Obsession escrita por Cris Turner


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a Nay. Muito obrigada pela indicação, floor *-*



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Capítulo 14

A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal" (Machado de Assis)

Alice falou mais alguma coisa. Contudo, eu estava ocupada demais segurando a porta aberta do meu carro, um pouco curvada, tentando de todas as maneiras não colocar meu café-da-manhã para fora em cima das belas flores de Esme. A náusea me consumia, mas isso não impediu que o desespero também surgisse quando notei que a baixinha aproximava-se de mim. A última coisa de que eu precisava no momento era do interrogatório Cullen. De maneira muito desajeitada, joguei-me no banco do motorista.

- BELLA! VOCÊ NÃO PODE DIRIGIR NESSE ESTADO. – ela gritou, chegando cada vez mais perto.

Liguei o carro. Com esse gesto ela pareceu perceber que a ofensiva direta não surtiria efeito. Tentou algo mais sutil. Abaixou o tom e parou de andar:

- Bella, desça do carro. Vamos conversar. Diga-me o que está acontecendo. Nós podemos passar por isso, juntas. Somos amigas, lembra?

Engatei marcha-ré e coloquei o carro de volta na estrada de saída.

- Preciso ficar sozinha, Alice. Depois eu ligo. – consegui falar, apesar do bolo terrível em minha garganta.

- BELLA, NÃO!

Acelerei e deixei a propriedade para trás antes que ela pudesse dizer alguma coisa que me fizesse mudar de idéia. Alguma coisa que me fizesse correr para o colo da minha melhor amiga e chorar todos os meus problemas para ela... o que provavelmente faria com que a família inteira dela passasse a desprezar Edward. Então seria mais um peso para eu carregar em minha já-muito-sobrecarregada consciência.

E o pior de tudo é que o "obrigado" não era exatamente um motivo para eu correr para minha melhor amiga. Os outros até que foram. O estúpido plano para enganar a todos, todas as mentiras no meio do caminho, os beijos "falsos". Esses, sim, eram motivos para um desabafo, mas o agradecimento de Edward não era. Afinal, ele havia deixado bem claro, no dia em que pediu a minha ajuda para realizar esse plano, que as coisas durariam até o dia que a avó dele fosse embora. Depois seria mais alguns dias de um fingimento raso, então, terminaríamos por "incompatibilidade de gênios". Dessa vez não houve qualquer mentira por parte dele e também não houve nenhum deslize de minha parte. Foi o imprevisto que encurtou a viagem da sra. Cullen e o nosso teatrinho. Era engraçado como dessa vez não havia um culpado para quem eu pudesse apontar o dedo. E, paradoxalmente, isso tornava tudo pior.

Nas outras vezes, podia culpar a mim mesma. Não era o melhor sentimento do mundo, mas, ao menos, existia algum responsável. Dessa vez era como se o destino estivesse interferindo diretamente para que nós nos separássemos o mais rápido possível... quase como se fosse errado ficarmos juntos – mesmo que fosse tudo de mentira. E, para melhorar meu humor, eu nem acredito nessas bobeiras de "destino" e "signos do zodíaco" e coisas ABSURDAMENTE comprovadas do tipo. Para se ter uma noção de quão desesperadora estava a situação. Até o Destino tinha arrumado um lugarzinho na minha cabeça.

Totalmente deprimente. Porque, antes, quando era tudo um erro humano – e, na maioria das vezes, meu – não restava mais esperança, pois havia estragado tudo. Só que, quando a situação parece estar acima de você, quando depende de coisas sobre as quais você não tem qualquer tipo de controle, e, muitas vezes, não pode nem mesmo ver o que está chegando... essa é o pior tipo de situação. Porque ainda resta uma pontinha de esperança e, por mais que se lute contra, a esperança continua lá. Quase como se sussurrasse que ainda era possível conseguir o controle da situação... e... e ajeitar tudo. Meu cérebro continua gritando que isso não era viável. E que eu deveria estar feliz por finalmente tudo ter acabado, mas a única coisa que eu conseguia sentir era um estranho vazio.

Soltei um pesado suspiro. E logo em seguida um grito estridente.

Por estar imersa demais em meus pensamentos, esqueci completamente de prestar atenção na estrada e a caminhonete seguiu em direção a um barranco. Afundei o pé no freio enquanto girava o volante. Por puro milagre consegui fazer o carro parar antes de um acidente. Desliguei o motor. Por sorte aquela era uma estrada pouco utilizada, caso contrário eu poderia ter causado um sério acidente envolvendo gente inocente. Cruzei meus trêmulos braços sobre o volante e pousei a cabeça sobre eles, respirando fundo várias vezes para controlar meus nervos. Algum tempo depois, quando estava um pouco mais calma, levantei a cabeça e observei o lugar aonde havia parado. Estava mais perto da cidade agora. Percorri uma grande distância em um modo que não poderia ser chamado de outra coisa senão "Piloto Automático".

Esfreguei as mãos pelo rosto e religuei o carro. Não queria sair dali, mas também não poderia ficar. Parece que todos os caminhos da minha vida – os físicos e os metafóricos – me levavam para o mesmo dilema: a vontade de permanecer mesmo sabendo da impossibilidade disso.

Dirigi sem rumo. Não queria ir para casa para me trancar novamente no quarto. Contudo, desejava a solidão para que – mais uma vez – meu cérebro pudesse absorver todos os impactos que levara. As paisagens passam por meus olhos sem que eu conseguisse distinguir uma da outra. Era tudo tão desconfortável e tão pouco convidativo. Depois de um tempo, que pareceu longo demais, foi que eu finalmente pareci chegar. Parei o carro e desci. Talvez meu inconsciente tivesse me levado até aquele lugar. Olhei ao redor. Havia se passado muito tempo desde a última vez em que estive ali. Mas tudo parecia exatamente igual. Os mesmos brinquedos infantis, as mesmas caixas de areia. A mesma grama aonde eu caí e um pequenino garoto de cabelos acobreados e rebeldes me deu uma flor.

Senti uma lágrima solitária escapar. Passei a mão sobre ela e caminhei até o ponto aonde, anos atrás, eu havia me apaixonado por Edward Cullen. Tinha uma certeza irracional de que fora exatamente ali – aonde eu agora pisava – que eu havia caído depois de escorregar rápido demais no velho brinquedo que estava a poucos centímetros de mim. Não era como se meus joelhos não agüentassem mais o meu peso, era uma necessidade psicológica que me queimava. E foi por essa necessidade que deixei meu corpo abaixar até que eu estivesse sentada onde, segundos antes, estava em pé. Abracei meus joelhos e ponderei mais uma vez como havia chegado àquela situação deplorável.

Talvez a pergunta certa seria "como não cheguei à algo pior ainda?". Parecia que eu havia escolhido a opção errada cada vez que me fora oferecida uma escolha. Por sorte, ainda tenho a desculpa de que minha avalanche de erros começou ainda quando eu era nova demais para perceber a dimensão do que fazia. Ainda era uma pirralha quando decidi que meu recém-descoberto-príncipe adoraria passar todas as horas possíveis comigo. E – talvez - eu também não possa ser culpada por tê-lo perseguido durante nossa pré-adolescência, afinal, nessa época ainda éramos controlados pelos impulsos infantis. Mas eu realmente deveria ter percebido que alguma coisa estava errada em meu pequeno mundo cor-de-rosa quando superei os treze anos. Já não era mais criança, devia ter deixado de agir como tal.

"Pior cego é aquele que não quer ver". Grandes palavras essas. Eu supostamente deveria ter enxergado as dicas - as pistas - que Edward mandava para me mostrar a realidade. Contudo, eu, que nunca me considerei burra, insisti no mesmo patético erro. De novo e de novo.

Arrastei ambas por meus cabelos, puxando-os com força para trás. Não havia dor física ali.

Por falar em provérbios, a minha vida é praticamente uma reunião deles. "Nem tudo que reluz é ouro", "Cuidado com o que você deseja porque pode se tornar realidade" e "Cavalo dado não se olha os dentes" são os meus favoritos. O primeiro resume bem as várias vezes em que interpretei erroneamente uma ação de Edward. O segundo cabe perfeitamente em meu falso namoro. O namoro que eu desejei durante anos e que, quando finalmente aconteceu, foi tão diferente e tão errado que quase tirou uma parcela da minha sanidade. E o terceiro, bem, o terceiro tem ligação direta com o segundo. Ele se refere aos momentos roubados naqueles dias da farsa em que eu fingia que as coisas estavam acontecendo porque nós dois queríamos que assim o fosse, e não por causa de um acordo esquisito firmado no calor de um momento.

E, tanto quanto os provérbios inundavam a minha vida, a palavra "patético" preenchia a minha mente. Isso tudo era tão frio e triste... tão vazio. Era tãosem vida que deixava até mesmo a fina camada de esperança contra a qual eu lutava totalmente pálida. Outra vez eu deveria estar me sentido de um jeito, mas não poderia estar mais longe do esperado. Era esperado que o alívio chegasse junto com o momento em que finalmente acabaríamos com a farsa mal planeja, contudo, eu sentia... Não. Na verdade, eu não sentia nada.

Isso era centenas de vezes pior. Centenas de vezes mais sufocante. Antes havia um motivo. Algo para me agarrar. Sei que soa estúpido sofrer tanto assim por alguém... tanto assim por um cara. Mas eu sentia – e não era somente no fundo – era no fundo, na superfície e em cada pedaço do meu coração que Edward fora criado para mim. Para que pudéssemos viver juntos o tempo que pudéssemos. Para que tivéssemos nossas vidas separadamente e para que tivéssemos a nossa vida.

Sempre acreditei em alma-gêmea e coisas melosas do tipo. Bom, desse pedaço da minha inocência eu não tenho vergonha. Realmente acredito que Edward é meu príncipe... igual aquele da Cinderela. O problema é que eu não sou sua princesa. Eu estava mais para a irmã malvada que atrapalha a vida dos protagonistas.

Esfreguei meus braços. Estava sentindo cada vez mais e mais frio apesar do sol brilhando majestosamente acima.

Outra fonte de saber eram aquelas frases épicas de autores famosos. Nunca fui boa com nomes. Não lembro se "Eu te amo. E o que é que você tem a ver com isso?" foi dito ou escrito. Nem mesmo lembro se essas foram as palavras usadas, todavia, a essência era a mesma. Nós não podemos controlar nossos próprios sentimos muito menos os dos outros. Uma boa metáfora – e olha que essa seria uma das poucas boas que eu alguma vez já criei – seria comparar a vontade das pessoas comuns de serem amigas de celebridades das quais o mais perto que já chegaram foi quando compraram uma revista estampada por elas. Você lê as revistas sobre elas, ouve seus CDs, assiste seus filme, seus concertos e suas entrevistas. Sabe a cor, a comida, o tipo de música e a série favoritos. Disseca cada detalhe do cotidiano delas, tentando chegar mais perto, se sentido mais perto... Mas é apenas uma miragem no deserto da vida. Você vê o Oasis ao longe, porém, ao chegar perto, é a apenas sua mente pregando uma peça. Dizem os físicos que isso é mais um truque das condições físicas do ambiente – tais como luz e água – do que um truque do cérebro. Porém, aonde estaria a poesia nisso?

É mais encantador acreditar que seu cérebro cooperou com seu coração e te deu um pouco de esperança sob o sol escaldante da vida do que ter que aceitar a sucinta e objetiva explicação cientifica sobre isso. Voltando ao quente céu das estrelas que brilham na terra, a maioria dos fãs percebe que não é saudável cultivar tal crença. Contudo, existem aqueles que preferem acreditar na visível mentira a enfrentar a vida que tem.

Esfreguei meus braços com mais força dessa vez. A sensação gelada parecia aumentar a cada segundo.

No momento, penso que me encaixo bem nos dois grupos. Uma parte de mim – contra a qual eu lutava bravamente – queria se agarrar aos acontecimentos da farsa, tentando fazer com o restante da minha consciência acreditasse que havia um motivo para tudo aquilo, que Edward tinha um motivo. Um bom motivo. Alguma coisa que poderia consertar nosso mal feito conto de fadas.

Então a outra parte, a parte que mantém a sanidade, entra em ação e ri da sua irmã menor, caçoando por ela nunca crescer e aprender com os erros que cometeu. E olha que não foram poucos.

Acredito que foi em uma música que certa vez ouvi "a vida vai bater forte em você, tão forte até lhe deixar de joelhos". A concepção está errada, sabe? Não é a vida, e, sim, suas escolhas que vão jogar você no chão e lhe esfolar a pele até que você cresça mentalmente a fim de enfrentar as conseqüências de seus atos. É preciso a coragem de um adulto de verdade para aceitar que cada ação reflete em uma reação da mesma força e de direção oposta.

Eu nunca havia me arrependido de, naquele dia, tanto tempo atrás, ter implorado para que minha mãe levasse-me até esse mesmo parque. Fazia um dia quase tão bonito quanto o de hoje. E o sol é tão raro em Forks. Agora, todavia, penso que talvez tivesse sido melhor ter ficado em casa. Teria assistido TV, brincado com minhas bonecas e depois teria ido dormir. Não teria encontrado o lindo garotinho com os cabelos com gel devido à tentativa frustrada de alguém para domar aquele emaranhado rebelde.

Não digo que não o teria conhecido. Forks é uma cidade minúscula, quase todo mundo se conhece. Porém, teria certeza de que as circunstâncias seriam outras, e, com, um pouco de sorte, eu não teria me apaixonado tão perdidamente por ele. Claro que, no começo, não foi uma paixão. Crianças são inocentes demais para isso. Mas havia um carinho especial. Era diferente do que eu sentia por meus pais, e também foi diferente do que eu sentia por Emmett e Jasper quando nos tornamos amigos. O problema é que foi exatamente esse carinho que cresceu exponencialmente até não caber no meu peito e precisar ser colocado para fora. Eu necessitava mostrar a Edward o quando eu gostava dele, o quanto eu o amava. O quanto eu ainda o amo.

E foi ai que tudo começou a desandar. Mais uma vez me pego pensando em quão cega eu fui. Se ao menos eu tivesse... não sei... Se eu tivesse dado mais espaço a ele, se eu tivesse...

Solucei. Só agora percebia que estava chorando e que os soluços sacudiam meu peito. Por sorte, não havia ninguém ali agora para presenciar a adolescente depressiva chorando graças a seu ensangüentado coração.

Se eu tivesse tentado ser amiga dele ao invés de seguir a fatídica crença de que ele estava apaixonado por mim, bom, eu talvez tivesse uma chance de verdade. Deveria ter sido um pouco mais eu... mas meu amor por Edward me deixava meio míope para o resto do mundo. E isso inclui meu patético – olha a palavra outra vez - comportamento.

Ao menos ainda me restava a esperança de que o alívio eventualmente apareceria. Senão agora porque a notícia era muito recente, mais tarde ele supostamente se faria presente. Afinal, finalmente a minha dívida para com Edward estava paga. Custaram-me os mínimos pedaços do meu coração que ainda restavam intactos e um pouco da minha sanidade. Mas eu finalmente compensei-o por todo o transtorno que havia causado em sua vida. Havia dado tudo certo, não é mesmo? Ele até tinha mandado sua irmã me transmitir seu agradecimento por nosso plano não ter falhado em fazer sua avó um pouco mais feliz por não tê-lo mais como solteiro. Suponho que agora cada um finalmente poderia seguir com a vida. De maneira separada, é claro. Bem do tipo: cada um para um lado.

Com certeza não seria uma separação tão abrupta assim. Nós precisaríamos encenar uma briga e combinar as histórias que contaríamos quando fossem questionados sobre o fim do relacionamento. Mas, basicamente, era o fim. Algumas poucas horas seriam o suficiente para que nós tramássemos o último passo do teatrinho e, depois, pouco se encontrariam novamente. Somente quando fosse extremamente necessário. Eu me certificaria de que isso acontecesse.

Eu só esperava um pouco mais de consideração da parte dele. Não queria ficar sabendo do final de tudo através da minha melhor amiga. Esperava uma conversa franca sobre o que havíamos passado. Droga! Eu até mesmo tinha passado um dia inteiro me preparando psicologicamente para isso. Bom, há grandes chances de Edward ter percebido que já não restava mais consideração para gastar comigo. Afinal, durante anos e anos foi o único sentimento que ele teve por mim. Por consideração - por eu ser a melhor amiga da irmã dele - ele não me disse para parar de persegui-lo. Bom, foi isso e o cavalheirismo intrínseco dele.

Pelo visto, já não restava nem consideração, nem paciência. Era quase como se ele estivesse tão vazio quanto eu estava agora.

Nossa. Como doía.

Abaixei a cabeça sobre meus braços. Já não conseguia pensar direitos. Meu coração, no qual não restava mais nenhum pedaço inteiro, apertava meu peito e sufocava minha cabeça tanto quanto eu tentava sufocar meu choro em meus braços.

Eu sempre soube que esse dia iria chegar. Desde que eu concordei com o começo dessa farsa, eu sabia o que precisaria ser feito no final. Mas eu... é...é tão difícil dizer adeus...

E de repente o choro era tão alto que, ao invés de eu conseguir sufocá-lo em meus braços, era ele que sufocava meus pensamentos. Agora minha cabeça estava tão vazia quando o resto de mim e a única coisa que eu conseguia fazer era chorar. Chorar pelo que aconteceu, chorar pelo que nós dois poderíamos ter sido e chorar por eu ter sido a responsável por estragar tudo.

Minha cabeça estava prestes a explodir. O choro não cessava, ao contrário, aumentava a intensidade a cada segundo. Devia ter se passado mais de mais de uma hora desde o momento que cheguei ao parque. Mas eu não estava mais perto de ir embora de lá do que estivera na chegada.

Se meu mundo não tivesse se resumindo ao meu choro, eu teria sentido a presença de alguém do meu lado antes de ouvir o barulho do sapato. A pessoa parou ao meu lado e ficou ali por um tempo – pude sentir seu olhar. Talvez estivesse esperando que eu retribuísse a atenção e contasse porque estava tento um colapso emocional em local público. Eu não fiz nada do que era suposto. Alguns minutos depois, ouvi passos se distanciando. Não poderia me importar menos com a impressão que o estranho agora tinha de mim. Nem mesmo a fofoca que correria a cidade caso eu tivesse sido reconhecida.

Não demorou muito para que outros passos trouxessem a pessoa de volta. Provavelmente a consciência do cidadão havia pesado por ele deixar uma adolescência - que estava chorando rios - sozinha no meio de um parque para crianças. Não podia culpá-lo. Até eu sentia pena de mim mesma. Esperaria ele começar um discurso sobre tentar ajudar os necessitados para que eu lhe desse uma resposta – não muito educada. Um "deixe-me em paz" seria o suficiente, creio eu.

Já imaginava se a pessoa havia perdido a coragem, quando escuto uma voz áspera e embargada sussurrar:

Meu nome é Edward. Por que você esta chorando?

Levantei a cabeça devagar. Eu reconheceria essa voz e essas palavras em qualquer lugar. Foram exatamente essas palavras que ele usou no dia em que nos conhecemos. Ele estava sentado ao meu lado. A aparência impecável, e os cabelos estavam livres de gel. Seus olhos não estavam vermelhos e inchados como os meus deveriam estar, contudo, mostravam um tormento intenso.

Ele não poderia estar ali. Estiquei a mão e toquei sua bochecha, só para comprovar que era mais um delírio da minha mente pouco saudável. Quando meus dedos gelados encontraram a pele quente, retirei a mão depressa.

- Você está mesmo aqui. – sussurrei para mim mesma – O que está fazendo aqui, Cullen? – dessa vez foi mais alto e firme.

Era humilhante encontrá-lo no estado em que estava. Era o Grand Finale perfeito para a minha coleção de humilhações perante Edward Cullen. Esfreguei as mãos com força por meus olhos, limpando as lágrimas e respirei fundo para que novas não aparecessem. Ele analisou meu rosto com cuidado antes de falar:

- Para você, Bella. – levantou uma flor que só agora eu notara em sua mão e me estendeu – Agora você não precisa mais chorar. – um pálido sorriso.

Segurei a flor e abaixei os olhos, observando-a. Era uma rosa branca igualzinha a da última vez em que estivemos ali. Minhas pálpebras cerraram-se com pesar. Soltei um suspiro cansado.

- Você não precisa chorar mais, sabe? As meninas sempre ficam felizes quando recebem flores. Então você tem que ficar feliz. – seu tom era tão cansado quanto o meu. – Mamãe sempre sorri quando meu pai leva flores para ela.

Descerrei as pálpebras e encarei-o de novo, lutando para não deixar minhas novas lágrimas transbordarem.

- Por que está fazendo isso? Por que está aqui? – soltei em um fiapo de voz.

- Sei que isso vai parecer um clichê surrado, mas estou aqui porque aqui é exatamente aonde eu deveria estar. Nós precisamos conversar. – já não sustentava metade da confiança que sempre havia em sua voz.

- Concordo. Mas esse não é o lugar apropriado. – tentei me levantar. Sua mão se fechou em meu pulso, impedindo-me. – Aliás, como você veio parar aqui?

- Da mesma maneira que você, suponho. – respondeu.

Franzi o cenho e o encarei confusa. Suas palavras faziam cada vez menos sentido. Ele completou:

- Depois de deixarmos vovó no aeroporto, ceguei em casa e encontrei Alice aos prantos nos braços de Jasper enquanto Emmett e Rose estavam cada um em um celular gritando com sua caixa de mensagens.

- Eu... deixei meu celular na caminhonete. – murmurei de maneira irrelevante.

- Quando eu finalmente consegui entender o que estava acontecendo, tive que prometer a eles que tudo ficaria bem porque eu sabia onde você provavelmente estaria. Por sorte, minha mãe quis ir ao consultório ver papai ante de ir para casa senão seria mais um histérico para quem eu precisaria mentir. Você deixou todos tremendo de medo quando Alice nos contou o que havia acontecido. Como você pega o carro daquele jeito? – não esperou resposta - Segundo minha irmã, você estava completamente transtornada. Tem a mínima noção de o quanto eu rezei para não encontrar seu carro esmagado contra uma árvore enquanto eu dirigia procurando você? – agora era ele quem estava transtornado, seu tom subia alguns decibéis – Eu nunca senti tanto medo na minha vida! Você poderia ter morrido! Nunca mais faça algo parecido! Ou eu serei obrigada a algemá-la a mim para que eu sempre possa manter os olhos sobre você a fim de mantê-la segura. – gritou a última parte, então parou uns segundos, parecendo buscar um pouco de calma – Procurei você por toda cidade. Sei que isso soa ridículo, mas, depois de rodar Forks inteira por duas vezes, percebi que precisava vir aqui. Nunca senti um alívio tão grande quanto o de quando vi seu carro.

- Certo. – falei ao terminar de absorver suas informações – Bem, então pode ir anunciar as boas novas. Eu não morri. – comentei em um humor ácido – Já podemos ir embora. Encontro você em sua casa em uma hora e podemos combinar sobre o nosso "rompimento" fiz sinal de aspas e aproveito para me desculpar com nossos amigos. – levantei.

- Sente-se, Bella.

Nunca aceitei ordens de homem nenhum, tendo como única exceção o meu pai. Todavia, Edward parecia mortalmente sério. Como se o fato de eu estar sentada fosse caso de vida ou morte.

Abaixei lentamente, voltando à posição anterior. Deixei a flor sobre a grama ao meu lado.

- Primeiro, ninguém vai a lugar alguma antes de termos a conversa que já foi adiada por tempo demais. Segundo, o que raios você quer dizer com "combinar o nosso rompimento?" – franziu a testa, profundamente aborrecido.

- Como assim? Não foi por isso que você veio atrás de mim? –dei de ombros – Isso e descobrir se eu não havia morrido – tentei fazer uma piadinha. Ele nem mesmo esboçou um sorriso. Pigarreei e continuei, dessa vez com seriedade. – Ora, sejamos fracos, Edward, não é mais necessário todo esse cuidado para tratar do assunto. Não tem ninguém olhando mesmo. – chequei os arredores para garantir que estava correta – Sua avó foi embora, nós terminamos. Você até mesmo pediu para que a sua irmã me agradecesse. Ela não deve ter entendido, mas eu entendi perfeitamente.

- Você... você está dizendo que acredita que eu pedi para que a minha irmã... – pareceu horrorizado demais para continuar.

Eu sabia o motivo de sua reação. Então respirei fundo, tentando achar um pouco mais de coragem.

- Olha, Edward, você não precisa ficar se sentido culpado, sabe? Eu exagerei. Eu estava preparada para o final disso. Sabia que não duraria para sempre. O problema é que foi muita coisa ao mesmo tempo. Os problemas com a Tanya, os interrogatórios, minha mãe machucando a perna. Por isso você encontrou essa cena deplorável. – fiz um gesto amplo com a mão – Não é culpa sua. Não foi culpa de ninguém. Foi a somatória de tudo. De repente era demais para eu agüentar, entende?

Falei tudo de uma vez para não me acovardar. Depois de ter literalmente gritado para ele que sabia tudo, qual era a razão para não ser franca? Quem sabe pudéssemos nos encarar sem constrangimento depois se, agora, fossemos totalmente honestos.

- Isabella, o que foi exatamente que Alice lhe disse? – não havia qualquer emoção.

Isso me deixou desconsertada. Por que a pergunta?

- Ela me disse que sua avó precisou ir embora mais cedo e que você pediu para me agradecer. Não precisava ser um gênio para juntar as duas sentenças e chegar ao motivo do agradecimento. – abaixei os olhos, pois não queria que ele visse a dor estampada ali.

- Isso foi tudo?

- Sim.

O silêncio se instaurou ali pelo que pareceu uma eternidade.

- Sabe, eu tenho o péssimo hábito de não enxergar as coisas antes que seja tarde demais, contudo, Isabella, você tem uma horrorosa mania de tirar conclusões precipitadas.

O quê? Certo. Agora eu estava absurdamente confusa. Sobre o que ele estava falando. Ainda observando minhas próprias mãos, percebi que elas começaram a tremer. Algo me dizia que eu não gostaria de saber a resposta para essas questões.

Reuni a pouca coragem que me restava e voltei a encará-lo.

- Eu não estou entendo.

- Eu também não. – virou um pouco a cabeça e observou as árvores a poucos metros, respirou fundo e voltou sua atenção para mim – Sei que dei vários motivos para que você não quisesse nunca mais olhar na minha cara. Mas foram palavras erradas que usei em um momento de raiva. Pensei que você me conhecesse melhor, portanto, não entendo o porquê de você ter o meu caráter em tão baixa estima.

Franzi o cenho. Suas frases eram tão confusas para mim que eu podia jurar estarem sendo ditas em outra língua – a russa, por exemplo.

Estou confusa.

Edward continuou como se eu não tivesse falado nada.

- Isabella, você realmente acredita que eu seria covarde o suficiente para pedir à minha irmã para lhe transmitir meu agradecimento por você ter me ajudado tanto? Concordo que tivemos desentendimentos durante esses dias de namoro, mas não acredito que tenhamos queimado todas as pontes da nossa amizade. Não ao ponto de eu precisar me esconder atrás de uma baixinha de um metro e meio para fugir de minhas responsabilidades.

Fiz uma careta ao ouvir seu último termo. Ele percebeu.

- Não estou querendo dizer que a considero um peso, Bella. – esfregou as mãos pelo rosto, parecendo exausto – Não é nada disso.

- Edward, você não está fazendo sentido algum. Provavelmente nem eu. – tentei amaciar o tom para convencê-lo – É melhor irmos embora, descansar um pouco e depois nos encontramos e...

- O presente da vovó. – interrompeu-me.

- Viu? É exatamente sobre isso que estou falando. – fiz um gesto com a mão, indicando-o – Nenhum sentido...

- Foi isso que eu pedi para que Alice lhe agradecesse. O presente que você mandou para minha avó.

O quê?

Mesmo enquanto a sussurrada pergunta saia por entre meus lábios, pude sentir as engrenagens do meu cérebro rodando em potência máxima.

Lembrei de, domingo de manhã, ter ido até a única loja que vendia antiguidades em Forks. Naquela loja, comprei três pequenos elefantes de porcelana que, segundo a vendedora, vieram da Índia. Não efetuei a compra e pedi a ela para embrulhá-los para presente devido à procedência deles, mas, sim, porque parecera um presente perfeito para Olivia Cullen. Pretendia entregá-los à tarde quando fosse à casa dos Cullen. Contudo, encontrei Esme na saída da loja e ela casualmente comentou que a vovó Cullen iria à Port Angeles depois do almoço. Como não queria atrasar o presente em mais um dia, pedi para minha "sogra" entregá-lo. Esme relutou um pouco, dizendo que seria ótimo se eu fosse almoçar com eles hoje, assim poderia entregar o presente pessoalmente. Todavia, tive que declinar do convite, pois ainda precisava comprar algumas coisas na mercearia. Minha mãe estava esperando essas compras para terminar o almoço.

Todas essas lembranças passaram como um flash em minha mente. Eu havia esquecido completamente desses acontecimentos devido ao tombo de minha mãe. Agora não eram apenas minhas mãos que tremiam, era meu corpo inteiro.

- Está vendo? Se você tivesse ouvido o todo o recado que Alice tinha para lhe dar, você saberia que a minha avó também mandou agradecer-lhe e disse que adorou os elefantinhos. – sua voz agora era mais reconfortante, ele tentava me acalmar.

- Eu pensei... – abaixei a cabeça, tentando controlar a vertigem.

- Sei o quê você pensou, Bella. – passou um braço sobre meus ombros. – Está tudo bem agora. – colocou a boca em meus cabelos, suas palavras saiam abafadas - Não precisa ficar assim. Nós vamos resolver tudo isso. Bella? Amor? Por favor... você tem que se acalmar. Respire fundo.

Respirei algumas vezes, tentando fazer o que ele pedia. Aos poucos, os tremores foram passando.

- Eu sinto muito, Edward. Eu pensei... – levantei a cabeça e passei os dedos de leve sobre sua bochecha – Eu deixei sua irmã preocupada por uma bobeira imensa. Desculpe-me, por favor...

Afastou-se um pouco.

-Não há nada para perdoar, Bella. – falou baixinho – Não aprecio sua já mencionada mania de tentar prever as coisas, mas, dessa vez, admito que a situação conspirava contra nós. Apenas queria que nós dois não tivéssemos sido impulsivos e precipitados, assim, poderíamos ter evitado a maioria dos problemas.

Por que ele estava usando o verbo no plural? A única vez que o vi agir de maneira precipitada durante esses dias de "namoro" foi quando me acusou de estar tento um caso com seu primo. Exteriorizei minha dúvida:

- "Nós dois"?

Ele inclinou um pouco a cabeça em direção à minha mão. Senti um impulso de me afastar, queria começar o afastamento físico e psicológico antes que eles se tornassem uma imposição e não mais uma escolha. Assim sofreria menos. Contudo, meu braço não seguiu a ordem... porque não houve nenhuma. Eu não queria me afastar de verdade... Não agora e, com certeza, não depois que essa conversa tivesse acabado. Todavia, sabia que tinha uma escolha agora. Resolvi aproveitá-la, pois sabia que não a teria no futuro. Acariciei de leve sua bochecha, ele fechou os olhos.

- Edward?

- Sim? – abriu os olhos, surpreso. Então franziu o cenho e se endireitou. Deixei minha mão cair ao meu lado, fria, sentindo falta do seu calor. – Desculpe. Eu... me distraí...

Aceno com a cabeça. – Tudo bem.

- Desculpe outra vez... mas, o que foi que você disse antes?

- Perguntei por que você disse que nós dois fomos impulsivos. Afinal, não me lembro de ver você dirigindo feito um louco até um parque infantil – tentei soar menos constrangida por aquela atitude estúpida do que de fato me sentia.

- Ah, não... não viu mesmo. Porque eu fiz coisas bem mais idiotas do que isso... e bem antes também. – abriu um sorrisinho amargo, desviando a atenção para o céu enquanto puxava as próprias memórias. – Eu... Bella, eu... sinto tanto que você tenha ouvido aquela conversa. – as palavras pareciam arrancadas do fundo de sua garganta e continham uma dor imensurável.

Sabia à qual conversa ele se referia... Deveria estar corando, todavia, estava preocupada demais com ele. Senti ímpetos de confortá-lo, mas, no momento, a única coisa que poderia confortá-lo seria trazer o que ele queria para fora. Edward precisava conversar sobre isso. Sei por experiência própria. Foi humilhante aquele dia em que gritei com ele no ginásio, mas, ao menos, consegui libertar-me de um fardo horrível, pois havia enfrentando o que me sufocava. Limitei-me a dizer:

- Tudo bem, Edward. A intrometida da história fui eu. Não tinha direito nenhum de ouvir sua conversa. E também não tive nenhuma intenção de fazer isso. Foi um infortúnio. – tentei forçar um sorriso.

Lançou-me o olhar de um homem torturado.

- A questão não é essa, Bella! – passou as mãos pelos cabelos e levantou-se, estava inquieto demais para ficar sentado – Aquela conversa não deveria ter existido. Entende?

Levantei-me também, pois ficar sentada era uma desvantagem imensa. Mas tomei o cuidado de não danificar minha flor.

- Não, não entendo. – respondi mesmo sabendo que não era necessário.

- Sei que não há desculpa para o que eu disse naquele dia. Nem um tipo de justificativa. Mas gostaria que você soubesse que aquele dia não foi um bom dia para mim. O treinador e o imbecil do Cooner tiraram o dia para ameaçar me tirar do posto de capitão porque, segundo eles, eu não estava me concentrando o suficiente no time. Já estava acostumado com essa implicância infundada. O treinador nunca superou o fato de minha mãe ter se casado com meu pai e nunca ter lhe dado atenção e Cooner sempre cobiçou a minha posição apesar de não ter condições técnicas para isso. Antes disso, havia recebido um zero em meu teste surpresa de matemática avançada porque Tanya achou que eu poderia compartilhar minhas respostas com ela. O professor viu o que ela fazia e zerou nossos testes. Mas o pior foi quando fui confrontá-la sobre a criancice da situação e ela gritou que eu só estava agindo desse jeito porque não gostava mais dela e queria terminar por sua causa.

Cullen estava ocupado demais andando de um lado para o outro para perceber o estrago que suas palavras fizeram em mim. Senti mais uma facada em meu peito ao chegar a uma conclusão plausível a respeito do que ele estava dizendo. Edward tinha falado tudo aquilo porque estava com medo de que Tanya terminasse com ele? Quando acreditamos que nada pode ficar pior, a vida vem e lhe surpreende!

Sem parar de andar, continuou o discurso:

- Nunca gostei de verdade de Tanya, mas nós tínhamos algo... – franziu a testa como se a palavra que completasse a frase fosse esquisita demais para ser colocada ali - confortável... E nossa discussão deixou tudo... desconfortável. Não gosto de mudanças. Não gosto de sair da minha zona de conforto... senti-me acuado quando Tanya ameaçou para de sair comigo. – soltou uma risadinha amarga – Patético, covarde e infantil, eu sei. Mas, na hora, isso parecia demais. Demais para agüentar. Tanya, Cooner, o treinador... E ainda tinha as malditas cartas para faculdade que eu tinha esquecido completamente de mandar. Jasper foi para casa comigo e a primeira coisa que minha mãe perguntou foi sobre as cartas e depois avisou que vocês duas logo chegariam em casa. Foi o estopim. – Passou as mãos no cabelo, andando ainda mais rápido agora e fazendo ciclos em uma distância ainda maior – Sabia que quando você chegasse iria me ver.

Minhas bochechas coraram mais ao lembrar-me de meu patético comportamento.

- Você saberia só de me olhar que algo não estava certo. Você sempre sabe quando tem algo me incomodando. – lançou-me um olhar estranho e parou de andar – E, naquele momento, eu não podia agüentar sua determinação em falar sobre o que estava acontecendo. Bella, anjo, você é a única pessoa que sabe como me fazer falar sobre meus problemas. A única que sabe que, apesar de relutar muito, eu preciso falar sobre eles. A única com quem eu realmente conseguia me abrir. Contudo, minha paciência, aquele dia, há muito tinha esgotado. Não queria falar sobre o assunto e sua doce compreensão derrubaria minhas barreiras antes que eu pudesse me dar contar. Sentir-me-ia frágil como sempre me sentia ao seu lado. E, outra vez, isso fugia de minha zona de conforto. Não estava preparado para isso. Como disse, era demais para um dia só. Quando chegamos ao meu quarto, acabei descontando tudo sobre o seu nome. – agora havia uma estranha umidade em seus olhos – Não foi justo. E quando eu descobri que você tinha ouvido todas aquelas coisas horríveis...

Parou por um instante e respirou fundo algumas vezes. Passou a mão tremula pelos cabelos desgrenhados, sua pele havia recuperado um pouco a cor.

- Não fazia idéia do que havia acontecido. – arrastou o pé na grama, acompanhando o movimento com os olhos – Você estava tratando-me de maneira estranha. Não que estivesse me hostilizando e, pelo o que eu sei agora, talvez você devesse tê-lo feito, mas, não, você estava me evitando totalmente. Primeiro pensei que fosse uma fase ruim... algum tipo de TPM. – abriu um sorrisinho sem-graça – Porém essa fase não passou. Já fazia uma semana e você continuava cabisbaixa, não ia aos nossos treinos e nem à minha casa, passou a sentar o mais longe possível de mim e não aparecia no almoço também. Supostamente, deveria estar feliz por não tê-la sempre por perto e por agora ter mais liberdade. – foi diminuindo a voz como se esperasse que eu não ouvisse.

Foi a minha vez de olhar para o chão e corar.

- Felicidade não passou nem perto do que eu senti.

Franzi o cenho e levantei a cabeça.

- No começo, houve certo alívio. Depois... – soltou o ar pesadamente – Percebi que era esquisito não ter você lá para torcer por mim, mesmo sendo um treino. Já não havia tanta motivação para jogar bem. As aulas de biologia tornaram-se monótonas sem suas conversas sobre banalidades para me ajudar a acordar de manhã, pois você sempre soube do meu ódio por levantar cedo e da indignação que isso causava em mim na primeira aula. Eu só tirava notas boas nas matérias que eram no primeiro horário porque você conversava um pouco comigo até que eu estivesse acordado. O horário do almoço ficou totalmente insuportável com meus irmãos e meus cunhados se derretendo um pelo outro. Bella, você já não estava lá para tagarelar comigo ou contar uma história engraçada sobre sua tarde anterior ou para perguntar-me como havia sido a minha tarde anterior. Sentia falta até mesmo de você brigando comigo para que eu comesse alguma coisa mais saudável do que o meu sanduíche de costume.

Engoli em seco.

- Pensei que tudo isso incomodasse você. – foi o que consegui dizer sem me humilhar ainda mais.

- Também acreditava nisso. – inclinou a cabeça para o lado, analisando-me atentamente – Não vou mentir, anjo. Algumas vezes você invadia meu espaço pessoal, mas não era nada exagerado. Exagerado fui eu quando comentei sobre isso com Jasper. Elevei essas pequenas invasões à quinta potência, transformando você na vilã. Foi totalmente injusto. Mas, naquele momento, precisava de alguém para culpa. E você foi a escolhida. Foi uma atitude nojenta e me arrependo profundamente disso. – soltou o ar pesadamente e abriu um sorrisinho pálido que não chegou aos seus olhos - Sei que isto vai parecer o clichê mais idiota de todos os tempos, mas é verdade. – balançou a cabeça, desconsertado – Só percebi o quanto você era importante para mim quando já não estava mais lá.

Ficava mais confusa a cada momento, se é que isso é possível. Permanecia em silêncio, não querendo interromper.

- Posso ser meio ignorante, mas não sou cego. Sabia que você tinha uma paixonite de infância por mim.

Fechei os punhos com raiva. Além de tudo ele ainda tinha que minimizar meus sentimentos?

- Também estou ciente de que essa coisa de criança evoluiu com o tempo. Bom, ao menos agora estou ciente disso. – suas esmeraldas brilharam, desoladas.

Tive que conter, mais uma vez, o impulso de confortá-lo.

- Não me dei conta na época que você gostava mesmo de mim, Bella. Pensei que fosse uma coisa de criança que não tinha sido superada. Acreditei não ser nada demais. Precisei que Jasper me chamasse a atenção para o fato de que se o que você sentisse fosse uma coisa passageira, já deveria ter passado há muito tempo. Posso não ter percebido seus sentimentos por mim, mas percebi quando eles se foram.

- "Se foram"? – perguntei num fiapo de voz.

- Não sou tão ignorante assim... - olhou para o longe mais uma vez, encarar-me pareceu muito difícil – Como já disse, notei as mudanças em seu comportamento. Bella, cada vez que você mudava seu caminho para não ter que encontrar comigo, eu sentia como se um pedaço de mim estivesse sendo arrancado. Levei duas semanas e horas de conversa com Jasper para finalmente perceber que gostava de você.

Senti meus joelhos ficarem moles. Como é que é?

- Ridículo, não? – riu amargamente – Levei duas semanas inteiras porque relutava em assumir que havia errado ao julgar que seus sentimentos eram apenas um reflexo da boa impressão que causei quando nos conhecemos nesse mesmo lugar anos atrás. Depois do tempo que perdi, parecia já ser tarde demais. – estremeceu de leve – Você parecia muito bem longe de mim. E quando eu tentei chegar perto, você recuava como se eu tivesse lhe agredindo fisicamente.

- Tentou chegar perto?

Consegui falar apesar da boca seca, da cabeça dando voltas.

- Aquela vez no cinema com Alice e meu cunhado. Foi difícil convencer os dois a nos levarem junto. E quando eu consegui... – puxou os cabelos com força - Você recuava cinco passos a cada passo que eu dava um em sua direção. Já estava enlouquecendo. Foi então que você apareceu lá em casa no dia em que minha avó havia chegado. Não foi nada premeditado, mas quando vovó comentou como você, a minha namorada, era linda... eu aproveitei o que parecia ser a última oportunidade de aproximar-me de você.

Lutava com minhas pernas para que elas me sustentassem e tentava respirar fundo para impedir meu coração de entrar em colapso por excesso de velocidade. Isso tudo são podia ser algum tipo de sonho maluco. – pensei, esfregando minha têmpora com as mãos. – Não havia maneira de isso estar acontecendo realmente.

- Não me orgulho de ter me aproveitado de seu bom coração e nem de ter usado o nome da minha avó para isso. É verdade que ela realmente queria ver-me com alguém de quem eu gostasse, mas Olivia é forte o suficiente para agüentar o fato de eu estar solteiro. Afinal, ela não se descabelou ao descobrir que Chace não estava comprometido com ninguém. – rugas de aborrecimento marcaram sua face – Eu poderia ter batido em meu primo por todas as vezes que ele flertou com você!

- Do que você está...

- Por favor, deixe-me continuar. – interrompeu-me.

Esperei. Porém, Edward permaneceu em silêncio. Pude notar que a umidade suspeita havia retornado aos seus olhos. Ele parecia lutar contra algo, parecia buscar as palavras de que precisaria para dizer algo horrível. O medo deixou minha pele arrepiada.

- Quando você gritou comigo no ginásio... quando eu descobri o motivo pelo qual você fugia de mim como um condenado foge da polícia. – as palavras pareciam estar sendo arrancadas de maneira torturante de algum lugar profundo – Bella, eu nunca me senti tão mal em toda minha vida. Senti-me ficar doente até a alma.

- É. Eu também. – murmurei, amargurada antes que pudesse me conter.

Agora era Edward quem me olhava como se eu estivesse agredindo-o fisicamente.

- O resto você já sabe. – passou as mãos pelo rosto, cansado – Fui até Tanya e a convencia a dizer a verdade. Depois não tivemos tempo para conversar. Várias coisas aconteceram até que chegássemos aqui e finalmente pudéssemos falar sobre tudo.

Não sabia o que responder apesar de ter percebido que essa era supostamente a hora em que deveria me manifestar.

- Não se preocupe. Eu não espero nada. Nem seu perdão pelas coisas horríveis que falei ao Jasper. Nem sua amizade. Sei que não mereço nenhuma das duas coisas. – sacudiu a cabeça – Só queria que soubesse que sinto muito mesmo. E que, se pudesse voltar no tempo, não apagaria o dia em que nos conhecemos como estupidamente disse que o faria se tivesse a oportunidade. Não. Eu apagaria o momento em que fui fraco o suficiente para matar seus sentimentos por mim. – dessa vez uma lágrima escapou.

Abri a boca, horrorizada. Dei um passo para trás sem acreditar no que via. Homens como Edward não chorava. Nunca.

Provavelmente ele entendeu minha reação como algum tipo de sinal de repulsa, pois mais uma lágrima correu por sua face. Senti o buraco em meu peito dobrar de tamanho e quase me sufocar ao observar a pura dor em seus belos traços.

- Apagaria o dia em que aquelas besteiras à Jasper. Um dia, quem sabe, você possa me perdoar por tudo. Mas não se sinta mal se não conseguir. Já abandonei as esperanças há muito tempo. Agora percebo que mentia para mim mesmo ao dizer que ainda restava uma chance para nós dois. – enfiou as mãos no bolso.

Sua bela voz de veludo estava aguda e esquisita quando terminou:

- Sabe quando percebi que até mesmo a esperança havia acabado?

Meneei negativamente a cabeça, incapaz de fazer qualquer outra coisa.

- O dia do jogo contra os Angeles. Você nunca havia faltado a um jogo meu. Ao perceber que não estava lá, entendi que nada mais podia ser feito. Mas reprimi esse entendimento, pois a opção de deixá-la ir era muito dolorosa para sequer ser considerada. – soltou o ar pesadamente – Ainda é dolorosa. – olhou-me nos olhos – Desculpe-me por tudo, Bella. Prometo que nunca mais vou atrapalhar a sua vida. – lançou-me o sorriso mais triste que já vi na vida e se aproximou um pouco. - Não há nada para ser compensado, Bella. Sinto muito se a fiz pensar que me perseguia e que me devia algum tipo de favor por isso. Não houve perseguição, como já disse, foi um exagero da minha parte. Afinal, eu nunca mandei você parar, não é mesmo? Se realmente quisesse você longe de mim, teria dito algo diretamente a você para fazê-la recuar. Não sou tão covarde assim. Portanto, você não me deve nada – aproximou-se ainda mais.

Com os lábios encostados em minha testa, sussurrou:

- Vou sentir saudades.

Depois virou as costas e começou a caminhar a passos lentos. Começou a caminhar para longe de mim, para longe da minha vida. E estava levando o meu coração junto. Senti meu cérebro e coração começarem a trabalhar freneticamente. Juntos, pela primeira vez.

Sabia que aquele era o momento da decisão. Podia deixá-lo ir e viver uma vida tranqüila ou podia impedi-lo e viver as alegrias e tristezas que isso traria. Levei um minuto inteiro para tomar a decisão mais importante da minha vida.

Não sei se é verdade que quando você sabe que está prestes a morrer sua vida passa por sua cabeça como um filme. Mas, quando você está prestes a perder a razão da sua vida, eu posso garantir, o filme da sua vida corre bem na sua frente. Cada lembrança da minha vida estava relacionada a ele de alguma maneira. Entendi que não me importava por ele estar em todos os momentos. E que os momentos que ainda viveria não teria significado sem ele. Foi exatamente nesse instante que meu cérebro e coração entraram em um consenso.

- NÃO FUI PORQUE ACREDITEI QUE NÃO ME QUERIA LÁ. – gritei, esperando que o vento levasse minhas palavras até seu destino.

Edward já estava próximo de seu carro, contudo, ele paralisou. Então, lentamente, virou o corpo e me encarou.

- O que foi que disse? – li seus lábios, pois a distância não me permitia ouvi-lo.

- Eu disse que não fui ao jogo, pois pensei que não me queria lá. Acreditei que iria atrapalhá-lo. – respondi enquanto andava rapidamente até ele – Não fui porque me importava com você e não pelo contrário.

Franziu o cenho e me encarou, confuso.

- Bella, você deve estar um pouco desorientada e cansada. – começou.

- Estou perfeitamente consciente de meus atos, Cullen. – fiz um gesto com a mão, demonstrando descaso por suas palavras. – E sei exatamente do que estou falando.

- Mas...

- Não. – abanei a mão – Chega de "mas". Não há nenhum "porém". Eu me afastei porque pensei que era o que queria. Depois do que ouvi aquele dia, acreditei que estava atrapalhando sua vida. Afastei-me por amor. Amor a mim mesma, pois havia compreendido que nunca poderia ter você e já estava cansada de sofrer por algo que não podia mudar. Mas também desisti de você pelo amor por você. Sim, eu desisti de você. Contudo, isso não significa que deixei de amá-lo.

Um brilho hesitante iluminou minhas esmeraldas.

- Está querendo dizer que...

- Estou dizendo que não vai ser fácil. Pois a confiança está meio ruída e deixamos ferimentos um no outro que irão demorar a cicatrizar. – respirei fundo, enchendo meus pulmões de ar e meu peito de coragem para dar um passo muito importante em direção à minha felicidade. – Estou dizendo que ainda quero você se você ainda me quiser. – abri e fechei as mãos ao lado do corpo, esperando impacientemente pela resposta que mudaria minha vida.

Não houve nenhuma. Cullen ficou lá, olhando-me como se não pudesse acreditar no que via. Senti a vergonha inundar as minhas veias e colorir minhas bochechas. Dei um passo para trás. O gosto cruel da rejeição me fazia engasgar.

- Desculpe. Foi uma... bobeira... de minha parte. – consegui falar apesar do bolo em minha garganta – Por favor, esqueça o que eu disse.

Dei-lhe as costas e comecei a andar, tentando não cair aos prantos - de novo – na frente dele. Dei exatamente cinco passos antes que uma mão forte segurasse meu cotovelo e me fizesse dar uma volta tão rápida que teria ido para o chão se braços como barras de aço não tivesse me segurado. Então perdi a noção de realidade quando os lábios macios se chocaram contra os meus.

Reagi imediatamente ao perceber o que aquilo significava: ele estava me aceitando. Uma mão encontrou seu ombro e outra seguiu para os macios cabelos acobreados. A boca dele atacou furiosamente a minha quando consegui abri-la para que o beijo se aprofundasse. As mãos de Edward corriam por minhas costas. Ele estava agitado demais para se manter em um único lugar. Inclinei a cabeça, permitindo uma mudança no anglo do beijo, Edward continuava atacando a minha boca.

Eu estava adorando cada segundo daquilo.

Mas o ar se fez necessário. Com algum esforço, consegui descolar nossas bocas. Edward resmungou alguma coisa antes de desviar toda sua atenção para o meu pescoço. Soltei um suspiro e apertei seu ombro ao senti-lo sugar com força aquela região delicada.

Aquele parecia o momento perfeito para dizer algo que sempre demonstrei, mas que nunca ousei proferir em alto e bom som:

- Edward, eu amo você.

Ele ficou imóvel e vagarosamente levantou a cabeça até que suas esmeraldas me atingiram. Seu sorriso e o brilho em seus olhos seriam capazes de iluminar o país inteiro.

- Isabella, eu amo você.

Então fiquei nas pontas dos pés enquanto ele se inclinava para frente. Encontramos-nos no meio do caminho e recomeçamos o beijo que nunca deveríamos ter parado. Não era nosso primeiro beijo, mas era o mais especial. Não havia mais mentira entre nós. E, o melhor de tudo: tinha certeza de que ele estava me beijando por vontade própria e não porque alguém estava olhando. E sabe por que ele tinha essa vontade? Porque ele me amava.

Tempos depois, tivemos que nos separar porque meu estômago resolveu me envergonhar fazendo um barulho horrivelmente alto. Lembrei que não havia comido nada depois do café-da-manhã. Edward soltou uma gargalhada feliz ao ver-me corando.

- Para, seu bobo.

A gargalhada diminuiu até virar um sorriso de lado.

- Vem, amor. – esticou a mão para mim – Está na hora de ir para casa.

- Espera! – corri um pouco e peguei a rosa que havia ganhado, então voltei rapidamente para ele.

Coloquei a minha mão sobre a dele. E, quando ele a apertou, sorrindo, sabia que não precisaria andar um passo sequer, pois já estava em casa.

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Depois que saímos do parque, fomos direto para a casa dos Cullen, aonde tive que agüentar o maior sermão de toda a minha vida. Meus amigos ficaram falando na minha cabeça pelo que pareceram horas. Meu namorado – Deus! Como é bom poder falar essa palavra sem qualquer tipo de sarcasmo – silenciosamente segurou minha mão durante todo o tempo do discurso deles. Ele não me defendeu, pois sabia que merecia cada repreensão que levava, contudo, permaneceu ao meu lado, dando-me apoio. Quando finalmente eles conseguiram de mim todas as promessas sobre segurança automobilística que achavam necessárias, pude finalmente conseguir algo para comer. Então eu já estava com dor de cabeça de fome e do falatório infinito do qual fui vítima. Sei que eles tinham razão, mas poderiam ter-me deixado comer antes de falar na minha cabeça. Meu humor já esteve em melhores momentos.

Só depois que a comida fez efeito e que Edward gentilmente ofereceu-me uma aspirina, pude me sentir como gente outra vez. Foi a vez da sessão abraços, então. Emmett me amassou em seu abraço de urso enquanto prometia que iria me colocar de castigo caso eu não criasse juízo. Quando chegou sua vez, Jasper apenas lançou-me um olhar que misturava alívio e compreensão. Rose e Alice pularam em cima de mim, sufocando-me entre gritos de amizade eterna e lágrimas de alívio. Eu poderia chorar se já não tivesse gastado todas as minhas lágrimas do ano ou se não tivesse aquele sentimento que acalentava meu peito. Ao invés de chorar, abracei ambas e olhei para meu Edward. Ele sorriu para mim do jeito que sempre sonhei. Então tudo estava bem outra vez.

O resto daquela semana foi bem diferente. Não que eu esteja reclamando de ter Edward Cullen ao meu lado durante quase todos os momentos livres que tínhamos. Não. Foi um diferente bom. É claro que não apenas namoramos durante o tempo que estávamos juntos. Tivemos várias horas de conversa, tentando ajeitar o que era possível e reconstruir algumas das pontes que havíamos queimado. Não era fácil... mas parecia tão certo.Finalmente eu havia conseguido o que tanto sonhara. E a realidade era tão melhor do que o sonho. As conversas eram uma parte crucial, mas devo admitir que – obviamente - eu preferia a parte em que namorávamos. As coisas estavam voltando aos eixos e eu me encontrava mais feliz do que era possível imaginar.

Já era sexta-feira – o tempo passou em velocidade supersônica – dia do jantar de despedida dos Cullen de Seattle. Estava em meu quarto, terminando de me arrumar. Posicionei-me em frente ao meu espelho. Usava uma saia de cintura alta com flores em cores escura. A blusa era uma regata preta de tecido fino. Ambas aderiam-se perfeitamente às curvas do meu corpo. Os sapatos de salto também eram pretos. Fiquei satisfeita com a combinação de tudo. Puxei uma escova e penteei meus cabelos até que eles caíssem brilhantes e em belas ondulações por minhas costas. Alcancei meu estojo de sombras e passei uma azul escura. Depois apliquei o pó e estava terminando de passar um gloss rosa quando ouvi a campainha tocando.

Dei uma pequena volta na frente do espelho e sorri com o que via. Estava sentindo-me muito bem ultimamente. Gostava quando esse sentimento refletia em minha aparência. Peguei meu iPhone e fui encontrar meu amor no andar de baixo.

Aparentemente ninguém havia aberto a porta, pois encontrei meu pai correndo de um lado para o outro no corredor enquanto minha mãe gritava do quarto alguma coisa sobre ele encontrar logo a porcaria do sapato que ela queria. Meus pais estavam indo no jantar dos Cullen também, mas Edward insistiu em vir me buscar depois que confidenciei a ele, ontem à noite, minhas predições sobre exatamente o que estava acontecendo agora: meus pais se atrasando porque não conseguiam encontrar os sapatos que procuravam. Era por isso que eu sempre disse que um pouco de organização não faz mal a ninguém, mas ninguém naquela casa me ouve. Depois fica essa correria.

Chacoalhei a cabeça e abri a porta. Não contive o suspiro de admiração ao observá-lo. Seus tênis e calça eram pretos e a camisa polo era verde escuro. Senti o orgulho explodir em meu peito por saber que aquele homem era meu.

- Olá, linda. – enlaçou a minha cintura ao murmurar.

- Oi, amor. – ergui um braço e o apoiei em seu ombro.

Ele abaixou a cabeça e me deu um selinho demorado.

- Você está deslumbrante, amor. – passou a mão livre por meus cabelos.

Senti minhas bochechas corarem.

- Obrigada.

- Seus pais já estão indo? – deu uma espiada por cima da minha cabeça, tentando encontrar alguém.

- Não. – revirei os olhos.

- Os sapatos? – arqueou a sobrancelha.

- Exatamente.

Edward soltou uma sonora gargalhada. - Então acho melhor nós irmos e depois eles nos encontram lá.

- Claro. – sorri, depois virei um pouco o corpo em direção a casa – Mãe, estamos indo. – falei mais alto.

- Certo, querida. Já estamos indo também. É que seu pai não consegue encontrar o sapato dele. – respondeu.

- O meu sapato? Você é que não pode usar outra coisa que não seja a maldita sapatilha azul! – meu pai gritou de volta, indignado.

- Charlie Swan! Isso é jeito de falar? Por acaso você quer dormir no sofá hoje? – mamãe respondeu de maneira mais alta e mais indignada do que o marido.

Sacudi a cabeça e puxei a porta antes que meu pai respondesse, ou melhor, começasse a implorar por perdão.

Edward, como bom cavalheiro que era, tentava segurar o riso.

- Eu disse que isso iria acontecer, não disse?

Deixou escapar um sorrisinho e segurou minha mão e começamos a caminhar.

- Vamos lá, amor. Estão esperando por nós.

xxx

- Não e não, Rose. Nós vamos assistir Footloose. – Alice exclamou, indignada.

- Mas eu quero ver Amizade Colorida! – a loira cruzou os braços.

Fazia meia hora que Edward e eu havíamos chegado à casa dos Cullen. Depois de cumprimentar todos os senhores e senhoras Cullen – isso soa muito estranho – nós, mais jovens, acomodamo-nos nos sofás perto da TV enquanto os mais velhos ocupavam os acentos do outro lado da sala, os quais ficavam perto das grandes janelas. A conversa estava muito boa – ainda mais com o braço de Edward sobre meus ombros o tempo todo – até que Jasper teve a brilhante idéia de irmos todos para a casa dos Hale amanhã à tarde para assistirmos filme. Foi quando Rose e Alice entraram em uma profunda discussão sobre qual filme iríamos alugar. Elas até entraram em acordo sobre assistir o novo lançamento da franquia Premonição. Ambas ignoraram meus protestos sobre a porcaria do filme ser terror. Eu só parei de discorrer meus argumentos contrários quando Edward sussurrou em meu ouvido que me protegeria. Até mesmo havia esquecido um pouco sobre a briga das duas. Só que elas eram insistentes e nenhum dos dois namorados era macho o suficiente para tentar parar a acirrada troca de palavras. Já estava ficando aborrecida.

- Tenha a santa paciência vocês duas! – exclamei fazendo as duas se calarem – É uma tarde de filmes. Dá tempo de assistir os três filmes! – falei o óbvio.

A loira e a morena olharam-me por um tempo. Quase pude ver uma lâmpada sobre a cabeça delas se acendendo quando elas perceberam que eu tinha razão.

- Ah! É verdade! – Hale assentiu.

- Foi mal, gente. – Alice deve a decência de mostrar constrangimento – São as provas. Estão chegando. E vocês sabem como eu fico quando sou obrigada a estudar química. As coisas do cotidiano meio que me escapam.

- Eu gosto de química! – meu namorado exclamou para acabar com o clima meio chato que se instalou.

- Isso é porque você é esquisito! – Chace falou, rindo.

- Não. – respondi, lançado ao meu "primo" um olhar condescendente – Isso é porque ele será um médico maravilhoso daqui alguns anos.

Edward sorriu para mim e tocou seus lábios contra os meus.

- Vocês dois estão tão melosos esse dias que me farão ter uma crise de açúcar! – Emmett brincou.

- É. Parem com isso. – Rose também falava com um ar de riso.

Senti uma almofada atingir nós dois, fazendo-nos desgrudar os lábios.

- Quem foi que perdeu o amor a vida? – levantei segurando firme a almofada.

Todos eles estavam rindo e ninguém me respondeu.

- Ok. Então todos vão levar almofadadas!

Segurando a almofada com as duas mãos levantei-a e estava preste a dar meu primeiro golpe quando a campainha tocou. Deixei o objeto cair ao meu lado e virei para meu namorado.

- Amor, devem ser meus pais.

Ele levantou e entrelaçou nossas mãos.

- Vamos lá, amor. – virou para o lado e disse - Mãe, pode deixar que eu atendo a campainha.

- Obrigada, querido.

Andei ao lado dele e usei minha mão livre para segurar o braço dele, aproximando-nos ainda mais. Estávamos saindo da sala quando ouvimos o vozeirão do meu cunhado ecoar:

- Sério. Vocês dois ainda vão parar no hospital com algum tipo de doença causada por excesso de mel.

E o da minha sogra:

- Emmett Cullen!

Revirei os olhos e pude ver meu namorado sacudindo a cabeça. Edward abriu a porta da entrada.

- Finalmente, mãe! Vocês estão meia-hora atrasados! – resmunguei.

- Surgiu um imprevisto, querida. – foi meu pai quem respondeu.

- O quê? – fiquei alarmada e comecei a falar rapidamente – É sua perna, mãe? Eu posso pedir para Carlisle dar uma olhada para...

- Hey, Bells! – uma voz feminina e conhecida soou atrás de meu pai e interrompeu-me.

- Mas o quê...?

Minha mãe deu passo para o lado e pude ver que havia uma loira de dezoito anos olhos castanhos ali junto com eles. Ela vestia um bonito vestido roxo que me era muito familiar. Abri a boca, incrédula.

- KRISTEN!

Soltei-me de Edward e joguei-me em cima dela, puxando minha prima favorita para um abraço de urso digno de Emmett.

- Também senti saudades, Kakau. – faliu enquanto ainda nos abraçávamos.

- O que você está fazendo aqui, Bee? – perguntei sem nenhum pingo de hostilidade na voz.

- Eu vim passar o final de semana aqui. Era para ser uma surpresa. Quando cheguei a sua casa, seu pai já estava trancando a porta e tia Renée já estava no carro. Eles me contaram sobre o jantar e eu disse que esperaria por vocês lá, mas eles disseram que não teria problema se eu viesse. – suas bochechas coraram um pouco – Espero que não esteja incomodando. E eu peguei seu vestido emprestado, pois não tinha trazido nada para a ocasião.

- Claro que não há problema nenhum. – foi a voz de veludo quem respondeu.

Dei um passo para trás, voltando para o lado dele.

- Bee, esse é meu namorado, Edward Cullen. – sorri para ele – Amor, essa é minha prima Kristen Stewart.

Eles apertaram a mão um do outro.

- Prazer, Edward. Vocês têm uma bela casa. Tem certeza que não tem problema eu invadir seu jantar?

- Claro que não há problema algum. – deu um passo para o lado – Por favor, entrem.

Voltamos à sala. Meus pais foram diretamente cumprimentar meus sogros. Segurei o braço de Kris e a puxei na mesma direção.

- Esme, Carlisle, gostaria que conhecesse minha prima Kristen Stewart. - sorri – Bee, esses são meus sogros.

Carlisle cumprimentou-a e sorriu. Então foi a vez de sua mulher apertar a mão da mais nova convidada.

- Espero não estar incomodando, senhora Cullen.

- Claro que não, querida. É um prazer tê-la aqui conosco. – Esme sorriu de maneira maternal – Vocês são muito parecidas. Tirando os cabelos, é claor.

Assenti.

- Sempre acreditam que somos irmãs.

- Gêmeas. – Bee completou.

- Com licença. – pedi – Vou apresentá-la aos outros.

- É, claro, querida. Vão conversar um pouco e já daqui a pouco iremos jantar.

Afastamo-nos quando minha mãe, que aparentemente havia terminado de cumprimentar todos no recinto, apareceu pedindo mil perdões à anfitriã pelo atraso.

- Kristen, esse é o irmão do Dr. Cullen, Mark e sua esposa, Serena. – indiquei o belo casal – Senhor e senhora Cullen, essa é minha prima, Kristen.

- Muito prazer, querida. – ambos sorriam.

- Você mora aqui em Forks mesmo, Kristen? – Serena perguntou.

- Não, senhora Cullen. Eu sou de Seattle.

O casal trocou um olhar cúmplice do qual eu não entendi nada.

- Nós também somos de lá. Está de visita, assim como nós? – Mark perguntou.

- Sim, senhor.

Mais sorrisos por parte deles.

- Se meus tios favoritos nos dão licença, vou apresentar minha nova prima ao restante da família. – Edward pareceu ao meu lado.

- Oh, Edward! Semana passada seus tios favoritos eram Will e Kate, não é mesmo? – Serena estreitou os olhos.

- Ah! Todos vocês são meus favoritos. – jogou o charme Cullen para se livrar da emboscada.

Serena soltou uma gargalhada.

- Vocês, Cullen, sempre usando esses malditos olhos verdes para escapar de tudo!

Meu namorado piscou o olho e nos puxou dali. Eu simplesmente adorava essa família e o quanto eles tinham aquele forte laço de amor que englobava todos os seus membros.

Sorri.

- Gente, essa é a prima da Bella, Kristen. – Edward apresentou quando chegamos ao lado do sofá – Kristen, esses são Emmett, Rose – foi apontando – Alice, Jasper e Chace.

Todos sorriram de volta e lançaram falaram algo par deixá-la menos desconfortável. Stewart observou a todos e respondeu tudo que lhe era perguntado. Contudo, percebi que sua atenção demorou-se um pouco mais sobre Chace Cullen. Foi ai que entendi a troca de olhares entre Serena e Mark Cullen.

Meu sorriso tornou-se ainda maior com o pensamento e depois já quase não cabia em meu rosto ao vê-la de acomodar no acento vazio ao lado do meu mais novo "primo".

As coisas estavam melhorando cada vez mais.

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- Amor, por que você chama a sua prima de "Bee"?

O jantar havia acabado há uns quinze minutos e meu namorado levou-me embora. Meus pais e minha prima já estavam dentro de casa. Edward estava sentado em uma das cadeiras de madeira em meu alpendre e eu estava acomodada em seu colo com a cabeça encostada em seu peito. Ele me fazia um carinho suave nas costa.

Soltei uma risadinha ao recordar o dia em que inventamos aqueles apelidos.

- Quando éramos crianças, eu disse que o cabelo dela era cor de mel, então ela era uma abelinha. Kris não gostou muito do apelido e, como tinha acabado de volta de viagem de férias no Brasil, rebateu que meus olhos eram chocolate e que por isso eu era cacau.

- Cacau? – perguntou, hesitante na pronúncia da palavra em português.

- Isso mesmo. – sorri, com orgulho – A palavra começa com "c", mas, nos e-mails que ela me manda sempre são escritos com "k". Quando perguntei o porquê, ela respondeu dizendo que se o apelido dela começa com "B" como a inicial do meu nome, nada mais justo que o meu começar com a inicial do nome dela.

- É uma bonita amizade a de você s duas. – Edward comentou, pensativo.

- Falando em minha prima, você viu o jeito que Kristen e Chace olhavam um para o outro? – perguntei.

- Vi, sim, amor. – respondeu – Agora, quem sabe, ele deixe minha garota em paz. – completou com voz tensa.

- Edward! – bati a mão de leve em seu peito e levantei a cabeça para encará-lo – Não acredito que você disse isso. – segurei o riso – Você tem ciúmes do seu primo?

- Claro que tenho. Você, por acaso, não via o jeito que ele olhava para você? – fez uma careta – Chace só nunca fez nada concreto porque somos muito amigos e respeitamos um ao outro.

Chacoalhei a cabeça.

- Esquece isso. Você sabe que eu amo você há mais de dez anos. – dei um beijo em seu pescoço – Mesmo que ele tentasse, não conseguiria nada.

Agora havia um sorriso torto em seu rosto.

- Voltando ao assunto do meu primo com a sua prima. Acho que pode dar certo.

Voltei a minha posição anterior, só que, dessa vez, Edward começou a massagear minha nunca. Quase ronronei de prazer com aquela massagem preguiçosa.

- Ambos moram em Seattle. E, pelo que ouvi, não muito longe um do outro. Também parecem ter muito em comum. Primeiro pensei que ele só tinha se interessado porque vocês são extremamente parecidas, exceto pelo fato de que você é muito mais bonita, é claro.

Sorri contra seu peito graças ao elogio.

- Mas, depois de vê-los interagindo um com o outro, conversando, vejo que existe a possibilidade de, no mínimo, uma bela amizade ali.

- É exatamente o que eu penso. – falei, voltando a me endireitar a fim de olhá-lo nos olhos.

- É mesmo? – arqueou a sobrancelha – Então quer dizer que posso ler seus pensamentos?

- Claro que não. –lancei-lhe um olhar superior.

- Ah é? E por que não?

- Porque meu cérebro é muito mais evoluído que o seu! – gargalhei.

Meu namorado abriu a boca em um perfeito O.

- Verdade? – tinha um brilho perigoso agora.

- Verdade. – desafiei.

- Então o cérebro menos evoluído aqui ira usar métodos braçais e não mentais para com a senhorita.

- O que...

Ele atacou minha barriga com cócegas.

- Não... amor... por favor – consegui exclamar em meio as gargalhadas.

Não houve piedade. Edward continuou mesmo eu já tento lágrimas de riso. Só restava um jeito de para com isso. E esse método não seria ruim de maneira alguma. Consegui me esticar até que meus lábios encontraram os dele. Edward parou na hora. Suas mãos, que antes atacavam meu estômago, agora seguravam firme minha cintura. Suguei seu lábio inferior e aprofundei o beijo. Minha mão massageava seu glorioso cabelo. Sorri em meio ao beijo por pura e extrema felicidade.

Eu estava exatamente aonde deveria estar. Estava nos braços do meu príncipe – aquele igual ao da Cinderela – e meu conto de fadas estava apenas começando.


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Notas finais do capítulo

N/a: AMORES DA MINHA VIDA! Tudo bom? Alguém mais está derretendo nesse calor infernal? UAHUAHAHAUH
Finalmente o capítulo com todas as revelações e todas as explicações necessárias. Será que vocês gostaram?
Gente, por incrível que pareça, eu gostei desse capítulo. Era o mínimo que eu poderia sentir depois de uma semana inteira escrevendo ele. Foi o maior capítulo que já fiz. Foram 25 páginas de world. Fiquei impressionada comigo mesma. Agora compensou toda demora, não é mesmo? Nem que seja pelo menos pelo tamanho.
Agora, quanto ao imenso capítulo:
Eu nem demorei muito, né? ;) é pra compensar a demora do capítulo anterior! ;)
Quem gostou da convidada surpresa no jantar? :O Foi o jeito que encontrei para agradar todas que queria que o meu Chace tivesse uma chance com a Bella.
E quem gostou da abordagem de Edward lá no parque? Eu gostei õ/ Para quem não reconheceu o dialogo, aquelas foram as palavras que o Edward disse quando eles se conheceram ainda crianças.
Eu sei, eu sei que prometi participação do Chace nesse capítulo, mas simplesmente não deu certo. Quem sabe no epilogo...
Sim, esse foi o capítulo final, mas eu vou escrever um epílogo... não sei quando ele vai sair porque minhas férias acabaram. Sim, eu passei na faculdade, mas não foi aonde eu qria, então, vou fazer cursinho. E, como eu pretendo que seja só um ano de cursinho, vou parar com as fics até entrar na faculdade. MAS VOU POSTAR O EPÍLOGO ESSE ANO, então, por favor, nada de pânico.
Geeente, fiquei tão triste porque ninguém falou sobre os tios do Edward. Ninguém reconheceu o príncipe Willian e a Kate Middleton ali? Eu até mesmo pesquisei o sobrenome verdadeiro deles! :O Mas, tudo bem... eu supero (Y)
Amores, de verdade, espero que não tenha decepcionado ninguém com esse capítulo e vou ficar muito feliz se vocês me mandarem reviews.
PS: Vcs não tem noção de como foi difícil escolher a frase desse capítulo. AGAUHAUHAUHA
Beijooos e até o epílogo ;*