exigências? — Perguntou Clara bastante desconfiada e curiosa sobre o suposto pedido da rainha.

Wendy então respirou fundo e ao tomar coragem para começar a listar as suas exigências, falou — Eu peço para que você me ensine a maneira mais eficaz de usar magia para utilizar o pó dourado para derrotar os imps, e peço também para que você livre e proteja os meus reinos do ataque dessas mesmas criaturas, além de que assim que nós finalizarmos essa guerra, eu quero que você liberte o Sr. Hoffman e todas as sereias e tritões que você mantém cativo em seu reino.

Jennifer então ficou totalmente calada esperando apenas a reação histérica dá risada de Clara, porém, para a surpresa da garota azarada, Clara apenas sorriu e ao oferecer a mão para Wendy falou — Eu aceito contanto que eu possa manter o Sr. Hoffman e a sereia de cabelo verdes aqui comigo. E eu também não posso proteger todos os reinos, mas posso fazer o possível, e eu também quero liberdade para eu fazer o que eu quiser com os dois cativos que me sobrarem após o nosso acordo. Essas são as minhas condições. Você as aceita? — Perguntou Clara enquanto ainda esperava Wendy apertar a sua mão.

A princesa das rosas vermelhas então olhou para Jennifer e para Hoffman, e ao se lembrar que o mago provavelmente não era uma pessoa tão boa assim, a rainha Wendy apertou a mão de Clara e falou — Eu aceito. Mas agora eu quero que você me diga o nome da pessoa que está por trás disso tudo de uma vez por todas! — Exigiu Wendy uma última vez.

Hahahahaha.... — Riu Clara uma vez mais — É engraçado você fazer essa pergunta neste local, já que o antigo marido dessa mesma pessoa está aqui nesse mesmo lugar. — Segredou Clara ao olhar de soslaio para o Sr. Hoffman.

Wendy: — Você está me dizendo que....

Clara: — Sim, minha rainha! A pessoa que está por trás de toda essa guerra contra os imps, é a antiga esposa de nosso querido e amado Sir Hoffman! Essa pessoa é a velha, sábia e poderosa.... Bruxa Martha.

 


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Notas finais do capítulo

Continua...



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