After the pain escrita por Neryn


Capítulo 30
Quase...




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"- Não minha cara Riley. Tal como eu não mando em ti, tu também não tens autoridade sobre mim! Tu fizeste a tua escolha ao continuares a trabalhar aqui, agora é a minha vez de fazer uma."

Bufei chateada por ele ser tão teimoso.

– Não desistes pois não?

– Nop. Nunca. - diz ele com um sorriso presunçoso. Continuei a andar e atravessei a rua até a livraria com Andrew atrás como se fosse a minha sombra. Andrew olhava de um lado para o outro desconfiado. Fogo ele pior que um polícia.

Entrei na livraria e logo corei. Bonito, como vou eu explicar quem é o Andrew ao Sr. O'Donnell sem ele começar a pensar coisas que nem deviam ser pensadas?

– Boa tarde! - cumprimento eu.

– Boa tarde raio de sol! - responde Charles muito animado e sorridente.

– Alguém está bem disposto! - brinco com o meu chefe.

– Temos tido bastante pessoal por causa do tempo. O sol finalmente dignou-se a aparecer e as pessoas são como as traças: vão atrás da luz! Quem é o esse rapazinho?

– Ah... é... é ... - como é que eu vou explicar quem ele é...como?

– Um amigo! Prazer, Andrew. - Disse ele apresentando-se apertando a mão enrugada do meu patrão enquanto sorria.

– Hum... parece-me que a Riley tem amigos muito bem parecidos! Também não me admira. Se não levar a mal este elogio, minha cara Riley, a jovem também é muito bonita! - diz Charles inocentemente e eu coro perante o seu elogio.

– Obrigada Charles... mas não precisa de me elogiar assim para me manter aqui a trabalhar! - digo eu brincando com ele e desatando a rir-me sendo seguida pelos outros dois presentes. Charles era sem dúvida uma excelente pessoa, tal como qualquer outro ser humano tinha os seus problemas, mas com estas pequenas palavras demonstrava-se simpático, amável, sempre disposto a ajudar, cheio de compaixão e claro tinha sempre uma ou duas anedotas para contar. Ainda só tinha trabalhado um dia para ele mas estava a gostar muito e desde que ele me deixe irei continuar a trabalhar aqui - Espero que não se importe que o Andrew fique cá hoje. Eu prometo que ele não irá fazer barulho, incomodar, partir alguma coisa, estragar algum livro, afastar clientes ... - calo-me porque recebo um olhar repreendedor de Andrew e outro divertido de Charles. - Resumindo... ele vai ficar quietinho! - concluo.

–Por mim tudo bem! - diz Charles - Agora Riley, deixa de tagarelar e vai trabalhar! Acho que ainda sou o teu patrão - continua ele num tom autoritário falso.

– Sim, meu patrão! - e vou para o balcão. Sento-me no num banco que lá tinha posto pois não ia passar lá horas a fio de pé. Tirei de debaixo do balcão o meu livrinho. Enquanto esperava que clientes aparecessem punha a minha leitura em dia, assim também não ficava aborrecida.

Andrew começou a vaguear pelo meio das prateleiras preenchidas por livros simplesmente a vaguear para passar o tempo. Eu sempre podia chama-lo e conversávamos para o tempo passar, mas não me queria arrastar para esses lados principalmente porque a maior parte das nossas conversas acabavam connosco a discutir ou eu a chorar e eu não queria arriscar que isso acontecesse pois pode sempre entrar um cliente a qualquer hora e das duas uma, se nos encontrar a discutir pode pensar que é uma discussão de casal ou a empregada a discutir com o cliente e em ambas as hipóteses perco um cliente. Num outro universo ao ver-me chorar pode pensar que o cliente está a maltratar a empregada ou então um casal a cortar relações e novamente perco o cliente. Mas chega de vaguear por universos alternativos e volta a concentrar-te no mundo real!

– Meninos! - chama Charles captando a nossa atenção. Eu desvio o meu olhar do livro para ele e Andrew sai do meio dos livros e vem encostar-se ao balcão mesmo à minha beira de maneira a que eu já conseguia cheirar o seu perfume... e que perfume que ele estava a usar! Abano a minha cabeça tentando focar-me no que Charles queria dizer - Vou ter que sair durante algum tempo mas não sei se consigo voltar antes da tua hora de sair Riley. Podem ficar aqui sozinhos? E entretanto se chegar a tua hora de ir embora Riley, já te ensinei como se desliga tudo, por isso, podes fechar tu a livraria!

– Claro Charles! - respondo prontamente. - Vá fazer os seus afazeres e demore o tempo que necessitar! Não se preocupe que nós ficamos bem... se entrar aqui algum ladrão não se preocupe que eu protejo o Andrew! - respondo e Charles desata às gargalhadas agarrando-se à sua barriga de tanto rir.

– Muito bem então - diz limpando as lágrimas dos olhos - Portem-se bem meninos! - E antes de sair pisca-nos o olho. Eu nem quero saber o que vai na cabeça daquele velhote. Ele sai.

– Com que então... proteges-me? - pergunta Andrew ainda debruçado sobre o balcão com um sorriso nos lábios.

– Cala-te Andrew! Mais facilmente sou eu a magoar-te que alguém que cá entre - digo acertando levemente com uma revista que estava no balcão na cara dele desfazendo assim o seu sorriso... mas foi temporariamente porque ele voltou a aparecer, e desta vez maior.

– Enquanto estiver à tua beira não consegues desfazer um sorriso dos meus lábios! - diz ele calma e inocentemente fazendo-me corar. Espero que ele não tenha reparado senão fica ainda mais convencido.

– Calma Romeu! Não fiques tão convencido pois enquanto estiver à tua beira nada tira a minha vontade de tirar esse teu sorriso com um estalo! - respondo e o sorriso dele desaparece.

– Autch! Eu sou amável para ti e tu és assim? - diz ele fingindo-se ofendido. Eu já o conhecia de ginjeira. Já sabia quando ele mentia, quando estava triste... e decifrava tudo isto através dos seus olhos. A expressão que eles traziam, o próprio brilho já me indicavam como é que o seu dono estava. Olho para ele e pela primeira vez não sabia o que ele ia fazer... os seus olhos carregavam uma expressão que nunca tinha visto, tinha as pupilas dilatas porém a cor verde brilhante. Ele avança o balcão ficando de frente para mim. Os seus lábios abrem-se num sorriso maroto e agora percebo o que ele vai fazer...

– Andrew... - digo calmamente - tu nem te atrevas a fazer isso! - digo cada palavra pausadamente de maneira que seria impossível a incompreensão.

–Oh, mas minha cara Riley, tu vais pagar! E pagar caro! - ele encurrala-me contra o balcão sem hipóteses de escapatória e eu simplesmente encolho-me aguardando pelo inevitável e ele chega. Andrew levanta as mãos e de repente ataca-me fazendo-me cocegas pela parte superior do meu corpo. Eu contorcia-me e batalhava contra as gargalhadas que tanto queriam sair mas de nada valia.

–Pára... por favor... - dizia entre risos. Andrew era muito habilidoso com as mãos e com apenas um simples toque no sítio certo arrancava gargalhadas de mim e ele ria-se juntamente comigo. Aquela livraria ainda à segundos estava em silêncio sendo este quebrado apenas pelo virar de páginas do meu livro, era agora preenchida pelas nossas gargalhadas - Não...consigo...respirar! - berro. E Andrew pára, só para depois me voltar a atacar sem misericórdia desta vez. Eu chorava de tanto rir e já me doía a barriga que já estava agarrada a ela e acabo por desabar no chão sendo seguida por Andrew que acaba com o seu ataque e dá-mos as últimas gargalhadas.

– Vês?!

– Vejo o quê? - respondo irónica. Ele revira os olhos e continua:

– É possível divertires-te comigo!

– Se com divertir-me contigo referes-te a um ataque de cócegas que quase me fez desmaiar por falta de oxigenação de sangue pois entre gargalhadas, tentar impedir-te de continuar com as cócegas e ainda tentar manter-me de pé deixa pouco espaço para respirar... então sim, diverti-me à brava!

– Porque é que não consegues deixar o teu orgulho de lado e simplesmente admitir que até por acaso divertiste-te um pouco! - eu ia falar mas ele levanta o dedo e intercede-me- Não vale a pena negar. Os teus olhos mostram-me tudo aquilo que eu quero saber!

– Então o que é que eles te estão a dizer agora? - atrevo-me a perguntar. Desde que o meu pai começou a maltratar-nos dentro de mim ergueu-se um muro que me impedia de falar sobre os meus sentimentos perante outras pessoas, a minha mãe incluída pois ela já sofria o suficiente com o meu pai e eu não queria preocupá-la com coisas que comparadas com aquilo não eram nada, tal como os meus sentimentos. Naquele tempo apenas me importava o bem estar da minha mãe e também não me queria voltar a magoar. Demorei muito tempo a aperfeiçoar o muro, a preencher todos os pequenos buracos com cimento para impedir que alguma palavra fugisse e construí-o alto e sem portas para impedir que alguém entrasse porém a minha mãe conseguiu criar uma pequena porta e era só ela, mas desde que mudei de cidade as coisas mudaram. Lyla também já tinha direito a uma porta mas Andrew era completamente diferente, ele deitava o muro que demorara tantos anos a construir abaixo numa questão de segundos, numa troca de olhares. Ali sentados conseguia sentir de forma mais intensa ainda o perfume de Andrew. Estávamos tão próximos que sentia a sua respiração quente na minha cara e o calor de seu corpo parcialmente encostado ao meu.

– Hum... acho que ambos sabemos! - responde e eu nem sabia o que pensar. Eu sabia o que queria, mas não o queria admitir! O rosto dele aproximava-se lentamente do meu e o meu corpo congelara. O meu coração dizia para corresponder ao seu movimento mas o meu cérebro era teimoso e dizia para me ir embora. Estava no meio de um dilema, de uma batalha entre a razão e a emoção. Eu não sabia qual dos dois ouvir o que deixara naquele estado estático. Os seus lábios estavam cada vez mais próximos e os seus olhos fechados. Na última da hora, quando os seus lábios quase tocavam os meus, virei a minha cara fazendo com que os seus lábios encontrassem a minha face. Os seus lábios eram macios e quentes. Apenas este toque na minha bochecha fez-me estremecer da cabeça aos pés! Ainda bem que estava sentada pois se estivesse de pé tinha a certeza que o meu destino seria o chão. Andrew nem teve tempo de responder à minha ação pois a livraria é preenchida pelo som da porta a ser aberta bruscamente.

Andrew e eu num ato reflexo levantamo-nos rapidamente como se nada tivesse acontecido à segundos atrás. Eu componho as minhas roupas e cabelos pois tinha que parecer bem perante um cliente mas ao olhar para a porta o que me esperava não era alguém interessado em comprar um livro mas sim alguém encapuçado. Ele entra na livraria e os seus passos eram firmes e barulhentos no chão de madeira da livraria. Ele trazia um saco às costas e mete lá a mão... tirando um bastão de basebol.

– Olhem só os pombinhos! - diz ele.

– Lembras-te o que disseste anteriormente sobre seres tu mais facilmente a magoar-me do que alguém que cá entrasse... bem, este não é o momento correto para te dizer isto mas... estavas enganada - e bem que estava enganada! Esperavam-nos sarilhos... e bem sérios!


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