Por favor, não se apaixone por mim escrita por AninhaL


Capítulo 5
Capitulo 4




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Juca Narrando

Eu estava um pouco sumido, desde o dia em que fomos pra pista com a galera eu não vi mais ninguém. O trabalho está tomando todo o meu tempo, além de que eu ainda tenho Lucia que é minha responsabilidade, aliás, ela está cada dia mais sonhadora e boba.

– Elisa você já guardou suas roupas? - Perguntei autoritário.

– Qual é Juca, vai dar uma de mamãe agora? - Ela revirou os olhos. - Além de que vou passar tudo de novo aquelas roupas, tá tudo amassado.

– Mas eu passei. - Falei rindo.

– Passou? Poxa nem parece mano. - Ela riu.

– Dá próxima vez vou deixar tudo pra você passar, pode deixar. - Ela me olhou com os olhos arregalados.

– Nem morta. Quer dizer, se rolar um dinheirinho eu até passo. - Ela falou se jogando no sofá.

– Sonha. - Respondi irônico.

Lucia e eu não somos órfãos, mas nossos pais moram em outro Estado, viemos pra São paulo para estudar. Lucia sonha em ser atriz e como ela ainda é menor de idade convenci o nosso pai de deixar ela e eu morarmos aqui, jurei a família toda que eu cuidaria dela e que se fosse preciso eu abandonaria meu sonho para ajuda-la conquistar o dela.

Somos super grudados, ela é a única pessoa que eu consigo me abrir e conversar sobre minha vida. Sempre tive problemas em expressar o que eu sinto ou em fazer amizades.
Já faz dois anos que estamos aqui e meu único amigo mesmo é Mathias, converso com Eduardo e Cristina, mas somente o necessário.

– Juca. - Ela chamou-me enquanto olhava concentrada pra televisão. - Será que um dia conseguirei chegar lá? - Ela apontou pra televisão que estava passando malhação.

– Com certeza Lu, você tem talento e ama o que faz, não tem motivos pra não conseguir. - Respondi encorajando-a, mesmo sabendo que aquilo poderia ser uma ilusão.

– Espero que isso aconteça em breve. - Ela sorrio e me olhou. - Imagina eu na novela da globo. - Ela piscou.

– Vai ser a atriz mais linda de lá. Certeza! - Eu falei sorrindo.

Eduardo Narrando

Saí da empresa e fui direto pro Ralf (pista de skate) com a esperança de encontra-la. Passei os olhos pela pista e não á vi. O que era estranho, já que todo dia ela estava aqui.

– E ai Duda. - Gritou Vivi.

– E ai. - Respondi ainda procurando ela.

– Tá procurando a Bia? - Mathias me olhou rindo. - Se estiver, perdeu seu tempo vindo até aqui, ela está na casa dela hoje. - Ele completou dando risada.

– Mas, ela tá bem? - Perguntei preocupado.

– Tá sim. - Vivi falou rindo. - Só estava cansada e então ficou em casa, normal.

– Entendo. Será que posso passar lá? - Perguntei baixo.

– Se ela abrir a porta. - Vivi respondeu desinteressada.

– Beleza então. - Sorri e voltei pro carro.

Me perdi em uma das ruas, mas não demorou muito para que eu encontrasse o apartamento delas. Aproveitei que o portão estava abrindo para um carro entrar e sai correndo pra dentro do prédio. Agora só faltava descobrir qual era o delas.

Peguei o celular e liguei para o Mathias, ele saberia me dizer.

– Aí Mathi, qual é o número do apartamento das meninas? Me perdi aqui. - Perguntei normalmente.

– Então é no décimo segundo andar, apartamento 46.

– Entendi, valeu moleque. - Desliguei o celular e entrei no elevador. Apertei o numero 12 que era do elevador e em pouco tempo estava lá, sai do elevador e apertei a campainha do número 46.

– Cris você esqueceu a chave de novo? - Ela gritou do outro lado da porta e eu não respondi - Mas é uma cabeçuda mesmo - ela falou abrindo a porta.

– Oi. - Sorri sem graça.

– Você tá fazendo o que aqui? - Ela perguntou indiferente.

– Ah fui até a pista e você não estava, então vim ver se você esta bem, Sei lá. - Respondi sorrindo.

– Estou bem. - Ela falou seca - Agora já pode ir embora - Ela falou fechando a porta e coloquei o pé pra impedir que ela fechasse.

– Ei, calma! - Falei rindo. - Posso entrar?

– Não. - Ela sorrio irônica.

– Achei que já estava tudo certo entre nós.

– Foi apenas uma conversa e não um juramento de best friends. - Ela falou sarcástica.

– Alguém já disse que você é má pra caramba? - Perguntei a encarando - Então quer dizer que aquela conversa não valeu de nada?

– Sim. - Ela respondeu me olhando.

– Voltamos a estaca zero então. - Falei baixo.

– Nunca saímos dela. - Ela falou empurrando meu pé e fechando a porta.

Definitivamente eu não iria conquista-la sendo legal e romântico, eu teria que jogar pesado se eu quisesse tê-la para mim.– Pensei enquanto descia no elevador.

Beatriz Narrando

Fechei a porta assustada e corri pro quarto. Me joguei na cama e tapei o rosto com o travesseiro.

– Que abusado. - Resmunguei ainda apreensiva.

Fechei os olhos e a imagem dele veio nos meus pensamentos.

– Para - Gritei abrindo os olhos e me levantando da cama. - Qual é Bia, tá fugindo dos planos. - Falei pra mim mesma baixo.

Me abaixei e peguei meu pequeno diário em baixo da cama, preso a um elástico. Deitei na cama e comecei a reler minha lista.

1. Morar com as meninas. (x)
2. Fazer alguém sorrir. (x)
3. Cantar e tocar para alguém além do meu urso.
4. Participar de uma passeata. (x)
5. Viajar sem destino certo.
6. Dormir até tarde no fim de semana. (x)
7. Largar o trabalho mais cedo e ir para o cinema ou praia.
8. Conhecer um lugar paradisíaco.
9. Acordar bem cedo para ver o sol nascer.
10. Ver o sol se pôr na praia.
11. Montar á cavalo.
12. Dar comida na boca de uma vaca.
13. Fazer um mapa astral ou ler a sorte no tarô mesmo sem acreditar.
14. Ir a um show de seu ídolo, mesmo que o ingresso seja um absurdo.
15. Virar a noite numa festa legal com amigos que você gosta, mesmo que o dia seguinte seja de trabalho.
16. Dançar balett escondido, mesmo achando ser idiota.
17. Tomar banho de chuva. (x)
18. Jogar o celular pela janela quando ele estiver te estressando. (x)
19. Gritar bem alto de alegria ou de raiva. (x)
20. Deitar no gramado e admirar as estrelas.
21. Explorar a internet por horas, sem objetivo definido. (x)
22. Parar um pouco e pensar na vida.
23. Dormir na rua.

Li cada item da minha lista e acrescentei o 24.

24 .Não me apaixonar.

...

Me levantei e caminhei até a janela com o pequeno diário na mão. Será que eu conseguiria fazer tudo aquilo antes de.. me suicidar? - Pensei observando o calçadão movimentado. Na esquina de casa tinha um carrinho de cachorro-quente, olhei o rapaz mexendo no purê e meu estômago gritou de fome. Eu vou até lá, como e subo correndo. - Planejei para não encontrar Eduardo de novo.

Sai do apartamento olhando atentamente no corredor, desci de escadas pra fugir se caso ele ainda estivesse ali. Atravessei a rua devagar e parei em frente ao carrinho de lanches.

– O que vai ser hoje? - O rapaz sorriu, ele estava acostumado a me ver sempre por ali.

– Um cachorro-quente completo. - Falei olhando pros lados.

– E pra você? - O rapaz perguntou pra alguém atrás de mim.

– O mesmo. - Eu conhecia aquela voz, não sei de onde, mas eu me lembrava dela. Ela me passava uma calmaria. - Com fome também? - Ele perguntou se colocando ao meu lado.

– Sim. - Respondi baixo e me virei para ver quem era. - Ah, eu sabia que essa voz era conhecida. - Sem perceber sorri.

– Do meu nome você não lembra, mas pelo menos da minha voz você lembrou. - Ele falou rindo e me olhou.

– Ah eu lembro sim. É Juca não é? - Perguntei o olhando.

– Sim. - ele sorriu. - Me sinto privilegiado com isso. Não se você finge ou se esquece mesmo dos nomes das pessoas. - Ele me olhou e abaixou a cabeça com um sorriso estreito no rosto.

– Eu esqueço mesmo, eu juro. - Sorri e peguei o lanche da mão do rapaz. -Bom, você vai comer aqui? - Perguntei sem graça.

– Vou sim. Daqui a pouco minha irmã chega aqui, hoje não vou fazer janta, sabe como é não é? - Ele riu e se sentou em uma mesinha de plástico na calçada.

– Bom, então acho que vou te fazer companhia até ela chegar. - Falei baixo e me sentei. Ai, não acredito que eu falei isso. Quis morrer quando me dei conta do modo que eu estava agindo.

– Mas e aí, você mora aqui perto? - Ele perguntou me olhando e deu uma mordida em seu lanche.

– Sim, do outro lado da rua. - Apontei pro prédio e mordi o lanche.

– Pertinho da praia. - Ele sorriu.

– Aham, mas eu nem vou muito. - Torci os lábios. - Não sou muito fã de água, pessoas, areia. - Ele me olhou e sorriu novamente.

– Entendo. Do que você é afim então? - Ele perguntou me olhando.

– Ah de skate, corrida, gosto de jogar play também. - Falei insegura e ele riu.

– Você é quase um menininho então. - Ele me olhou e eu dei risada.

– Por aÍ. Gosto de tudo o que uma garota comum odeia. - Falei dando um gole no refrigerante.

– Já tinha percebido isso. - Ele me olhou.

– Juca. - Uma menina baixinha e magra se aproximou de nós com a cara fechada.

– Ah! Oi Lucia. - Juca falou puxando um banquinho pra ela sentar com a gente.

– Quem é? - Ela falou baixinho pra ele.

– Ah é, essa é a Bia, uma amiga. - Ele completou dando ênfase em amiga.

– Hum. Oi Bia, eu sou a Lucia irmã do Juca. - Ela sorrio e eu retribui o sorriso tímida.

– Bom, já vou subir. - Falei me levantando e indo pagar o rapaz do lanche.

– Tchau Bia. - Lucia falou sorrindo.

– Tchau. - Sorri novamente. Eu olhei pro Juca e ele me olhava atento, nossos olhos se cruzaram e desviei o olhar. - É, tchau Juca. - Falei rápido atravessando a rua – Que ridícula. - Resmunguei baixo e entrei no elevador. - Ele vai pensar que eu sou uma idiota.

– Hein? - Uma garota perguntou me olhando assustada.

– Não estou falando com você. - Revirei os olhos.

– Ata. - Ela resmungou e desceu dois andares abaixo do meu.

Entrei em casa bufando e fui pro quarto.

Cristina Narrando

– Faz um tempo que eu não vejo o Juca. - Falei desanimada sentando no banco da pista de skate.

– Ele está meio ocupadão esses dias. - Mathias respondeu me olhando.

– Entendo. - Resmunguei baixo.

– Por que o interesse? - Ele perguntou curioso.

– Por nada ué. - Me levantei e fui andar de skate novamente.

Eu não sei, mas sempre que vejo o Juca sinto algo estranho na minha barriga. Eu nunca senti isso por outra pessoa, é estranho e constrangedor, pois eu fico com medo de que alguém perceba algo diferente. Nunca me apaixonei por ninguém, sempre fiquei com todos e nunca senti esse negócio estranho.

Ficamos até tarde na pista, depois eu, Vivi, Mathias e Eduardo fomos lá pra casa beber alguma coisa e jogar conversa fora.
Assim que chegamos o apartamento estava em um silêncio absoluto. Bia devia ter saído ou já estava dormindo.

– Vamos pedir alguma coisa pra comer? - Vivi falou pegando a lista telefônica.

– Demoro. O que vocês vão querer? Pizza?

– Pode ser né? - Vivi falou olhando pra mim que dei positivo com a cabeça.

– E a Bia? Não vai comer? - Mathias perguntou olhando a lista.

– Ela já deve ter comido Mathias, nem sei se ela tá aqui. - Respondi colocando os pratos na mesa.

– Entendo. Eduardo a hora que você veio aqui ela estava? - Mathias perguntou olhando Eduardo.

– Sim, e me mandou embora. - Nós rimos.

– Essa é a Bia que eu conheço. - Vivi falou rindo.

– Acho que estou apaixonado. - Eduardo falou suspirando.

– Você sempre diz isso. - Mathias o encarou.

– Eu sei, mas dessa vez eu juro que é diferente. - Ele sorriu.

– Desencana Duda, a Bia nunca daria moral pra alguém como você. - Falei o olhando.

– Por que? - ele perguntou frustrado.

– Bia não faz o estilo que combina com você, ela não é nem um pouco carinhosa e nem tão pouco educada. - Fui sincera.

– Imagina a mamãe conhecendo Bia. - Mathias se intrometeu e riu.

– Um desastre. - Vivi falou do outro lado da sala.

– Mas eu não me importo com o que ela acha. - Eduardo falou olhando pro Mathias.

– Nem eu. - Os dois riram e eu e Vivi olhamos de canto.

– Sua mãe deve ser um amor hein. - Falei rindo.

– Só conhecendo pra saber, é quase a Cruela em vida. - Mathias falou rindo.

– Que dó. - Vivi e eu rimos.

– Posso usar o banheiro? - Eduardo perguntou-me.

– Pode. Por aqui. - Levei ele até o corredor. - É a última porta. - Apontei e voltei pra sala.

Eduardo Narrando

Andei devagar pelo corredor, fui observando as fotos na parede e os enfeites pendurados.

Tinha uma porta com uma brecha aberta, curioso eu espiei e vi Bia deitada, parecia estar dormindo. Abri a porta cuidadosamente e caminhei levemente até ao lado de sua cama, onde havia uma cômoda. Em cima dela tinha fotos, recortes de jornal e um perfume. Abri a tampinha do perfume e inalei aquele cheiro, era um cheiro suave e marcante, típico de garotas ousadas, de certo era da Bia.

Caminhei até ao lado da cama onde ela dormia feito um anjo.

– Só assim pra parecer calma. - Sussurrei olhando-a.

Seu cabelo cobria parte de seu rosto. Ela segurava um pequeno caderninho. Me abaixei e tirei a mecha de cabelo caída em seu rosto.

– O que você tá fazendo aqui? - Vivi perguntou baixo ao me ver no quarto.

– Nada. - Me levantei e fui saindo do quarto.

– Errou de porta é? - Vivi deu risada.

Dei risada baixo e sai do quarto indo em direção ao banheiro.

O quarto era todos em tons claros e com os detalhes todos pretos, o guarda-roupa, cama, cômoda, criado mudo eram todos pretos e brancos a cortina era a única parte colorida do quarto, ela era em um tom verde limão claro, os porta retratos tinham a mesma cor verde e tinha uma poltrona preta no canto perto da janela. Entrei no banheiro e um sorriso largo tomou conta do meu rosto. Lavei o rosto com água fria, sequei e voltei para a sala.

Vivi me olhou e deu risada e eu fingi que nada havia acontecido.

– Esse final de semana tem campeonato de skate lá na pista né. - Mathias falou pra Cristina.

– Aham. Aposto 10 reais que a Bia ganha na feminina. - Ela falou olhando Mathias.

– Certeza. Você vai participar? - Ele perguntou olhando-a.

– Não. Apenas Bia, ela vai representar nós duas, né Vivi? - Vivi confirmou com a cabeça e voltou a comer a pizza.

– Queria saber andar de skate também. - Me intrometi na conversa.

– Aprende ué. - Cristina me olhou e sorrio.

– É. Se o Mathias me ensinasse. - Revirei os olhos.

– Ah! Você é muito lento pra aprender, toma muito meu tempo. - Mathias se defendeu e mordeu a pizza de calabresa.

– Pede pra Bia. - Cris me olhou e sorriu.

– Ela não abre nem a porta pra eu entrar, quanto mais me ensinar a andar de skate. - Nós rimos.

– Se você pagar ela ensina. - Cristina piscou. - Ela sempre dá aulinhas aos sábados pros pivetes lá na pista.

– Demorou então hein. - Sorri bobo - Pagar não será problema, mas vamos ver se ela aceita.

Passamos mais um tempo lá comendo, conversando e rindo e depois eu e Mathias fomos embora.

Beatriz Narrando

Acordei quebrada no dia seguinte, acabei pegando no sono de tênis e tudo. Me levantei antes mesmo de Cristina vir me chamar, me arrumei e sai do quarto com a pior cara do mundo.

– Que bagunça é essa? - Perguntou olhei pra pia cheia de pratos.

– Ontem os meninos vieram comer aqui. - Vivi me respondeu e foi pro banheiro.

– Que meninos Cris? - Perguntei olhando de canto.

– Mathias e Eduardo. - Ela me olhou e sorriu.

– Graças a Deus eu estava dormindo. - Falei baixo e aliviada.

– Tá fugindo de alguém? - Cristina perguntou me olhando.

– Não. não. - Respondi tomando suco.

– Sei - Ela me olhou desconfiada e riu - Ah arrumei outro aluno pra você. - Ela me olhou.

– Vai pagar? - Falei dando mais um gole no suco.

– Lógico né. - Ela revirou os olhos. - Ele começa sábado contigo lá no Ralf (pista de skate).

– Beleza. Que horas?

– 8h30 tá bom? - Ela me olhou.

– Tá né, fazer o quê. - Peguei minhas coisas e fui escovar os dentes para sairmos.

Estávamos quase chegando na escola quando um carro parou do nosso lado e Mathias saiu dele sorrindo. Eduardo abaixou o vidro e me deu um oi, o que foi em vão pois eu não respondi.

– Sábado, 8h30 né? - Ele perguntou e eu fiquei em choque. O novo aluno era ele, não acredito.

– Ah não, pra você eu não ensino. - Revirei os olhos.

– Ensina sim, vou te pagar. Só quero aprender, nada pessoal. - Ele falou me olhando.

– Vou pensar.

– Por favor. - Ele falou manhoso.

– Tá bom, mas com uma condição. - Eu o olhei séria.

– Qual?

– Você só vai conversar comigo sobre skate, nada pessoal. - Eu o encarei.

– Se você quer assim, por mim tudo bem.

– Ótimo, sábado, 8h30 lá no Ralf, se eu chegar lá e você não estiver eu vou embora e você não precisa nem me procurar pra te ensinar de novo. Okay? - Disse autoritária.

– Você é exigente hein. - Ele riu.

– Um pouco. - Eu o olhei e soltei um sorriso. Mas logo que percebi fechei a cara e me afastei do carro.

– Até sábado. - Ele gritou enquanto eu entrava na escola.

O colégio estava uma bagunça naquele dia, tinham despedido o inspetor de alunos. Estava uma barulheira nos corredores e ninguém estava respeitando nada, inclusive eu.

A diretora gritou por silêncio e disse que tinha um comunicado aos alunos, de certo era sobre o novo inspetor.

– Bom dia queridos. Como vocês viram estamos sem inspetor de alunos, mas já contratamos outro, ele começa amanhã. - Ela falou nos olhando com aquela cara de rata. - Então peço que vocês colaborem hoje. - Ela sorriu e a gritaria começou.

– Sem inspetor. - Uns garotos gritavam. - Bora lá pro fundo fumar. - Eles falaram um pro outro e eu olhei assustada pois esses garotos viviam juntos com a Vivi.

A diretora mandou todos para as suas respectivas salas e logo o pátio ficou vazio. O professor da primeira aula da Cris havia faltado, então levaram eles pra minha sala.

Ela sentou-se ao meu lado e ficamos conversando sobre a competição que teria e sobre os concorrentes.

– Você vai participar Julieta? - Um garoto da sala da Cris se intrometeu na conversa.

– Sim. - Respondi seca.

– Então eu vou lá assistir. - Ele deu uma piscadinha e riu.

– Tanto faz. - Fiz cara de nojo e voltei a falar com a Cris ignorando o garoto.

Eu odiava estar no 1º ano..

– Você vai ganhar Bia, tenho certeza. - Cris sorriu e me deu um leve tapinha no braço.

– Não quero cantar vitória antes da hora, mas se eu ganhar vou pegar o premio e comprar um violão. - Sorri.

– Apoio completamente, estou com saudade de ouvir você arranhando as cordinhas. - Cris me olhou e riu.

– Agora eu sei tocar, não vou mais arranhar cordinha. - Demos risada.

Um tempo depois bateu o sinal e Cris retornou pra sua sala me deixando sozinha lá com aqueles animais. Depois só nos encontramos no intervalo e por fim na saída.

Fomos embora caminhando e depois de almoçar eu fui pro serviço. Felizmente hoje eu estava sozinha na loja e fiquei cantarolando praticamente o dia todo.

Amanhã será sexta-feira e vai ter um racha na saída da cidade. Eu era louca pra dirigir um carro daqueles a mil por hora. - Sorri boba com o meus pensamentos.

Meu patrão chegou na loja, me pagou e me dispensou mais cedo, eu aproveitei pra fazer o número 7 da lista. Fui caminhando até a praia e me sentei na areia seca e quente. Prendi o cabelo em um coque desarrumado e coloquei o óculos de sol, não que ainda estivesse muito sol, mas eu não queria correr o risco de ser reconhecida.

Pensei no que eu faria com o meu salário desse mês, pensei um pouco e tive uma brilhante ideia. Juntei minhas coisas e sai correndo pro tal lugar, quando cheguei lá estava vazio, pra minha sorte é claro... Entrei na minha loja preferida e comecei a procurar por algo interessante.

Achei um vestido branco com florzinhas bem pequenas, uma jaqueta de couro preta e fui procurar um sapato pra usar com eles. O vendedor me trouxe várias sandálias e sapatos de salto, tipo eu não fazia ideia de como ficava em cima daquilo, mas mesmo assim comprei um sapato de tachinhas preto, achei ele lindo e botei na cabeça que até amanhã vou ter que aprender a andar em cima deles.

Paguei tudo e fui pra casa guardar as coisas pra ir pro Ralf.

– E o que são essas sacolas? - Cris perguntou curiosa.

– Comprei um vestido, uma jaqueta e um sapato de salto.

– Salto? Ata, me engana mesmo. - Cris falou pegando a sacola e olhando. - Não acredito, ela comprou mesmo Vivi. - Cris falou surpresa tirando o sapato da sacola.

– Ai que lindo. - Vivi falou olhando.

– Agora só falta uma coisa. - Falei rindo.

– O que? - elas falaram juntas.

– Eu aprender a andar em cima disso. - Nós rimos.

– É fácil, toda mulher nasce pronta pros saltos. - Cris falou rindo.

– E esse vestido? Que arraso Bia. - Vivi pegou o vestido e colocou na frente do seu corpo.

– Depois que eu usar te empresto. - Falei rindo.

– Acho bom mesmo.

– Vai usar essa roupa amanhã? - Cris perguntou me olhando.

– Sim. - Respondi sorrindo boba.

– Sei. - Vivi falou irônica. - Tá querendo impressionar alguém? - Vivi jogou o vestido pra eu guardar.

– Não. - Respondi rápido.

– Hum. - Vivi e Cris riram.

– Parem. - Peguei as sacolas e fui pro quarto, enquanto elas riam de mim na sala.

Eduardo Narrando

Acordei cedo e me arrumei pra ir pra empresa, hoje seria um dia bem cansativo. Assim que cheguei na empresa a nova estagiaria já veio me falar que tinha papeis que ela não conhecia e que precisava de ajuda. Ela era bonitinha, mas falava pelos cotovelos, puta que pariu a garota falava sem parar, até se esquecia do que estava fazendo de tanto que ela falava.

– Bonitinha, pode parar de falar já. - Falei com a mão na cabeça.

– Ah me desculpe. - Ela falou sem graça. - Eu falo demais né. - Ela riu.

– Aham. - Concordei e dei um gole no café quente.

– Bom, vou lá resolver as coisas do banco, até. - Ela falou saindo da sala e Lucas entrou rindo.

– Eu ouvi do corredor a menina falando. - Ele riu.

– Nem me fale. - Massageei a testa em movimento circulares. - Estou até com dor de cabeça.

– Pode tomar um remédio, porque hoje é sexta. - Ele falou me olhando e jogando uns papeis na minha mesa.

– Vou pra casa dormir, isso sim. - Peguei os papeis na mão para ver do que se tratava.

– Nem morto, hoje tem racha lá na saída da cidade, e eu e você vamos. - Ele deu um tapinha nas minhas costas.

– Vamos? - Perguntei confuso. - Por que?

– Porque? Apenas uma coisa: Vai estar lotado de gostosa. Esse motivo está bom ou quer mais um? - Ele perguntou irônico me olhando.

– Gostosa tem até aqui na empresa. - Sorri.

– Tá bom, mas um motivo então: A mina que você quer pegar vai está lá. - Ele piscou.

– Como você sabe? - Olhei pra ele.

– Falei com o seu irmão hoje. E ai, vai ou não?

– Vou, eu acho. - Guardei os papeis na gaveta e Lucas saiu da sala rindo.

Estava começando a escurecer e sai do serviço exausto, minha cabeça estava doendo pra caramba e eu ainda teria de ir pra casa ouvir minha mãe reclamar e depois ir pro racha, juro que só vou sair de casa hoje porque é pra ver a Bia, caso contrário não iria.

Tomei um banho gelado pra animar e troquei de roupa.

Vesti uma calça jeans, uma camisa polo azul marinho e um sapa-tênis.

– Onde você vai Eduardo Almeida? - Minha mãe veio andando atrás de mim, do quarto até a porta da sala.

– Vou sair mãe, já disse. - Revirei os olhos.

– Pra onde? - Ela pegou as chaves do meu carro. - Se não falar não dou as chaves.

– Vou encontrar uma garota. - Menti.

– A Polly? - Ela falou sorridente.

Minha mãe queria empurrar Poliana pra cima de mim ou do Mathias, pois ela era rica e de família renomada. O que ela não sabe é que Polly é o tipo de garoto que todos já comeram, sendo bem sincero.

– Claro. - Menti outra vez.

– Então pode ir, e manda um beijo pra ela. - Minha mãe entregou as chaves do carro e eu sai rindo.

Beatriz Narrando

O dia passou rápido e quando eu vi já era hora de se arrumar pra sair. Eu estava meio insegura com o salto ainda, mas pelo menos estava conseguindo andar sem parecer uma boneca de madeira. Vesti a roupa que havia comprado no dia anterior e me maquiei, como sempre deixei os olhos bem escuros e retoquei o esmalte preto das unhas.

Cris e Vivi estavam lindas. Cris estava com uma saia preta e a minha blusinha do Ramones também preta e o coturno vermelho dela. Vivi estava com uma calça jeans bem apertada, uma blusinha regata branca e um coletinho por cima e all star verde. Pegamos um taxi e fomos direto pra saída da cidade. Estava lotado de mano e piriguete, olhei em volta procurando por um rosto conhecido e não encontrei ninguém além da saco de ossos, Poliana.

Eduardo Narrando

Passei na casa do Lucas e depois fomos pra lá. Estava lotado de ninfeta com mini saia dando moral pra todo cara de carro que passava.

– Se quiser pode falar que o carro é seu. - Falei jogando a chave pro Lucas e me enfiei no meio do povo.

Sai esbarrando no povo até chegar até um ''barzinho'' que eles montaram na calçada. Pedi uma água, pois não estava bom pra encher a cara. Sentei na calçada e abaixei a cabeça entre os joelhos.

Beatriz Narrando

Eu andava com cuidado pra não estrear os saltos com um tombo na frente de todos, ainda mais na frente da Poliana.

Fui até o ''barzinho'' e pedi uma Smirnoff. Fui andando com cuidado e subi na calçada, quando menos esperava tropecei em algo e pof pro chão.

– Mas é um filho da puta mesmo. - Falei brava.

– Ei não grita, estou com dor de cabeça. - O rapaz que eu havia tropeçado falou baixo.

– Não grita o cacete. - Olhei pra ele.

– Que... - Ele parou e ficou me olhando.

– Tinha que ser você né, porra. - Falei brava, sem perceber que eu estava praticamente sentada em seu colo.

– Mas que boca mais suja hein Bia. - Ele me olhou surpreso. - Você está aqui faz menos de um minuto e já aprendi uns dez palavrões com você. - Ele riu de mim.

– Não começa a me irritar. - Falei batendo nele.

– Ai, caramba. - Ele se esquivou e cobriu a cabeça com o braço. - Pode ficar no meu colo, eu não ligo. - Ele falou me provocando.

– Seu idiota. - Dei um tapa nele e me levantei cambaleando.

– Uau, vestidinho e salto. - Ele arqueou as sobrancelhas sugestivamente.

– Me mira, mas me erra Eduardo. - Sai pisando firme com raiva.

Ele se levantou e veio andando atrás de mim.

– Vai! Para de ser bravinha Bia. - Ele falou me seguindo por onde eu ia.

– Eu vou virar um soco em você e você vai passar vergonha por apanhar de uma garota de 1,60.

– Que pequena. - Ele riu e eu me virei nervosa.

– Calado, tá me irritando. - Fechei as mãos e as apertei bem forte para que a raiva passasse.

– Pessoas estressadas morrem mais cedo que pessoas relex como eu. - Ele me olhou e sorrio debochado.

– Não se eu te matar né, ai viverei feliz para sempre. - Sorri irônica.

– Você não teria coragem. - Ele falou sorrindo.

– Ah, eu teria sim. - Continuei andando. - Você vai passar a noite toda me seguindo?

– Sim, só paro quando você falar comigo. - Ele continuou atrás de mim.

– Ótimo, eu não ligo mesmo. - Continuei caminhando e ele começou a cantarolar e por onde eu ia ele estava atrás cantando e dedicando a música pra mim, as pessoas olhavam curiosas e riam de nós. Eu estava a ponto de explodir e bater nele até mata-lo. - Dei risada sozinha.

– O que foi? - Ele perguntou desentendido.

– Você canta até que bem. - Falei indo em direção ao banheiro feminino.

– Eu sei. - Ele riu. - Ei, você vai no banheiro?

– Sim, e vou me livrar de você. - Dei uma olhadinha pra trás e sorri.

– Hum. - Ele resmungou e eu entrei no banheiro.

– Finalmente me livrei de você. - Gritei da porta pra ele lá fora e entrei no banheiro. Me olhei no espelho, arrumei o cabelo e entrei em uma das portas.

Eduardo Narrando

Não pensei duas vezes e me afundei dentro do banheiro feminino. O banheiro cheirava a mulher e tinha umas garotas se olhando no espelho.

Fiz Oi com a mão e elas começaram a gritar.

– Sai daqui seu safado. - Uma magrela me deu um tapa no braço e saiu do banheiro.

– Que agressivas. - Sussurrei.

Bia deu descarga e saiu do banheiro, lavou as mãos e ficou parada em frente ao espelho.

– Não acredito nisso. - Ela falou assim que se virou e me viu. - Você é um idiota. - Ela fez negativo com a cabeça e entrou no banheiro de novo.

– Qual é Bia, você vai passar a noite toda aí? - Falei rindo.

– Te odeio. - Ela gritou batendo na porta do banheiro.

– Odeia nada. - Eu ria dela. - Vamos, se você ficar ai, eu vou ficar aqui fora cantando até você sair.

– Não, para de me fazer passar vergonha. - Ela falou rindo.

– Tá dizendo que eu sou motivo de vergonha?

– Sim, demais ainda. Vão achar que você é gay. - Ela riu alto. - Coisa que não é muito impossível de achar quando vê você com esse cabelinho arrumadinho.

– Qual é o problema em pentear o cabelo? - Me virei pro espelho.

– Acho gay. - Ela falou vindo na minha direção. - Faz assim ó. - Ela abriu a torneira e molhou meu cabelo.

– Ótimo, cabelo molhado é menos gay, nunca vi isso. - Revirei os olhos.

– Cala boca e abaixa pra eu arrumar. - Abaixei pra que ela alcançasse. Ela mexeu, bagunçou, passou mais água. - Pronto, tá melhor agora. - Me levantei e me olhei no espelho. Meu cabelo tava todo bagunçado e arrepiado.

– Você gosta assim? - Olhei nos olhos dela e ela desviou o olhar.

– Fica melhor. - Ela falou baixo e saiu do banheiro.

Sai do banheiro disfarçando e fui atrás dela.

– Você não vai me deixar em paz mesmo, né? - Ela me olhou e respirou fundo.

– Não.

– Ótimo. - Ela falou irônica e enrolou uma mecha do cabelo no dedo.

– Que isso hein? - Peguei uma mecha colorida do cabelo dela. - Brigou com o cabeleireiro foi? - Dei risada.

– Foi sua mãe que pintou. - Ela me olhou séria. - Qual é, vai implicar até com o meu cabelo agora? Eu gosto assim, então foda-se.

– Não estou implicando, eu só ia dizer que é legal. - Ela me olhou.

– Hum.

Beatriz Narrando

Eduardo ficou andando atrás de mim e tentando puxar papo a todo o momento, eu como sempre muito simpática não respondia ou apenas sorria sem mostrar os dentes, fazendo com que ele ficasse sem graça. Estávamos perto da pista onde ia rolar o racha quando vi Juca e a irmã dele vindo em nossa direção.

– Oi Bia. - Juca falou me olhando.

– Oi Juca. - Sorri sem graça.

– Oi Juca. - Eduardo se intrometeu no meio de nós dois.

– E ai Duda. - Juca falou.

– Oi gente. - Lucia falou baixo.

– Oi. - Eu e o Duda respondemos juntos.

– Você tá linda. - Juca falou me olhando.

– É eu disse isso, mas ela é agressiva. - Eduardo se intrometeu de novo, eu olhei pra ele de canto e ele ficou sem graça.

– Obrigada Juca

Juca se afastou um pouco de nós dizendo que ia comprar algo pra beber e Eduardo colou em mim.

– Ele você trata bem né. - Ele falou me olhando.

– Cada um tem de mim o que merece. - Eu dei risada e sentei na beira da calçada.

– Tá bom então. - Ele falou se afastando.

– Cansou de ficar atrás de mim? - Perguntei rindo.

– Vou procurar alguém que mereça minha atenção. - Ele virou e se enfiou no meio do pessoal que estava lá.

– Cadê o Duda? - Juca falou sentando ao meu lado.

– Teve uma crise de tensão masculina e foi procurar uma periguete pra se esfregar.

– Nossa. - ele riu e me entregou uma coca.

– Valeu.

– Por que você e o Duda ficam nessa guerrinha? Tá rolando algo entre vocês? - Juca me olhou.

– Tá louco Juca? - Falei rindo. - Eu acho Duda fresco demais, ele tem um ar de egocêntrico sabe, fora que logo ele se cansa de ficar atrás de mim, ele só está assim porque eu dei um fora nele, tem homens que não sabem engolir um NÃO.

– Realmente, esse deve ter sido o primeiro fora da vida dele. - Nós rimos.

– Homem assim precisa comer o pão que as mulheres pisaram pra dar valor em alguém.

– Então não tá rolando nada, que bom. - Juca falou baixo e deu um gole na bebida.

– É, cadê sua irmã? - Perguntei fugindo do assunto.

– Sei lá, ela é grandinha já, eu dou um espaço pra ela curtir também.

– Que irmão legal que você é hein.

– Sou um ótimo irmão, aliás todos da minha família são bem legais. Se quiser entrar pra família tem lugar ainda. - Ele me olhou.

– Ah é, vai me adotar como filha? - Dei risada baixo.

– Filha? Não. - Ele riu e eu peguei a malícia no ar.

– Sei. - falei tensa.

– Qual é, tava pensando em prima ué. Relaxa, não sou o Eduardo. - Ele deu um gole na bebida e eu olhei pra ele.

Eduardo Narrando

O racha começou e um aglomerado de gente se formou próximo a pista, aproveitei que o restante do local estava praticamente vazio e fui sentar em um banco meio escondido. Encostei a cabeça pra trás e fechei os olhos, eu ainda estava morrendo de dor e pra melhorar tinha acabado de levar um chega pra lá da Bia, como sempre né.

– Aê mano, tá passando mal ainda? - Lucas falou sentando-se ao meu lado.

Quando levantei a cabeça e abri os olhos meu olhar foi direto na Bia e Juca, eles estavam rindo e eu me senti ainda pior do que já estava. - Torci os lábios e respirei fundo.

– Aham, acho que estou indo embora. - Falei me levantando.

– De boa então. - Lucas foi pegando as chaves do bolso.

– Não, pode ficar com o carro. - Sorri falso. - Eu me viro.

Sai caminhando devagar, fiquei pensando o que estava acontecendo comigo, eu estava estranho, não estava agindo como Eduardo Almeida Campos, se fosse há alguns meses atrás eu não teria dado a mínima pra Bia e ia sair pegando várias sem remorso nenhum, mas eu estava me sentindo mal, me sentindo triste por vê-la sorrindo com outro, sendo que eu nem se quer sou capaz de tirar um pequeno sorriso dela.

– Você tá perdendo o foco Eduardo. - Falei baixo enquanto caminhava.

– Perdendo o foco do que? - Alguém perguntou atrás de mim. Assustado eu olhei pra trás e vi a Vivi caminhando sozinha também.

– Tá fazendo o que aqui? - Perguntei parando e esperando até que ela se aproximasse de mim.

– Resolvi ir embora, pensar um pouco na vida. - Ela forçou um sorriso e voltamos a caminhar lado a lado. - E você? Cadê seu carro? - Ela me olhou e logo desviou o olhar.

– Deixei com o Lucas, quem sabe ele não termina a noite melhor que eu. - Torci os lábios.

– O que aconteceu? - Ela me olhou. - Se quiser falar é claro.

– Ah nem eu sei, estou estranho. - Olhei pra ela.

– Somos dois então. - Ela abaixou as pálpebras desanimada.

– O que aconteceu com você? - Perguntei caminhando.

– Você já teve a sensação de que não consegue mais viver? Que a gente nasce e depois espera loucamente pra morrer? - Ela abaixou a cabeça e continuou caminhando.

– Geralmente quando brigo com o meu pai penso que seria melhor eu nem ter nascido.

– Pelo menos você tem um pai pra brigar. - Ela falou baixo.

– As vezes preferia não ter. - Cuspi as palavras baixo.

– Se quiser pode dar seu pai pra mim. - Ela riu baixo.

– Com todo o prazer, te envio com papel de presente e tudo. - Nós rimos.

– Demorou então hein. - Ela olhou pra praia do outro lado da rua. - Vamos? - Ela falou me olhando.

– Praia uma hora dessas? - Assustei.

– Só pra conversar, pensar na vida. Não vamos entrar na água Eduardo. - Ela revirou os olhos.

– Vamos ué. - Concordei e atravessamos a rua.

Vivi era melhor do que eu imaginava, eu nunca havia parado pra conversar com ela assim só nós dois. Ela sentou na areia e logo já estava deitada olhando as estrelas.

– Olha! Aquela estrela parece um coração. - Ela falou apontando pro céu.

– Pra mim são todas iguais, e nenhuma parece um coração. - Olhei de canto.

– Finge que parece. - ela riu e eu me deitei ao lado dela. - Já deve ser super tarde né?

– Não sei, mas não estou com um pingo de vontade de voltar pra casa hoje. -olhei pra ela.

– Queria sumir por uns tempos.

– Vejo que toda aquela imagem de família perfeita que sua mãe tenta passar é falsa. - ela me olhou e eu concordei com a cabeça.

– Minha mãe e meu pai nem na mesma cama dormem, só pra você ter uma ideia.

– Nossa. E eles não fazem coisas? - ela riu.

– Acredito que faz um bom tempo que meu pai não dá uma comparecida. - nós rimos.

– Que tenso.

– Demais. - ficamos em silêncio.

– Acho que vou indo. - ela falou se sentando.

– Tá bom. - olhei pra ela. - Amanhã você vai na competição?

– Claro, vou lá torcer pra Bia. - ela sorriu.

– Então nos encontramos lá.

– Tá bom, até amanhã. - ela falou se levantando e sorrio.

– Foi muito bom falar com você. - falei quando ela já estava caminhando pra ir embora, ela virou e sorriu. - Até. - ela virou e continuou caminhando.

Viviane Narrando
Bia é realmente muito louca de não dar uma chance ao Duda, ele é tão legal e além de tudo é super lindo. Andei mais alguns minutinhos e já estava em casa, entrei nas pontas do pé pra não fazer barulho, já devia ser mais de 2h da manhã e elas já deviam estar dormindo.

– Onde você estava? - Cris falou acendendo a luz da sala.

– Por ai. - Respondi apreensiva.

– Por ai? Quero saber onde e com quem. - Ela me olhou séria.

– Estava na praia com o Eduardo. Mas por favor não conta pra Bia, não quero que ela pense coisa errada. - Respondi tirando os sapatos.

– A Bia nem liga pra ele. - Ela riu.

– Você acha mesmo? Será que ela ficaria brava comigo se eu tentasse algo com ele? - Perguntei baixo e me sentei no sofá.

– Não, vai em frente. - ela sorriu e eu me deitei no sofá, pensando como seria eu e Eduardo juntos. Ele poderia me ajudar a largar a vida que eu estou levando. - fechei os olhos e quando abri Bia me olhava parada na frente do sofá que eu estava.

– Que foi? - perguntei assustada.

– Nada ué. - ela deu risada e foi pra cozinha. Por um minuto pensei que ela havia ouvido tudo e estava brava, mas ela riu e foi comer algo na cozinha. Cris está certa, ela não quer nada com o Duda, o que é bom pra mim. - sorri com o meu pensamento. Ficamos ali mais um tempo assistindo um filme super estranho e depois fomos dormir.

Beatriz Narrando

Acordei cedo por causa da aulinha de skate, tomei um banho e me arrumei. Eu estava com cara de ursinho por ter dormido tão tarde e acordado tão cedo.

Tomei um banho e vesti um shorts jeans, camiseta AC/DC. Calçei um all star cano médio vermelho. Peguei minha mochila, meu skate e fui pra sala.

Peguei uma maçã e sai caminhando lentamente pelo calçadão, o vento batia no meu rosto e eu fechava os olhos. Cheguei na pista e já tinha uma molecadinha me esperando lá, era 8h20 e o Eduardo ainda não havia chegado, deduzi que ele não iria depois de ontem e comecei a arrumar as coisas pra aula.
Peguei meu skate e subi até o Ralf, pra dar uma animada e despertar enquanto não dava hora da aula. Quando cheguei lá em cima do Ralf, vocês não vão acreditar quem estava lá. Sim, Eduardo estava lá em cima sentado em um cantinho com a mesma roupa da noite passada e super pensativo.

– A noite foi tão quente que não deu tempo nem de trocar de roupa. - falei baixo. Ele apenas me olhou e se levantou descendo do Ralf - Não vai mais falar comigo? - perguntei enquanto ele descia.

– Não devo explicações porque estou com a mesma roupa de ontem, acho que você foi bem clara quando disse que só iríamos falar sobre a aula. - ele me olhou e terminou de descer a escadinha.

– Tá. - respondi seca e desci a mil com o skate nos pés.

Eduardo Narrando

Eu não queria ser grosso com ela, mas eu realmente estava cansado demais pra joguinhos. Passei a noite na pista de skate e não preguei os olhos nem um segundo. Minha mãe já havia ligado várias vezes no meu celular e eu não atendia, logo ela manda a polícia atrás de mim.

– Bom galerinha, hoje vocês vão aprender sobre equilíbrio okay? - Bia falou e a molecadinha chegou perto dela.

– De novo? - um menino de aparentemente uns 5 anos falou manhoso.

– É Pedrinho, vocês ainda não estão conseguindo parar muito tempo em cima do shaper. - ela sorriu.

– Esses são seus alunos? - perguntei rindo, tinha uns 6 meninos de 5 à 10 anos.

– Sim. - ela respondeu seca e foi ajudar um garoto a ficar parado em cima do skate.

– Parece fácil. - falei colocando um pé em cima do skate, quando coloquei o outro fui direto pro chão. Ela me olhou e balançou a cabeça de um lado pro outro desaprovando aquilo.

– É, não é nada fácil. - resmunguei enquanto me levantava.

– Que burro. - o tal Pedrinho falou rindo de mim. - Tem que por um pé aqui e o outro aqui, se não você nunca vai conseguir parar em cima do skate. - ele riu e a Bia olhou e sorriu.

– Atá, então me ajuda. - coloquei primeiro um pé. - E o outro?

– Coloca aqui. - ele apontou com o dedo e eu coloquei o outro pé.

– Consegui. - falei animado e Bia começou a rir.

– Agora rema. - ela me olhou e parou na minha frente.

– Remar? Que história é essa? - perguntei confuso. - Estou tentando andar de skate Bia, não de barco.

– Que animal. - ela sussurrou e revirou os olhos. A molecada que estava lá caiu na gargalhada.

A aula estava até que legal, Bia se enfezava o tempo todo comigo, já que eu não entendia nada do que ela falava. O sol estava começando a ficar forte e eu tirei a camisa.

– Que isso? - Pedrinho apontou pra minha tatuagem.

– Uma tatuagem Pedrinho. - respondi rindo.

– Quero ter uma dessa quando crescer. - ele olhou boquiaberto.

– Olha, mas tem que ser quando você for bem grandão, okay?

– Tá bom. - ele consentiu com a cabeça e ficou olhando a tatuagem.

– Quem diria que o boyzinho teria uma tatuagem. - Bia falou amarrando o cadarço do tênis.

– Meus pais serem rico não me faz um nerd idiota Bia. Você julga as pessoas pela aparência, isso não é nada legal. - ela levantou a cabeça e me olhou.

– Tirou o dia pra me tirar né. - ela revirou os olhos e voltou a encarar o all star vermelho.

Beatriz Narrando

A aula acabou e eu decidi que comeria alguma coisa ali por perto e já ficaria pra competição, o pessoal da organização já estava lá arrumando as coisas e alguns competidores já tinha chegado.

Peguei minha mochila e fui pra uma padaria próxima, peguei um salgadinho e uma garrafinha de coca-cola e sentei numa mesinha no canto.

– Posso? - Eduardo perguntou puxando a cadeira. Concordei com a cabeça e continuei comendo. - Tá nervosa com a competição? - ele perguntou dando uma mordida no salgado que ele comprou.

– Um pouco, mas estou tentando ficar tranquila. - respondi normalmente. - Preciso do prêmio.

– Pretende fazer o que com ele? - ele perguntou me olhando.

– Comprar um violão, eu acho.

– Que legal. - ele sorrio. - Você toca então?

– Aham. - respondi sem graça com a animação dele.

– Eu tinha uma banda no colegial, mas depois que me formei acabou. - ele falou fazendo gestos com as mãos.

– Você precisa mesmo fazer gestos com as mãos enquanto fala? - comecei a rir.

– É mania, desculpa. - ele colocou as duas mãos no salgado.

– Tudo bem. - sorri e fui pegando minhas coisas pra sair. - Já vou indo, até.

– Boa sorte. - ele sorriu e eu fui até o caixa pra pagar e voltar pra pista.


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