Quem conta um conto escrita por Ma Ellena


Capítulo 11
Ciclo da Vida


Notas iniciais do capítulo

Mais uma crônica curta. Agradecimentos por um rolê ai e pela pessoa que resolveu pensar no meio dele e me inspirou a escrever agora.



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"Você já parou pra pensar se um ano realmente tem trezentos e sessenta e cinco dias?", foi essa a pergunta lançada em uma festa de aniversário, enquanto relembravam a querida infância, aurora de suas vidas e faziam futuros planos de se reencontrarem.

Pergunta que remeteu à um conto guardado no fundo da memória de um dos jovens, que até então escutava sonolento, de autoria Clarice Lispector e decidiu brincar de pensar. Fazia sentido o que o garoto falava, o mundo era organizado de acordo com que parâmetros? Cada animal seguia sua necessidade de sono, quem havia estabelecido que um dia eram vinte e quatro horas e que deveríamos dormir apenas porque o sol não se encontrava mais no horizonte e que cada estação era aquela mesma? Não deveríamos apenas viver? Viver um dia de cada vez como se fosse o único com sua própria necessidade, já que ele não mais voltaria?

Acompanhando esse raciocínio e terminando de formular sua resposta, a garota ouvirá alguém dizer que quando se começa a pensar assim é melhor parar já que não levará à lugar algum. Ficara ligeiramente irritadiça. Cansada de ouvir esses comentários toda vez que ela ou alguém começava a externisar esse tipo de pensamento, precisava não só responder àquela faísca maravilhosa de filosofia aleatória que realmente não levaria a ligar algum, mas levar à algo postivo e incrível que ninguém repara e sabia. Começou a vasculhar cada canto do seu cérebro sem saber, a fim de uma réplica incrível com um argumento inquebrável e indiscutível, que iluminasse todas as filosofias dentro deles apesar de toda a escuridão dentro dela.

Fazia sentido, respondera, explicou mais claramente o raciocínio dele, deu exemplo de outros calendários e ele concordou com ela. Disse então sobre ciclos. Sobre como tudo isso era a vontade infindável do ser humano de fazer com que tudo se repita e sim, de certa forma se repete, mas quando começa novamente se faz novo, nada é igual, tudo se faz diferente e na realidade é uma nova oportunidade. Não entenderam direito, resolveu dar exemplos concretos. Conhecera uma neurobiologista que será uma palestra em que explicava sobre refazer seus hábitos e como novos neurônios eram criados todos os dias, dando uma nova chance de uma nova vida e novas oportunidades todos os dias. Todos os dias pareciam nascer iguais, mas eram diferentes, porque haviam coisas que haviam morrido e novas oportunidades haviam surgido.  Como desfazer velhos hábitos e criar novos? Como quebrar ciclos? Força de vontade. Quanto tempo? Se não me engano dois meses. Como isso funciona? É como um mesmo caminho que você faz todos os dias, você precisa enfraquecê-lo enquanto fortalece o outro, como se deixasse a grama do lado esquerdo crescer enquanto corta a do lado direito. 

O tempo é controlado por você mesmo, o ciclo não se acaba, ele se renova para algo novo e melhor, uma versão melhorada de você mesmo. "Todo mundo consegue", ela terminou. "Menos uma pessoa que usa crack", brincaram, até assim, havia dito, porque morrem células velhas, novas nascem. Todos. Os. Dias. Sempre há uma chance. "Vamos testar com você", eles voltaram a brincar e descontrair. Brincar de pensar pode se tornar perigoso se não for bem controlado, lembrara da passagem. Enquanto ouvia novamente a conversa e comentava aqui ou ali, pensava em duas coisas: o quanto nos importávamos em ser socialmente aceitos e nos fechamos ou usamos máscaras e no garoto que havia dito para não pensar e no que ele tinha tanto medo de pensar, em como brincar de pensar podia fugir de controle para ele e atingir suas férias ainda desconhecidas pela garota.


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